Séculos

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Friday

Contarei agora a história de uma garota que chamaremos de Frida. O interessante da vida dessa moça é que ela nunca havia feito nada de errado na vida. Ainda. Ela era uma menina de classe média, tinha uma beleza mediana, e estava no caminho do ensino médio. Frida era o resultado do trabalho de séculos no novo continente.

Acontece que esse trabalho não era seu. O sofrimento contido de seus pares e parentes não era mencionado por uma questão de evitarem-se constrangimentos. Para que a nova terra alcançasse o esplendor atual dos dias de céu aberto, muito sangue havia sido derramado, muito suor havia caído, muitas vidas haviam sido ganhas e perdidas.

Em um mundo de labuta e sacrifício, por vezes a felicidade ofende. Sim, incomoda, pois as respostas das questões mais mundanas como nosso estado, nossos Estados, razões de existires não foram solucionadas. Aquele que tem conforto, grau de segurança, bonança nas horas, é alvo da inveja e da cobiça alheia, mesmo que indiferente ao outro lado.

Justamente é esse o problema. A indiferença. As pessoas não aceitam ser ignoradas. Pode ser por inconsciência, ou inconseqüência, mas o triunfo solitário ainda mais de um imberbe jovem causa traz à tona os sentimentos sórdidos dos inconformados. Voam as farpas. Os conquistadores sentem as velhas vergonhas dos seus méritos enfim questionados.

Frida queria ser artista. Não lhe bastava mais a felicidade do seu país natal, tinha de mostrar o tanto ao planeta. Nos palcos da virtualidade foi sua glorificação, onde teve seu êxito, e tampouco aguardava tamanho retorno. Porém, sua vitória teve resposta rápida. Os ânimos exaltados dos humanos comuns lhe repudiaram. Mas, qual seu engano? O seu ingênuo sucesso fazia tanto mal assim aos que discordavam da sua obra?

Não. O problema é outro. É o dilema da sobrevivência forçada. Sua inatingível felicidade oprime, frente às reprimendas dos pequenos ditadores assassinos, dos terremotos implacáveis, das infindáveis plantações e usinas isoladas nos desertos rurais, os campos de concentração das cidades e seus carros lentos, escritórios abarrotados, mendicâncias melancólicas.

A menina não estava cometendo nenhum pecado, e nem aqueles que acreditavam nessa hipótese. Do mesmo modo, ambos os pontos de vista não refletiam toda a complexidade da situação. Não é só uma briga pelo gosto musical, ou pela suposta ideologia política de um ou outro. É a disputa diária pela vida, refletida na expressão das opiniões, revelando a importância de uma palavra banalizada pelos egoístas, a antiga musa dos ancestrais, que perseveraram para os que os de hoje mantenham seu caminho, a mãe chamada pelo nome, eterna e doce, a liberdade.

Foto de Carmen Lúcia

Um dia, em outro tempo...

Sei que um dia me amarás, enfim...
Nem que seja tarde e o longe não tenha fim.
Tarde? Longe? Fim?
Palavras insignificantes pra mim.
O que são meses, anos, séculos,
para um amor que não desiste
e persiste mesmo camuflado,
resguardado, ignorado...
resistindo às mutações do tempo,
frio, calor, chuva ou vento,
ao relento...
ou mesmo aos furacões,
às incisivas paixões,
sem ter onde ancorar,
sem teu abraço... Só, a te amar?

Ver mudarem as estações,
movimento de translação,
a rotação do planeta,
que o dia e a noite fomenta,
aumentando a nostalgia,
vendo o tempo passar veloz,
redemoinhos girar emoções,
multiplicar sensações
que se enroscam ao vento
e não se deixam levar
querendo comigo ficar.
E eu, num triste lamento,
vendo a vida, sozinha, passar...
Que importa que a vida passe?
Meu amor resistirá a esse impasse
até que o infinito ultrapasse
e te alcance do lado de lá...

(Carmen Lúcia)

Foto de Eveline Andrade

Adotarei o amor - Kalil Gibran

Adotarei o amor - Kalil Gibran

Adotarei o amor por companheiro
e o escutarei cantando, e o beberei como vinho,
e o usarei como vestimenta.

Na aurora, o amor me acordará
e me conduzirá aos prados distantes.
Ao meio dia, conduzir-me-á à sombra das árvores
onde me protegerei do sol como os pássaros.
Ao entardecer conduzir-me-á ao poente,
onde ouvirei a melodia da natureza
despedindo-se da luz, e contemplarei
as sombras da quietude adejando no espaço.
À noite, o amor abraçar-me-á,
e sonharei com os mundos superiores
onde moram as almas dos enamorados e dos poetas.

Na Primavera, andarei com o amor, lado a lado,
e cantaremos juntos entre as colinas;
e seguiremos as pegadas da vida,
que são as violetas e as margaridas;
e beberemos a água da chuva,
acumulada nos poços,
em taças feitas de narciso e lírios.
No Verão, deitar-me-ei ao lado do amor
sobre camas feitas com feixes de espigas,
tendo o firmamento por cobertor
e a lua e as estrelas por companheiras.

No Outono, irei com o amor aos vinhedos
e nos sentaremos no lagar,
e contemplaremos as árvores se despindo
das suas vestimentas douradas
e os bandos de aves migratórias
voando para as costas do mar.

No Inverno, sentar-me-ei com o amor
diante da lareira e conversaremos
sobre os acontecimentos dos séculos
e os anais das nações e povos.

O amor será meu tutor na juventude,
meu apoio na maturidade,
e meu consolo na velhice.
O amor permanecerá comigo até o fim da vida,
até que a morte chegue,
e a mão de Deus nos reúna de novo.

Foto de SANDRA FUENTES

CARTA A UM VAMPIRO

Prezado Senhor,

Não tenho mais sangue para lhe oferecer. Talvez esse meu rosto rosado possa ter confundido V.Sª. É o sol implacável deste mês de fevereiro. É verão, há muita luz entrando no meu quarto. Gostaria que mantivesse distância e não se aproximasse dos meus portões. As trevas que alimentam sua existência foram dissipadas pela luminosidade que carrego comigo. Seja prudente e saia apenas à noite, como de costume. Compreendo sua sede. Eu não suportaria viver uma eternidade pálida, atravessando séculos em um aposento onde cabe apenas meu corpo.
Deixarei durante o dia uma taça de vinho para V.Sª. Beba assim que a grande estrela desaparecer. Faça um brinde solitário. A mim. A nós. E aos meus olhos que continuarão negros.

Sem mais,

Sandra Fuentes

Foto de Fernanda Queiroz

Mulher de todos os dias

Uma homenagem a mulher, que não foi homenageada, e que em tua missão, foi omissão, perdida, ferida, mulher de todos os dias, mulher de toda nação.

Não poderia deixar de prestar minha homenagem a esta gigante guerreira, que ao longo dos séculos, vem construindo histórias, acalentando lares, cantando louvores e morrendo de amores.

Meu abraço especial a todas as poetas do site,"Poemas de Amor" a todas participantes ou visitantes, meu carinho incondicional.

Fernanda Queiroz

Foto de MALENA41

MIL ANOS DE AMOR

MIL ANOS DE AMOR

séculos e séculos

de lembranças ficaram

- o gosto de tua boca

- teu corpo moreno

- tua mão carinhosa

- eu aberta em rosa

e tu penetrando teu bico pontudo

sugando meu mel

alcançamos o céu

meu beija-flor madrugador

fui teu sonho

teu amor

MALENA

Foto de Paulo Master

Os Grandes Heróis

A eternidade é uma metáfora que para nós seres humanos não têm fundamento, afinal, não somos deuses.
Nossos estágios são contados a dedo e os elementos que compõem a nossa existência têm prazo de validade. Mas uma história pode levar séculos sendo lembrada assim como as lendas de bravos e valentes guerreiros que com ousadia e coragem em seus corações desbravam incontáveis fronteiras e vencem as guerras impostas pela tirania de seus cruéis inimigos.
Valentes na dor e vibrantes no amor.
Assim como as batalhas da guerra devem ser vencidas por grandes e audazes guerreiros, a essência do amor precisa efetivamente ser mostrada e levada por virtuosos e conceituados cavaleiros. O som que emana em suas ações não é o da destruição da guerra e sim de melodias sopradas em seus ouvidos pela voz da própria natureza em constante evolução. Pois sua sensibilidade vai além da capacidade humana, como o sangue que corre em suas veias e permite pulsar seu coração nobre e justo, de sábias palavras e inspiradoras decisões. É verdade o que contam por aí: “Os grandes heróis se consagram por suas ações empregadas em proporcionar o bem-estar a quem necessita!”. Pois sua ânsia e seus desejos estão muito acima do seu próprio entendimento, o que os proporciona poderes inimagináveis, levando-lhes à glória através da habilidade na generosidade e a destreza em oferecer o afeto. Mostrando habilidade e destreza apenas com o coração, com armas, jamais.

Foto de betimartins

Na alma da poetisa

Na alma da poetisa

A poetisa é pensamentos soltos,
Repleta dos sonhos na arte do sonhar
Sua alma é amor, amor sofrido
Amor incompreendido, amor vadio...

Em lamentos na sua escrita, ela não para
Nem desiste dos seus sonhos, sonhados
Um dia certamente, eles serão contados
Ao som da lenha arder lentamente, na tua lareira...

Ao olhar do fogo, sua alma arde, agita-se
Em sentimentos renascidos, na dor do seu amor
Revoltos e puros na paixão do seu amor imortal
Imortal ao tempo, a de vastidão, aos séculos e a vida...

Ela entre lágrimas deslizando, escreve no desalento
Sobressaindo as imperfeições da vida, impotente
Deixando nas suas paginas esquecidas e amareladas
O que mais sua alma um dia foi deveras tocada e sentida...

Por vezes se deixa ir além das suas forças
Entre manifestações da sua imposição de vida
Deixando sua alma ir além do real e imaginário
E escreve sorrindo o que mais ela queria ver, um dia...

O que ela queria ver um dia, aqui neste mundo desigual
Que ela tanto ama e os seus irmãos que tanto adora
Ela escreve com afinco as historias de vida, como uma nação
Que bem reinada será imortal, jamais esquecida...

Na escola, na arte dos artistas que sabem declamar
Na coroa de flores depositada em sua lápide fria
Ela jamais descobre que um dia ela foi tão elogiada
Nem mesmo saberá que foram seus versos declamados...

Mas como sua alma é imortal ao tempo e a vida
Ela sorri e se alegra bem lá no alto, escrevendo
Ao sabor do tempo da eternidade as suas poesias
No doce brilhar das estrelas, sorrindo para ti...

betimartins

Foto de ClariceFerrari

PEDIDO

Cumprindo sua missão
Avançando séculos
Valentes defensores
Alimentados pela fé
Levados à auxiliar
E a salvar almas
Invisíveis ao olhar
Rios de lágrimas
Ousaram enxugar
Santificaram os dias
Daqueles que sofrem
Almas do bem
Luzentes seres
Urgência se faz
Zelar por paz

Foto de Nero

ENFIM…LIVRE!

ENFIM…LIVRE!

Sou um escravo, cuja vida atribulada, começou
quando meus lideres tribais, me venderam por
estarem vendados, vendados com o véu da ambição,
alimentado pela ignorância.

Sou um escravo, que nem um cravo recebeu,
pela labuta, labuta que me levou as terras
dos que se diziam meus donos. (donos?)

Meu corpo negro, nú, ensanguentado, dolorido
e acorrentado, foi vitima de humilhante
tortura e privações, por parte daqueles que
se dizem “civilizados”. (civilizados?)

Os que se dizem “homens de Deus”, usaram
hipocritamente a imaculada escritura sagrada,
para consagrarem como actos de Deus, os
golpes infligidos à mim e a minha
parentela… justificavam uma justiça
injusta. (justiça?)

A humilhação da minha condição, passou a
atormentar o consciente inocente, de uma
geração mais humana.

Então… nesse caso, o acaso da vida se
encarregou de arrebentar as correntes que
até hoje me deixaram marcas, que
resistem ao tempo.

Foram séculos de servidão, escravidão,
submissão, que agora se transformaram num
brado:

Enfim… estou livre!!!

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