Trem

Foto de Fran Thawanny x

E por que enteder?

Ela: estava esperando na estação
Ele: estava saindo do trem
Ele: não tinha ingresso, então teve de
Pular pelas barreiras de novo
Então o inspetor de ingresso viu-o correndo
Ele: disse "garota, você não sabe o quanto senti saudades,
Mas é melhor a gente correr porque eu não tenho
Grana pra pagar essa multa"
Ela: disse "tá"

Então eles saíram correndo da estação
E pularam num ônibus
Com dois tickets de ontem e duas garrafas de Bud
E ele disse "você está muito bonita"
Então ela estava usando uma saia
E ele achou que ela estava bonita
E ela também não ligava pra mais nada
Porque ela só queria que ele a achasse bonita
E ele achou

Mas ele estava olhando pra ela, como se fosse engraçado
Ela: disse "vamos lá, garoto, diga-me o que está pensando,
Não seja tímido"
Ele: disse "ok, vou tentar...
Todas as estrelas lá no céu e as folhas nas árvores
Os pedacinhos quebrados que a fazem pular e
A grama que fica em volta
Tudo o que importa neste mundo é o quanto
Eu gosto de você"

Ela: disse "o quê?"
Ele: disse "deixe-me tentar e explicar de novo

Então, pássaros podem voar tão alto
Ou podem fazer cocô na sua cabeça
É, eles podem quase ir direto nos seus olhos
E deixá-la assustada
Mas quando você olha para eles e vê que são lindos,
É assim que me sinto com relação a você"

Ela: disse "o quê?"
Ele: disse "você"
Ela: disse "do que você está falando?"
Ele: disse "você"

Ela: disse "valeu... também gosto de você"
Ele: disse "legal..."

Foto de Luiz Islo Nantes Teixeira

O TREM DOS CORRUPTOS

O TREM DOS CORRUPTOS
(Luiz Carlos Teixeira/Carolina Teixeira)

La vem o trem
Atravessando as pontes
Cortando os montes
Rumo a cidade
La vem o trem
Trazendo uma vil estória
Uns chegando agora
E os outros mais tarde

Trem dos desesperados
E dos infelizes
Trem dos mal educados
E das meretrizes
Trem dos advogados
Das secretarias e juizes
Dos policiais perfumados
Mas cheirando suborno pros narizes

La vem o trem
Trazendo os egoístas
Falsos ricos e narcisistas
E os mesmos corruptos
La vem o trem
Trazendo os presidentes
Deputados e assistentes
Os mansos e os brutos

Trem trazendo malas
E o grande empreteiro
Que se esconde nas salas
E desembolsa o dinheiro
Trem da grande festança
Da riqueza ilícita
Onde morre sempre a esperança
E tudo acaba em pizza

Trem da grandes decepções
E das corrupções
Que destroem o Brasil
E o povo sempre calado
Votando sempre errado
Votando em Clodovil
E ai o povo vai para a puta que pariu

© 2008 Islo Nantes Music/Globrazil(ASCAP)
Globrazil@verizon.net or Globrazil@hotmail.com
http://www.islonantes.com/

Foto de Carmen Lúcia

A acompanhante

(texto inspirado no conto “O enfermeiro”, de Machado de Assis, em homenagem ao centenário de sua morte.)

Lembranças me vêm à mente. Ano de 1968. Meus pais já haviam falecido e me restara apenas uma irmã, Ana.
Foi preciso parar com meus estudos, 3º ano do Magistério, para prestar serviços de babá, a fim de sobrevivência.
Morava em Queluz, cidade pequena, no estado de São Paulo, quando, ao chegar do trabalho, bastante cansada, recebi a carta de uma amiga, Beth, que morava em Caçapava, para ser acompanhante de uma senhora idosa, muito doente. A viúva Cândida. O salário era bom.
Ficaria lá por uns bons tempos, guardaria o dinheiro, só gastando no que fosse extremamente necessário.Depois, voltaria para minha cidade e poderia viver tranqüilamente, com minha irmã.
Não pensei duas vezes. Arrumei a mala, colocando nela o pouco de roupa que possuía e me despedi de Ana.
Peguei o trem de aço na estação e cheguei ao meu destino no prazo de uma hora, mais ou menos.
Lá chegando, fui ter com minha amiga Beth, que morava perto da Praça da Bandeira e estudava numa escola grande, próxima de sua casa. Ela me relatou dados mais detalhados sobre a viúva, que, não fosse pela grande dificuldade financeira que atravessava, eu teria desistido na mesma hora.
Soube que dezenas de pessoas trabalharam para ela, mas não conseguiram ficar nem uma semana, devido aos maus tratos e péssimo gênio da Sra Cândida.
Procurei refletir e atribuir tudo isso a sua saúde debilitada, devido às várias moléstias que a acometiam.
Os médicos previram-lhe pouco tempo de vida. Seu coração batia muito fraco e além disso, tinha esclerose, artrite, bicos-de-papagaio que a impossibilitavam de andar e outras afecções mais leves.
Depois de várias recomendações de paciência, espírito de caridade, solidariedade por parte de minha amiga e seus familiares, chamei um táxi e fui para a fazenda, onde morava a viúva, na estrada de Caçapava Velha.
A casa era de estilo colonial e lembrava o passado, de coronéis e escravos.
Ela me esperava, numa cadeira de rodas, na varanda enorme e mal cuidada, onde vasos de plantas sucumbiam por falta de água.
Percebi a solidão em que vivia, pois apenas uma empregada doméstica, já velha e com aspecto de cansada, a acompanhava.
Apresentei-me:-Alice de Moura, às suas ordens!Gostou de mim.Pareceu-me!
Por alguns dias vivemos um mar de rosas.Contou-me de outras acompanhantes que dormiam, não lhe davam seus remédios e que a roubavam.
Procurei tratá-la com muito carinho e ouvia atentamente suas histórias.
Porém, pouco durou essa amistosa convivência. Na segunda semana de minha estadia lá, passei a pertencer à lista de minhas precursoras.
Maltratava-me, injuriava-me, não me deixava dormir, comparando-me às outras serviçais.Procurei não me exaltar, devido a sua idade e doença.Ficaria ali por mais algum tempo. Sujeitei-me a isso pela necessidade de conseguir algum dinheiro.
Mas, a Sra Cândida, mesmo sendo totalmente dependente, não se compadecia de ninguém.Era má, sádica, comprazia-se com a humilhação e sofrimento alheios.
Já me havia atirado objetos, bengala, talheres, enfeites da casa.Alguns me feriram, mas a dor maior estava em minh’alma.Chorava, às escondidas, para não ver a satisfação esboçada em seu rosto e amargurava o dia em que pusera os pés naquela casa.
Passaram-se quatro meses.Eu estava exausta, tanto fisicamente, quanto emocionalmente.Resolvi que voltaria à Queluz.Só esperaria a próxima rabugisse dela.Foi quando, de sua cadeira de rodas, ela atirou-me fortemente a bengala, sem razão alguma, pelo simples prazer de satisfazer seu sadismo.
Então eu explodi. Revidei, com mais força ainda.Mantive-me estática, por alguns minutos, procurando equilibrar minhas fortes emoções e recuperar a razão.
Foi quando levei o maior susto de minha vida. Deparei-me com a viúva, debruçada sobre suas pernas e uma secreção leitosa escorrendo de sua boca.Estava imóvel.
Já havia visto essa cena, quando meu pai morrera de ataque cardíaco.
Aos poucos, fui chegando mais perto, até que com um esforço sobre-humano, consegui colocá-la sentada na cadeira e com o xale que havia caído ao chão, esconder o hematoma no pescoço, causado pela minha bengalada.
Pronto!Tornara-me uma assassina!Como fui capaz de tal ato?
Bem, fora uma reação repentina, em minha legítima defesa.Ou quem sabe, a morte tenha sido uma coincidência, justamente no momento em que revidei ao golpe da bengala.
Comecei a gritar e a velha empregada apareceu. Ajudou-me a levar o corpo até o quarto.Chamei Dr. Guedinho, médico da Sra Cândida e padre Monteiro, que lhe deu extrema unção.
Pelo que percebi, o médico achou que ela fora vítima de seu coração, um ataque fulminante.E eu tentei acreditar que teria sido mesmo, para aliviar a minha culpa.
Após os funerais, missa de corpo presente na igreja Matriz de São João Batista, recebi os abraços de algumas poucas pessoas que lá estavam, ouvindo os comentários:
-Agora você está livre!Cândida era uma serpente!Nem sei como agüentou tanto tempo!Você foi a única!
E, para disfarçar minha culpa, eu retrucava:
-Era por causa da doença!Que Deus a tenha!Que ela descanse em paz!
Esperei o mesmo trem que me trouxera à Caçapava e embarquei para minha cidade.Aquelas últimas cenas não saíam de minha mente. Perseguiam-me dia e noite.
Os dias foram se passando e o sentimento de culpa aumentando.
-Uma carta para você!gritara minha irmã.-E é de Caçapava!
Senti um calafrio dos pés à cabeça. Peguei a carta e fui lê-la trancada em meu quarto.
Que ironia do destino!Eu era a herdeira universal da fortuna da viúva Cândida!Logo eu, que lhe antecipara a morte.Ou teria sido coincidência?
Pensei em recusar, mas esse fato poderia levantar suspeita.
Voltei para Caçapava e fui ter com o tabelião, que leu para mim o testamento, longo e cansativo.
Realmente, era eu, Alice de Moura, a única herdeira.Após cumprir algumas obrigações do inventário, tomei posse da herança, à qual já havia traçado um destino.
Doaria a instituições de caridade, às igrejas, aos pobres e assim iria me livrando, aos poucos, do fardo que pesava em minha consciência.
Cheguei a doar um pouco do dinheiro, mas, comecei a não me achar tão culpada assim e passei a usá-lo em meu benefício próprio. Enfim, coincidência ou não, a velha iria morrer logo mesmo e quem sabe se era naquele momento.
Ainda tive um último gesto de compaixão à morta:Mandei fazer-lhe uma sepultura de mármore, digna de uma pessoa do bem.
Peço a quem ler essa história, que após a minha morte, que é inevitável para todos, deixem incrustada em meu epitáfio, essa emenda que fiz, no sermão da montanha:
_”Bem aventurados os herdeiros universais, pois eles serão respeitados e consolados!”

(Carmen Lúcia)

Foto de Joaninhavoa

VIA FÉRREA...

*
sem fim...
*
*

Pergunto como pode uma alma só
Descrever em sol e dó
O que lhe vai na alma, no coração
Se não houvesse uma poção

De magia como a dos coros
E tu como um tenor tens o papel
Principal! Como luz ao fundo do túnel
Escolheste a melhor das sopranos

E pegando o binóculo gasto e usado
Vejo um túnel da via férrea sem fim
E um trem que vem vindo mais além

O som sonoro, forte, expansivo, soa
A uma orquestra com maestro a conduzir
Tal e qual como o poeta ao voar do pedestal

Joaninhavoa,
(helenafarias)
13 de Setembro de 2008

Foto de Carmen Lúcia

A bela cigana

“A bela cigana”

texto inspirado no conto de Machado de Assis: "A cartomante"
(Homenagem ao centenário da morte de Machado de Assis)

O velho relógio da matriz acabava de ribombar a nona badalada, que pairava no ar, feito fundo sonoro e enigmático da história empolgante que acontecia.
Passos apressados se fizeram ouvir, como os de alguém que ansiava chegar rapidamente ao destino a que se dirigia. Pelo toc-toc dos sapatos percebia-se serem de salto alto e consequentemente, de mulher.
Parou por uns instantes numa esquina, como que a espreitar, sem se fazer notar, ao ouvir o barulho de um trem. Esperou nervosamente sua passagem e atravessou a linha. Seus passos agora eram mais rápidos, como se quisesse recuperar o tempo perdido.
Seguiu pela Rua do Porto, tortuosa, escura e esburacada. Aquela noite sem luar estava
propícia para o que se propusera a fazer. Uma grande aliada! Após atravessar algumas esquinas úmidas e sombrias, chegou ao local que lhe haviam, sigilosamente, indicado.
Não era bem uma casa, mas algo parecido.Deparou-se frente a um barracão bastante surrado, meio fantasmagórico, mal iluminado por velas e lampiões.
Ficou assustada.Pensou em voltar, desistir de seu intuito, mas o motivo que a levara até ali era muito forte e resolveu continuar.
Olhou para os lados para certificar-se de não haver ninguém por perto e começou a bater palmas.
Uma figura excêntrica, trajando roupas exóticas e coloridas surgiu silenciosamente feito uma aparição. Escondia o rosto num véu, lembrando dançarina do Oriente Médio, deixando à mostra um par de olhos negros, grandes, belíssimos e um ventre bem torneado.
- Boa noite!disse-lhe Lígia.
A cigana fez um leve movimento com a cabeça, cumprimentando-a e estendeu o braço, apontando-lhe o local a que deveria se dirigir.
Ambas sentaram-se nas almofadas que havia ao redor de uma mesinha onde a misteriosa mulher, à luz de velas, começou a colocar cartas de um baralho sinistro, pedindo que Lígia escolhesse algumas. E assim ela o fez, sem tirar os olhos da bela cigana, agora sem o véu.
De repente, viu um largo sorriso em seus lábios, revelando dentes muito alvos e um canino revestido de ouro.
-Vejo imensa luz em seu destino!Seus sonhos serão realizados!Nada a afastará de seu grande amor.Somente a morte, após terem vivido longos anos de felicidade.
Em seguida, pegou a mão esquerda de Lígia :-Essa linha mais comprida da palma de sua mão vem comprovar o que lhe disse.
Lígia sentiu-se muito feliz e um alívio tomara conta de seu coração.Pagou a mulher, que já aguardava o pagamento pelo seu trabalho e retirou-se dali.
Eram vinte e três horas quando chegou à Avenida Coronel Alcântara, onde residia.Não ficava distante do local de onde viera.
Tirou as roupas, os sapatos, vestiu uma camisola branca e deitou-se, sem qualquer ruído, ao lado de Álvaro, seu marido, que roncava, dormindo profundamente.Apagou a luz do abajur e adormeceu logo em seguida, satisfeita com o que ouvira naquelas últimas horas.
Cássio a esperava no lugar de sempre, sem muito movimento de veículos e transeuntes.Final da Rua Vinte e Oito, local ideal para encontros clandestinos.Olhava seu relógio, pois, já passava das vinte horas, horário combinado por eles.

Lígia apontara na esquina, mais bonita que nunca, com um insinuante vestido preto colado ao corpo, ornamentado por um generoso decote, mostrando seu colo macio e branco e uma boa parte de seus seios.Deixava no ar um rastro de perfume francês.
Cássio a olhou com olhos de admiração e desejo.Saiu do carro e abriu a porta para que ela entrasse.
Partiram para um lugar retirado, onde pudessem conversar e namorar tranquilamente.
-Nada irá se opor a nós!As palavras da cigana foram convincentes.Seu misticismo é contundente.Não há como descrer.
Ele riu da credulidade infantil da amante, mas não proferiu qualquer palavra sobre o assunto.Preferia-a assim, crédula e feliz.
Cássio havia sido chamado ao gabinete de seu chefe. Esperava o elevador que demorou um bom tempo para chegar.Bateu à porta levemente e ouviu:-Pode entrar!
Álvaro girou sua poltrona e ficou frente a frente com seu assessor.Fumava um charuto cubano e fazia questão de soltar a fumaça em direção ao seu subalterno.
Este ficou um tanto constrangido, pois notou algo de diferente no ar. Pensou:-Será que ele descobriu tudo?
-Preciso resolver um problema da empresa, em São Paulo, e pela confiança inabalável que tenho em você, pela sua inegável competência, quero pedir-lhe que vá em meu lugar, pois tenho outros assuntos pendentes a resolver .
Deu uma pausa no falar para acender outro charuto.
Cássio jamais negaria esse pedido ao seu chefe e amigo, ainda mais pela consciência pesada que trazia, decorrente da traição amorosa com sua mulher.
-Conte comigo, Álvaro!Amanhã mesmo tentarei resolver isso.
Sentiu-se livre do mau presságio que o invadira.
Combinaram o horário da viagem, despediram-se e Cássio voltou para sua sala.
Lígia atendeu o telefone que tocava insistentemente.
-Olá, querida!Que tal irmos para São Paulo e termos uma semana somente para nós?
Do outro lado da linha, uma mulher pálida e trêmula, não sabia se chorava ou ria.
Ele a tranquilizou e até sugeriu uma desculpa ao marido.Ela diria que precisava visitar uma amiga de infância, em fase terminal de câncer, na cidade de Resende.
Bem, parecia que tudo conspirava a favor para que os amantes ficassem juntos por mais tempo e se amassem muito.
Poucas horas antes da viagem, Lígia fez um pedido ao Cássio:-Gostaria de agradecer à cigana por essa felicidade, que em grande parte, ela nos proporcionou, já que eu andava tão angustiada, acreditando numa possível desconfiança de meu marido.
Cássio colocou alguns obstáculos nessa idéia da amante, mas, se era para deixá-la mais feliz, concordou.
As horas passavam e Lígia não chegava. Preocupado, resolveu ir até lá. Já era noite e um chuvisco embaçava o vidro do carro, deixando-o impaciente. Parou próximo à linha do trem, para esperá-lo passar. Era um cargueiro que parecia não ter fim.
Finalmente, linha desimpedida! Acelerou o carro e chegou em frente ao barracão que sabia muito bem onde se localizava, graças às informações de Lígia.
Bateu palmas e ninguém apareceu. As velas acesas piscavam e os lampiões estavam apagados.
Resolveu entrar, na surdina. Pé ante pé...A cena que viu jamais sairia de sua mente. Abraçados sobre as almofadas, a bela cigana e Álvaro...e mais adiante, numa poça de sangue, o corpo sem vida de seu grande amor...Lígia!

(Carmen Lúcia)

Foto de Carmen Lúcia

O trem...

Não quero saber das partidas,
Das idas sem vindas
Que vão e não vêm...
Causando transtornos e danos,
Levando os sonhos nas rodas de um trem.

Eu quero é ouvir seu apito,
Acenar com agito em cada estação...
Sorrir ao sentir a chegada
Daqueles que foram buscando emoção!

Quem dera poder ir embora,
Partindo com ele nos trilhos do além...
E ver nas janelas, lá fora,
O tempo ficando distante de mim...

Já ouço o trem apitando
Na linha da vida, sem rumo, enfim...
Será que está indo ou chegando,
Trazendo ou levando, o começo ou o fim?

(Carmen Lúcia)

Foto de Graciele Gessner

O Trem Encantado no Poemas-de-Amor.Net. (Graciele_Gessner)

Aos meninos do trem encantado,
Que espalham os seus risos e suas alegrias,
Cheios de belezas e vivências...

A cada estação encontraremos novos amigos
Grandes poetas que farão desta viagem
O trem mais comentado e encantado...

Nesta viagem poetizamos e cantarolamos.
Mostraremos ao mundo os nossos sonhos,
Apresentaremos a magia dos escritos...

22.03.2008

Escrito por Graciele Gessner.

* Se copiar, favor divulgar a autoria. Obrigada!

---

Nota: Dedico ao poeta e amigo Edson Milton Ribeiro Paes.

Em retribuição por tão linda homenagem à todos os poetas:
“GRAN CIRCO HERMANOS POETAS”

Foto de Gideon

O trem da Central

Vou-me embora nesse trem
Vou-me embora nessa sina
Vou prá casa na Vintém
Ver Menina, minha mina.
Cantando e assobiando
Um sambinha popular.
Vou dormindo, cochilando
Prá não ver tempo passar.
Vou sonhando com o mundo
Esperando prá mudar.
Vou fazer uma fezinha,
No cachorro apostar.

Lá vem vindo o camelô
Anunciando com ardor,
Agulha, linha, tem senhor!
Carretel e pregador.
Meu sapato já furou,
A Menina reclamou
Pediu um desentupidor
Pois a pia transbordou.

Psiu, Psiu! Ô camelô!
Vem na mão com abridor.
Tem dedal, tem sim Senhor.
Tem elástico e varal.
Que retira do avental
Vai girando o seu giral.
Quero um desentupidor, ô camelô,
Minha pia entornou.
Tenho só cinco mil réis,
Não me serve um abridor.
Tem biscoito, tem pastilha,
Mirabel e simpatia.
Agradeço a serventia
Do guri com anemia.

Vou-me embora nesse trem
No constante vai-e-vem
Cochilar um pouco mais
Sem pender para o rapaz.
Vou-me embora nesse trem
Que não chega na Vintém.
Amanhã de novo tem
Jornaleiro, pipoqueiro
Esmoleiro tem também.

Tem o primeiro vagão
Com pastor dando sermão.
Cozinheira cantadeira
Com a Bíblia na mão.
Tem irmão falando grosso
Ex-bandido agora moço.
Todos cantam uma canção
No meio da oração.

Vou chegando na Central
Cumprimento o Juvenal
Moleque trabalhador
Vendedor e lutador,
Anunciando o jornal.
Já dizia minha avó,
Quem não estuda até dá dó.
Vou prestar vestibular.
Este ano vou passar.
Medicina, nem pensar.
O patrão tem que ajudar.
Pode ser demagogia
Mas eu vou aproveitar.

Vou-me embora deste trem.
Oh, Menina, cá cheguei
Sem nenhum, nenhum vintém.
Camelô não ajudou
Só achei um abridor.
Mas trouxe algumas rosas,
Lá do Zé, o vendedor.
Toma Menina o meu favor,
É uma lembrança com amor.

Vou-me embora da Vintém
Desta vez não vou de trem
Vou de táxi amarelo
Prá Rocinha, bem além.
Vou pagar o armazém,
O padeiro, o verdureiro,
O sacolão e o floreiro.
Deu cachorro na cabeça,
O sermão me ajudou.
O bicheiro me pagou.
Prá Zona Sul agora vou.

Juvenal me balançou
Do sonho me resgatou
Levanta homem que chegou,
Vamos logo desse trem,
Já chegamos na Vintém!
Vou ver Menina, minha mina
Que seu beijo me fascina.
Cheiro de alho me alucina.
Amanhã é sexta-feira
Vou no forró da saideira
Com Menina lá na feira.

Vou-me embora desse trem
Só quando for para o além.

Foto de Gideon

O Trem da minha sina

O sentido da vida
jamais poderemos saber,
os dias corridos e apressados
jamais poderemos reter.

Observo os outros, próximos,
que ao meu lado movem-se
pelo instinto do viver.
Vão e vêm sem perceberem
que uma sina oculta
cumprem sem merecerem.

Eu também da minha sina
não consigo fugir,
de tudo fiz, de tudo aprendi.
Faculdade de gente rica,
como diziam lá na vila,
profissão de família boa,
que não se consegue à toa.

Pois bem, por mais que tentasse
e tudo fizesse ao meu alcance,
cá estou em pé no trem parador
seguindo obediente pro meu labor.

A trilha do ruído dos trilhos
remete-me às histórias de meu pai,
que cumprindo por si também a sua sina
nos mesmos trens paradores e diretos
apertado e inconformado subia e descia.

Não, não entrego os pontos assim facilmente,
da bolsa de couro macio
saco a caneta e o caderno, paciente.
Anoto as expressões dos pobres coitados
e transformo-os em atores,
essa gente de recursos tão parcos.

Pelo vagão procuro feições tristes
prá rechear os meus tristes escritos,
mas sorrisos ingênuos e olhares candentes
surpreende a minh’alma de poeta reticente.

Volto-me para a minha própria condição,
passageiro desta tão pobre e nobre condução.
Na chupeta pendente agarro a minha mão,
pro balanço do trem não jogar-me na solidão.

Por de trás de meus óculos, disfarçado,
observo Maria de cabelos ondulados
e tosca roupa na moda dos rebolados.
Mastiga um chiclete já meio deformado.

Ela serve, quem sabe,
prá ser a minha heroína dum conto qualquer,
que insisto escondido ali existir,
e naquele cenário tão pobre
tento ainda alguma arte produzir.

Com uma das mãos sustento o caderno
com a outra a caneta retiro do terno.
Próximo à porta apoio as minhas costas.
As histórias de Maria
vou tentando dar forma
com letras tortas.

A sina da vida sofrida de Maria
insisto incluir no meu conto,
mas ela é bonita demais
e distraio-me com o seu encanto.

Um lugar prá Maria, enfim,
não encontro no meu conto.
Contudo logo percebo,
que o personagem que descrevo
sou eu mesmo,
que do trem da Central do Brasil
ainda é prisioneiro.

A sina da vida, insisto,
ainda quero incluir no meu conto.
Mas não é a realidade que de fato vivo?
Pergunto-me com desencanto.

O sofrimento do enredo
que sobrepõe a minha inspiração
vai desfazendo daquele conto
que não consigo continuação.

A minha sina parece que segue
no trem da minha vida
e cá estou de caderno fechado,
caneta no bolso borrado,
observando Maria que com charme
o chiclete ainda mastiga.

O balanço desse sofrimento
atormenta o meu coração
que é solitário de paixão,
Maria, quem me dera,
que prá ter o seu olhar tudo faria
mesmo que fosse por compaixão!

Na estação da Central
o meu sofrimento fita o chão.
O olhar de Maria se foi na multidão.
Meu caderno de escritos agora
descansa triste na minha mão.
Ainda ouço, ao longe, com emoção
o clamor da última pregação.

Anúncios saindo dos alto-falantes da estação
ecoam agora inundando o saguão.
Eu caminho apressado
esbarrando nos braços
de tantas marias
e em tantas mãos.

O poeta desce pro Metrô, frustrado,
e na escada rolante, agarrado.
desvia-se dos braços de esmola, esticados,
pendendo o seu corpo pro lado.

O conto sobre Maria
e o trem dos amontoados
ficarão prá outra viagem.
Quem sabe um dia sem esperar
a inspiração virá
e outras marias com outros penteados
serão heroínas do poeta,
que segue a sua sina
no trem dos desafortunados.

Foto de Dirceu Marcelino

O ENCANTO PREVALECEU SOBRE A CERIMÔNIA DO CASÓRIO - IV EVENTO LITERÁRIO DE 2008 "É com nóis mesmo cumpadé"

COMO TE VEMOS?

Vejo – te como uma Musa.
Uma mulher deslumbrante.
Com cabelos castanhos bem cuidados,
Cheirosos e mui brilhantes.

Com um olhar profundo, meigo e singelo,
Mas, penetrante.

Olhar que percorre nossa alma e se aprofunda,
Retirando lá do fundas lembranças adormecidas.

Lembranças profundas.

Como a música expressada de uma voz maravilhosa,
Como de uma flauta que encanta.
Do som que se emana e se espraia
Ao longe, nos vales e nos montes
Das Minas Gerais.

Ou no eco da harpa que vibra na alma.
Tilinta lá no profundo inconsciente
E aflora nos olhos, nas lágrimas

No sorriso do velho,

Do homem,

Do jovem e

Do menino.

De ti MULHER.

NOIVA DE SAPATINHOS DE CRISTAL

Poetas vocês chegaram à hora esperada
Por diversos caminhos, simuladamente,
Chegaram ao pé da montanha encantada
Todos felizes e com sorrisos radiantes

Vejam atrás desse morro passaram boiadas
Vieram de trem, a pé, mas estão contentes,
Pois de alguma forma encontram a entrada
Agora irão galgar os degraus e crentes

Estão de que chegaram ao fim da jornada,
Algo que almejamos e aí quem o desmente
Embora saibamos que é fruto d’uma sonhada

Noite de devaneios e encantos da mente
Consciente que vê no imaginário a amada
Noiva de sapatinhos de cristal somente...

(Dirceu Marcelino, 24 de junho de 2008 )

Páginas

Subscrever Trem

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma