Ando a ver-te, ando a perder-te andando.
Ti vejo nos rostos alheios,
ti roubo em outros olhos,
como será sentir teus olhares?
Como será derramar-me, escrever-me em ti?
Os momentos se foram e nós nos perdemos.
As luzes se apagaram e nos permanecemos alheios na escuridão,
na ilusão em que se deita a alma e o sonho,
na fuga deste enfadonho viver,
na palavra que ao correr mareia e inebria.
Ao sol a palavra ardia
e as memórias se derramavam como cera,
um pranto, uma vela à cabeceira trêmula.
O suspiro de que já não somos nada
que a verdade cala,
que a história esquece.
Somos um momento apenas,
um amor perdido revivendo-se.
Uma dor que não o sei o que é,
não saberia dizer nunca,
mas a sinto como oração e pranto,
como o desejo de ser feliz
sem realizar-se nunca.
Ah! do amor que nunca tive e nunca terei.
Só o explicaria pela falta, pela ânsia,
pela dor da idéia de não o ter.
Que meu querer é uma nau desgovernada,
sem rumo, sem proa, sem nada que o impeça.