Belos Tempos
Longos tempos nós já tivemos belos tempos
Esse é o meu pequeno poema sobre os meus tempos antigos
Eu tenho uma historia com os meus velhos amigos
Numa vida passada eu era um rapaz feliz
Sem futuro para pensar nem passado para relembrar
Minha única tarefa era brincar
Brincar, brincar, brincar até o sol caminhar
Me lembro que também aproveitávamos uma parte da noite
Com Zeca-pequeno iluminávamos os becos
Não só com os jogos-de-luzes
Mas também com os nossos graciosos berros
Berros e barulhos que atraíam outras crianças sem tarefa
E a gente se concentrava para mais uma brincadeira
Aquela vida era comparada a do paraíso
Nem mesmo as tristezas conseguiam acabar os nossos sorrisos
Os nossos rostos eram tão inocentes
Que as vezes nem percebia-se que alguém está doente!
Também para que falar de doença? Alias o que era a doença?
Era só infantilidade e inocência
Oh! Como foi belo!
Esses tempos eram belos, esses tempos eram perfeitos
Mas perfeito mesmo era eu
Que já naquela altura virei psicólogo e convivi com o “Ham Haim”
Mas quem era “Ham Haim”?
Era um mudo também com a tarefa de brincar!...
Como era bom brincar com o Mack dele! …“Ham Haim” isso significava “pra tras”
Ham Haim, Ham Haim gritava enquanto eu guiava o carro
Um Mack vermelho, preto e cinzento
Coitado ele não podia falar, mas sabia me ouvir
E gostava de rir
Sorria até mesmo com o barulho da guerra de Angola e Africa, das bombas e granadas
Nem os confrontos de 1992 acabavam com as nossas gargalhadas
Só deixavam as nossas mamãs preocupadas
Tinham razão pois não acreditavam que éramos super-heróis
A gente era tão feliz, mas tão feliz,
Que nem sabia definir a dor
Em pleno tempo de terror
Nós trocávamos o mal pela cor do amor e da paz
Nós éramos tão felizes, mais tão felizes
Que acho que chamamos atenção do destino
E ele se interessou nas nossas vidas
E então arrancou-nos, os “belos tempos”
Separando um do outro
E a viver no desconforto
Com dor, com medo e terror
Com pouco amor e uma paz sem a cor… Branca
Nos tornou mas sério, dando-nos lições pesadas sobre os novos tempos
Quando penso nos “velhos tempos”
E nos “novos tempos”
Eu digo: maldito é destino! o que fez com o tempo?
Eu gostaria voltar a brincar, a brincar, a brincar até entardecer
O, Zeca-pequeno!... Hã! Esse esta por perto
Mas o Ham Haim!?
Esse eu já nem vou reconhecer
Sinto pressentimos que foi para o Congo, ou pras Lundas
Gostaria ver ele nessa vida adulta e culta
Hoje eu lembro de vocês com um sorriso no rosto
e lágrimas nos olhos
Mas o importante é que cumprimos a nossa tarefa
Que foi
Brincar, brincar, brincar até a infantilidade se acabar…
Autor: Milson António "Xiita"