Ao entrar em cena, meu carrasco me aguarda, somos atração principal e compartilhamos dos mesmos sentimentos, porém, meu asco se derrama contra ele. No entanto, já me encontro ferido, machucado, açoitado e condenado. Mesmo sendo inocente, meu corpo foi marcado com caráter vil, meu sangue fenece jorrando na areia da arena em decorrência dos ferimentos causados pelas Bandarilhas, “alegremente” coloridas, disfarçam a ferragem que me causa dor e hemorragia mortal. Os poucos que torcem pela minha vida estão a protestar, como eu, pelo fim dessa terrível tradição: “arte tauromáquica”, denominam arte e cultura, o que não passa realmente de tortura dissimulada e sem precedentes. Contudo, estou certo do meu trágico fim. Meu grunhido de dor, angústia e lamento, está em ver meus últimos momentos de agonia nas mãos de um destino tão cruel. Àqueles que fomentam meu sofrimento e se divertem com minha dor, resta-me apenas lamentar a falta de sensibilidade e compaixão. Embora não seja humano, sinto as mesmas dores que eles, os mesmos medos e o temor ao deparar-me enfraquecido diante da figura do carrasco. No desespero em manter os sentidos, serei engolido pelo inconsciente através de um único golpe e agonizante, mergulharei na escuridão profunda.
Tortura Dissimulada
Data de publicação:
Sexta-feira, 7 Outubro, 2011 - 14:41
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