Minha poesia é tão íntima
que ela sequer possui a voz,
só fala aos olhos, sem palavras.
Nunca tento recitar a rima,
apenas teço aqueles versos sós
e esqueço ser minhas as lavras.
É como se fugi-se ao peito,
qual pássaro a romper gaiola.
Mas, não recito, não pronuncio
e o seu cantar assim desfeito
qual fumaça, que ao léu evola
silenciosamente ao vazio.
A tortura de sangrar beleza,
essa tristeza que ponho verniz,
não ousa voz, apenas transcrevo.
Lento é sonhar; presto, a aspereza
transparece-lhe nos versos, se diz...
Então, recita-los não me atrevo.
Que na voz mansa d’alma ressoe,
entre íris e encarne as idéias,
façam calar o barulho tanto
que force ao silêncio... E perdoe
se só cantarolar à platéia
sem palavras, só as notas canto.