Enquanto gangues disputam o poder,
Dormimos frente à TV.
Enquanto damos atenção ao noticiário,
Perdemos a vida, perdemos o horário.
Enquanto passa o carro com som de estremecer,
Liberamos toxinas de raiva que nos fazem morrer.
Enquanto nos surpreende tudo o que nos cerca,
A nossa casa fica de janelas abertas.
E já não sabemos quem somos e do que gostamos,
E já não sentimos paladares e prazeres.
E temos medo do toque, de coisas e pessoas.
E nos assustamos com a sombra da noite de lua.
Frente ao transeunte nos enjaulamos,
Frente aos conhecidos, os braços cruzamos.
Procuramos assuntos externos, pequenas lutas,
Para ser possível, de nós mesmos, procurar uma fuga.
Enquanto damos importância a tudo lá fora,
O Eu que Eu Sou, se pudesse, já teria ido embora.
Marilene Anacleto
Publicado em: http://rotadaalma.spaces.live.com/
Publicado no site http://www.itajaionline.com.br/colunas/marilene/marilene.htm, em 14/03/06