Temor

Foto de Carmen Lúcia

Convivendo com a dor

Aprendi a conviver com a dor.
Encarei-a de frente, venci o temor.
Deixei que ficasse ao meu lado
e meio que acabrunhado
meu passo conseguiu se mover,
ainda que desconsertado.

Imprescindível parceira da vida,
presente na lida, nos versos, no amor,
ao mesmo tempo em que espezinha
a alma lapida e nos faz crescer,
embora sendo um fardo
pesado e doído de sobre-erguer.

Há dor nos mais belos poemas
surgidos do cerne que rasga o interior,
nascidos das chagas que não cicatrizam
se não vêm à baila e explodem com a dor.
E o grito que damos traz o eco que somos.

Aprendi a valorizar a vida,
os simples detalhes lhe aumentam o valor,
que a dor não pode ser desprezada
quando não aprendemos por amor;
quem pela vida passa por passar
não conhece o direito sagrado de chorar.

_Carmen Lúcia_

Foto de Delusa

Cega Evolução

Descontentamento, tristeza e dor
Sinto-a por esta simples razão
Se cada ser humano é um irmão
Porque não há entre nós verdadeiro amor?

A ganância cega-nos o temor
A ninguém estendemos a nossa mão
Maus filhos tiveste tu, pobre Adão
Vê esta irmandade que é um horror

O filho hoje o pai não conhece
A virtude de outrora vai morrendo
A palavra "honra" já não existe

Nesta civilização a moral desaparece
Velozmente a maldade se vai desenvolvendo
E por esta cega evolução me sinto triste

Delusa

Foto de Maria silvania dos santos

Constantemente

Constantemente

_ Simplesmente cobri-me com o manto do solidão, pois é coisa que a muito tempo ocupa o meu coração...
O meu coração , vive se pondo a chorar, é que a tristeza ele não consegue expulsar...
Constantemente, a angustia e o temor de uma presente solidão, corrói meu coração...
Pelo mundo sofrido, com meu coração triste e ferido, vago lentamente sem destino, por um deserto sem fim, sem parada, desesperada choro triste e cansada...

Autora; Maria silvania dos santos

Foto de Edson Cumbane

O DIA DO SENHOR

Vós tendes injuriado ao Senhor
Quando perguntais: onde está o Senhor?
Mas eis que Ele vos ama e clama:
Vinde a mim e eu vos aliviarei.
Mas vós estais surdos e indiferentes!

Confiais nessas vossas bugigangas
E esqueceis que elas são traça
Que vos corrói o espírito e a visão!
Vós sois cegos, pois, rejeitastes a Deus!

Até quando? Até quando o pecado
Reinará sobre vós? Vós estais sem vida.
Vinde ao Senhor e vivereis verdadeiramente.
Vinde ao manancial de águas vivas
E nunca mais tereis sede!
Ide e lançai a rede
Ide e lançai no lado direito
E o Senhor vos alimentará!

Eis que essas estradas desaparecerão!
Não mais existirão: diz o Senhor.
Eis que esses edifícios e estátuas
Serão consumidos pela ira do Senhor!
Fazeis homenagens a deuses falsos
E desprezais ao Senhor!
Onde está o temor do Senhor?

Eis que essas delícias desaparecerão
Não mais existirão frutas na Terra
Até o dia da vingança do Senhor!
Até o Senhor restaurar a paz.
Até o Senhor exaltar os seus escolhidos
Não haverá paz na Terra: diz o Senhor.
Até o dia da restauração da nossa Jerusalém:
A Cidade de Deus, Jerusalém, Jerusalém:
A Cidade dos santos do Senhor:
O Deus da glória!

Foto de Priscila Maia

Revelação

Às vezes tenho medo
De perder-me...
Perder-me das coisas que julgo importante em minha vida

Sinto-me oprimida
Sem direção
Tento olhar para frente
E tudo que vejo é uma imagem indefinida
Do que será um dia

Quero manter-me lúcida
E o que me ajuda é a capacidade de amar
A coragem, determinação
De estar construindo algo ao seu lado
Já tão esperado e incompleto

Sonhar é uma palavra que já não me permito
A dor da tão procurada felicidade
Atrasa-se para o meu encontro
Mas continuarei espera-lo

Amo-te a ponto de revelar-me por inteira
Sem temor ou culpa

Espero-te desesperadamente
Para que me traga tudo que sempre quis, desde que te conheci
Você e todo seu amor

Foto de Arnault L. D.

Noturno

Ao amor que me regê
não cabe olhar o dia.
Busca a tênue bruma, fria,
da noite que nos protege.

Não convém sair ao claro
e assim vive escondido.
Entre os detalhes, diluído,
Doçura num bitter amaro...

Não me atrevo além do luar,
ao esmiuçar da luz, direta.
Qual o morcego, que incerta,
no temor da aurora voltar.

Mas, não duvides, é amor.
Verdadeiro, triste e cálido,
como a luz de um prata pálido
num reflexo de sol, sem calor...

Vivo na obscura distancia,
o breu sonambulo de alfombra,
pelas frestas do não, e sombra,
acalento desejo, boca e ânsia...

Mas, o sinto, e à noite integro,
como irmão da sombra incógnita,
oculto satélite, por ti a orbita,
imerso no breu do espaço negro.

Sou no canto d'ave notívaga
que o ignorar diz mau-agouro...
mas, é tudo que lhe posso deste ouro,
o meu choro por ti na noite amiga.

Foto de Bruno Silvano

Incertezas

Sabe..
Nunca saberemos quem somos
Nunca saberemos distinguir o amor
Do ódio do temor e da paixão

Nascemos perfeitos
Mas nos perdemos quando descobrimos que temos um coração

Somos uma espécie predestinada
A sofrer sem ter que escolhas
Sem ter a oportunidade de viver

Não somos nada sem ninguém
Nunca descobriremos o que é o amor
Não saberemos se realmente existimos
Não saberemos se o mundo existiria sem você

Nunca saberemos de onde vem o amor
Não saberemos porque o cérebro tomou o lugar do coração
Mas porque não a um cérebro sem um coração ?

Um universo rodeado por incertezas
Desprendimento, desilusões
Como poderemos amar
Sem ter que sofrer separações?

Porque amar virou sinônimo de sofrer?
Se não escolhemos a quem amamos
E que o amor na tem olho para ver..

Porque existe solidão?
Em um mundo repleto de tecnologia
Rodeado de informação..

PORQUE????????

Porque que a única coisa que podemos prever
É que para todo sempre muitos irão por amor sofrer ?

Foto de Bruno Silvano

O Lugar

Estando no meio de tudo
No meio do amor
No meio da violência
No meio da dor

Batalhas, lutas
Haverias lugar onde morar?
Onde dois seres habitassem
Onde dois seres soubessem se amar
Lugar onde não aja a dor
Onde o amor não de lugar ao temor

Lugar onde a esperança
Não significa morte
Não signifique ganância

Lugar esse existiria a paz?
Ou seria sonho de um povo medíocre
Que sequer sabe compartilhar

Lugar onde o povo fosse livre para sonhar
Onde não fosse preciso correr
Onde não fosse te que pagar
Para poder viver

Lugar onde fosse possível ter um coração
Sem ter angústia
Sem que aja cobiça e ilusão

Lugar onde se unir
Fosse força
Não precaução

Lugar que exista
Não que se baseie
Em historias de artistas

Seria possível amar-mos?
Sem morte, roubos...
Sem termos que decepcionarmos?

existiria herói?
Num lugar onde o povo se corrompe
E se destrói ?

Lugar onde não existira nada mais que o amor
Onde todos compartilham sua felicidade e dor

Foto de guiridhari

Pesares

Não pode, palavras timidas
Revelatem tal temor
Tempos de vida escassa
Falta-me teu calor

Em versos escrevo a dor
Para descansar os pesares
Nesta casa da morte
Onde andam os cadáveres

Lagrimas de sangue
Meu coraçao chora
Olhando ao meu lado
Decepada, sua cabeça esta agora

Mesmo essa história
Pode ser verdade
Por favor mate-me agora
Elimine-me da realidade

Foto de Paulo Master

Tortura Dissimulada

Ao entrar em cena, meu carrasco me aguarda, somos atração principal e compartilhamos dos mesmos sentimentos, porém, meu asco se derrama contra ele. No entanto, já me encontro ferido, machucado, açoitado e condenado. Mesmo sendo inocente, meu corpo foi marcado com caráter vil, meu sangue fenece jorrando na areia da arena em decorrência dos ferimentos causados pelas Bandarilhas, “alegremente” coloridas, disfarçam a ferragem que me causa dor e hemorragia mortal. Os poucos que torcem pela minha vida estão a protestar, como eu, pelo fim dessa terrível tradição: “arte tauromáquica”, denominam arte e cultura, o que não passa realmente de tortura dissimulada e sem precedentes. Contudo, estou certo do meu trágico fim. Meu grunhido de dor, angústia e lamento, está em ver meus últimos momentos de agonia nas mãos de um destino tão cruel. Àqueles que fomentam meu sofrimento e se divertem com minha dor, resta-me apenas lamentar a falta de sensibilidade e compaixão. Embora não seja humano, sinto as mesmas dores que eles, os mesmos medos e o temor ao deparar-me enfraquecido diante da figura do carrasco. No desespero em manter os sentidos, serei engolido pelo inconsciente através de um único golpe e agonizante, mergulharei na escuridão profunda.

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