Oração

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"IV EVENTO LITERARIO DE 2008"

“SANTO ANTONHO”

Ara Santo Antonho...
Num querdito mais no Sinhô...
Já passei da hora...
I casamento que é bom, nada...
Sabe aquela novena???
Quinze veiz...
I o jejum???
Esmagreci deiz quilos...
Tem jeito não doto...
Santo Antonho me desconjurô...
Intè aquela véinha sem dente, sabe...
Óia, nem ela qué sabe mais deu...
E a loirinha La da praça???
Nem cum dinheiro...
Dia desses tava eu me confabulando com o cumpadi...
E ele me abriu us òios...
Eu preguntei, pro que é que Santo Antonho num me atende...
E ele me expricô pruque eu falo inrrado dimais...
Se quisé que Santo Antonho me atenda...
Tem que pelo menos o nome dele dereito falá...
Será???

Ai então resorvi...
Uma Oração fazê...
A Santo Antonho eu prometi...
Seu nome consegui iscreve!!!

Meu Santo Antonho querido...
Se o sinhô me ajudá...
Prometo que me afundo nos livro...
E seu nome vou consegui escrivinhá!!!

Mas pur favo faça sua parte...
Uma custela arruma pra eu arranhá...
Execute sua bela arte...
Que é di faze a todos casa!!!

Foto de Wilson Madrid

BOA NOITE GRABRIELA

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* BOA NOITE GABRIELA
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José é paulistano, trabalhador, escritor e poeta. No ano de 2004, em que sua querida cidade de São Paulo, no dia 25 de janeiro, completaria 450 anos, ele já tinha 53 anos de idade.
Desde as primeiras notícias dos preparativos das grandes festividades em comemoração aos 450 anos da sua cidade, José tem a intenção de escrever uma poesia dedicada a esse dia e participar com o seu dom nessa data tão significativa para a sua cidade.
Passam-se os meses e José não tem nenhuma inspiração para concretizar essa intenção. Finalmente, no dia 21 de janeiro à noite, restando apenas quatro dias para o grande e esperado dia, eis que surge a tão necessária inspiração e José, escreve “Estação Paulo 450”:

São Paulo locomotiva de luz solar, do luar e da garoa,
formigueiro agitado de gente operosa e muito boa,
metrópole acolhedora do nosso gigante e querido Brasil,
brilhante guerreiro, branco, verde, amarelo e azul anil,
formigueiro de estrelas valentes, nascidas para enfrentar a labuta,
caminheiros perseverantes que não desistem e vão à luta ...

São Paulo de Anchietas, paulistas e paulistanos,
virgulinos, marias bonitas, baianos, cearenses e paraibanos,
jesuítas, portugueses, potiguares e pernambucanos,
salesianos, italianos, sergipanos e alagoanos,
brancos, negros, espanhóis, piauienses e franciscanos,
orientais, maranhenses, índios tupis e latino-americanos ...

São Paulo dos irmãos da Praça da Sé e dos manos da periferia,
do povo batalhador imigrante de todos os recantos brasileiros,
esperança de liberdade e de conquista da devida igualdade,
dos seus cidadãos carismáticos e inconfidentes maneiros,
da fraternidade, das músicas e poesias do alto astral,
palco das lutas pela democracia, cidadania e justiça social ...

São Paulo do arco-íris sonoro do pagode, do forró e do axé,
do sertanejo, do reagee, do rap e do clássico samba no pé,
bilheteria da estação primeira dos passageiros do trem das onze
do maquinista Adoniran Barbosa que partiu da saudosa maloca,
com os turistas Arnesto, Iracema, Cibide, Pafúncia, Nicola,
Inês, Irene, Moacir, Gabriela, Matogrosso e o Jóca ...

São Paulo rondada por Vanzolini e batucada por Germano;
Sampa caetaneada por Veloso e poetizada por Bonfim,
amada por tantos brasileiros e pelos seus leais paulistanos,
não és mais apenas a minha São Paulo que não pode parar,
a famosa terra da garoa e do grito do Ipiranga de onde eu vim,
porque ao ver a tua grandeza, força e beleza aos 450 anos,
muita coisa acontece no meu coração,
que vibra feliz e com muita emoção,
ao te parabenizar, abraçar e beijar,
pois tu és São Paulo, a feliz cidade da minha paixão...

A sua nova poesia ficou muito boa pois todos que a leram gostaram e elogiaram bastante. Animado com esse resultado José a encaminha para amigos, jornais e para o comitê de organização da grande parada que seria realizada no dia 25 de janeiro entre a avenida 23 de maio e o vale do Anhangabaú.
Versos da sua poesia ele encaminha pela internet para o sítio “Declare seu amor à cidade” pois segundo havia sido divulgado pela imprensa, no dia 25 as melhores frases seriam exibidas através de raios laser nos prédios da cidade, próximos ao local do show de encerramento das comemorações no vale do Anhangabaú e durante a grande parada que o precederia ocorreria uma chuva de papéis com trechos de poesias dedicadas a São Paulo.
José sonha com a possibilidade de ver sua poesia ou ao menos partes dela serem aproveitadas em tão memorável data, fato este que muito o honraria. O prazer que esse fato lhe proporcionaria só mesmo os poetas entendem; os que possuem outros importantes dons, que não este, não possuem condições de avaliar o valor que isso teria para ele, afinal de contas, o que José ganharia com isso? Por acaso seu saldo bancário tem algum incremento de algum centavo quando algumas das suas poesias são apreciadas, aprovadas e publicadas? Não! Então isso é coisa de maluco ou de quem não tem o que fazer. Ou então, como dizem outros, isso é coisa de sonhador ou de poeta...
Mas tudo bem, José costuma respeitar todas as opiniões, sabe que nem todos pensam assim e procura fazer o que lhe compete, pois se não existissem os poetas o mundo conseguiria ser bem mais medíocre do que na maioria das vezes já o é.
José se anima com as perspectivas e decide participar pessoalmente das principais festividades programadas para o aniversário especial da sua cidade.
Sua família programa visitar um dos seus irmãos que reside em São Bernardo do Campo, cidade da grande São Paulo, justamente na tarde do dia 25 de janeiro quando ocorreria a grande parada tão esperada. José sempre tem muito prazer em visitar os seus irmãos e as suas famílias, mas essa data e essas comemorações seriam únicas. Como não consegue convence-los a acompanha-lo nas mesmas e adiar a visita à família do seu irmão para o domingo seguinte, resolve ir sozinho nas grandes festividades.
Da mesma forma, apesar de insistir em convidar sua esposa e seus filhos a acompanhá-lo na noite do dia 24 ao Parque do Ibirapuera, para conhecer a nova fonte luminosa inaugurada no dia anterior e seguirem posteriormente para assistirem ao show com Caetano Veloso na avenida Ipiranga com a avenida São João, que faziam parte daquelas comemorações, nenhum deles interessou-se em acompanhá-lo.
Na tarde daquele mesmo dia tinha combinado com uma amiga que lhe informou que iria assistir a inauguração da restauração da fachada da Estação da Luz e logo depois iria ao show do Caetano Veloso, para comunicarem-se através de seus telefones celulares objetivando encontrarem-se na estação república do metrô, próximo à rua Barão de Itapetininga, para assistirem juntos a esse show e posteriormente voltarem juntos para suas residências.
Como José acabou não tendo com quem ir ao parque do Ibirapuera, mudou seus planos e resolveu também ir para a Estação de Luz e tentar encontrar sua amiga já nesse evento e depois seguirem juntos para o show do Caetano Veloso. Antes de sair, tentou falar com ela, não conseguiu, deixou recado na caixa postal do seu celular avisando que também estava indo para a Estação da Luz e que de lá ligaria novamente para o celular dela e saiu da sua residência às 19:30 horas com destino àquele evento.
Lá chegando tentou fazer contato com o celular da sua amiga e as ligações não conseguiram ser completadas.
Com a presença do governador Geraldo Alckmin, da prefeita Marta Suplicy, do ministro da cultura Gilberto Gil e de várias outras autoridades e apresentações artísticas de Kleiton e Kledir, Almir Sater e Elza Soares, leituras de textos, inclusive da oração do Pai Nosso, na língua tupi-guarani lida pelo grande ator Lima Duarte, dentre outras apresentações de outros artistas, danças e projeções de filmes com grande conteúdo histórico e cultural da sua cidade, o evento converteu-se num grande espetáculo muito interessante e valioso de ser assistido.
Após uma maravilhosa queima de fogos que concluiu este evento por volta das 22:30 horas, José encaminhou-se a pé para a avenida Ipiranga com a Avenida São João, onde estava previsto para as 23:00 horas o início do show com Caetano Veloso, que compôs Sampa, cuja letra cita que “alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga com a avenida São João”, cruzamento este que se localiza próximo da Estação da Luz onde ele se encontrava.
Conforme houvera combinado com a sua amiga tentou novas tentativas de contatos telefônicos para encontrarem-se no local deste outro evento, com a intenção de assisti-lo juntos e voltarem juntos para suas residências, haja vista residirem no mesmo bairro e pela conveniência sob o aspecto de segurança pessoal de ambos, principalmente dela, por ser mulher e do horário do evento.
Até mesmo para facilitar esse retorno tinha deixado seu automóvel estacionado próximo à estação Vila Mariana do metrô para leva-la até sua residência quando retornassem de metrô do centro da cidade e posteriormente voltar para sua própria residência.
Como as ligações entre os celulares não se concretizavam, José ligou para sua residência e pediu a um de seus filhos para ligar para o celular da sua amiga dando a sua localização, em frente à Igreja Internacional da Graça, na própria avenida São João, distante há uma quadra da localização do palco do show.
Depois de alguns minutos, voltou a ligar para o seu filho e este o informou que a sua amiga estava na avenida Ipiranga, ao lado direito do palco do show. José tentou ir até aquele local mas não conseguiu, pois uma aglomeração enorme de pessoas presentes no local impedia a sua passagem até onde ela se encontrava. Então José ligou novamente para seu filho e pediu para avisar a amiga que a aguardaria, no final no show, em frente àquela igreja já informada anteriormente.
O show começou às 23:00 horas com Caetano Veloso; participaram também Jair Rodrigues, Gilberto Gil, Nando Reis e outros artistas. Exatamente à 00:00 hora, Caetano declamou a parte da letra de Sampa que diz respeito ao local onde o show estava sendo realizado:

Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende de pressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
mais possível novo quilombo de Zumbi
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa.

O público delirou com aquele momento histórico. O show continuou foi muito bom e terminou às 1:30 horas já do dia 25, aniversário de 450 anos de São Paulo.
José, conforme havia combinado com a sua amiga, a aguardou naquele local durante 30 minutos. A quantidade de pessoas era muito grande; com o passar do tempo a multidão foi se diluindo e José resolveu seguir em direção ao local onde ela se encontrava na esperança de encontrá-la no caminho. Não a encontrando, seguiu em direção à entrada da estação república do metrô, próxima a rua Barão de Itapetininga, que era um dos locais que haviam comentado anteriormente como sendo um dos possíveis pontos de encontro para assistirem juntos ao show e através da qual retornariam para as suas residências.
José ficou parado sozinho, como sempre estivera durante a noite toda, naquele local durante alguns minutos na esperança de encontrar a sua amiga, pois estava preocupado com ela que também deveria estar sozinha e tendo que voltar para casa sem companhia, em horário um tanto quanto perigoso numa cidade como São Paulo.
Ao lado de onde José se encontrava ainda funcionava uma pastelaria ou lanchonete onde algumas pessoas ainda consumiam alguma coisa. José resolveu tomar uma cerveja e o balconista o alertou que o estabelecimento já estava para fechar e que somente o atenderia se o consumo fosse rápido. José comprometeu-se com o balconista a consumir sua cerveja rapidamente e ele o serviu no próprio balcão, situado bem em frente e próximo do passeio público, de onde ele poderia continuar observando se sua amiga apareceria.
Próximo a ele um outro homem que também tomava uma cerveja iniciou uma conversa a respeito do show do Caetano. Disse-lhe que era da Bahia, de Porto Seguro, e que estava de passagem por São Paulo e não poderia perder a oportunidade de assistir ao histórico show do seu conterrâneo. Apesar do horário, muitos policiais cuidavam da segurança de todos e muitas pessoas ainda passavam pela avenida e outras faziam rodas de música e cantavam do outro lado da avenida, na praça da República.
Passados poucos minutos, surgiram duas mulheres, aparentemente simples e comuns, perguntando como deveriam fazer para retornar para suas residências, no distante bairro de Interlagos, na zona sul da cidade. Como o outro homem, de Porto Seguro, não conhecia São Paulo, José lhes informou que pelo seu conhecimento a única condução que estava funcionando, apenas para embarque, naquele horário era o próprio metrô e apenas em algumas estações próximas dali, inclusive aquela quase em frente de onde estavam.
Conversaram mais alguma coisa a respeito do show, elas criticaram a qualidade do som, que acharam que não estava muito bom no local onde ficaram assistindo, mas que apesar disso tinha valido a pena vir assisti-lo. Ao saber que o outro homem era de Porto Seguro, uma delas, a mais nova, comentou que conhecia aquela cidade e citou vários nomes de cidades e lugares daquela região da Bahia. Logo depois elas agradeceram as informações e dizendo que o metrô não serviria para elas retornarem para casa teriam que encontrar alguma outra alternativa para faze-lo, despediram-se e seguiram pelo passeio público na direção da rua Sete de Abril.
Depois de alguns minutos os funcionários do estabelecimento começaram a lavar o piso do estabelecimento para fecha-lo logo a seguir.
José apressou-se em terminar de tomar sua cerveja para ir embora e nesse momento ressurgiram aquelas mesmas duas mulheres e uma delas perguntou a José se ele teria isqueiro para ascender um cigarro. José acendeu o seu cigarro e elas comentaram que não tinham encontrado solução para retornarem para Interlagos naquele horário, insinuaram que estavam sem companhia e já que aquele estabelecimento estava fechando sugeriram para irem até uma lanchonete, cerca de cinqüenta metros dali, próximo da segunda esquina ali ao lado na própria avenida Ipiranga, entre a rua Sete de Abril e a avenida São Luís.
O homem de Porto de Seguro apressou-se em aceitar o convite e pediu para aguarda-lo por um momento enquanto ele iria até o banheiro da pastelaria que já estava para fechar.
Enquanto o outro homem que entrara para usar o banheiro demora-se a voltar elas comentaram que acharam-no uma pessoa estranha, com algum problema e que preferiam evitar a companhia dele. Como o tempo decorrido indicava que certamente sua amiga já havia ido embora, já eram 2:40 horas, José acabou desistindo de aguardá-la e aceitou a sugestão de sair dali e seguir com elas até a referida lanchonete para comer algo pois não havia jantado e estava com fome.
A lanchonete estava lotada, com todas as mesas ocupadas, restando apenas um canto bem discreto num balcão interno com algumas banquetas onde José e as duas mulheres sentaram-se de frente para a janela que dava para o passeio público de uma rua pouco movimentada naquele horário e de costas para o ambiente principal do local .
Pediram então uma cerveja e continuaram a conversar. Como José estava com pouco dinheiro e não sabia se elas teriam algum para dividir a despesa, evitou pedir qualquer coisa para comer pois não teria como oferecer e pagar para os três.
José ficou sabendo, segundo elas lhe contaram, que a mulher morena escura de meia idade, aparentando uns cinqüenta anos, chamava-se Dara ou algo parecido, residia em São Carlos, interior de São Paulo, e que estava a passeio em São Paulo, hospedada na residência da amiga que a acompanhava. A sua amiga, mais nova do que ela, morena clara, aparentando uns trinta anos, chamava-se Gabriela, trabalhava num hospital de São Paulo e residia em Interlagos.
José informou que era casado, que tinha família, alguma coisa sobre o bairro onde morava, também na zona sul, que se desencontrara de uma amiga e que para ele o metrô seria o suficiente para retornar para casa, coisa que pretendia fazer logo a seguir.
Perguntado se apesar de casado estaria com a noite livre, com várias insinuações de Dara para que José passasse a noite com a Gabriela, José, meio constrangido e estranhando a conversa pois elas não aparentavam ser prostitutas, respondeu que apesar dela ser muito simpática não poderia, pois precisava retornar logo para casa pois sua família o aguardava e que pretendia participar das festividades do início e final da tarde às quais ele esperava com tanta ansiedade em função da poesia que ele havia composto para aquela oportunidade. Perguntou se elas pretendiam participar das mesmas e Gabriela informou que gostaria de participar mas que não poderia pois teria que trabalhar a partir das 14:00 horas.
No retorno de uma ida ao banheiro, Gabriela comentou que encontrara, por acaso, numa das mesas da lanchonete, um colega de trabalho do mesmo hospital em que ela trabalhava; de onde estava sentado José não podia ver essa movimentação e tampouco viu esse contato que ela comentou imaginando que talvez ele o tivesse percebido.
Após pedirem pela terceira cerveja e Dara insinuar que também pretendia comer alguma coisa, José comentou que não tinha dinheiro suficiente para pagar aquela conta, pois não previa ter despesas naquela noite e que teria que fazer uma retirada de dinheiro num caixa eletrônico para acertar a conta e ir embora. Gabriela prontificou-se de imediato a acompanha-lo dizendo que aproveitaria para também fazer uma retirada. José manifestou sua intenção de ir até uma agência bancária do outro lado da praça da República e Gabriela sugeriu para evitarem irem para lá pois aquele local era muito perigoso naquele horário e sugeriu um caixa eletrônico ao lado do Hilton Hotel, distante apenas duas quadras do local onde se encontravam e local bastante movimentado naquele momento, em função de uma concorrida danceteria existente bem ao lado do caixa eletrônico.
Lá chegando, cerca de 3:45 horas, entraram juntos na cabine do caixa eletrônico, Gabriela usou o seu cartão, porém alegou que estava ocorrendo algum problema e não obteve êxito na retirada do dinheiro. José usou o seu e retirou R$-100,00-.
Voltaram à lanchonete e reencontraram Dara na companhia de um outro homem ao qual os apresentou como um amigo que conhecera naquele intervalo de tempo.
Gabriela informou que desejava comer algum salgado, retirou-se por alguns instantes enquanto José continuou conversando distraidamente com Dara e o suposto novo amigo dela. Mais uma vez, da posição em que estava, José não acompanhou o movimento da Gabriela, supostamente em direção ao balcão para escolher o salgado. Gabriela retornou com um quibe que ofereceu, dividiu ao meio e serviu a José que o comeu.
José comeu a metade daquele quibe e tomou o último gole do seu copo de cerveja por volta das 4:00 horas daquele importante e histórico dia 25 de janeiro de 2004.
Depois disso, os únicos lapsos de memória que ele teve foi o de ter sido acordado por alguém que o informava de que a sua diária já havia vencido e que ele tinha que se retirar do local onde se encontrava dormindo sozinho, provavelmente num dos hotéis existentes naquelas redondezas do centro velho de São Paulo, sendo impossível lembrar-se até mesmo em que endereço o mesmo se situa.
Saiu de lá já à noite e notou que estava sem nenhum dinheiro e sem o bilhete da passagem de metrô que ele tinha reservado para retornar para a sua casa.
Lembra-se apenas que andou pelo centro velho de São Paulo totalmente grogue e sentindo uma ligeira dor na nádega esquerda e uma certa dificuldade para caminhar, tentando desesperadamente entender o que estava ocorrendo e conseguir um meio para retornar para sua residência. Não consegue se lembrar por quais locais passou nem tampouco qualquer coisa que fez nesse trajeto e espaço de tempo totalmente apagado da sua memória.
O único fato que José consegue se lembrar desse período foi que numa determinada rua ou praça, que não consegue se lembrar onde fica, resolveu apelar para uma moça loira, provavelmente uma prostituta, resumindo-lhe o que se lembrava do ocorrido e pedindo-lhe ajuda para pagar-lhe uma passagem de ônibus para retornar para casa. A moça informou-lhe que teria que ir até o hotel apanhar o dinheiro e se ele poderia espera-la. José ficou aguardando, ela retornou e lhe deu cinco reais com os quais ele pegou um ônibus e com muita dificuldade, cochilando no ônibus e ainda com muito sono e meio dopado chegou na sua residência às 21:00 horas daquele dia 25 de janeiro de 2004, final do aniversário dos 450 anos de São Paulo.
Ao lembrar-se dessa moça, cujo único detalhe gravado é o de que era loira, José não pode deixar de lembrar-se de Madalena e de ser-lhe muito grato.
Talvez essa gratidão seja motivada por ela ser a única lembrança parcial e boa que tenha ficado daqueles horríveis momentos que ele viveu e provavelmente isso se deva nem mesmo ao precário funcionamento do seu cérebro e da sua memória mas sim no seu coração. Pois ela acreditou e confiou na sua história sem pestanejar e de todos que ficaram sabendo do motivo do horário que ele retornou para a sua casa ela foi a única pessoa que não o acusou, julgou, condenou e crucificou precipitadamente.
Após alimentar-se de algo e tomar um rápido banho logo após chegar ainda atordoado na sua residência e dormir durante toda a noite, na manhã seguinte percebeu que a dor que sentia e o incomodava foi motivada por uma injeção que lhe aplicaram não sabe quando, nem como, nem de que medicamento ou substância química; deduziu que pelo tempo que ficou desacordado e atordoado durante todo o dia 25 e ter ainda dormido a noite toda seguinte, totalizando cerca de 30 horas, devem ter lhe aplicado algum sonífero muito forte e poderoso para terem o tempo suficiente para agirem nas operações com o seu cartão bancário magnético, cujo desaparecimento só tomou consciência ao acordar naquela manhã do dia 26.
Dirigiu-se à agência do estabelecimento bancário onde possuía sua conta corrente para cancelar o cartão magnético que havia sumido e constatou que enquanto ocorriam as festividades que ele tanto aguardava e que não pode participar, fizeram todas as retiradas possíveis tanto do seu saldo credor como do seu limite de crédito totalizando R$-1.575,00-, deixando-o devedor do banco em R$-1.000,00-, que era o limite do seu crédito.
Retornando à sua residência José procurou certificar-se de terem tido roubado também o seu telefone celular que é comum, seu relógio antigo e de pouco valor material, seu isqueiro de certo valor e seus documentos pessoais. Para sua surpresa, encontrou todos em casa. Ficou surpreso com o fato e imaginou que provavelmente, algum problema operacional das totalmente desconhecidas ações que os seus seqüestradores tomaram os impediu de rouba-lo também nisso. José também acredita na possibilidade de terem ficado satisfeitos com o montante de dinheiro que retiraram da sua conta bancária, o que teria tornado seus demais pertences pouco significativos e atrativos. Ou até mesmo ser interessante ele ficar com o celular para atender alguma eventual ligação de seus familiares, evitando, desta forma, que os mesmos acionassem a polícia.
José sabe e tem consciência do grande risco de vida que correu e que, mais uma vez, errou ao confiar em pessoas desconhecidas e compreende seus familiares e amigos que no princípio tiveram dificuldade ou uma certa resistência em acreditar nesta sua história que parece enredo de filme de aventura ou de terror. Afinal de contas não seria a primeira vez que ele errara, coisa incrível e inaceitável num mundo composto por pessoas que na maioria das vezes se julgam tão perfeitas e infalíveis e juízes muito competentes. Muito mais fácil supor, naquelas circunstâncias, uma balada irresponsável, completada com uma prazerosa aventura erótica de fim de festa.
Também entende e lamenta o constrangimento da sua amiga que ficou sendo contatada pelos seus familiares durante o dia 25 para obter informações quanto ao seu paradeiro, como se tivessem passado aquele tempo todo juntos, sendo que na realidade sequer se falaram nem mesmo através das ligações telefônicas, várias vezes tentadas por ambas as partes, todas elas não completadas. José só veio a ficar sabendo que ela lhe telefonara e que conversaram no próprio dia 25, cerca das 21:30 horas, meia hora depois dele chegar na sua residência, porque seus familiares lhe contaram o fato ao rememorarem todos os acontecimentos três dias depois, sendo que naquela oportunidade ele mal conseguira raciocinar e conversar normalmente com ela, por estar ainda sob efeito da droga que lhe aplicaram, dando-lhe a péssima impressão de estar totalmente embriagado.
Na verdade, juntando todos os fatos e detalhes possíveis de serem lembrados, José concluiu ter sido vítima de um seqüestro relâmpago planejado e executado por uma quadrilha que ao invés de se utilizar qualquer tipo de arma e cativeiro tradicionais, utiliza-se do já conhecido e popularmente conhecido golpe do “boa noite Cinderela”, onde a vítima, sem que perceba, é dopada através de substâncias que colocam na sua bebida ou comida, complementado com a utilização de conhecimentos da área médica para aplicação de algum medicamento, no seu caso, uma injeção, que mantém a vítima sedada durante o tempo necessário para agirem junto aos caixas eletrônicos, mantendo-o desacordado em qualquer hotel, cuja diária é paga com o seu próprio cartão de crédito.
Provavelmente além das duas mulheres que o abordaram os demais membros da quadrilha já deveriam estar naquela lanchonete ou os seguiram até lá; o amigo casualmente encontrado pela “Gabriela” numa das mesas seria um deles e devia lhe passar orientações; provavelmente logo que começaram a tomar a primeira cerveja colocaram alguma droga no seu copo o que o levou a tomar uma atitude tão absurda de dirigir-se a um caixa eletrônico na companhia de uma pessoa que ele acabara de conhecer; o suposto cartão magnético utilizado pela “Gabriela” e que “não funcionou” deve ter sido algum artefato de clonagem que memoriza informações da senha do cartão utilizado a seguir, no caso o de José, e provavelmente assim que saíram do caixa eletrônico algum outro membro da quadrilha já estava a postos na porta do mesmo para entrar e retirar o possível artefato ou, até mesmo, simplesmente a “Gabriela” observou e memorizou a senha digitada por José; o novo amigo de “Dara” que já a acompanhava quando retornaram do caixa eletrônico também deveria ser um outro elemento do grupo já devidamente posicionado junto a ela para exercer alguma função necessária a seguir. José também acredita que até mesmo o primeiro personagem que puxou conversa no início do episódio, o “conterrâneo de Caetano, de Porto Seguro”, talvez também pertencesse ao grupo.
Tendo conseguido executar todas essas etapas, restou apenas incrementar o doping da vítima com um apetitoso e simpático quibe turbinado com algum “tempero” especial, já preparado para “Gabriela” oferecer a José assim que voltassem do caixa eletrônico, tornando muito mais fácil e rápido convence-lo, já muito atordoado e inconsciente, a acompanha-las para onde eles bem entendessem e lá chegando completarem o “tratamento” com a aplicação de uma injeção que o deixou desacordado praticamente o dia inteiro, tempo suficiente para, de posse do cartão magnético, facilmente retirado do bolso do “apagado”, e com a respectiva senha captada anteriormente mediante fraude, executar o furto de todo dinheiro possível da sua conta bancária.
O prejuízo financeiro sofrido por José foi o de menos pois muito mais significativos foram os danos morais que, além dos fatos em si, incluíram os constrangimentos que teve que enfrentar para contar essa sua história para seus familiares e amigos envolvidos, para a assistente social que o atendeu na sua solicitação de exame de sangue para controle de HIV, hepatite e outras doenças infecciosas, pois não se sabe que tipo de agulha as criminosas utilizaram para aplicarem-lhe o medicamento intravenoso; para o escrivão e delegado de polícia que o atenderam para a confecção do boletim de ocorrência policial; para os que o atenderam para a realização do exame de corpo delito requisitado pelo delegado ao IML; para o funcionário e a gerente do banco para o cancelamento do seu cartão magnético e entrada de pedido de restituição dos valores que não foram sacados por ele mas sim pelos marginais que o vitimaram e muitas outras conseqüências na sua vida particular.
Felizmente, apesar de todos esses prejuízos e transtornos, José agradeceu a Deus por estar vivo para poder contar esta história e constatar que não lhe retiraram nenhum rim ou qualquer outro órgão, cuja subtração e tráfico, por incrível que pareça, vem se tornando um mercado em expansão neste mundo cada vez mais materialista, egoísta e ateu.
José resolveu contar a sua história porque a arte imita a vida e tirando o melhor proveito possível do ocorrido pretende aproveitar seu drama até mesmo para, mais uma vez, apesar de muito divulgado, alertar seus semelhantes para o risco de caírem numa cilada como esta, que ele mesmo, uma pessoa já experiente, já ouvira falar e julgava que jamais cairia nela.
José ficou triste e chateado principalmente pela preocupação e transtorno causados aos seus familiares e à sua amiga; assim como ele perdoou todos os que duvidaram da sua história, espera ser perdoado pelos seus eventuais erros humanos e inconscientes e receber um voto de confiança na sua palavra, da mesma forma em que nele confiou a provável prostituta loira, mulher que é da vida, e que por isso mesmo conhece muito da vida e da malandragem e dificilmente se deixaria enganar por ele, concedendo-lhe imediatamente o crédito e a solidariedade que ele tanto necessitava naquele momento.
Como ele se recorda de todos os detalhes ocorridos antes de ser dopado, chama-lhe a atenção da profética coincidência de terem cantado tanto na Estação da Luz como no cruzamento das avenidas Ipiranga com a São João uma música que há muito tempo não ouvia, cujos trechos da letra confessam: “chorei, não procurei esconder, todos viram, fingiram, pena de mim não precisava, ali onde eu chorei, qualquer um chorava, dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava... um homem de moral, não fica no chão, nem quer que mulher lhe venha dar a mão, reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima....”
Motivado por essa música e ao ter sua história transformada neste conto José já se sente, por esse simples motivo, levantando-se, dando a volta por cima, reconhecendo a queda, não desanimando e sacudindo a poeira, discordando apenas que um homem de moral não possa aceitar que uma mulher lhe venha dar a mão, seja ela quem for, pois na vida tudo é muito relativo e nós seremos sempre nós e as nossas circunstâncias.
Porém, o que o deixou muito inconformado, como poeta que também é, foi não ter percebido no devido tempo a notável rima do já conhecido golpe do “boa noite Cinderela” com a ironia do seu clone “boa noite Gabriela”.
Fosse ele um gênio da categoria de um Adoniran Barbosa ou de um Paulo Vanzolini certamente comporia mais uma das muitas obras primas que eles imortalizaram sobre as personagens desta fantástica São Paulo e de seus tão diferentes habitantes com seus dramas, culturas, formações e valores tão incompatíveis e eternos participantes da cotidiana luta entre o bem e o mal, onde todos lutam para sobreviver, seguindo caminhos tão diferentes e até mesmo opostos.
José também não pode deixar de notar a incrível coincidência dessa sua experiência, nesse dia histórico e feliz para a sua querida cidade de São Paulo e tão infeliz para ele, que tanto desejou e acabou não podendo participar das principais comemorações do dia 25 de janeiro de 2004, com a memorável poesia que leva o seu nome, composta pelo grande mestre Carlos Drummond de Andrade:

“E agora José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais,
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?”

Apesar de tudo e sem abdicar de vivenciar tudo aquilo que faça acontecer alguma coisa boa no seu coração e que não prejudique nenhum semelhante, José pretende seguir marchando; marchar para onde? Marchar para onde segue qualquer um daqueles que como ele compõe a sua raça humana, criaturas falíveis e eternos aprendizes: para onde Deus quiser!

28/jan/2004

Wilson Madrid, o Poeta Azul
e aqui, o José...

Publicado no Recanto das Letras em 19/05/2006
Código do texto: T159150

Foto de Bira Melo

CABELO ENCANECIDO

Meu cabelo encanecido
Denota agora o quanto sou bobo
Por trazer no peito um coração lasso e ferido.

Esse meu cabelo encanecido
Também denota o quanto sou feliz
Por anos que vivi, viveria e tenho vivido.

A essa minha jovem cã, obrigado digo:
Sempre por ela ter me feito amável,
Às vezes ácido, mas um homem bem mais amadurecido.

Essa mesma pobre cã tem sido:
Testemunha das matizes branco - preto
E por ser eu um jovem ancião de coração partido.

Em oração ela e eu agradecemos ao Altíssimo
Pela vida como passei
E por saber que ainda verei o belo e o belíssimo.

Ao Soberano Senhor do Universo enaltecido
Eu e minha cã temos agradecido,
As vitórias, o dom da vida e o prazer de ser querido.

Bira Melo in Pedaços de um CaraMelo*

*Direitos reservados.

Foto de Cecília Santos

SONHOS AO RELENTO.

SONHOS AO RELENTO
:
:
:
Pela rua caminhando.
Um mendigo molambento.
Pé no chão, sujo e maltrapilho.
Pedindo pra um e pra outro.
Vai seguindo pela rua.
Revira o lixo, a procura de comida.
Pois a essa altura o estômago está à reclamar.
Sonhos tem muitos, mas são sonhos ao relento.
Pois sob a luz da lua em meio a
papéis e jornais se deita.
Agradece à Deus numa muda oração.
O sono não vem, o corpo está dolorido.
Mas em sua mente o sonho é desmedido
Olha o céu e admira as estrelas.
Devaneia, divaga consigo mesmo.
Já cansado adormece, agora tem o
direito de sonhar e fantasiar sua vida.
Agora pode ser o quiser!
Um rei, morar em um castelo!
Comer um banquete farto,
regato a um bom vinho!
Quando a claridade, suavemente
seu rosto tocar.
A cortina da realidade se descerra.
Os lindos sonhos vão embora,
com o véu da madrugada.
A realidade chega com a luz do dia.
dos sonhos ao relento, só as lembranças!
E vagueando pela rua segue.
Sem perspectiva alguma.
Esperando a noite chegar.
Pra de novo poder sonhar!
E a realidade e o sonho amalgamar.

Direitos reservados*
Cecília- SP05/2008

Foto de Cecília Santos

ORAÇÃO MATINAL

ORAÇÃO MATINAL
:
:
:
Senhor!!!
Nesta manhã radiosa, venho te pedir.
Como faço todos os dias, saúde, proteção
para mim, e para os que amo e quero bem.
Mas tenho muito mais à agradecer, do que a pedir.
Pois o Senhor sabe das minhas necessidades
antes mesmo de proferi-las.
Obrigada Pai bondoso, por todas as maravilhas
que colocas diante de meus olhos.
Obrigada pela família linda que o Senhor me deu.
Obrigada pelas manhãs lindas e ensolaradas.
Obrigada também pelos dias chuvosos.
Que as vezes está como minha alma.
Triste, amuada, meio descrente da vida.
Obrigada Senhor, pela brisa gostosa que sopra.
Pois elas se encarregam de secar minhas lágrimas.
Quando a saudade é imensa, e não consigo sufocar
o meu pranto.
Obrigada Deus de amor, por me fazeres de rocha.
E me dares a delicadeza de uma criança, pra tocar
uma flor e sentir seu perfume.
Quero também Senhor, te agradecer nesta manhã pelos
meus amigos virtuais, a quem aprendi a querer bem.
Não os conheço pessoalmente, mas o Senhor me deu
o dom e a sensibilidade pra sentir como são suas almas.
Obrigada Pelo dom da inspiração que fizeste aflorar
em meu coração.
Me permitindo dividir, compartilhar com os meus amigos,
minhas alegrias, meus medos, meus desejos, minhas
dores, minhas lembranças, minhas lágrimas, meus sorrisos.
Obrigada Senhor, muito obrigada!!!

Direitos reservados*
Cecília-SP/19/05/2008*

Foto de Cabral Compositor

Num Piscar de Olhos

Num Piscar de Olhos

Catou um monte de ideias
Saiu pelas ruas, viu arvores, esquinas e comercio
Muita gente em vestes
O calçamento, cores nos carros, nas casas, em tudo
Cheiro de café, de flores
Um grito, uma musica e o canto dos pássaros
Ruido de motores, uma velha varrendo a calçada, folhas secas caidas
Uma praça, uma torneira aberta
Um céu azul e nuvens brancas
Um varal com roupas ao vento
Um Sol, nem quente, nem morno
A alma e as batidas do coração
Uma oração na mente
Um sonho, uma vida em frente
Uma brisa leve
Um dia, um tempo nesse momento, na memória, na historia
Num piscar de olhos atentos
E as mãos em poesia

Foto de Rose Felliciano

II Evento Literário de 2008- Mãe.

.
.
.
.

"Mais que gerar a vida
É trazer à vida
Ser a acolhida
Ensinar a viver....

Muito mais que dar à Luz
É mostrar a Luz
Luz que conduz
e separa das trevas...

Mais que ensinar a falar
É o que falar,
quando falar
E a importância de se calar...

Bem mais que ensinar a andar
É acompanhar os passos
Falar dos espaços
Incentivar a seguir...

Mais que corrigir e educar
É ensinar com seu exemplo
E em silêncio,
Falar as mais sábias palavras...

Bem mais que ovário e útero....
é Coração.
Sua maior proteção...
a Oração.

Mais que colo... é abrigo
E ter nos olhos, o sorriso
Que boca alguma jamais deu...
Mais que Mãe....Uma dádiva de Deus" (Rose Felliciano)

.
*Mantenha a autoria do Poema*

Foto de Dirceu Marcelino

MÃE - Tu eras como MARIE FRANÇOISE THÉRÈZÉ - SANTA TERESA DAS ROSAS

*
* Homenagem à minha Mãe, à Marie Françoise Thérèze -
SANTA TERESA DAS ROSAS
*

Ela amava como ninguém as flores!
Tomara esse gosto em Alençon,
Com Rose Taillé, que muitos amores
Dedicou-lhes enchendo-as de atenção

Tanto foi seu gosto pelos esplendores
Das flores, em especial a paixão
Às rosas para as quais despendia amores
Inda não quisesse fazer distinção

Confirmava ao pedir em oração:
“Ajuntai estas pétalas, irmãzinhas”,
Pois algum dia, “Elas vos servirão”.

A dar alegrias mais tarde! Irmãzinhas!
“Não perca nenhuma”. As agradarão!
Era a Santa das Rosas, S’Ta Teresinha.

Como tu minha M Ã E...

Foto de Carmen Lúcia

Oração à minha mãe

“Oração à minha mãe”

Teu dia se aproxima...
Aquele no calendário marcado.
Mas, na verdade, deveria ser todo dia,
Um só é muito pouco,
Pelo muito que deve ser comemorado.

Mãe, mesmo não estando aqui
De corpo presente,
Vejo-te a todo momento, em qualquer tempo...
Onipotente!
Estás em tudo que faço, sinto e falo...
Porque sou parte de ti,
Eternamente!

Te fazes presente em minha inspiração,
Nas rimas de minha poesia
Naquela nossa canção
Que cantávamos em sintonia
E gargalhávamos inventando a melodia...

Nas tardes de primavera
Em que tua beleza se confunde à dela...
Nas flores que colho de nosso jardim,
Rosas , hortênsias, lírios, jasmins,
Postas num vaso da sala, onde teu perfume exala.

Como crer que não mais existes,
Se a tudo tu me assistes...
Quando chego da rua,
Gelada do frio, molhada da chuva
E em minha mão sinto a tua
E teu calor a me esquentar...
Ao fazer aquele bolo de fubá
E o cheirinho de café a se espalhar...
Outro como o teu não há!

E mesmo, quando estou triste
Sinto teu colo, teu amparo,
Tua canção de ninar, teu embalo...
Meu coração se consola,
Minha alma se revigora
E volto a sorrir, reconfortada agora...

Mãe, mudaste de patamar, de andar,
(Sem nunca deixar nosso lar!)
E ao mesmo tempo, em mim ficaste,
Senão como explicar toda sensibilidade,
Tanto amor que me invade
E que em mim sinto vibrar,
Se não é teu ser, teu coração
Que me fazem seguir em tua direção?

Mãe, neste teu dia,
Em que se reverencia
O símbolo do amor em profusão,
Aceite esta minha poesia
Como se fosse uma oração!

Carmen Lúcia

Foto de Dirceu Marcelino

JARDIM ENCANTADO I - CASA TRANSPARENTE e PÁSSARO FERIDO de CECI POETA e Prosa Poética "ESCOLINHA ENCANTADA DA FERNANDA" - 1ª PA

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JARDIM ENCANTADO I de "www.poemas-de-amor.net ( primeira parte )

Bom dia gente!!!
Bom dia Musas, Fadas, Duendes,
Poetas e poetisas...
Ontem vocês encheram meu coração.
Hoje acordei muito contente.

Sinto-me como o Marcelino,
Mas sou o Dirceu Marcelino.
Vejam o meu nome fala de
Céu e Mar.
E ainda de hino,
Este é o meu canto:
“Marcelino bom menino”.
Agora moro nesta “Casa Encantada”
No endereço deste imenso
“Jardim Encantado”
“www.poemas-de-amor.net”.

Onde fica?
Ah! Depois lhes conto,
Agora vou me cuidar,
Escutem esse canto,
Estão me mandando
Cantar,
Cantem comigo:
“_Marcelino, bom menino,
"Pega a toalha,
“O sabão e vai se lavar...”

Pronto, já me cuidei
E fiz minha oração,
Agora vamos todos tomar
“Café com pão”.
Há muito troquei o vinho,
Não preciso dele
Sou um menino,
Gosto mesmo do
“Café brasileiro”.

Continuem a cantar comigo,
Vocês são meus amigos:

“_Marcelino bom menino”,
Pegou a toalha foi se lavar...
Agora vai tomar seu cafééé..
“Come, come, come... muito...”
“Limpa todo o prato...”
“Como Frei Donato”,
“Limpa todo o prato”
“Come todo o pããoooooooo...”

Agora vou levá-los à casa vizinha,
É aquela “Casa Transparente”,
Ali mora a Musa CECI POETA.
A casa dela é como a nossa,
“Não tem parede, não tem teto, não tem chão,
É, realmente, como a casa do “grande poetinha”,
Pois, aqui onde vivo é tudo assim,
Vejam a frente são nuvens de algodão,
Tudo limpo, sem poluição,
Olhem ali caminhando
Sobre as nuvens,
Ele anda também sobre os mares,
É meu amigo,
Meu Senhor,
É o menino Jesus.

Vejam o redor do “Jardim Encantado”,
Quantos pássaros, quantas flores,
Sintam o ardor dos seus perfumes,
O aroma da natureza,
Olhem aquele “pardalzinho”,
Ali embaixo daquela laranjeira,
Coberto de folhas e de flores...
É o pardal da Ceci. (Autoria: Dirceu Marcelino )

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PÁSSARO FERIDO
Laranjeira carregada
de flores.
Observada à distância
é um lindo buquê-de-noiva.
Em meio as ramagens, no
mais alto dos galhos.
Um pardalzinho, com seu
peito ferido, cantava.
Seu canto soava como
um doloroso lamento.
E quanto mais tentava
cantar, mais fraco ia ficando.
Seu canto era de tristeza,
um canto de adeus.
Distante de sua amada, não
tinha mais motivos pra viver.
Pois sabia que as forças lhe
faltava, que não resistiria.
Pois com seu peito ferido, em
chaga aberta, não sobreviveria.
Sabia que ali mesmo morreria.
Então estufou o peito, pensou
em sua doce amada.
E no espinho mais agudo,
que encontrou.
Espetou seu coraçãozinho ferido.
E cantou... cantou como jamais
em toda sua vida, havia cantado.
Queria que sua última melodia,
chegasse até a sua amada.
Em forma de mensagem de amor.
E a noite chegou, e consigo trouxe
um manto de estrelas.
Que cobriu um débil pardalzinho
ferido de morte.
Quem por ali de manhã passou, quiçá
nem percebeu.
Um pardalzinho morto, coberto de
flores de laranjeira!!!
( Direitos reservados* Cecília-SP/01/2008*

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A poesia CASA TRANSPARENTE, motivo da inspiração deste meu vídeo-poema, será transcrito nas próximas partes, em face da limitação em dez minutos pelo You Tube.

Agradeço a gentileza de CECI POETA, em enviar-me materiais com imagens e poesias, a SEMPRE-VIVA por no encaminhar as músicas de Louis Armstrong, para enriquecer no vídeo.

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