Geração
Hino do plantio e da paternidade
No ventre da Grande Mãe
Está a dádiva dos deuses.
Tal como cuidamos e vigiamos
O ventre crescente das vestais,
Regamos e carpimos o campo.
Para que não se perca a colheita,
Tomando o exemplo dos deuses,
Somos ciumentos e zelosos,
Orgulhosos de nossa prole.
Eis a boa e excelente paternidade,
Não negamos nossa descendência.
Seja riscado da comunidade,
Qualquer homem ou deus,
Que condene o fruto da união
Ou persiga o rito da consumação.
Que a ninguém seja concedido,
Tronar impuro o que é consagrado.
Consagradas estão as vestais,
Como consagrada é a Grande Mãe.
Porque sagrada é a junção,
De homem com mulher,
Do deus com a deusa.
Pois o fruto é a vida
E a vida continua no amor.
Herdade
Hino das descendências aos antepassados
Aqui estamos, guardados,
Protegidos pelo corpo sagrado,
Crescendo, germinando.
Nós somos a seqüência,
A esperança da descendência,
De uma longa e feliz linhagem.
Agora dependemos de cuidados,
Temos muito que aprender.
Para nos tornarmos completos,
Maduros, felizes,
Ensine a mãe ao filho
Como tocar uma mulher;
Ensine o pai à filha,
Como resistir e ceder.
Tendo cuidado de nossa infância,
Não cobiçaremos, dividiremos;
Não roubaremos, repartiremos;
Não violentaremos, compartilharemos,
Assim a lei é mantida
E o ciclo continua.
Herança
Hino dos antepassados às descendências
Bendita seja a renovação!
Que venham as brisas da mudança,
Que vicejem os brotos da ousadia.
Bendita fúria sagrada,
Venham os jovens e sua revolução,
Para que se aplique a evolução.
Conquistem seu espaço e lembrem.
Que nós também tivemos nosso tempo
E muitos mais antes.
Que não nos abandone na velhice,
Como nós não lhes faltamos na infância.
Da mesma forma
Que recebem e aprimoram
Tão antiga herança,
Reavivem em nós
A graça da nova experiência
E refresquem nossos sentidos.
Vocês tem o frescor e a ansiedade,
Nós temos a técnica e a paciência.
No templo sagrado,
Não há sentido a idade,
Nem tem lugar a consangüinidade,
Somos todos um e o mesmo.
A regra é o amor,
A união é a forma,
O prazer é tudo.
Doutrina
Hino dos deuses aos pais e filhos
Em espirito, somos criados;
Em carne, somos nascidos.
Nem a carne pesa ao espirito,
Nem o espirito oprime a carne.
Não existe separação ou rejeição,
Dos deuses vem o exemplo,
Que o sagrado é a convivência
E a lei é o Amor.
A idade não concede precedência,
Nem implica obediência,
Laços consangüíneos perdem
Contra os laços da união.
A posição pouco importa
Nesse esporte sagrado.
Que se una sem restrições
O novo e o velho;
O esquerdo e o direito;
O sombrio e luminoso;
O humano e o divino.
Comentários
Stacarca - Betoquintas
Que bela escrita, simplesmente belo!
Esteve perfeito, seu poema me levou a uma "viagem" inextinguível. Parabéns!