Violência

Foto de Dennel

Deus, torna-me um menino

Quando eu era menino
Pensava como um menino
Agia semelhante a um menino
Minhas palavras eram de menino

Logo que cheguei à idade adulta
Tive de deixar as coisas de menino
Rever os meus conceitos
Estabelecer prioridades

Quando eu era menino
Tinha a sensibilidade no peito
A inocência presente na alma
O sorriso estampado no rosto

Hoje, já adulto
Tenho muitas preocupações
Muitas dívidas para pagar
Ninguém para meu acalento

Quando eu era menino
Cantava contente e feliz
Não via maldade nas pessoas
Meu sono era suave

Adulto, passo as noites acordado
Temo a violência do ser humano
Sou um perfeito egoísta
Faço tudo por interesses

Quantas saudades do tempo de menino!
Eu era feliz, mas desconhecia
O valor da pureza e inocência
Minhas maldades eram nulas

Hei, Deus, quero ser menino novamente!

Juraci Rocha da Silva - Copyright (c) 2009 All Rights Reserved

Foto de Manoel Lúcio de Medeiros

O DESAFIO DE SER MÃE!

Poeta Malume (Manoel Lúcio de Medeiros).
Fortaleza – Ceará – Brasil. 10/05/2009. 00h10min.
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Palavra às mães!
Quero dedicar e ofertar a todas as mães estes sonetos que compus com muito amor, carinho e esmero, justamente para esta data, o dia das mães. (Segundo Domingo de Maio).
Ser mãe é uma árdua e sublime missão doada pelo criador eterno. Deus quando esboçou a mulher na eternidade, fê-la com o pacote completo: “amor, abnegação, bravura, carinho, cuidado, competência, coragem, desempenho, força, maternidade, profissionalismo, submissão, ternura, e zelo”. Em fim, tudo quanto uma mãe necessita, Deus colocou no seu coração, porque ser mãe, sempre foi, e sempre será o maior desafio da história. O desafio de ser mulher, enfrentar o machismo exacerbado de muitos homens e de muitas sociedades, os quais foram no passado, um verdadeiro duelo para a mulher, onde muitas tiveram que pagar o preço com seu sangue derramado, vitimadas pela injustiça e preconceitos sociais. No entanto, o desafio de ser mãe, de gerar no seu ventre materno a vida, amamentando-a sob seu seio; a enobrece, a dignifica, e a eleva sobre todos os seres da terra, ao privilégio de ser mãe do ser mais importante da natureza, a vida humana!
Ser mãe é desafiar a vida, pois muitas vezes, levada pelas circunstâncias, tem que lutar pela própria sobrevivência, se submetendo aos desatinos de uma sociedade competitiva e muitas vezes discriminatória! E nesta peleja, ela tem se sobressaído com êxito, e com garbo! O desafio de ser mãe e ser esposa, compartilhando com o marido e com os filhos, o amor, a construção do lar, a educação dos filhos, e a formação espiritual e social deles, como cidadãos, (como disse Salomão, a mulher sábia, edifica a sua casa), a tem tornado, um colosso nas páginas do tempo e nas folhas do coração!
O desafio de enfrentar a violência, por parte de seres inescrupulosos que procuram usar a mulher como objeto de seus desejos imorigerados. Tudo isto, é muito duro e difícil para uma mulher! Pelo que ela necessita por parte do homem, o amor, a ternura, o carinho, uma postura ética saudável e a devida compreensão. Mãe, que Deus te abençoe ricamente, não somente nesta data dedicada ao teu dia, como todos os dias de tua existência sobre a face da terra. Que Deus te ilumine a cada dia, te enchendo de sabedoria e discernimento, para que possa desempenhar o papel mais sublime e sagrado, o papel de ser mãe, o papel de aceitar todos os desafios e de vencer todas as barreiras! Que Deus te conceda a vitória sobre tudo e sobre todos, pois a carga que recebeste, é deveras pesada, contudo, recoberta de uma inaudita e inefável glória, a glória de ser mãe. Meus parabéns!
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Do amigo, poeta Malume.

Foto de Aeoinus

A Humanidade

É triste a beleza que tocamos
lá bem dentro
que ressoa e nos tormenta,
chamam-lhe a humanidade.
Desprendemos-nos de nós próprios,
numa violência escondida,
e somos impulsos.

Derivando sem um fim,
esquecemos que há uma porta.
Tudo deixa de existir
para passar a apenas ser.
Somos nós o todo que é tudo,
apenas somos
nós.

Apoiamos tentando buscar amparo
lavando lamentos encostados
com lágrimas que correm de uma fonte,
como um olho que abriu e vê.

Foto de Ana Botelho

DIÁRIO DA ALMA FEMININA

FRAGMENTOS DO LIVRO A SER LANÇADO EM BREVE:

DIÁRIO DA ALMA FEMININA.
"A mulher, por sua forma polêmica e única, arrasta consigo uma história que além de triste, é um dos retratos mais fiéis que temos da tortuosa evolução da humanidade, dos seus grandes preconceitos e de monstruosidades cometidas como forma de camuflar os desastres cultivados nos seios das famílias desajustadas, onde os complexos variados eram repassados aos seus descendentes, um método presente na velha tradição familiar era a de se lavar a honra de um parente querido com o sangue alheio, ou mesmo outro tipo vingança desmedida como se esta compensasse um crime anteriormente realizado. Além da figura da fêmea, qualquer outra criatura que tivesse nascido com a predominância das características “femininas” de ser, teriam marcadas em seu destino uma triste síndrome, uma espécie de anomalia social, ou seja, a de passarem a vida inteira buscando a sua real identidade..."

"Quem nunca travou desafios incansáveis para desfrutar dos direitos que por lei lhe pertenciam há séculos? Quem foi que sempre trabalhou por uma família mais amorosa e por um mundo bem mais justo, carregando, na maioria das vezes, a debochada caracterização de "piegas", ou "reacionária fracassada"? Se você ainda não ouviu tais comentários, certamente, eles estão velados, embotados e que só serão percebidos em atitudes de pessoas que parecem nos amar mesmo as mais próximas..."

"E qual assediada nunca recebeu:
- um telegrama misterioso de um amigo do seu pai, acompanhado de calcinhas comestíveis;
- um beijo roubado pelo marido da vizinha de andar, no elevador do seu prédio;
- umas piadinhas inconvenientes daquele coroa que ficava todo torto quando você passava para o colégio;
- uma perseguição indesejada e vergonhosa, pelas ruas quando ia fazer compras;
- um beliscão nas pernas sob a mesa, durante um jantar de família, por aquele marido ridículo de uma prima, ou da sua melhor amiga;
- um recadinho atrevido jogado na varanda da sua casa vindo das mãos de um respeitado chefe religioso do bairro;
- uma cena de masturbação em uma praia, ou praça obrigando-a a ir embora imediatamente;
- uma esfregada extremamente incômoda em um ônibus lotado e teve que se calar com receio de desencadear uma confusão em público;
- a sua residência violada por um tarado causando um distúrbio sem fim em sua vida, com processo, audiências e situações de constrangimento diante de estranhos e amigos;
- uma briga enorme que pensou ter causado, envolvendo um irmão, por atrevimentos vindos de pessoas outras;
- propostas de riquezas e casamentos estranhos, onde a sua casa seria em local deserto e freqüentado apenas por este suposto romance;
- uma literal luta corporal para se desvencilhar de um assédio de alguém que namorasse uma aparenta, ou uma amiga;
- bilhetes de desconhecidos com propostas ridículas colocados no limpador de pára-brisas do seu carro, bolsa, ou entregues em restaurantes por terceiros...
Estas são algumas situações pelas quais odiamos passar, mas que, por estarmos representando o sexo feminino, somos alvo dos "machistas" preconceituosos e que na maioria delas não podemos reclamar, nem retrucar porque logo somos consideradas as "culpadas" pelos assédios recebidos. Registro aqui a declaração de uma jovem que passou por uma situação complicada de quase violência sexual e que, ao chegar à delegacia para registrar a queixa, foi debochadamente abordada pelos plantonistas enquanto faziam as perguntas recheadas de um sorriso irônico sobre os fatos, traumatizada e controlando um grande desespero, só não desistiu de realizar por completo a denúncia por causa do seu compromisso com ela mesma e com outras pessoas que já passaram, ou que podem um dia se deparar com tal absurdo.
As pessoas “femininas” também sentem desejos, têm preferências, sofrem de afinidades físicas com outras pessoas e, por isso, deverão ter oportunidades de participar de escolhas e terem o direito de dizer "não" quando acharem necessário..."
(NÃO PERCAM, DENTRO DE ALGUNS MESES NAS LIVRARIAS)

Foto de pttuii

Interior I

Um crime poderá estar prestes a acontecer. Em princípio, não será uma coisa mediática. As coisas acontecerão porque, simplesmente, o epílogo terá de ser esse. O autor não deve ainda fazer prognósticos sobre o modus operandi do alegado homicídio, porque na prática ainda não estão reunidas as condições para descrever uma situação que constitui sempre o último recurso da demonstração da animalidade humana.

A sala onde se adivinha semelhante desfecho é esparsa. Pintada de um branco reflector, com uma génese criadora de epilepsia, não terá mais que 10 metros quadrados. Trata-se de uma repartição de atendimento público, situada numa localidade do interior do país.

São três e 15 da tarde, e lá fora venta como se esperava de um dia de início de ano. Chuva adivinha-se, mas por enquanto está contida por entre o negrume das nuvens agrupadas em posição ofensiva.
Uma senhora, dos seus 40 e poucos anos, impõe a si própria um regime de calma auto-inflingida. Poderá ter a ver com a fila de cidadãos que se acotovelam no parco e sufocante espaço.

Mas não é de descartar que a senhora esteja a braços com uma situação de violência psicológica de índole doméstica, já que segundo as pesquisas prévias a esta dissertação, a localidade em causa ocupa um lugar de destaque nas queixas policiais apresentadas por mulheres de meia idade.
Faltam menos de 48 horas para terminar o prazo burocrático de entrega dos impressos de cobrança do imposto sobre o rendimento do trabalho, e a ansiedade colectiva forma uma nuvem espessa, difícil de contentar, e ainda mais complicada de controlar. A uma supremacia de idosos, respondem dois jovens, aparentando uma vida com duas dezenas de anos.
O ar taciturno e irritado que demonstram, revela que estarão ali para fazer o 'português' recado a uma pessoa de família. Uma jovem contenta-se a tilintar o piercing que pende de duas narinas aquilinas, e com uns laivos judaicos. Uma gabardine preta, tão densamente negra que contrasta com o politicamente correcto ambiente, oculta um corpo que se auto-esconde de olhares reprovadores. A jovem mulher terá tentado fazer uma demonstração recente de independência perante os progenitores, uma vez que tem o cabelo quase rapado. Os olhares de reprovação que a cercam num ataque quase 'Juliocesariano', aparentemente não a incomodam. (continua)

Foto de fernando gromiko

PAZ AGENTE QUE FAZ

Tem certas horas que deixamos de viver
Desistimos de acreditar em sonhos
Não conseguimos parar de sofrer
São muitos os motivos

Desde a presença ou falta de amor
A simples vontade de desistir
Ou por não aguentar mais dor
Ou não ter vontade de sorrir

Os noticiários da TV
Só me levam a crer
Que eu e você
Estamos fardados a sofrer

Só se houve falar de morte
De guerras e violência
Parece que só isso da ibope
E eleva a audiência

Estou cansado de viver desse jeito
Sinceramente não aguento mais
Porque anseia aqui dentro do peito
Um coração pedindo paz

Gostaria de só ver boas noticias
Como o fim da guerra no Iraque
E no Brasil o fim das milícias
No mundo o fim do uso do craque

O fim do tráfico e do traficante
A união se tornando mundial
A paz soberana e constante
O fim da diferença social

Isto sim seriam motivos de audiência
Isto sim deveria acontecer
Mas ao invés preferimos a violência
Parece que gostamos de sofrer

Desejo um mundo mais unido
Não quero criar meu filho na desunião
Que esse carma morra comigo
E não atinja a próxima geração

Quero um dia olhar do céu
E dizer a NOSSO SENHOR
Lá em baixo fiz meu papel
Para dar um fim a dor

E você, companheiro
Faça algo para ajudar
Não digo com dinheiro
Mas com o melhor que pode dar

Foto de Falcão SR

Feliz Ano Novo Meu Amor !

Lendo a última folha de meu calendário
Surpreendo-me ao ver que o ano findou
Renovo a esperança de um novo cenário
Onde reine soberano o supremo amor.

Faço um balanço do tempo passado
Recordando promessas que acreditei
Fito no espelho meu rosto cansado
E os cabelos brancos que conquistei.

Olhar perdido na linha do horizonte
Fico meditando sobre o que passou
Penso na alegria que ficou tão longe
Fogos de artifício que o vento levou.

Viajando em versos cheios de carinho
Nem sei agora onde está meu coração
Pode ser uma flor ao longo do caminho
Talvez o pecado que não tem perdão.

Corrente de confraternização mundial
Almas unidas em preces fervorosas
Alegria contagiante que não tem igual
Mar homenageado por perfume e rosas.

Que os anjos elevem ao céu as súplicas
Para a tristeza não habitar em mais ninguém
Que sobre o amor não paire mais dúvidas
E o Divino Criador nos perdoe e diga Amém!

Agradeço sensibilizado e com emoção
As mensagens que com carinho recebi
Poesias que alegram e confortam o coração
Os belos momentos que vivi e aprendi.

Adeus fronteiras que separam irmãos
Ambição, mãe do flagelo da humanidade
Religião e crenças em rota de colisão
Egoísmo que ignora a miséria sem piedade.

Adeus prepotência, vaidade e covardia
Violência, crueldade, ódio e tormento
Vamos renovar a esperança e alegria
Ser felizes ao menos por um momento.

Quando o último champanhe esvaziar
E no ar houver apenas nuvens de fumaça
Voltaremos novamente a enfrentar
A realidade que nos cerca e ameaça.

Somos de Deus imagem e semelhança
Dispostos a morrer pela liberdade se preciso
Às vezes apenas um bando de crianças
Que vive sonhando com o eterno paraíso.

Finalmente a contagem regressiva começou
Vou dar um jeito de perto dela ficar
Exclamando: - Feliz Ano Novo Meu Amor !
Beijarei sua boca sem que ela possa reclamar.

Direitos autorais protegidos por lei.
Site do autor
www.LuzdaPoesia.com

Foto de Sentimento sublime

Natal!

Natal!

Aproxima-se Natal
Sentimentos a flor da pele
Pessoas num vai e vem sem parar
Todas em busca de mais um “Quê”
Que não sabem onde encontrar
Olham somente as luzes que brilham
Nas ruas, nas lojas, nas casas iluminadas.
Procuram alegrar com presentes
Amores, amigos, parentes.
Algumas buscando bens materiais
Outras apenas curar suas feridas
Cicatrizes de uma vida mal vivida
Nos hospitais doentes pedindo a Deus
Apenas um dia a mais de vida
Em asilos, orfanatos, pontes, becos, guetos.
Palácios, mansões, casebres.
Todos por Paz, Amor, Atenção e Carinho sedentos.
Muitos não se lembram dos irmãos
Que por um prato de comida um agasalho, um pão.
Á procura o ano inteiro estão
E os filhos da guerra, que com ela procuram a Paz.
Destruindo o planeta e o ser humano cada vez mais
Preconceitos, racismo, violência.
Pobre ser humano!
Perdido, massa falida que não vê.
Que tudo que ele precisa
Está em Deus, e não sabe.
Que ele mora em você!
Manaste!

Feliz Nata!
São meus votos a todos vocês, poetas e poetisas amigos!
Que o Menino Deus, renasça em seus corações fortalecendo-os
na crença que ha alguem lá em cima olhando por nós!
Muita paz, saude e concretizações em seus planos para o ano vindouro.
Beijos e abraços fraternos e carinhosos.
Osvania_Souza

Foto de Carmen Vervloet

OLHOS QUE VEEM, CORAÇÃO QUE SENTE

No meu coração, gravada em felicidade, a fazenda Três Meninas! O casarão caiado em branco, portas e janelas pintadas em ocre, a varandinha, como mamãe chamava, com jardineiras repletas de gerânios coloridos e camaradinhas que caiam até o chão. Em frente à casa, estonteante jardim, onde borboletas faziam seu ritual diário, beijando com amor a cada exuberante flor, cena que meu coração menino guardou para sempre. As cercas todas cobertas por buguenvílias num festival de cores. Em seguida ao jardim, o pomar com gigantescas fruteiras (olhos de criança, enxergam tudo maior), mangueiras, abacateiros, laranjeiras, goiabeiras e tantas outras que não se conseguiria enumerar, onde com a agilidade da idade subia, não só para colher e saborear os frutos maduros, mas, para ver de perto os ninhos de passarinhos, que papai com sua profunda sabedoria, já me ensinava a preservar. Passava horas sobre os galhos das minhas fruteiras prediletas, principalmente goiabeira, que era só minha, ficava ao lado do riacho, onde também costumava pescar. Lá do alto, no meu galho preferido, junto aos pássaros, voava em meus sonhos de criança feliz!
Nos meus devaneios, fui mãe (das minhas bonecas), fui anjo (nas coroações de Nossa Senhora), viajei pelo mundo (sempre que via um avião passar), fui menina-moça (sonhando o primeiro amor). Na vida real fui criança feliz, cercada pelo amor e carinho de minha doce mãe, de meu sensível e amigo pai (ah! Que saudade eu sinto de você, pai), de minhas duas irmãs mais velhas que faziam de mim sua boneca mais querida, colocando-me sobre uma pilha de travesseiros, num altar improvisado sobre a cama de meus pais, onde eu era o anjo, na coroação que faziam de Nossa Senhora. Nesta época eu tinha apenas dois anos e se o sono chegava, a cabecinha pendia para o lado, logo me acordavam, pois não podiam parar a importante brincadeira.
Já maior, menina destemida, levei carreira de vaca brava, só porque me embrenhei na pasto, reduto das vacas com suas crias, para colher deliciosa jaca, que degustara com o prazer dos glutões. O cheiro da jaca sempre me reporta às boas lembranças da Fazenda Três Meninas... Até hoje tenho uma pequena cicatriz na perna, que preservo com carinho, sinal de uma infância livre e feliz. Desci morros em folhas de coqueiros, cavalguei cavalos bravos, pesquei com peneira em rio caudaloso! Ah! Tempo bom que não volta mais!...
Mês de dezembro. Tempo de expectativas e alegrias. Logo no começo era a espera do meu aniversário, da minha festa, do vestido novo, do meu presente, o bolo, a mesa de doces com os deliciosos quindins feitos por mamãe. Depois a expectativa do Natal, a escolha do pinheiro, do lugar estratégico para montar a imensa árvore, os enfeites coloridos, estrelas, anjinhos, bolas que eu ajudava mamãe a pendurar, um a um, com delicadeza e carinho, junto à certeza da chegada do bom velhinho, em quem eu acreditava piamente, com todos os presentes que havia pedido por carta que mamãe me ajudava a escrever. O envelope subscritado com os dizeres: Para Papai Noel – Céu
E depois era esperar a chegada do grande dia. Era o coração batendo em ansiedade, era a aflição de ser merecedora ou não da atenção do bom velhinho. Quando chegava o dia 24, sentia o tempo lento, as horas se arrastando, o sapatinho, o mais novo, sob a árvore, desde muito cedo, o coração batendo acelerado. Mal anoitecia, já deixava a porta entreaberta para a entrada de Papai Noel e corria para minha cama tentando dormir, sempre abraçada a minha boneca preferida, para acalmar as batidas do meu coração. O ouvido apurado para tentar ouvir qualquer ruído diferente. Era sempre uma noite muito, muito longa! Os olhos bem abertos até que o cansaço e o sono me venciam!
No dia seguinte, cedo pulava da cama. Que grande felicidade, todos os meus presentes lá estavam sob a árvore. Era uma festa só! Espalhava os presentes pela casa toda, na vitrola disco LP tocando canções natalinas, função de papai que adorava música... (Ah! Papai quanta coisa boa aprendi com você). Lembro-me bem de um fogãozinho, panelinhas, pratos, talheres que levei logo para o meu cantinho, onde brincava de casinha. Lembro-me também de uma boneca bebê e seu berço que conservei por muitos e muitos anos.
Todas essas lembranças continuam vivas dentro de mim, como se o tempo realmente tivesse parado nestes momentos de paz e felicidade. Os almoços natalinos na casa de meus avós paternos onde toda a imensa família se reunia em torno de uma enorme mesa. Vovô na cabeceira, vovó sentada a sua direita, tios, tias, primos e mais presentes para as crianças, comidas deliciosas, sobremesas dos deuses, bons vinhos que eu via os adultos degustarem, (depois do almoço, escondida de todos, eu ia bebericando o restinho de cada copo), arranjos de frutas colhidas no pomar, flores por toda a casa e depois minhas tias revezando-se ao piano, já na sala de visita, onde os adultos tomavam cafezinho e licores. A criançada correndo pelo quintal, pelo jardim, pelo pomar... Tantos momentos felizes incontáveis como as estrelas do firmamento! Momentos que eternizei no meu coração.
Hoje o tempo é outro, a vida está diferente. Muitos se foram... Outros chegaram... Os espaços estão reduzidos, as moradias se verticalizaram, as janelas têm grades por causa da violência, as crianças já não acreditam em Papai Noel, desapareceu o espírito cristão do Natal para dar lugar a sua comercialização, as ceias tomaram o lugar dos grandes almoços em família, da missa do galo...
Mas a vida é dinâmica e temos que acompanhá-la. Os grandes encontros de família são raros. As famílias foram loteadas, junto aos espaços, junto a outras famílias, junto à necessidade de subsistência.
Nada mais é como antes, mas mesmo assim continuamos comemorando o nascimento do Menino Deus, em outros padrões é verdade, mas com o mesmo desejo de que haja paz, comida e felicidade em todos os lares.
Feliz daquele que tem tatuado nas entranhas da alma os venturosos natais de outrora vistos por olhos que vêem, olhos atentos de criança, sentidos com a pureza do coração!
Olhos da alma, sentimentos eternizados!...

Carmen Vervloet
Vitória, 23/12/2008
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À AUTORA

Foto de Carmen Vervloet

SONHANDO O NATAL

Sonhando o Natal

Se eu pudesse...
Por um dia ser o bom velhinho
Mensageiro de Deus repartindo carinho
Com certeza
Exterminaria a pobreza
Caminharia por todas as favelas,
Adentraria às vielas,
Levando alegria,
Secando lágrimas,
Matando a fome que mata,
Transformando míseros barracos
Em lares decentes
Num gesto de amor!
Levaria o sonhado presente
Entregaria a cada criança
Triste, sem esperança,
Rosto pálido,
Sonhos murchos
Como a flor que não vingou
No árido chão
No descaso do próprio torrão.
Construiria escolas decentes
Preencheria o vazio latente
De cada coração!
Estenderia a mão em amizade
Conferindo solidariedade,
Segurança num futuro melhor,
Uma auto-estima maior.
Ofereceria educação
E com uma varinha de condão
Extinguiria a violência,
Transformaria balas perdidas
Em rosas, miosótis, hortênsias...
Dando cor ao negro da dor!

As favelas seriam imensos jardins,
As casas iluminadas,
Cirandas nas calçadas
Amor aproximando os afins...

Em cada uma delas
Substituiria as vazias panelas
Por uma substancial ceia de natal
Pois afinal
Num mundo tão desigual
Todos têm os mesmos direitos...
Merecem o mesmo respeito...
Têm o direito de serem felizes
Sonhando em matizes!

Mas como não sou o bom velhinho
Não sou mágico, nem adivinho...
Nem tenho o poder da remodelação...
Peço ao mundo perdão
Por só alcançar com minha pequena mão
Aos que estão próximos a mim.

Carmen Vervloet

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