Samba

Foto de Allan Sobral

My nome is Brasil!

Cansei, cansei de me dizerem não ser ninguém,
Cansei, de ser o que pensei ser alguém.

Me disseram que vim de Portugal,
Com alguns bandidos e prostitutas,
Já pensei ser indígena, pois nasci em berço florestal,
Ou ser um negro comprado na África por vãs lutas,
Acorrentado e jogado no porão do navio que cheirava mal.

Cansei, cansei de me dizerem não ser autêntico,
Cansei, Hoje darei meu nome,
E juro que jamais viram algo idêntico.

Sou um guerreiro lutador e Sem mãe,
Sou capoeira, samba e acoxé,
Sou o Brasil, dos crentes, frades e candomblé.
Sou o Brasil, do rock, forró e axé,
Sou o Brasil, sou sua mãe e seu pai,
Berço Israelita, budista e judeu,
Sou orado pelo crente, e bendito pelo ateu
Sou o Brasil do sertão nordestino, e do frio gaucho,
Sou o Brasil paulista, sou o cangaceiro da faca no buxo,

Sobrevivente da cruel chibatada,
Das enchentes e das secas,
Sobrevivente dos mal tratos e das porradas,
Das facções e dos mela-cueca.

Sou Brasil, sou guerreiro,
Sou o que quiser ser,
Sou forte e ei de viver

Pois ainda que haja mals-brasileiros, sempre haverá aqueles que hão de lutar pelo nome que conquistei em troca do meu suor.

Sou o que quiser ser,
Sou forte e ei de viver,
Sou guerreiro, Sou Brasil.

Allan Sobral

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Nunca da Terra – Versão Intermediária

O mundo não faz sentido
Mas há quem está tentando nos fazer à cabeça do contrário

Pelo que presenciei
A vida
É decidida em instantes
E as aparências contam muito
E os confidentes contam tudo

Essa é minha linha curva de raciocínio
Você sabe,
Eu acho...
Todas as coisas não são explicáveis,
Todas as coisas não são bem assim:
O que te dizem que é verdade é mentira
E o que te dizem que é mentira,
Talvez

Porque a gente é madura
Quando reconhece o acaso
Por trás de uma certeza

Porque o detalhe é complexo
E o complexo é superficial
E tanto faz como tanto fez

Porque o segredo das coisas não é viver bem
E sim morrer por uma boa causa

Eu vejo as pessoas com ternura
E acredito que todos têm sua chance
Por que o Sol é milhares de vezes
Maior do que a Terra

Contradição, gritante e tímida
Corta a carne do próprio pescoço
Depois de se engolir

Rasurando o destino
Irreverente em ser peão
De um jogo sem as peças

Se ganha um Cristo para a cruz
Formando o sucesso de mais um perdedor

Corajoso em ser covarde
Sendo mais em ser ruim
Sendo bom em adiantar meu fim
Revirando o estilo socrático
Espalhando a desinformação pelos quatros ventos e pelos sete mares
Violando o túmulo da esquerda
Atravessando o samba
Retirando medalhas fincadas em peitos de bronze
Curtindo o couro do inimigo
Glorioso de sua grama verdejante

Graças aos lampejos de uma genialidade absurda
Cabeças são servidas ao molho
De chaves que abrem o mundo para a porta

Com doçura
Sendo repartido:
A pátria que me dá o nome não me dá a vida
Eu não pedi pra nascer
E é minha culpa
Não fazer questão de sumir

Sumir devagar
O mais lento possível,
Sumir no tempo
Abraçado ao descaso,
Desaparecer minguando aos poucos
Encolher e diminuir
Na sina do meu fracasso,
Caindo como estrela
Como cometa já apagado,
Sendo esquecido pelas pessoas e devorado pelos organismos
Olhando para o lixo e sorrindo
Feito palhaço esfomeado
Que se mistura aos gurus pensantes das calçadas

Toda importância é injustificada
Visto que o caos é quem decide os meios

Nunca a impossibilidade foi tão exaltada

Foto de betimartins

Poema do povo!

Poema do povo!

O povo é o maior poeta da nossa humanidade
Ele consegue em vez das rimas e das estrofes
Sorrindo, ele se transforma de forma capaz
No pouco pão e nas suas magras economias!

Então ele em vez de lindas palavras, floridas
Ele! Apenas se deixa morar em lugares frios
Em morros, em favelas e nas ruas, esquinas
Sorrindo!Alegre para a vida e as estatísticas...

As mães! Essas apenas ficam apenas aflitas
Pelas mãos, que traja uma arma apontada
Em vez de uma caneta de tinta e um caderno
E um simples tiro acerta aquele que fica na mira!

A mulher essa apenas é mais um desabafo
Do homem mal encrencado, mal resolvido
Que a estupra sai da cadeia em indulto, premiado
E logo encontra e desfaz inocência de uma criança...

E este poema é do povo, poema de desamor e de dor
Onde apenas! Na minha escrita correm rios de sangue
Onde não existe respeito, onde apenas existe!A heroína!
E logo, alguém morre ou é roubado pelo maldito vicio...

E que venha daí as leis, os indultos e os ladrões
Será a nossa maquina judiciária a maior punição?
Que na tinta do jornal corre a dor dos que já partiram
E nos telejornais apenas servem para níveis de audiência!

Mas o meu poema é do povo do que usa havaiana
Dos que correm para festas do funk, samba e outros
Onde a cerveja é a nota da rima do coração sofrido
Que apenas quer esquecer seu triste fado da vida aqui...

Pois é e na mesa deste poema aqui, o poema do povo
Apenas se vê feijão, com arroz aquecido numa panela
Já tão velha e gasta que nem sabe a cor dela! Um dia!
Ao som do batuque, das crianças chorando com fome...

Pois é meu poema! Apenas traja retalhos de sentimentos
Onde as palavras caem num esquecimento e se vestem
De um vermelho vivo, que corre pelas ruas e casas e esquinas
De uma justiça adormecida e desumana neste meu Brasil!

Foto de Carmen Vervloet

CANÇÃO DO CORAÇÃO

Na batuta do maestro
Orquestro meu coração
E sopro toda tristeza
Na modulação do pistom

No conjunto dos instrumentos
(Re)componho meu destino
E afino minha vida
Nas cordas do violino

Canto pra não chorar
Canto blues... samba canção
Solto a voz com alegria
Nas cordas do violão

No teclado do piano
Componho sonhos e planos
Envolvo-me com paixão
Em versos de ilusão

No som de cada instrumento
Ouço o adeus da agonia...
No enredo do sentimento
Eu suspiro esta poesia.

Carmen Vervloet

Foto de raqueleste

Carnaval

Hoje meu corpo dança
Minha alma canta
E na passarela pessoas de todas as idades
Vejo a igualdade
Eu sigo fazendo de tudo um pouco
Com meus glitters e balões
Que canção
Estou feliz mais alguém pegou meu violão
Então vou ter que batucar
Não ligo
É dia de riso e alegria
Vou nessa com minha fantasia
Cantando uma marcha
E com samba no pé

Hoje minha rua brilha
Luzes e enfeites em todo lugar
Um dia de esquecer os sofrimentos
As guerras as enchentes
Em busca de um pouco mais
Em busca quem sabe de um pouco de paz

Foto de Carmen Lúcia

Hoje é Carnaval..

Hoje é carnaval...

Hoje o dia está triste. Chove lágrimas de um céu cinzento e hostil, em discrepância com o carnaval. Ainda há carnaval!
A alegria descabida e camuflada de um cenário não convincente onde protagonizam amarguras vestidas de dourado, teima em desfilar pela avenida em desagravo às sanguinolentas feridas.
Querem curá-las a qualquer custo...mesmo arrancando suas cascas com as unhas para sangrá-las de uma só vez. Ou quem sabe estancar o sangue no intuito de reverter a dor e viver intensamente, no sentido mais amplo da palavra, o real carnaval, pois é ele que corre nas veias de um povo sonhador, que não se curva, não se abate, não desiste de fazer desse momento um canal gigantesco, surreal, por onde possam extrapolar todas as mazelas sofridas e dar vazão ao sonho de ser rei, rainha, deus, destaque, bateria, samba, enredo... de até voar ressuscitando Ícaro.
Três dias que valem por uma vida! Momentos a serem relembrados e aclamados durante o ano inteiro!Felicidade que alivia a infelicidade das desigualdades e injustiças sociais. Momentos que anestesiam os ais e energizam para a luta de cada dia.

_Carmen Lúcia _

Foto de Carmen Lúcia

Retalhos de fantasia

Nesse carnaval estarei na avenida
a reviver pedaços de minha vida,
em cada disfarce, em cada fantasia
uma verdade mascarada de utopia...

Em cada arlequim, um pouco de mim,
da colombina, o amor que termina,
do pierrô... lágrimas vertidas,
da jardineira, as flores perdidas.

Do palhaço, o riso sofrido,
da odalisca, prazer reprimido,
do bobo da corte, o grito contido,
da porta-bandeira, a paixão derradeira.

E verei minha história
refletida na escola...
E no samba a tocar,
meu enredo a sambar.

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Vervloet

PORTELA: SONHO INCINERADO

Tanta era a energia que tudo se incendiou,
na euforia da folia o fogo se alastrou...
Queimou alegorias, o sonho cinza ficou
destruiu as fantasias, a lágrima escorregou.

A esperança deu lugar à incerteza,
todavia a fé não se abalou!
Máscaras não encobrem a tristeza,
a determinação em azul se pintou.

Na devoção de cada apaixonado portelense
a certeza de um novo caminho encontrar.
No coração folião fluminense,
sem navios e sem riquezas, o samba vai arrasar

Sem amarras e sem lamentos,
a escola com garra na avenida desfilará
Nada impedirá seu momento
Toda de azul, abençoada por Yemanjá.

As baquetas do coração
desenhando evoluções,
na força do seu pavilhão,
sambando sobre as cinzas das frustrações.

Carmen Vervloet

Foto de Allan Sobral

Sozinho

Sozinho, como o nobre vagabundo,
sozinho, como o rei da babilonia,
sozinho vou sambandeando, sozinho, vagueio o mundo,
sozinho bebado de minha insonia,

Simplesmente sozinho,
assim vou indo.
Com o coração leviano de que amou,
e hoje sente saudade, saudadeando sozinho,

Sozinho, como a poesia sem palavras,
como samba sem pandeiro,
sozinho em gravata mal passada,
sozinho em meu sorriso derradeiro,

Sozinho sou,
sozinho vou,
sozinho estou
sozinho não fui.

Sozinho perdido,
perdido e preso,
preso em te perder,
te perdendo e aprendendo,
aprendendo sozinho,

Hoje nem eu quero mais minha companhia,
nem meu som mais me escuta,
nem meu coração quer bater,
nada mais me deixa viver,

Assim vou vivendo.
Assim vou sendo.
Na tal da dança da solidão,
cantarolando sozinho.
Sozinho, sem mais vou indo,
Sozinho, redundantemente redundante
porem sozinho.

Allan Sobral

Foto de Carmen Vervloet

7o CONCURSO - BRASIL, ASSIM O SONHAMOS (SÍMBOLO DE AMOR)

Pirâmide onde o ápice expande luz...
Acende-se como estrela de cinco pontas,
e cada ponta, a energia, em amor conduz.
Num colorido jardim, a base alegre desponta!

Em cada flor orvalho de felicidade,
matizes de fraternidade e alegria,
venturas recebidas com simplicidade,
rastro de perfume que se faz magia.

Deveres cumpridos com prazer intenso,
direitos recebidos no sopro dos bons ventos
que chegam às nuanças de cada decorosa ação...
Magnólias que desabrocham na paz do reto coração!

Brasil, de tantas raças, cores e amores...
Brasil, de grãos tingidos em vermelho, rubis de café,
Brasil, de mesas fartas exalando odores,
Brasil, de sabiás, palmeiras e samba no pé!

Brasil, da igualdade onde cada homem é rei,
Brasil, de tantos olhos que irradiam esperança,
Brasil, de cidadãos cumpridores das suas leis,
Brasil, de dignos representantes despertando confiança!

Brasil, de suor, trabalho, galhardia e verdade,
Brasil, onde cada gesto é mais que um primor,
Brasil, onde reluzem, a cada sol, as prioridades,
Brasil, nossa pátria amada, símbolo de eterno amor!

Carmen Vervloet

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