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A água do mar, sangrenta,
Ao pôr-do-sol incandescente,
E nuvens de ouro bordadas
Suspendem no ar a gente,
Que se dá o direito de olhá-la.
Feito névoa luminosa,
Surgem figuras formosas,
Ora visíveis, ora nebulosas.
Enquanto a luz artificial
Disputa poder com a luz natural,
Cristas enfumaçadas estalam.
Nossos fantasmas vêm à tona:
Medo, solidão, desfeitos sonhos,
Escondidos por anos e anos.
Conseguir amar o invisível,
Transforma tudo em sonho possível
E a noite nos traz novo ânimo.
Em borbulhas, o sol se torna.
E se desfaz, e muda de forma,
No mar se espelha, no mar se entorna.
Os animais todos já se acomodam;
Alguns humanos, só então, saem das tocas:
Procuram, na noite, o que o dia não lhes mostra.
Calados à beira do mar,
Sentados às mesas dos bares,
Buscam sua verdadeira alma.
Mas, os fantasmas riem e viram gente
Nos copos, nas roupas, nos falsos sorrisos
Da rica e poderosa mente que mente.
Marilene Anacleto