Pés

Foto de Carmen Lúcia

No limiar da vida

Fiquei...

nas reticências que indeterminam a vida...
nas frases mal formuladas e indefinidas;
fechada, entre parênteses,
nos limiares das portas,
nas perguntas sem respostas.

Fiquei...

robotizada pelas conveniências,
confinada nos constrangimentos,
alienada a sapiências radicais,
enroscada em normas preestabelecidas,
estereotipada por padrões tradicionais.

Fiquei...

paralisada em becos sem saídas,
pés no chão, vontade de voar...
vendo os sonhos se distanciarem livres,
sem poder partir para os alcançar.

Fiquei...

numa esquina qualquer, esquecida,
nem um raio de luz a me brilhar,
onde o verso tropeça e muda de destino,
onde a poesia jamais irá passar.

Carmen Lúcia

Foto de Cladison

SAUDADE

SAUDADE

Por mais que tentasse não se esvairia a saudade,
Solidão que queima lentamente enquanto cresce o tempo ao meu redor em dias sem fim.

O passado que não passa, o presente que não chega, o futuro ainda distante, são companheiros do amor que nunca vai embora...

O silêncio ao não ouvir teus passos tornaram-se saudade, quando a lembrança dos meus olhos se recorda do bailado do teu corpo indo e vindo com os pés descalços.
Então fico quieto assim... Extasiado!

Tento ouvir tua voz que não chega... Sinto muito tua falta.

A primeira vez que nos vimos, o primeiro toque, o primeiro abraço, o primeiro beijo, nosso último encontro, tudo vira saudade e tudo aumenta o meu desejo!

O que faz agora?Que perfume ganhou o teu corpo?
O que cobre tua pele macia e tuas mãos, se não as minhas?
Por que miram teus olhos não sei para onde?Ah se pudesse... Eu saberia!

De lembranças e incertezas, sentimos saudades com o corpo e com a alma de momentos inesquecíveis que os olhos não podem ver, em dias e horas intermináveis;

A saudade é o desejo incontido de dominar o tempo, de controlar a própria alma, de recordar momentos, de sentir-se renovado, de fazer saber ao mundo o quanto se ama.
Saudade é o que faz arder o amor enquanto chama!

Autor:Cládison Souza Claudiano

Foto de Carmen Vervloet

A Lição da Roseira

A velha roseira desafia o jardineiro,
sem pés, sem braços, sem mãos...
Nua... sem roupagem...
O coração pulsando lentamente,
invernando a dor.
Mas logo chega a primavera
que a veste em saias verdes
salpicadas de rosas cor de rosas .
Ressurge a vida em
toda plenitude,
fiel a sua promessa
de felicidade.
Com as faces ruborizadas
arranco o matagal selvagem
que invadiu meu coração...
Lá se escondia
o rato que me roia em dor..

Carmen Vervloet
Todos os direitos reservados à autora

Foto de Chácara Sales

A Teus Pés

Eis que de joelhos me encontro
Perante a teus pés.
Em ato de reverência
Trago nas mãos um cálice
Que transborda de amor por ti.

E agora a teus pés
Sinto longevidade e paz.
O amor antigo foge do teu coração a mim,
Parece que respiro fé.

Teu vestido comprido exala perfume
Como um incenso a queimar
De um Turíbulo sagrado
Da Linda Etiópia.

Não tenho riquezas,
Apenas minha humilhação
E o amor de um ser frágil
corrompido pela desilusão.

Autor: Chácara Sales

Foto de Dennel

Entrega total

Vejo estes lábios que inspira desejos
Estes cabelos que chama meus dedos
Esta pele que me alucina
Desejo quente que me azucrina

Cobiço teus seios fartos, instigantes
Tuas coxas roliças, provocantes
Teus pés delicados, macios
Tuas mãos suaves, em que me vicio

Tua voz mansa, sedutora, implacável
Tuas palavras ambíguas, melífluas
Teu rosto lindo, formoso e admirável
O jeito que te insinuas

Provoca-me doces e quentes desejos
De beber em taças teus beijos
Brindar teu sexo, devorador, insinuante
Com caricias atrevidas, lambidas provocantes

Pois venha, feche a porta, me possua
Devore-me, me coma, lambuze
Sem pudor, sem receios, despida, nua
Entrelacemos nossos corpos, me use

Exponha tua alma, corpo e espírito
Em sintonia doce de amor
Tomo-te, amo, venero, adoro, suspiro
Com minha alma amante, com ardor

Juraci Rocha da Silva - Copyright (c) 2009 All Rights Reserved

Foto de Carmen Lúcia

Amor e poesia...

Poesia, assim como amor,
não têm explicação...
Chegam bem de mansinho
e se alastram na imensidão...
Envolvem-nos dos pés à cabeça
e nos prendem num alçapão...

Acho até que poesia
define bem o amor...
(Ou o amor a poesia...)
Em meio a fogo cruzado,
nos rendemos sem perceber...

Almas entorpecidas,
geram asas pra alegria,
acalentam a dor,
e nos tocam tão profundamente
que ora se chora, ora se ri,
ora não se sabe
nem pra onde ir...

Na poesia há versos rimados,
compassos ritmados, inspiração...
No amor há que se ter sintonia,
química que propicia
unir razão e emoção...

Quando bem sintonizados
dão-se as mãos, amor e poesia;
e alçam os vôos mais ousados...
O amor, vibrando corações apaixonados;
a poesia, resultante da paixão itinerante...

Ambos querendo explicar o inexplicável...

Carmen Lúcia

Foto de Zaruquita

Minha infância

Minha infância

Comecei de pequenina,
A enfrentar o destino,
Ainda eu era menina,
Ainda quase não tinha tino.
Era frágil e indefesa,
Para viver em conflitos,
Mas resisti à tristeza,
Com meus irmãos pequenitos.

Tinha sete anos de idade,
De manhã ia pra escola,
Depois na parte da tarde,
Tinha de ir pedir esmola,
A minha mãe trabalhava,
Mas mesmo assim não chegava,
Para nos dar de comer.

Meu pai nos abandonou,
A mim e mais três irmãos,
A minha mãe nos criou,
E educou como cristãos.
Meu irmão mais velho tinha,
Oito anos, coitadinho
Como para a escola não vinha,
Arranjou um trabalhinho.

Mal vestido e com pés nus,
Por entre matos e tojos,
Andava a guardar perús,
Por esses matos a rojos.
Lembro quanto ele ganhava,
Só quinze escudos por mês,
O patrão,comer lhe dava,
Minha mãe,aos outros três.

Eu era tão pequenina,
E como era rapariga,
Ia pedindo a esmolinha,
Para encher a barriga.
A minha mãe trabalhava,
Do nascer do sol ao pôr,
Parece que não se cansava,
E nos dava todo o amor.

Foram três anos assim,
Mas todos sobrevivemos,
Mesmo com a vida ruim,
Muito ou pouco nós comemos.
Muito tempo não tardou,
Sem que meu pai regressasse,
Minha mãe o aceitou,
Na esperança que ele mudasse.

Meu Deus,como se enganou,
Logo andou em desacatos,
Desde que em casa ele entrou,
Começaram os maus tratos.
A nós ele maltratava,
Sem ter dó da nossa pele,
O pouco que trabalhava,
Ou ganhava ,era para ele.

Se a minha mãe lhe pedia,
Dinheiro ele resmungava,
E se ela um pouco insistia,
Dois ou três murros lhe dava.
Com tanta força batia,
Que ela ficava a sangrar,
E depois,no outro dia,
Não se queria levantar.

A minha mãe coitadinha,
Lá ia para a sua lida,
Não parava a pobrezinha,
Para ganhar a comida.
Desde que o meu pai voltou,
A vida não melhorava,
E mais um filho arranjou,
Era assim que ele ajudava.

Esse filho veio trazer,
Para mim muita alegria,
Porque afinal veio a ser,
A irmã que eu tanto queria.
Já eu tinha onze anos,
E aquela criancinha,
Foi nesta vida de enganos,
A boneca que eu não tinha.

Arlete Anjos

Foto de Carmen Lúcia

Transmutação...

Recolho meus versos...
Os que despejei aos teus pés...
e me devolveste o reverso...
um versejar sem alma, desconexo.

Transmuto-me ao meu inverso...
Deixo de ser eu;
sou aquela que me perdeu...
Que desfez seu pacto com a lua
e o encanto esmoreceu...

E agora, sem poesia, anda nua...
Sem ter porque se inspirar,
a quem amar, onde ancorar...
Anda a esmo...
nem por si mesmo
é capaz de se edificar.

Apago as estrelas...
Seu brilho já não me diz nada...
No céu, a luz apagada
transpassa toda madrugada,
varando uma manhã nublada...
Me encolho feito caracol...
sem ver o sol...
só há sombra...
e eu...
só.

Carmen Lúcia

1º de outubro/2009

Foto de Peter

A tela

Pela rua passas-te
E nela marcas-te
Com a caneta da sedução
E a tinta da paixão
O maís sublime nome

Com um prefume a jasmim
Deixaste-me assim
Hipnotizado rendido a teus pés
Pela criatura mais bela que deus fez
Uma mulher sonhada
Que agora realizada
Parece saída de um sonho encantado

E de coração enfeitiçado
Desde esse infimo segundo
Entrei nesse teu mundo
Nessa aura angelical
De um ser sobrenatural

O amor realizou-se entre nossos olhares
Como um iman que colou nossos corações
Nma alquimia que resultou nas nossas emoções
Um amor para sempre sonhares
Uma historia tão bela
Que ficou pintada nesta tela

Tua presença tão marcada em meu peito
Que nem com o mais incrivél feito
Já mais será apagada
Nunca esta tela será rasgada
Pela intriga ou mentira
Porque um amor tão grande ninguém tira

Afinal o que o amor uniu
Ninguém mais separá
E a tela para sempre ficará

Foto de pctrindade

O SIRI E O GUAIAMUM

Caminhavam certa noite, na areia da praia, um siri e um guaiamum.
Ambos estavam resfriados, por isso, o siri usava um chapéu para
não ter problemas com o sereno, enquanto que o guaiamum usava galochas para não ter problemas com a umidade.
Outros frequentadores do lugar, que caminhavam recolhidos em seus
pensamentos, nem reparavam em singulares figuras que vêz por outra
desviavam de seus pés.
Enquanto caminhavam, os amigos crustáceos conversavam sobre tudo,política, futebol, crustáceas, cetáceas etc...
Na política, ambos não se conformavam em serem governados por um
molusco franzino tendencioso às coisas vermelhas. Não podiam com-
pactuar com um governante que profetizava energias alternativas,bio
combustiveis, preservação do meio ambiente, mas ao mesmo tempo permitia a contrução de dutos que despejavam excrementos em seus quintais. "Dutos de Merda"..esse era o apelido dos emissários que em- porcalhavam o habitat dos amigos, que por muitas vêzes tentaram uma
audiência com tal autoridade, para exporem suas idéias quanto ao u-
so alternativo de tanta merda, mas nunca conseguiram sequer respos-
ta a tantos emails enviados.
O siri era partidário da corrente que defendia a construção de um
grande reservatório em cada cidade, para armazenar os dejetos de
cada residência. Tôda merda armazenada, devidamente tratada seria
transformada em GLB (Gás Liquefeito de Bosta). A coisa funcionaria
mais ou menos assim: cada residência teria seus excrementos devida-
mente pesado, e que depois de enviado ao "grande reservatório", re-
ceberia de volta por um preço mínimo, o GLB. Essa alternativa, ge -
ria impostos, empregos e consumo de alimentos, pois todos comeriam
mais, afinal mais bosta...gás mais barato.
O guaiamum era adepto do grupo que defendia o uso da bosta resi-
dencial como matéria prima para a indústria de papel. Tem sentido,
pois nada melhor que um papel higiênico feito de bosta, para limpar
bosta. Jornais feitos de bosta...afinal lemos tanta merda nesses periódicos. Cadernos universitários feitos de bosta...para quem es-
creve tanta merda. O papel é usado em quase todos setores da econo-
mia, portanto é produzido em grande escala, inclusive exportado.Es-
taríamos exportando nossa merda. Teríamos um papel moeda de merda.
Enfim...lucros com bosta.
Os dois crustáceos divergiam entre si, mas eram radicalmente
contra um terceiro grupo que pregava a idéia da merda na indústria
alimentícia. Este grupo usava um slogan nada original: " Da bosta
viestes...à merda retornarás ". Não eram bem vistos e contavam com
pouquíssimos adeptos, em geral camarões, pois estes tem merda na
cabeça.
E assim seguiam on dois amigos num literal papo de merda.
Divergências políticas à parte, ambos torciam para o mesmo time.
Talvêz não pelo time em si, mas pela mascote, que era uma sensual
baleia. Achavam a sensualidade feminina da baleia, melhor que a a-
gressividade máscula do mascote gavião, pois todos sabem que gavi-
ão quando desce no terreiro, é para pegar pinto e o porco só é ro -
busto porque come merda também. O urubu dispensava comentários.
Já ia alta a noite, quando cansados resolveram recolherem-se e a-
pós um aperto de patas, combinaram um encontro para a próxima noi-
te para mais uma caminhada com a promessa de nada conversarem sô bre bosta. Precisavam debater filosofia sem falar merda.

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