Pestanas

Foto de Joaninhavoa

um clik!

***
**
*
«um pêlo
um cabelo
vestígios por aí...
um canto d`olho
Àngulo! Pestanas
num abrir e fechar
e a pupila a dilatar...
é preta ou castanha
luminosa d`Avilar
e o branco da córnea
congestionado! Vi
vermelho por chorar.... »

Joaninhavoa
(helenafarias)
2012/09/13

Foto de Rute Mesquita

Os três desejos e os cinco sentidos

Quando sonhamos de olhos fechados tudo se realiza. Todo o impossível se torna possível. Todo o ocasional se torna evidente. Todo o curto se torna demorado e intenso. Todo o celeste se torna terreno. E é após esta breve apresentação que vou fechar os meus olhos e sonhar…

Vejo uma pena, que baloiça no ar à música do vento, vai para lá e vem para cá… e falta pouco para nas minhas mãos quentes e ansiosas pousar. Talvez eu possa apresa-la, dançando com ela. Balanço-me para cá… balanço-me para lá e aqui está ela nas minhas mãos.
Traz consigo um recado, diz que peça três desejos que ela mos irá realizar esta noite. Pois vou pedir muito silenciosamente o primeiro.

I.Desejo: o seu encontro, o despertar dos cinco sentidos.

Avisto a sua casa, entro por aquela porta pela primeira vez sem precisar de chave ou de um convite, atravessei-a por e simplesmente. Sinto os meus pés a gelarem com a fria madeira do chão de uma sala colorida. Continuo a andar… atravessei outra porta e eis um corredor. Um corredor estreito e confortante que acaba numa pequena varanda. Sinto presenças vindas de dois quartos situados na lateral direita do corredor e uma atracção que me chama ao segundo quarto. Eu deixo-me ir, deixo de conseguir resistir de controlar o meu corpo. Entrei… vejo um quarto cheio de memórias de momentos de amor, de paixão, de partilha, de cumplicidade, de entrega. Vejo recordações, vivi-as em milésimas de segundo, mas mais que isso vejo o seu corpo coberto de um lençol fresco. Pareceu-me que fiquei uma vida a contempla-lo. Aproximei-me, como se os meus cinco sentidos quisessem mostrar-se apurados. A Visão foi o primeiro sentido a fluir. Contemplei aquele corpo durante uma vida sem um único pestanejar, com as pupilas contraídas, fazendo o seu trabalho, regular toda aquela luz vinda daquele ser angelical.
O Olfacto seguiu-se. Cheirei a sua pele, cheirava a um aroma único e só vindo daquele corpo, chamava-se ‘sedução’. Qual será o cheiro da sedução? Não sei responder, pois ainda só vi e cheirei.
A Audição apressando-se, foi o terceiro sentido a fluir. Ouvia atentamente o seu respirar, que me lembravam o som das ondas do mar, ora avança onda, ora rebenta onda… retrocede areia e assim repetindo-se infinitas vezes. Oiço um palpitar desequilibrado, quase que um chamamento. Oiço os seus olhos adormecidos a mexerem-se, estará também a sonhar? Estará à minha procura?
Irrequieto o Tacto quer ser o próximo. O Tacto que se concentra todo em usar as minhas mãos. E é então que começo a sentir um manto fofo, que pica um pouco e se entranha por entre os meus dedos, é o seu cabelo confirma a Visão. Continua o Tacto… percorre a sua face com todos os pormenores, as sobrancelhas, as pálpebras, as suas pestanas, o seu nariz inconfundível e os seus lábios carnudos. ‘Como são belos, Tacto’, diz a Visão. E o Tacto não pára… sente agora as suas orelhas perfeitas de tamanho ideal. Desço mais um pouco… as minhas mãos descem o seu pescoço como se fosse um simpático escorrega. Finalmente o seu peito… um peito que sobe e desce em curtos espaços de tempo. ‘Está a respirar’, diz a Audição. ‘E o seu coração está a bater mais que nunca, Audição’, acrescenta o Tacto.
O Paladar impaciente quer acabar em grande mas, o Tacto pede-lhe que o deixe pelo menos sentir as suas parceiras, as suas outras mãos. Então lá foi o Tacto percorrendo aqueles seus longos e musculados braços até às suas metades. As suas mãos, grandes, suaves… onde as minhas encaixam perfeitamente como o sapato no pé da Cinderela. ‘Agora tu Paladar’, diz dando uma força a seu sortudo contíguo.
O Paladar, como seu instrumento usa a minha língua. Sinto um gosto doce… um gosto que sabe a amor. Como se saboreia o amor? A Visão diz, ‘ao ver este corpo esbelto’, o Olfacto atropelando diz ‘ao cheirar a sua pele’, a Audição unindo-se ao Tacto responde: ‘É mais que isso meus caros companheiros, o amor provém do batuque do seu interior’.
Curioso e surpreendido continua o Paladar. Sinto que estou a passar a minha língua agora na sua orelha, tão macia com pequenos pelos que cobrem provavelmente todo o seu corpo quase que imperceptíveis. Pairo agora nos seus lábios, provo a sua sede, o seu desejo. Como se prova a sede? Como se prova o desejo??
O Paladar continua sem se surpreender pelo silêncio dos outros sentidos. Percorro agora o seu queixo, o seu pescoço e agora o seu peito… encontro uma pequena cova por onde passo e passo lambuzando a sua pele. Até que o Paladar indignado sente uma outra pele... uma pena, é isso era uma pena e pede ajuda à Visão para que lhe explique o que significa. E a Visão atentamente observa a pena e lê no seu verso: ‘Pede agora o teu segundo desejo’ e ai os sentidos perceberam que o seu tempo tinha acabado…
Pedi então o meu segundo desejo, levando todos estes aromas, todos estes sons, todas estas cores, todos estes relevos e todos estes gostos.

II.Desejo: o despertar do corpo adormecido.

Pedi, pedi que este corpo adormecido acordasse. E assim aconteceu, o corpo esbelto que havia explorado despertou e eu estava deitada a seu lado contemplando-o. Ficámos eternidades a olhar-nos olhos nos olhos… e sei que não foi um desperdício de um desejo nem de tempo.

III.Desejo: A união dos dois corpos e os seus respectivos sentidos.

No seu olhar vejo ‘Pede agora o teu último desejo’ e foi então que pedi, pedi que os sentidos se unissem de novo e provassem a sedução, o amor, o desejo, a ardência, a paz, a magia, a sintonia, daquele corpo e assim se realizou… por entre aqueles lençóis que antes frescos e agora quentes e transpirados, numa luta escaldante e exploradora entre os cinco sentidos de ambos os corpos.

E ainda bem que não há um quarto desejo e sabem porquê? Porque não queria pedir para acordar…

Foto de Ana Rita Viegas

Tu

Tua pele
Tuas pestanas onduladas
Teu nariz perto dessa tua boca “caliente”
Sussurro ao teu ouvido
O quanto te amo
Quero que enchas todo o meu corpo
Com esses teus beijos quentes e apaixonados
Que tuas mãos grandes acarinhem
Este meu corpo frágil.
Amo esse teu sorriso
Quero sentir bem pertinho de mim
Esse teu suave perfume,
Que nostalgia
Este meu ego apaixonado.

http://drafts-of-my-life.blogspot.com

Foto de Osmar Fernandes

D E S P R E Z O

O choro chora envergonhadamente.
A lágrima lamenta a ponte sem ter onde cair.
O coro se faz como numa Igreja crente...
A solidão a sós não tem para aonde ir.
É grito engasgado no peito sem alma.
Sem destino, como um homem sem o seu Éden...
Com um pé sem planta e uma mão sem palma.
Os arrogantes fedem!
Não há maior castigo que o desprezo.
Feri de morte... é pior que apodrecer no asilo.
É morrer sem ter morrido...
É ser condenado para sempre neste aterro.
O choro chora lastimavelmente.
Sem ter o direito de lacrimejar as pestanas.
É lágrima sem olho, sem corpo, infinitamente.
É solidão soberana!
Se quer matar verdadeiramente, atire o desprezo.
Não tem nada pior que esse sentimento.
É suportar essa pressão em hectopiezo...
É maldição, feitiço, praga, sem poder inventariar.
É carregar pra sempre este sofrimento.
É ser crucificado sem ter o direito de ressuscitar.

Osmar Soares Fernandes

Foto de susanita1983

Pousar as pestanas

Pousar as pontas das pestanas umas nas outras e assim ficar.
Imaginar por entre prados verdes dois corpos a rebolar.
Ver no meio d’árvores dois vultos, que brincando e a brincar,
São dois e um afinal, pousa as tuas amor, vamos sonhar.

Na areia da praia, duas mãos, pela sombra do caminho,
Entrelaçando os dedos e as histórias de carinho,
Que se soltam e se reúnem, deixam dois mundos juntinhos,
A certeza de que os dedo não estão, nem que acordemos, sozinhos…

Deita-te aqui comigo, vamos falar com o olhar…
Passo a mão no teu cabelo, que vontade de te tocar,
Sobrevoo cada canto da tua face, a tua pele a brilhar,
Sobrancelhas alinhadas, nariz perfeito, boca a secar…

Sacode a areia das pernas, anda, vamos correr…
Sentir o vento a levar-me os cabelos, olhar para ti e ver,
Mesmo cansado, tu segues-me e consigo perceber,
Que tu e eu hoje, mesmo esgotados, vamos nascer.

Foto de Sonia Delsin

Ó, SANGUE DO MEU SANGUE!

Ó, SANGUE DO MEU SANGUE!

Te olho, filho.
Te olho dormindo.
Como és lindo!
Tuas pestanas descansam serenas.
Tua boca mexe e remexe.
Parece que estás em prece.
Serenamente dormindo.
Ó, sangue do meu sangue, carne da minha carne!
Um dia eu pensei.
Virá pra mim um tesouro.
Um menino de ouro.
E veio.
Tens sido tão importante em meu viver.
Te amo tanto que nem tenho palavras pra dizer.
A Deus, tantas graças recebidas, eu só posso agradecer.

Foto de Sandra Ferreira

Momento…

*
*
*


*
*

Campo verde,

Meu lar neste momento,

Sem rumo, caminho sobre ele,

Cabisbaixa, pensativa

Perdida em sofrimento…

Com as gotas da chuva

As ervas daninhas resplandecem,

Insensíveis, atrevidas

Selvagens e frias,

Impedem a minha passagem

Enroscando se nas minhas pernas

Molhando-as, ferindo-as…

O telhado do meu lar

Cinzento e nublado,

O orvalho que mansamente

Se aloja nas minhas pestanas

Dificulta me a visão

Já cansada e marejada…

Paro por momentos e o silencio é total,

A ausência dos pássaros

Do som das cigarras, do uivo do vento

E sinto me só, muito só neste momento…

Foto de Joaninhavoa

Teu e meu olhar

Teu primeiro olhar...

Teus olhos ao cruzarem os meus
Mudos ficaram e pis... piscaram
Pestanas baixaram e levantaram
Coro de raíz só de te ver! Meu Deus!

Segunda vez, teus olhos olharam
Os meus que simplesmente sorriram
Prós teus!... E desde então
Surgiu uma canção

Foi há muito muito tempo
Era eu ainda criança e brincava
Ao luar com a lua cheia

Terceira vez, os olhos meus
Olharam os teus e brincaram
A vida inteira!...

JoaninhaVoa
(23/03/2008)

Foto de Sonia Delsin

DISFARCE

DISFARCE

Persianas brancas.
Elas se fecham como pestanas pesadas.
Ah, eu dou risadas.
Destas janelas azuis.
Destas tardes caladas.
Eu rio para não chorar.
É um riso para disfarçar.
Está molhado meu olhar.
No rio da minha vida tanta gente eu vi passar.
Uns passaram sem marcas deixar.
Outros conseguiram no meu ser enraizar.

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