Selva

Foto de Jardim

QUIXOTE

qualquer coisa arranha
(as paredes neutras, o re-
lógio que corre), qualquer
coisa desanda.
já me atiro em pelo
contra a calma
dos moinhos de holanda.

percebi meus passos muito tarde.
agora é tarde, todo abraço
já espanta,
já não importa.
agora é selva!
o aço dos moinhos
me abraça.

guardo comigo dos beijos
o ranço
e os inumeráveis espaços
de holanda.
guardo comigo o desencanto
e dalgum úmido sexo
a lembrança.

Poema do livro Filhas do Segundo Sexo
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Foto de Paulo Master

A razão de toda a existência

É possível avaliar um sentimento? Pesar uma afeição? Medir o entusiasmo ou regular uma paixão? Estamos conectados, seguimos uma ordem natural, um preceito imposto a cada ser como dádiva divina. Somos cativos a esses sentimentos, o ser humano é um indivíduo coeso, de origem racional e segue os próprios instintos. Não há como negar, existe em cada ser a necessidade de suprimir as emoções, mitigar os anseios e saciar desejos concupiscentes. O campo sentimental é como uma selva em que vence o mais forte, em seu interior existe um contrassenso, um leão a ser abatido. Todavia, esse caminho é uma senda serpeada, um campo minado, pérfido, onde vence o perspicaz. Esse “vencedor” não somente se valia de sua argúcia instintiva, como de um desprendimento sentimental especial, diferente dos demais. O ser humano é capaz de amar racionalmente, responder a esse sentimento e submeter-se a suas condições. Desde o útero aguardamos o contato materno, a ânsia pelo amor tornou a experiência embrionária um ensaio prodigioso. O amor, no entanto é um admirável paradoxo, um bem comum, o atributo peculiar em cada ser, o domínio de um e a sujeição do outro. Se estivermos compelidos a amar de forma irracional, estaremos impelidos ao inefável abismo solitário da razão. O amor é inerente como a alma, é a essência de cada ser, um nobre sentimento, uma busca; a razão de toda a existência.

Foto de annytha

HOJE, ONTEM

Ontem eu nutria um enorme sentimento por ti e tu não percebia...
Hoje, tu vens a mim e falas da tua paixão incontida que um dia tivestes por mim, só que eu nunca percebi...
Ontem, se tu falasse de todo esse teu sentimento pra mim, eu acreditaria, mas hoje...
Hoje, já não sei se gostaria de saber, porque, tu, pra mim, és apenas um rosto a mais na multidão perdido dentro de uma selva de pedras!
Hoje, quando te vejo, percebo que já não sinto mais nada...Meu coração já não bate acelerado, as minhas mãos não suam mais, olho para ti sem medo de estar deixando transparecer uma paixão de mão única...
Ontem, com toda certeza, eu queria que tu me notasses não apenas como amiga, ma sim como alguém que tinha por ti um amor incondicional, puro verdadeiro...
Hoje, quando lembro das oportunidades que tivemos em nossas mãos, de nos amarmos por inteiro, e a deixamos escapar como areia que escorre entre os dedos, vejo que talvez tenha sido melhor ter sido assim...
Ontem, de tão apaixonada que eu era por ti, via-te nos meus delírios, um homem que me abraçava, que sussurrava em meu ouvidos frases desconexas, onde fazia todo o meu ser estremecer ...
Hoje, se chegares de mansinho e encontrares a porta do meu coração aberta, peço-te, por favor não entres, pois dentro de mim, não terá mais lugar para ti, pois preenchi o teu vazio com outro alguém que me valorizou e por tanto querer-me, ao contrário de ti, aprendi a ser feliz com ele, e tu, saias por ai em busca de outro alguém que te queira, mas nunca jamais como eu um dia te quis! Vá em frente meu amigo, e espero q sejas feliz!

Foto de Carmen Vervloet

Hóspedes Desconhecidos

Sua cor eu desconheço,
desconheço também sua espécie,
mas seu canto agrada meus ouvidos!
É um canto melodioso e triste
que enternece o coração.
Sei que tomaram de empréstimo
meu ar condicionado,
(meu quarto é amplo,
por alguns dias não vou morrer sufocado)
nele fizeram seu ninho com esmero e carinho
e aguardam o nascimento dos filhotes,
cuidando com zelo dos preciosos ovinhos.
Nesta selva de pedras
precisamos dividir nosso espaço.
Os pássaros já não possuem
seu habitat original,
nem árvores, nem casas com beiral,
buscam qualquer cantinho, mesmo nada especial.
Fiquem passarinhos o tempo que for preciso,
encantem minha alma, despertem meu riso!
Sei que quando partirem
deixarão um vazio em meu aposento
mas meu coração, seduzido, ficará a espera
de um novo encantamento.

Foto de cnicolau

Domingo...

Mais um domingo se vai,
Mais um dia findou-se.
A cabeça continua a mesma,
nada alterou-se.

Penso, tento resistir.
Luto contra tudo e todos.
Nessa selva de pedra,
fico sozinho nos escombros.

Sinto estar cansado,
demasiadamente exausto.
O corpo esta bem obrigado,
Mas a mente, em frangalhos.

Observo pela janela,
o sol a se esconder.
Tanta nuance de cores,
e meu coração,
só entente o DOER.

Novamente recebo algo inesperado.
Toda semana tem sido assim.
Quando penso estar melhorando,
algo entra dentro de mim.

Não sai, fixa, gruda,
já tentei tirar.
Mas por mais que tente,
não consigo apagar.

É inerente a meu desejo,
é coisa do destino.
Uma peça da vida,
A brincar comigo.

Chega, por favor,
dói, machuca, fere.
Não aguento mais,
essa dor em minha mente,
minha pele.

Socorro.
Misericórdia.
Tenha por mim SENHOR,
em sua eterna Glória.

Cleverson Luiz Nicolau
02/10/2011

Foto de raziasantos

Onde estou?

Tudo é tão vago...

Tudo que lembro é de acordar em lugar frio abafado.
Não sei como, mas conseguiu sair comecei a caminhar entre as folhas secas: As árvores sem vida...
Tudo era silencioso, não ouço risos, nem choro, nem lamentos, nem agouro.
Não sei onde estou, nem sei quem sou, tento me ver, mas não consigo; não sinto o calor do sol, à noite não vejo o esplendor das estrelas nem o brilho da lua.
Tento descobrir que sou começo a caminhar passo por rios de águas turvas e violentas.
Vago na densa noite quando á luz do sol irar iluminar todo universo.
Mas sem dormir eu me desperto tudo esta frio e nublado...
Espanto-me com silencio e pela primeira vez sinto um arrepio no meu corpo.
Tudo! É tão vago onde estou?Quem sou eu?
Começo a correr tem pressa de sair deste lugar horrendo e vazio.
Não sinto mais meus pés não vejo os pássaros, e nem ouço o seu cantar.
Nem uma só palavra, nem um ser vivem.
Somente eu...
Eu, ‘’mas quem sou eu’’?
Neste imenso vazio e solidão tento encontrar minha alma quem sabe ela me dirá que sou?
Ò minha alma onde estas? Apareça faça-me companhia tira-me deste vazio!
Há minha alma tudo é tão vago nem recordações eu tenho, minhas lembranças sumiram.
Estou cercada pelo silencio, selva da amargura e a selva da solidão.
De tanto caminhar consigo ver a cidade, mas esta vazia e as poucas pessoas, que consigo ver me ignoram, em algumas eu toco pedindo socorro, mas é como se eu não existisse.
Há!Estou me perdendo cada vez mais...
Onde estão minhas lembranças?
Serei eu um ser humano?
Por que fui condenada há este mar de desilusão e tristeza...
Sinto-me tão cansada devo encontrar um lugar para descansar, e onde eu possa me aquecer.

Mas onde?Se tudo é vago e vazio...
Neste longo caminho que tenho percorrido me perdi nos dias nem sei mais contar os meus dias.
Quem me dera poder ouvir o canto da sábia, as garças com sua beleza me alegrar.
Vou seguir sem parar de caminhar até onde meu corpo suportar.
É eminente a dor do abandono e solidão.
Será este o purgatório?
Por quem fui julgada?
Se não tenho lembranças como saber o meu pecado!
Não sinto cansaço só tristeza tudo é sem brilho, sem cor.
Até os rios me rejeitam...
Quem sou eu? O que sou?

Estranhamente sou tomada por um sono incontrolável.
Sinto muito frio parece que estou em congelando.
Adormeço profundamente...
Der repente ouço uma voz suave e sinto mãos batendo lentamente em meu rosto:
Raquel acorde tudo terminou bem você voltou para nós acabou o pesadelo
Você saiu do coma!

Foto de Carmen Vervloet

SANTA TERESA

Santa Teresa... que paz tão imensa
nas tuas matas preservadas de onde surgem
em nuances do verde claro ao escuro
árvores centenárias exalando esse ar tão puro.

Na castidade que a terra urge,
em teu seio mostrou-se intensa
a selva virgem onde o silêncio surge,
entre montanhas, colibris e crenças.

Que lindas cores nas tuas alvoradas,
onde a minha alma italiana descendente
passeia feliz sobre a cidade colonizada
sob a forma de uma rosa amanhecente.

O meu coração feliz saltitante
entrega-se ao teu bucolismo, cidade amada!
Sempre vestida por cores impressionantes,
ao som do coral da sua multíplice passarada.

Carmen Vervloet

Foto de jessebarbosadeoliveira27

O FILHO DA GUERRA DE TODOS OS DIAS

O homem joga-se no abismo...
O homem transforma-se no abismo...
O homem foge agonicamente do abismo...
O homem é essencialmente o abismo...
O homem singra caminhos longos, oblíquos, doridos...
O homem, habitando a selva de pedra do mundo iníquo,
É ventania, alegria, caixão, senzala, poesia, fuzil,
Escravos chibatados sobre o pelourinho...
O homem, em facundo desafio,
Posta-se frontalmente ao feral tanque assassino...
O homem: sulcos, dédalos, pedras, espinhos...
O homem pugna contra os doze signos do abismo...
O homem cai e se soergue assertivo, altivo...
O homem, favelas, utopias, trampos, caatingas, Sonoras, Savanas, redemoinhos...
O homem sonha com o sol da dignidade e do altruísmo...
O homem fica preso no templo da vilania e do egoísmo...
O homem trafega pela rodovia da vida-morte em período contínuo....
O homem perde-se entre amores, saudades, vórtices, descaminhos...
O homem floresce como laranjeira, esmeralda, pendão, criptográfico pergaminho:
A certeza jazendo na vivenda do eternal exílio!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

Foto de Leo_20

Pedras

Parecem pedras sobre meus ombros
Já nem consigo olhar pra tras
Como coisas que me fugiram pelas maos
Assim é o que sinto
Sem vc aqui

Tento me manter vivo
Há um coração ainda batendo
Não sei de onde ele tira forças
Nem qual sopro ele ainda resiste
Perdido, partido como ele só

Balas me atingiram em cheio
Aparelhos já nem fazem mais efeito
É como o tempo que teima em não passar
Perdido no meio da selva
Esperanças perdidas de ser encontrado
Um abraço que não vem mais

É como dizer que basta acordar
E tudo se acaba
Como nem tivesse existido
Mas quando mais tentamos subir e buscar o ar
Mais as pedras nos puxam pra baixo
Assim é o que sinto
Te vendo partir

Foto de giogomes

A Rosa e o Tigre VIII – Mudanças

Que sobreviva à eternidade,
este sentimento de amor e amizade.

Era o desejo da Rosa,
sobre a felicidade majestosa.

O Tigre a preenchia completamente,
tudo que na sua vida foi ausente.

Cumplicidade, amizade e nenhum pudor.
Carinho, compreensão e muito amor.

Só um maravilhoso desabrochar ao relento,
poderia mostrar o que foram, os últimos momentos.

Junto de seu amado,
o mundo parecia mais simplificado.

Queria senti-lo para sempre,
e que nunca mais ficasse ausente.

Sabia que até tudo se realizar,
“para sempre”, teria que esperar.

O seu Tigre retornaria a selva,
correndo velozmente pela relva.

Voltaria a sua vida real,
mas ela também tinha seu lado formal.

O amor de ambos era definido,
mas só por eles era conhecido.

Não queria pensar nisso agora,
tudo estava indo bem por hora.

Aproveitaria do destino o presente.
O retorno do Tigre, era tudo o que tinha em mente.

O lugar dele no seu jardim,
já era garantido enfim.

E como o seu amor brotava em pujança,
se adaptaria as atuais mudanças.

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