Ainda que enferma,
A esperança dardeja:
Os déspotas e vampiros de Crônos
Confinam nossa mente e ânimo
Nas trincheiras cavilosas
Do consumo, do velado abandono
Ou das malhas maliciosas
Do circo contemporâneo.
Mas, apesar das velhacarias
E da miríade de intempéries,
A faculdade de sonhar
--- mesmo que veementemente imbele
Ou de maneira inconscientemente serelepe ---
Faz pulsar teimosamente
O coração da verve.
Ah, a esperança!
Embora seja
Incessantemente mutilada
Por homens-bomba
Da ganância-cornucópia parasitária
E sempre esteja
Deitada sobre o ventre
Dos umbrais da cova;
No último segundo,
Ela se agarra ---
Com rijeza ---
Á mão estendida
Do lençol freático da vida,
Alimentando a vela
Qual torna funesta
A devastadora eloquência
Da canção que regozija os suicidas.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA