O Amor - essa paixão romanesca e fagueira -
que os vates têm cantado em bemol comovido,
é, na forma, uma coisa assaz brusca e grosseira,
como o assalto da fera e o ataque do bandido.
Tal e qual como o lobo assalta uma cordeira,
a empolga e lhe crava o colmilho atrevido,
assim ataca o Amor. - São da mesma maneira
o Espasmo, a Fúria, o Uivo, o Estertor, o Rugido.
Nas contorsões do Cio e os seus enlaçamentos,
há o ardor da Serpente, a enroscar-se nas preias,
e a estrangular o touro enorme e mugidor.
E quer cheire ao sertão, ou da Lais aos ungentos,
Nos rosais, num covil, ou de Nero nas ceias,
-são sempre os mesmos ais, o Pranto, o Espasmo, a Dor.
Gomes Leal (1848 - 1921)