O mais que posso lidar é o nada!
Não sou egoísta, nem ao menos cruel
Esta é sua parte. De mim tu és herdeiro
Já comi muitas partes do que já foi um alguém
Não vejo a carne, nem sangue ou nome
Mas pra dentro de mim, milhares devorei
Pessoas distintas engoli sem temer
São homens, mulheres, são terra, são pó
Mas saibas que tudo o que fiz que vi ou escutei
Jamais comerás nem ao menos um grão
Pois meu corpo já arde em um fogo imortal
Talvez seja eu um buraco escuro e sugador
Que engole matéria e ilusões... Um infinito de sinápses
De mim não terás nem meu corpo ou migalhas
Sou um selvagem canibal de terras longínquas
Que come seu totem e mais forte que ele fica
Assim vive meu nome: com as lendas e as vísceras
Eu como o que é forte, desse prato eu saboreio
São heróis que introjeto exaltando com o honrar
Sinto apetite em escutar cada nome desses grandes
Mas tu não comeras nenhuma parte do meu corpo
Sou eu um monstro nato, um vácuo sem desvios
Destruo as trilhas mórbidas de vidas temerosas
Sou essa força que tu não compreendes
Em breves milênios então tu saberás
Como é o salivar no mastigar de cada dente
Com sua dor me tornarei um herói ou faraó
Pela vida imolada que me deste ao morrer
Eterno assim serei: um grandioso mercenário
Um alquimista majestoso que se transformou em rei.
Melquizedeque de M. Alemão, 18 de janeiro de 2011