Rascunho de uma vida...

Foto de Montanha
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Hoje sinto gélido e lento o meu dia
Pela vida curta nesta mais curta partida
Se foi corrompida nas horas de saída
Enalteceu-se nos momentos da chegada
Nas mãos de um corpo uma alma esperada
Sem fronteiras nem peso de consciência
Palavras libertas e largadas da inteligência
Dum ser grande por dentro e por fora igual
Neste espaço ibérico a frontalidade mortal
Impar no pensamento pela igualdade social
De muita nobreza foi incómodo aos da riqueza
Revolucionário Nobel da pobreza que rubricou grandeza
Deixa-nos neste tempo muita memória e tristeza
Notador preocupante deste planeta pequeno
Escrivão do sofrimento dos não ouvidos
Perseguido e rejeitado pela diferença dos iguais
Indiferente aos reis celestes ou imaginários reais
Fez do seu caminho um reino e um altar
Chegou por todos nós e o mundo vergou
A nossa língua por todo lado dobrou e brilhou
Como um “Deus” fica agora sem imagem
Deixando tantas folhas de papel como passagem
Neste Junho uma homenagem e um romance no lago
Pela despedida do grande, José Saramago
"somdaalma"

http://1somdaalma.blogspot.com/2010/06/rascunho-de-uma-vida.html

Comentários

4
Foto de lua-verde

De uma forma simples, sincera e bonita deixas aqui uma homenagem completa daquele que foi, sem dúvida, um dos maiores escritores e divulgadores da língua portuguesa.
Odiado por muitos, é certo, como é próprio dos génios...
Achei interessante ver-te aqui tratar Saramago por "Deus", alguém que ele procurou e nunca encontrou, pelo menos da forma que esperava...Acho que ele, se conseguisse ler as tuas palavras, a tua homenagem, não deixaria de esboçar um sorriso de comoção.
Quem sabe não encontraria aqui a imagem de "Deus" que tanto procurou em vida e que lhe valeu tantas críticas, a meu ver, injustas...
Foi bom ver-te de regresso a este cantinho, embora te continue a acompanhar noutros...
Até sempre

Lua-Verde

Foto de Montanha

Lua-verde, começo por te agradecer o comentário simpático que me dirigiste e, desta forma, não necessito mesmo de me alongar em resposta ao teu primeiro parágrafo do mesmo comentário, porque, a parte final dele, é tão elucidativo do conhecimento que tens de Saramago quanto a verdade que te subscrevo das mesmas palavras.
Como nunca fui um alinhado rigor das normazinhas sociais, (Saramago, também não o era, ehehe), salto o teu conteúdo maior e passo ao teu último parágrafo (ehehe), para dizer-te que não chamaria a esta minha “incursão” aqui pelo poemas enquanto participante activo, de regresso, pois, não é de todo assim. Senti-me um pouco “forçado” a faze-lo pelo simples facto de achar que um dos expoentes maiores da língua portuguesa merecia esta atitude por simples que seja. Saramago sempre foi um dos meus preferidos e, muito o admirava pela sua coragem que, é algo raro nos dias de hoje…
A minha passagem por cá é mais ou menos assídua, pois a faço sempre em função da minha disponibilidade e, de forma passiva, isto é, como leitor somente. Continuo a acompanhar com entusiasmo aqueles que me despertam interesse e, obviamente, tu te incluis em primeira fileira.
Agora sintetizando um pouquinho o teu forte conteúdo e, por ventura adicionando meia dúzia de pontos de vista meus, arrisco reforçar tudo o que dizes por palavras minhas pintadas de cores que Saramago escolheria possivelmente…
Ele na verdade era tipicamente português e como se diz cá no norte, “sem papas na língua”…tal como eu, não crente em tanta coisa que se vende ou, pelo menos como se impinge.
Não vou entrar “tão forte” por temas bem mais conturbados da esfera religiosa, pois, dela ele também de forma impar, já o tinha feito e voltou recentemente a faze-lo com o seu “Caim”. Se ele fosse vaidoso como algumas vezes foi acusado, nunca teria “comprado” a guerra consciencial que comprou ao escrever por essa linha…se alguém, duvidas tinha, da liberdade de pensamento deste Grande Homem e escritor contemporâneo, adquiriu necessariamente oportunidades para se alterar…
A religião em qualquer país ou continente, tem a força dos ventos e, nem mesmo assim, ele deixou de se insurgir com as suas obras relatando e apresentando a coerência dos seus raciocínios e pensamentos. Quão fácil seria para este Lusitano ser agradabilíssimo ao mais amplo quadrante social se, não digitasse de maneira livre nos seus livros a cor das suas ideias…
Sim, nos dias de hoje, poderíamos chamar de “Deus” a quem tomasse como coragem, o propulsor enérgico da liberdade na sua plenitude. Saramago, só soube ser sempre assim…para ele não existiam classes nem categorias. Para ele o que via, era somente o outro como um igual a todos…uns fazendo isto e outros aquilo…até ao mais alto cargo da nossa nação, ele não se amedrontou a dizer que achava que só falava “banalidades”…se isto é certo ou não, não discutimos, aqui e agora, quero tão só, realçar a liberdade deste Homem e, despreocupação em não seguir correntes fáceis para atingir estrelatos…os verdadeiros “Deuses” se existem, não necessitam de “trepar” por cima dos seres, antes pelas qualidades interiores e as colocar ao alcance de todos e, em particular, junto dos mais vulneráveis. Saramago ao seu jeito, na minha singela opinião, era isto…agora chamem-lhe o que quiserem como lhe chamavam, porque eu o chamo como entendo chamar…a saber:”…”.
Agora de forma mais descontraída, coloco-me em reflexão sobre o que escreveste e muito bem:

“Achei interessante ver-te aqui tratar Saramago por "Deus", alguém que ele procurou e nunca encontrou, pelo menos da forma que esperava...”

Remato este meu comentário muito rápido e sem o primor do cuidado que esta questão me obriga, respondendo em voz firme. Pois bem, acho que tens toda a razão, ele procurou “Deus” e nunca o terá encontrado ou pelo menos como esperava porque simplesmente, o “Deus” que sempre ouviu falar, não existiu e, muito menos existe…o que existe sim, é o “Deus” que vai dando jeito a certas elites existir e coexistir por conveniência, mas, creio que tal como tudo na vida, há um limite para tudo e, começa-se a sentir já, todo um mundo de mentiras e secretismos a ser desmoronado. Graças a muitos antes e outros de agora como Saramago, a terem coragem de desafiar os pseudo-intocáveis…
Um último parágrafo para solicitar compreensão pelo que aqui escrevo, pois, não desejo atingir ninguém nas suas crenças ou fé, pretendo apenas assinalar a minha forma de pensar relativamente a este tema intrinsecamente ligado eventualmente ao ponto mais marcante da obra e vida de Saramago.
Lua-verde, uma vez mais, muito obrigado pelo carinho das tuas palavras.
Cumprimentos,
montanha

Foto de lua-verde

Tens razão, o mundo cruel que atravessamos leva-nos a concordar ´com Saramago. Se Deus existe, deve andar muito distraído...No entanto, às vezes, quando perdemos alguém, quando o sofrimento aperta, sabia bem conseguir acreditar em alguma coisa. Penso que Saramago terá sentido esta angustia algumas vezes, de certo.
Em laia de conclusão, nada melhor que as próprias palavras de Saramago:

Fala do Velho do Restelo ao astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.

in Os Poemas Possíveis

Foto de Montanha

Olá lua-verde,
é sempre um prazer trocar dois dedos de dialogo contigo!
Obrigado pela razão que me atribuis, todavia, razão maior foi sempre a de Saramago quando, no deserto dos afortunados de ideais e poder, sempre combateu a bom guerreiro de consciências pela igualdade do outro.
Razão teve sempre ele, ao ter tudo para ser um astronauta da esfera elitista deste mundo que todos os dias se apunha-la e, preferiu sempre a doutrina do “Deus” dele…o da verdade e liberdade do homem.
Devo dizer-te que Saramago não era para mim só um Homem, um escritor ou um perturbador da sociedade (no bom sentido), era muito mais. Pelo que sei politicamente de Saramago, é pouco, no entanto o essencial para ter uma ideia clara por exemplo do que são as políticas. Em termos partidários, não sou da mesma cor que ele foi, muito menos tenho a interactividade que ele, porém, posso assegurar-te que preferia tanto que ele tivesse sido o meu líder partidário. Uma coisa estaria eu seguro, a verdade seria somente uma e única e, nunca aquela que mais convém no momento ou aquela que mais jeito dá na altura ou a que melhor serve as associações cooperativistas desta sociedade corrompida…obviamente, salvo as raríssimas excepções.
Cito o exemplo da política para evidenciar Saramago e a sua postura no nosso mundo. Sabemos que um conjunto de pessoas serve-se deste meio para manipular, escravizar e enriquecer os seus cofres. E sabemos que à medida que isto acontece, todos aqueles que não possuem a voz e clarividência de Saramago ou se curvam perante tais injustiças ou então sentirão fortemente na pele todas as contradições possíveis e imaginárias…
Homens como este que nos deixou fisicamente, fazem de contra-ponto neste mundo viciado e, julgo que, desde muito cedo, Saramago reflectiu nas suas interpretações interiores e depois públicas. Não foi em vão que este obreiro da verdade sempre se confrontou com uma das maiores forças das sociedades passadas e contemporâneas, refiro-me concretamente ao mundo religioso, nomeadamente o cristão. Eventualmente por ser esta a religião mais protagonizada e de maior ênfase em Portugal. Sei que sou suspeito em falar na realidade da verdade de Saramago nesta área, pois, “comungo religiosamente” dos mesmos pensamentos e ideais. A forma como Saramago retrata em várias situações esta temática, colocando-a em questão, muito em questão, faz com que nos questionemos ou não, o porquê dos senhores desta dimensão nunca terem conseguido defender cabalmente a as suas teses e fazendo cair a forma de pensar deste homem…de muito cedo ele se apercebe que “nada” disso existiu mas, ao longo de muitos e muitos anos, outros “homens” se equiparam desta força social para continuarem a manter outras realidades vivas que não as doutrinas apregoadas e não colocadas no seu verdadeiro contexto real…o de servir os outros…
Claro está que, um Saramago seria necessário em casa de cada um para que este mundo fosse mais genuíno de verdade.
Registei com algum cuidado o facto de comentares que:

“No entanto, às vezes, quando perdemos alguém, quando o sofrimento aperta, sabia bem conseguir acreditar em alguma coisa. Penso que Saramago terá sentido esta angustia algumas vezes, de certo.”

Lua-verde, sim, certamente que terá sentido, tal como nós todos, tu, eu, enfim, todos mesmo.
Esses momentos em que nos sentimos meios perdidos ou cansados, deveríamos essencialmente pensar na nossa excelente capacidade que possuímos de nos levantar sempre que caímos. Sim, todos nós temos essa capacidade. Muitas vezes, estamos é à espera que alguma coisa aconteça, como a sorte ou a divina ajuda de “Deus”, ehehehe.
Isto faz-me lembrar aquela máxima de: correu bem, graças a Deus tive sorte, correu mal, sou um… e tive azar mais uma vez…
Convenhamos de uma vez por todas que, tudo nos acontece e pertence exclusivamente a nós e não a nenhuma divindade terrena ou celeste.
Confesso-te que quando me sinto mais assim, sem confiança, felizmente que sou pouquíssimas vezes, o meu lema e grande trunfo é acreditar que no momento seguinte vou conseguir superar e ultrapassar o momento anterior. E mesmo que isso não aconteça no imediato, é tão agradável a sensação de pensar que se não foi neste será no seguinte e, depois no seguinte e, no seguinte, enfim, até que ele aconteça…
Há muitos anos que não dependo para me confiar dos outros palpáveis ou, pior ainda dos impalpáveis…os celestes…
Por ultimo, o poema que felizmente me recordas, tinha eu 3 anos quando ele o escreveu e, como ele ainda é tão presente, tão actual e infelizmente, tão sentido na pele…
Depois deste poema de 1966, ainda tão contemporâneo, palavras para quê…
Onde anda a justiça deste mundo?
Onde está a liberdade do povo?
Onde pára esse “Deus” omnipotente criador do céu e da terra?
Por último, porque nos criou assim então? Tão capaz de criar coisas tão belas, não teve o engenho e arte de criar um sistema de igualdade entre todos os irmãos?
Pronto, está bem, ele descansou ao sétimo dia e era precisamente esse o dia da realização do projecto social…paciência, não tivemos sorte…ehehehe.
Termino, “ E são brinquedos as bombas de napalme”…ainda hoje.
Cumprimentos,
montanha

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