Ofício

Foto de Jardim

a casa está vazia

a casa está vazia, estar só se torna um compromisso. o teu cheiro, porém, continua no ar, o mesmo ar ordinário que respiro e que traz o aroma de quando estavas aqui. a falta que me fazes, porém, é um prêmio. é um presente que custei a aceitar e que me libertou do senso comum, do ofício de fabricar ilusões, da necessidade de acreditar em contos de fadas, de protagonizar ficções baratas, da dose diária de mediocridade.

Poema do livro Crônicas do Amor Impossível
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Foto de Elias Akhenaton

A Rubra Flor e a Borboleta - Prosa Poética

Caminhava pela manhã entre os jardins floridos e minh’alma quase transcendeu aos céus com o alquímico perfume no ar. Neste momento, percebi uma rubra flor que se destacava entre as outras, não só pela sua beleza, as outras florzinhas também eram belas, mas a rubra flor chamou mais minha atenção, porque além de bela, parecia que ela estava sorrindo para mim com suas pétalas ainda molhadas pelo divino orvalho matinal que cintilavam com a luz do sol, o qual, com seu esplendor, despontava infante no horizonte, num lindo céu azul, intemerato e cristalino, me transmitindo algo a mais, um sentimento de paz.

Fiquei fascinado e encantado diante da magia de tão divinal beleza. Oh, quão inspiradoras são as obras do pai criador, o Arquiteto Deus, como a majestosa natureza! Pena que algumas pessoas não estão tendo consciência em preservá-la, protegendo as florestas e o meio ambiente em que vivem! Mas, voltando ao fascínio da rubra flor, precisava deste sorriso. Às vezes em nosso meio necessitamos apenas de um sorriso sincero ou da simplicidade de um olhar que possa nos acalentar, de uma palavra amiga que nos transmita paz, alegria e ternura, que possa fazer com que transmutemos nossas tristezas e incertezas. Algo de divino. Embora o grande segredo desta transformação, seja descoberto e laborado primeiramente no cadinho do nosso próprio eu interior, fazendo com que de fato esta transmutação aconteça, mas infelizmente, algumas vezes, não temos a capacidade suficiente para fazer este ofício na qualidade de alquimistas das emoções que nos afligem, pelo menos é assim comigo, às vezes falta-me força, noutras fé para realizar esta transformação, mas sei também que existem muitas pessoas que têm dentro de si este potencial.

Essas pessoas têm o dom de nos alegrar, de incentivar, são enviadas por Deus, são anjos de luz que nos auxiliam quando precisamos, nos encorajando e dando ânimo. Quando elas não estão por perto, devido aos seus afazeres diários, temos que de alguma forma buscar a força dentro d’alma, ou simplesmente contemplar as maravilhas existentes na natureza e na grandiosidade e beleza das obras do Arquiteto Criador, buscando assim restabelecer o nosso equilíbrio interior, porque de alguma forma, Deus está e estará sempre presente ao nosso lado, em tudo e em todos, principalmente em nossas preces e orações, entretanto, mesmo sabendo disso, quiçá, até mesmo pela pouca fé que nutrimos em nosso coração, n’alguns momentos da vida, deixamos que as tristezas e as incertezas entrem nos interstícios do nosso peito e são nessas horas que necessitamos de ajuda, de um ombro amigo para compartilhar o que estamos sentindo.

Para completar tão belo quadro da natureza, convertendo de vez as tristezas que me afligiam, aproximou-se uma borboleta que posou mansamente sobre à rubra flor num espetáculo divinal inigualável. Uma borboleta, símbolo fecundo de transformação, de renascimento e a rubra flor, símbolo de consagração ao amor, juntas numa só imagem, imaculada, pura, composta pelas mãos benevolentes do Arquiteto Deus para aquele momento.

Uma imagem indelével que eternamente ficou registrada em meu coração e em meu pensamento, admirado pela singeleza e simplicidade mística da rubra flor e a borboleta que me transmitiam sentimentos de esperanças, fazendo brotar em meu jardim interior a bela flor do amor e com ela a ternura, a fraternidade, a solidariedade, o perdão... Elevadas e enlevadas aspirações. Desideratos nobres de paz.

Elias Akhenaton
Um peregrino da vida, pescador de emoções.
http://poetaeliasakhenaton.blogspot.com.br/

Foto de Allan Dayvidson

RASCUNHOS

"É o primeiro da uma coleção que chamo de 'Rascunhos, Declarações e Protestos' e fala sobre ser livre enquanto escreve... Escrevendo não existe assunto que eu me sinta proibído de falar e nada que eu não possa sentir o que me levou a muitos insights e a uma relaçao de maior cumplicidade comigo mesmo... Embora alguns poemas meus que se caírem em mãos erradas com certeza deporiam contra mim rsrs.. Ossos do ofício! rs"

RASCUNHOS

É quando você diz algo dum jeito que é só seu;
É quando se inventa uma palavra para tentar ser mais honesto;
É esse compromisso com seus sentidos e uma barganha com suas vaidades ;
É aquela hora em que se sente vontade de se declarar ou fazer protestos...
A tendência pode ser a de seguir as rotas seguras e ligar pontos,
Mas percebi que, para mim, escrever é quase como travar confrontos!

Então, não fique no caminho da minha próxima frase
E não conserte nenhum de meus versos.
Porque não é só uma fase ou algum retrocesso,
Estou sempre fazendo rabiscos em mim...

É quando os traços não formam figuras fechadas;
É como colorir laços que não se tornam nós cegos;
É a hora em que se dá o braço a torcer e se desfaz a fachada
É aquele passo de bravura de tentar traços novos...
A tendência pode ser a de reproduzir círculos colossais,
Mas uma hora, você nota que desenhar é também fazer ridículos espirais.

Então, não coloque moldura em meus esboços
E não conserte nenhum de meus versos.
Porque estou entre meus esforços e meu instável universo,
Estou sempre fazendo rabiscos em mim...

Há uma força de outra espécie correndo em meus punhos
Que ganha muito mais sentido nestes pequenos rascunhos...
do que na arte final...

Foto de Allan Dayvidson

EM BRANCO

"..."

EM BRANCO
=Allan Dayvidson=

Para alguns deve ter mágica,
pôneis e arco-íris,
romance e estética.

Para outros é medido em metas,
precisa atender requisitos
e ser protegido por rigorosas regras.

Músicas dizem que exige dedicação, exige sacrifícios.
Poemas o definem como algo inesquecível, ossos do ofício.

Para alguns tem prazo curto
e dizem: "beba tudo,
enquanto ainda está quente".

Para outros é só tolice,
que algum ingênuo disse
e o mundo inteiro comprou covardemente

Cientistas dizem que é embriaguez hormonal, instinto de sobrevivência.
Céticos dizem que é uma desculpa para solitários que não suportam a carência.

Eu prefiro deixar esta lacuna em branco.
e se você me perguntar o que espero do amor serei franco:
"Faça-me uma surpresa."

Foto de Hirlana

Prefiro

"Prefiro que o tempo não passe
Prefiro a noite ao dia
Prefiro a melancolia
Prefiro esse impasse
Prefiro a dúvida
Para que certeza se a vida é incerta
Prefiro dormir
Para que acordar sem motivos para sorrir
Prefiro permanecer aqui
Para que correr sem destino
Prefiro manter os pés no chão
Para que sonhar com algo que não irá se realizar"

Não pense assim
Você tem o rosto de um anjo querubim
A pele macia como uma flor
No fundo do teu olhar vejo amor
No teu jardim o beija flor leva no bico a semente
Vejo nas tuas palavras o azedo do fel
Mas vejo no teu olhar a doçura do mel

Não creias meu anjo
Que o ócio é teu ofício
Retira de ti todo o vício
Que te faz infeliz
Você é eterna aprendiz
É a dona do teu nariz
E tem o poder para ser feliz

Veja o Sol que brilha
Veja a Lua que tua noite ilumina
Veja a criança que passa cheia de futuro
Veja o jovem que busca no abraço da mãe um porto seguro
Veja o casal enamorado que passa
Veja o futuro tão lindo e cheio de graça
Veja os velhinhos caminhando na praça

Abra teus olhos para a felidade
Há tanta vida nessa cidade!
Compartilha teus sonhos e tuas vitórias
Manda embora tuas tristezas
Deixe lá fóra as desgraças

Ame viver
Ame ser
Ame sonhar
Ame compartilhar
Ame crescer
Ame conquistar
Ame lutar
Ame amar...

Foto de MARCELO NAZARIO

POR TEUS AIS, POR TEU CAIS

Em contrapartida ao calor que te invade
Tuas mãos espalmadas no veludo vermelho
Suplicam a sobreposição cabal do meu corpo.

Mordo o lóbulo que a mim se insinua
Deslizo sobre tuas costas inteiramente nuas
E monto na cela macia que, sem sequer me olhar, ofereces.

Por teus ais, sou teu amante de ofício.

Por teu cais, te faço meu porto definitivo.

Foto de MARCELO NAZARIO

SEMPRE NO SEU TEMPO

Cavalgo no seu tempo.
Se sois gueixa, origami
Se Helena, Tróia!
Sob teus gritos
Aos grilhões da senzala!

Sou teu spalla de ofício.
Desde os bastidores até o palco principal
Uma longa e sinuosa estrada
Cuja perfeita partitura
Em sustenido ou bemol
Só se compara ao pujante Bolero de Ravel.

A cada arrepio arredio
A fúria de um samurai em combate;
Até que a taquicardia se comova
Chore, copiosamente, na alcôva
E abra as portas da lânguida senzala.

Foto de Anjo Violinista

Reflexão

A infância trás lembranças de um tempo sem mudanças, de um mundo dos sonhos, de obrigações sem conseqüências, das atitudes com pequenas dores e de um perdão intenso.

O tempo se passa e vem outras manhãs e milhares de outras, o inverno chega e a ausência de calor faz a maturidade querer a infância.

Mas o tempo não volta atrás e o que é já foi; e o que há de ser, também já foi...

Podemos aceitar os desvios acentuados quando eles vierem acompanhados de beijos, mas em algum momento da vida as feridas que eles vão causar não serão mais possíveis de serem cicatrizadas.

Das dificuldades que tive que carregar durante minha existência, não culpei ninguém por isso, afinal muitas vezes somos responsáveis por colocar nosso próprio dorso, ou permitir que fosse colocado.

Aceitei as coisas como elas são sem pensar que tudo se conspira contra mim. Porque parte de nós é faculdade de conceber e entender as coisas, a outra parte de nós é prática inicial de ofício aprendido.

Pois a escola da vida é longa e a prova que nos aplica faz aprendiz das próximas que virão após delas, pois parte de nós é o que vivemos e outra parte é o que esperamos.

Que durante a vida possamos construir sentimentos verdadeiros, que aceitemos daqueles que passaram sobre a sombra e um dia esperamos encontrar a luz e usufruirmos dela.

Na qual estamos aqui de passagem e nada trouxemos e nada levaremos, deixaremos sim para os que ficarem a lembrança plena de uma história terrena...

Foto de João Freitas

PALHAÇO

Eu sou um palhaço!
Nas palhaçadas do mundo,
Minha vida é um circo.
Meu público, você que me cerca.
Sorrio o sorriso da não alegria,
Um reflexo da pintura da minha boca.
Já meu olhar desnuda os sentimentos.
A máscara escorrega do meu rosto,
A luz clara me expõe ao mundo.
No ofício do fazer rir, meu riso chorado.
Na luta para nutrir a sobrevivência,
O instinto me ensinou a mascarar.
Perdi a originalidade dos inocentes,
Fingi numa falsidade tolerante
Um costume cada vez mais usual,
Que nos faz a todos palhaços,
Com ou sem entrada,
Dentro ou fora do circo.

Registrado na Biblioteca Nacional.

Foto de Robson Fraga

Músculo

Músculo é força
Músculo é engrenagem
Músculo é selvagem

Músculo é apoio
Músculo é pressão
Músculo é tesão

Músculo é arte
Músculo é ofício
Músculo é tenro
Músculo é difícil

Músculo é sede
Músculo é gana
Músculo é desejo
Músculo é beijo

Páginas

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