Obrigação

Foto de vânia frança flores

Recomeçar...

Não foi culpa minha;
Se nosso amor acabou. mas mesmo assim me perdoe..
Eu não soube fazer você me amar...
Eu desejo a você;
Com toda a sinceridade.
Que você ache um amor;
Que te dê felicidade.
Eu vou ficar sózinha;
Não vou mais me arriscar.
A trilhar um caminho;
Com quem não sabe amar.Palavras mal intendidas, perdidas, sumidas no ar.
Posso até errar, mais poderei me levantar e mudar tudo para melhor, porque sou única neste mundo,
e tenho a obrigação de ajudar a fazer a vida ser algo melhor não só para mim mais para todos que me rodeiam.
Vontade de ir embora, sei que está na hora
Acho que não posso esperar.
Vejo que esta na hora de recomeçar.
Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
minha alma enfraquecida pela solidão?
Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim
Pode me atirar palavras afiadas,
dilacerar-me com seu olhar,
você pode me matar em nome do ódio,
mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.agora sim. vou recomeçar.
Você pode me riscar da História.
com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.e recomeçar...vou recomeçar

Foto de Maria silvania dos santos

PERIGOS DA INTERNET!

Meu nome é (Líliam antonielle), sou filha única, hoje tenho dezoito anos e vou dizer um
pouquinho sobre as desvantagens da internet e os resultados que tive.
Não são apenas as coisas boas da vida que a internet nos oferece.
Eu sempre fui uma menina carente, mas estudiosa,
comunicativa e muito travessa também! E escondido de meus pais comecei a
conectar na internet com apenas oito anos de idade, ate que meus pais me
autorizassem.
Meus pais não tinham condições
financeira muito boa, e precisavam trabalharem duros para que não faltasse nada
em casa, mas por distração deixou faltar o principal, a presença e muito
dialogo.
Eles saiam para o trabalho e me deixava com uma babá provisória
que ficava em minha casa somente no horário que eu já tinha voltado da escola,
pois meus pais não poderiam pagar um bom salário.
E para ficar livre de minhas travessuras me deixava conectar
a internet, só assim eu iria me comporta bem e não iria lhe dar trabalho, mas
talvez ela não soubesse do problema maior.
E assim fui tomando
idade e ficando mais curiosidade, criei um orkut, também um MSN, da própria
internet adicionei alguns de Chats que diziam ser meus amigos.
Muitas vezes eu chegava da escola nem almoçar eu queria, ou
almoçava na correria, fazia meu dever
escolar para que ninguém viesse me cobrar, me trancava em meu quarto ali ficava horas, às vezes nem via a noite chegar.
Se no MSN não
havesse ninguém on-line, eu entrava em um Chats qualquer, para poder teclar, me
lembro que muitas vezes ate em Chats de sexo entrei, e a babá nem notou, pois
não a perturbei e isto era o que bastava.
No MSN arrumei
muitos pretendentes, recebi muitos elogios, a maioria de bem mais idade que eu,
os quais diziam preferir menininhas novinhas, por ser mais sinceras e porque falam
o que pensam. E estes me ofereciam muito
carinho, usaram os truques de sedução que todos os homens têm.
Com onze anos comecei a me envolver profundamente com um
cara, o qual deu o nome de (Braguinha), ele dizia ter dezesseis anos, mas na verdade tinha vinte e
seis anos, mais velho que eu quinze anos, trocamos mensagens por um bom tempo.
Aos meus treze anos ele diz esta me amando muito, que
estaria apaixonado por mim e que não poderia me perde que queria me conhecer e
depois conhecer meus pais, e ate casar comigo e me dar uma vida tranqüila e que
eu poderia ate ajudar meus pais, e que ia me levar a conhecer lugares
diferentes que nunca fui e ate me ajudar realizar meus maiores sonhos, pois
dinheiro para ele não faltava. na verdade eu já tinha dito o meu sonho de ser
aeromoça e é claro que eu queria ver meus pais bem de vida, para que pudesse
aproximar mais de mim, pois muitas vezes eu passava quase a semana sem poder
ver meus pais.
Quando eles
chegavam eu já estava dormindo e eles não me acordavam.
De manhã quando eu
levantava eles já tinham ido para o trabalho e assim eu só ficaria sempre
sozinha em companhia da babá que não era bem dialogada, não me maltratava, mas
também de mim não aproximava.
Minha companhia
satisfatória era a escola e a NET, mas a escola era somente um horário e a NET
disponível vinte quatro horas.
A escola era a única coisa que me preocupava em tirar boas
notas, pois o meu sonho era ser aeromoça, A não ser chegar em casa e ir
correndo para a NET.
Ao completar meus treze anos, eu estando de férias e
preocupada que a babá pudesse querer saber o que eu tanto faria trancada em meu
quarto, resolvi aprender fazer a obrigação da casa, pois assim meus pais
poderiam dispensá-la. Afinal eu já
estava bem grandinha né? Eu não era mais uma criança e assim eu poderia ficar mais
a vontade.
E assim fiz todo esforço e aprendi facilmente a lição de
casa, e quando a babá chegava no horário dela eu já tinha feito tudo.
O dia que eu tive certeza que eu seria capaz de
substituí-la, eu fiz questão de ficar acordada ate a chegada de meus pais e
dizê-los que não
seria mais necessário pagar ninguém, pois eu já era uma
mocinha e que eu faria o que fosse preciso para ajudá-los.
Meus pais muito contentes me agradeceram e só me perguntaram
se não seria muito sacrifício, eu disse claro que não, que poderiam fazer um
teste.
E eles muito feliz me elogiando por minha responsabilidade,
logo dispensaram a babá. Ufa! Ate que em fim to livre, já é hora né?
Para que ninguém pudesse reclamar ou desconfiar de mim, e eu
conquistar mais a confiança de meus pais eu faria todas as obrigação
deixando-as em dia.
Mas fui cada vez mais me envolvendo com o cara da internet,
ate cheguei ao ponte de marca um encontro.
Chegou minhas férias, e eu queria passar um fim de semana
com meu namorado é claro, afinal já namoramos a um tempo e não nos conhecemos,
namoramos só pela NET. Eu estava ansiosa para tocá-lo, saber como seria os
beijo daquele cara tão lindo, carinhoso, o qual eu fazia planos de me
casar. Menti para meus pais que uma colega
de escola avia me convidado a passar um final de semana no sítio dos tios dela
em outra cidade, mas como a confiança de meus pais por mim era muito grande,
nem tive trabalho, eles nem desconfiaram de mim, eles de primeira disse sim, e
ainda me deu um trocadinho disse que era pra mim aproveitar mais o passeio.
E sem duvida eu não tive medo que aquele rapaz não fosse
quem ele disse, e quem sabe ate me matar.
E toda feliz fui encontrá-lo.
Quando o encontrei vi que realmente era um cara muito lindo,
muito sedutor, mas na verdade ele não tinha os dezesseis que avia dito, ele era
mais velho que eu quinze anos, mas tudo bem afinal os de mais idade são mais
esperientes, e de primeira já me conquistou.
Hoje eu preferia que meus pais tivesse desconfiado de mim e
ate me proibido este passeio, pois pra mim este passeio foi um suicídio.
Pois na verdade eu não fui ao passeio com uma amiga e sim
encontrar o namorado da internet o qual acabo com minha vida.
Neste primeiro encontro passei um final de semana com ele em
um sitio bem divertido, ele foi bem bacana comigo, fez algumas tentativas
sexuais, mas não me forço nada. E claro que não me entreguei.
Voltei para casa ainda uma menina pura, a tempo de me
escapar de qualquer problema, mas eu estava apaixonada, e não dava importância
coisas mínimas como ele ter mentido a idade, afinal ele é lindo tem dinheiro e
ia me ajudar a realizar meus sonhos, ele era o Maximo! No segundo encontro não
resiste me entreguei
Eu imaginava tudo, menos que tudo acabaria ali.

Encontrei com ele por anos, há dois meses a traz, descobri
que grávida de dois mês eu estava, e como se não bastasse também descobri que
com o viros HIV fui contaminada, com ele eu não pude reclamar nada, pois ali
mesmo eu seria apagada.
Na descoberta de minha gravidez, seu prazer de contaminar,
ali foi revelado com maior gargalhada, em seguida dali fui expulsada e ameaçada
sem direito dizer nada.
Hoje grávida de quatro meses estou desesperada, não sei se
conto aos meus pais ou se fico calada, só sei que esta criança é mais uma
vitima que tem que ser cuidada.
A reação de meus pais eu não sei, o que eu sei é que
concerteza a confiança deles jamais reconquistarei, e que a mim viva me
enterrei.
Os meus sonhos foram enterrados, minhas esperanças acabaram,
pois hoje sou uma jovem viva morta.
Um alerta quero deixar aos pais que lê minha historia,
confia em seus filhos, mas também o desconfiam, procura saber com quem andam,
onde estão, pra onde vão, procuram conhecer seus amiguinhos, não deixam os
sozinhos, de seu carinho pra que eles não sintam sozinho.
Mostre que os amam, e que se importa com eles.
Tire um tempinho a eles, mostre que tem eles em primeiro
lugar.
A você meu amigo, um concelho vou lhe dar, entenda os teus
pais mesmo que distante eles estam, se preciso chamem a atenção, mas sem perde
sua razão, pois deles é apenas uma distração, eles te amam de coração.

AUTORA; Silvania1974@oi.com.br

Foto de carlosmustang

PRINCIPÍOS

Qual será o grau?
Da minha significancia
De eu estar aqui
E tentar ser feliz

E questionar, a veracidade
De viver, acolher, ser amado!
Jogando, jogado, ao vir....
Mas não suporto o suspense:

Porque eu amo, e descido continuar
A dor só faz sofrer
Amar você é essencial

Todo dia hei essenciar
O amor puro!
Sem tesão, obrigação

Foto de von buchman

PALAVRAS E PENSAMENTOS PARA MEDITAR...

Nunca tire a esperança de alguém,
principalmente com atitudes e palavras,pois tudo
é o que ele tem para se agarrar e viver,
não mate esta pessoa com ódio magoas,
principalmente com desprezo seja humana e racional ...

Não tome nunca decisões quando estiver magoado,
com raiva ou ódio.
Pois você esta cavando sua própria sepultura...

Cuide do seu corpo mental e de graças a Deus em tudo...
Nunca destrua algo que alguém tenta ou tentou construir,
pois você poderá estar sendo um instrumento das trevas.
Não apague as palavras de alguém sem ler o que ele quer dizer,
leia medite e veja , retenha todo amor
e carinho que ela lhe fala e escreve...

Tenhas cuidado com aquelas pessoas
que se dizem ser seus amigo,
e querem ver você num buraco,
principalmente com quem tem nada a perder...
Aprenda dizer não com amor e carinho..

Faça para os outros o que você gostaria de receber...
Nunca espere que a vida seja justa,
pois o mal vive de sua derrota e falta de fé...

Se um dia você perder alguém que ama,
lembra-te dos bons momentos
que esta pessoa lhe proporcionou
e não dos erros e defeitos dela,
pois se fores ao espelho e olhares nos teus olhos,
veras o teu coração,
nele verás que foste igual ou pior do que ela...

Faça o que tem que ser feito,
não aja por instinto pois você
e um animal racional,
as vezes é irracional...

Aprenda a conversar, escutar
e dialogar com quem um dia te deu a mão,
não vire as costa
e diga te vires,pois você estará sendo
a pior das espécies humana..

Não se mata alguém dando um tiro ,
matamos com desprezo e falta de amor ao próximo
e principalmente a que nos amou ou ama...

A vida a dois não é fácil, seja prudente,
ninguém fica feliz em ver sua felicidade no lar
e no seu casamento, a inveja da sua felicidade...
Os teus (amigos) é querem ver você sem ninguém...

Leia a palavra de Deus na sua angustia pedindo
o espírito de Deus o seu consolo...

Faça aos outros o que você gostaria de receber...
Antes de se desfazer do amor de alguém,
por causa dos seus erros,
veja o que você fez para levar esta pessoa a errar,
vera que faltou diálogo,
você é tão culpada ou talvez até a maior
culpada desta separação...

Não se esconda seja honesta com você mesma
olhe nos olhos desta pessoa e abra seu coração...

A solidão é um estado de espírito,
que leva uma pessoa a depressão,
não seja você o culpado por levar alguém
a este estado de vida que
é deprimente e devastador...

Pois a depressão e a loucura andam bem juntas,
uma da outra,que você sente em por alguém
a uma depressão?

A vida é uma escola ,
olhas bem o que podes tu fazer a alguém,
dar-lhe vida ou dar-lhe morte,
diz a palavra de Deus de tua boca,
sai vida ou morte...

Sabiamente não faça nada por impulsos
ou movida por magoa, rancor ou irá,pois
estarás matado alguém e se matado também...

Você seja sincera com você,
trata as pessoas como gostaria de ser tratada,
nunca pense que você e a dona da razão ou da situação,
você se acha superior cuidado tudo que sobe desce...

Viva sua vida com muito amor e principalmente em paz...
Nunca busque sua satisfação
e falsa felicidades com um desgraçar de uma vida,
ou a infelicidade de alguém...
Você diz que esta cansada de alguém não o suporta mais,
veja por outro lado,
que na sua vida está pessoa te vez de bem ou de bom...
O que levou você a ficar assim ?
Seca, ruide e calculista,
foi esta pessoa ou você mesmo,
com seus ex-parceiro ou traumas de um
outro relacionamento...
Em cada momento da vida aprendemos
e devemos a dar a mão a quem um dia
estendeu ela !
E você faz o mesmo?
Qual o valor de você abençoar
ou fazer o bem a quem que sempre
te abençoa ou faz o bem,
isto é obrigação...
Que tal você ser honesta com você mesma
e não fuja para dizer estou bem, no fundo você
é uma pessoa perdedora, para livra-se da prova
que Deus lhe deu você foge...
Colocando a pessoa que esta ao seu lado na amargura
e solidão do perder,
e você se diz cristão?

Amar é saber perdoar, sentar olhar nos olhos
e falar a onde esta os erros e junto consertar..
A palavra de Deus diz saiba perdoar 70 vezes vezes 70...
E você perdoou quantas vezes?

Lembra-te de alguém que te ama não pelos
seus erros maias pelo amor
e carinho que ele sempre te deu,
do que você representa para ele desde o leito da dor,
na doença ao prazer do amar,
do dar-se e do entregar-se a esta pessoa ...

Nunca acredite em tudo que você ouve ou ver...
Principalmente em que os outros te mostram
acredite só no que Deus te mostra...

Você só cresce na vida através das lutas,
batalhas, dificuldades e desafios,
seja sábio lute pelo idéias de seu coração
e não fuja ou abandone que sempre te amou,
independe do mal
ou tristeza que ele lhe causou...

Aprenda ouvir, calar e meditar...

Nunca guarde magoas, tristezas
ou rancor no seu coração,
a palavra de Deus diz os limpos de coração verão
o semblante do senhor.. e você o verá?

Escolha bem seu parceiro...
Seja prudente e veja se vem de Deus,
pois o que você juntar se tornara
uma só carne o resto da vida...

A separação de corpos só alimentara a raiva,
ódio e o pecado...seja sábia...

Faça um questionamento a você mesma ,
por que eu sou tão exigente com que eu amo,
e se ponha no lugar dele...

Maldades vingança e a maldita expressão
você me paga não vem de Deus...

Nunca fique fora do controle, respire fundo ,
medite numa palavra,
fazer o bem a quem te fez o bem qual o valor disto,
agora fazer o mal a quem te fez mal
tu estarás sendo igual ou
pior do que esta pessoa que te fez o mal...

Aproveite os momentos de descanso
e ore por quem você ama ou amou,
e abençoeis tudo e a todos...

Seja o bem e a luz e nunca seja trevas
e o mal limpe o seu coração...

Viva mais pelo coração limpo e cheio de amor,
e nunca pela situação da dor...

Você tem direito a felicidade,
mas não a felicidade verdadeira na desgraça
e no mal que você causou ou causa a alguém ...

saiba meditar nas situações,
e busques em Deus a soluções
e não na carne...

Livre-se do ódio e da amargura,
pois ela destrói teu coração
e te faz insensível e lhe trará danos imprevisíveis
na sua mente e no seu próprio coração..

Como diz a palavra;
- O anjo do Senhor esta a teu redor
e o anjo do mal esta a derredor...
Cuidado para não abrir brechas...
Seja benção e aprenda reconhecer
que você é falho
e nunca será perfeito...
Perfeito só Deus e seus anjos...
Fique na Paz...

Foto de von buchman

PARA QUE CONTINUAR A VIVER...

Olho para o espelho e vejo um semblante
O reflexo de um velho sem vida e sem cor...
Um zumbi, andando seu direção...
Será que estou leproso?
Ou estou com alguma doença contagiosa?
Todos se afastaram de mim...

Não tenho mais família e nem lar,
Não foi uma nem duas vezes
Que dorme no chão
Atirado ao relento,
Na misericordia de Deus...

Fiquei sem nada...
Procuro emprego
E todos dizem você está muito velho...
Até piadas já escutei,
Aqui não é asilo...

Pois tudo meu foi tomado,
Fui traído, humilhado, espancado
E roubado por quem eu mais amava...

Do que restou de mim,
Fica no ar a pergunta quem sou eu..
Um verme?
Um dejeto de vaso?
Uma sobra de algo poder
Que esta ao relento a dias...

Meus amigos que outrora fui bem vindo
Hoje sou descartado pelos comentários maldosos
E falsos como também as calunias levantadas
Contra minha pessoa até pelos
Meus que tanto amei...

Não existe mais esperança para mim
Sou um paciente terminal,
Que vive e respira por tubos e aparelhos...
Nem morre ainda e já se escuta nos corredores
Do hospital da vida,
Os meus discutirem,
E até se desentendem,
Por quem e quem vai ficar de direito
Com o resto dos meus pertences...

A futura viúva dona santinha já toda de preto,
Não para mostrar sua futura viúves e sim
Para angorá mais ainda a morte do amado
E de sua gloriosa vitória,
Na desgraça do mesmo..
Ela nem sequer uma lágrima
Rola de sua face...

No teatro da vida ela diz murmurando!
- Até que fim este miserável vai embora,
Não agüento mais este traste!
Que Deus o leve rápido,
Pois agora terei meu cantinho,
Só meu,
Agora poderei curtir a vida viajando,
E não terei a quem me reportar,
Não terei nenhuma obrigação
Com ninguém...
Tenho minha pensão,
Agora é só curtir a vida
E me realizar...
Sou nova e ainda me acho atraente
E festa não vai faltar...

A minha doce e inútil ilusão de um lar
Que sonhei que almejei nos meus 32 anos
de amor e dedicação...
Quando pensei que tinha conseguido realizar,
Num anoitecer vi tudo desabar
Tudo armado e preparado
Para tomar e destruir o esposo e o pai
por ironia do destino o pai ficou vivo...

O abandono dos filhos foi e é total...
Nem uma mão estendida par dar um remédio,
Nem o perguntar onde dormes?
Que te falta?
Ou uma mui pequena ligação dizendo;
- Eu te amo meu pai,
Que seja por caridade pelos anos que cuidei deles,
Sem nada nunca faltar...

Eu me cogito, que posso dar a eles na minha velhice,
Pois nada tenho mais, tudo foi me retirado
Desde o amor a dignidade de viver...

Hoje sou um pobre e velho rabugento pai,
Que já esta preste a morrer de desgosto,
Dos mal tratos de um filho ,
E do descaso dos familiares...
E que alguns deles falam,
-Tem mais é que se lascar este infeliz
Deixa ele se ferrar...
-Eu tenho muito mais coisas para me preocupar
Do que perder meu tempo com este triste...

Sabe o que esta me matando
Não é o câncer terminal
Que estar dentro do meu coração,
Desfigurado e em pedaços
Pelos abandonos, mal tratos
E falta de amor !
Isto sim é letal e fatal
feita por minha eterna paixão...

O que mais doí é o desprezo e a falta de carinho,
Sem falar das pragas, maldições lançadas sobre mim,
Como também as humilhações e o
Ridicularizar da minha pessoa,
Levando-me a uma profunda depressão
Salientando as sequelas adquirida pelas agressões
E mal tratos feitas pelo seu filho
Ao velho pai...

Ah... Os velhos tempos onde era útil,
Pagava as contas e distribui-a
Presentes, ai eu servia, e como era especial...
Era o melhor homem do mundo e o esposo ideal
6 empregadas, 3 carros, motos,
Viagens e vida de milionários que eles tinham...

Hoje a idade avançada, o cansaço físico,
As dificuldades do ganhar o pão nosso
De cada dia, as doenças que se alastra dia a dia
no velho corpo...

Sou tachado de tudo,
Um inútil, uma coisa...
Me fizeram de algo descartável
Como um dejeto,
Lançado ao esgoto a céu aberto...

Que mais posso esperar desta vida?
As migalhas de outros
Visto que minha família me virou as costa,...
O ultimo suspiro do desencarnar?
A morte ?
O dia do juízo final?
Que devo mais esperar...

Acho que só devo esperar o meu falecer,
Para se concretizar o fim do velho homem...

Fica aqui uma pergunta.
Para que eu casei e constitui uma família...
Por que não se fez treva o dia que nasce?

Eu confesso, que dia a dia tenho perdido a vontade de viver
Pois a depressão tem tomado conta do meu ser!

Para quer eu ficar a viver?
Para que eles se realizem rindo,
Se vangloriando do final da vida
Deste velho homem,
que outrora foi um
lindo e amável esposo
e o maravilhoso pai...
QUE IRONIA DO DESTINO...

Foto de Rosamares da Maia

MENINAS PODEROSAS

MENINAS PODEROSAS

Você sabe quem é uma mulher poderosa?
Não sabe?

Então levante-se, caminhe até o espelho mais próximo e olhe-se nele.
Você está diante de uma mulher poderosa, de uma mulher que acorda cedo todos os dias, organiza a própria vida em torno da casa, filhos, marido (quando ainda está com ele). Se não estiver, aí minha amiga, você é ainda mais poderosa.
A poderosa, muitas vezes faz jornada tripla, trabalhando em casa, na rua e, ainda estuda, para não perder o pique da competição por melhores colocações no mercado de trabalho.
Uma poderosa tem por “obrigação”, ser bonita, cheirosa, limpinha e arrumada. Precisa ser mãe e amamentar, ser mulher e amar, tentar satisfazer o parceiro e sair satisfeita desse encontro de mundos tão diferentes. Uma poderosa, mesmo quando a vida embrutece as pessoas, precisa manter a delicadeza e a suavidade, saber ser sensível e chorar, mas, chorar lágrimas discretas, sem ser piegas ou “melosa”. A poderosa pode dobrar quando fustigada pelo vendaval, mas, jamais quebrar ou descer do salto.
A verdadeira poderosa ao contrário sentir inveja, desejo e cobiça, deve procura espalhar amor, bondade, conquistar espaço pela competência, admiração e respeito. - Mas não deve ofuscar ninguém.
Ah! Não se assuste menina. Todo mundo tem uma fórmula pronta para você. Esta visão e expressões são formas de um Mundo globalizado que definem uma “Menina Poderosa” - Nós sabemos bastante sobre estas coisas.
Na realidade, hoje você é poderosa porque conquistou seu espaço a duras penas. Não importa que rótulos ou fórmulas usem para te definir, porque a sua maior conquista foi a “capacidade”, a plenitude da cidadania, em todos os sentidos: Jurídico, político, profissional, sexual, e a maior de todas as conquistas, a integridade como ser humano. Esta forma intera de ser te concedeu o direito de fazer escolhas das mais importantes, como: Escolher parceiros para amar, e se você errar, tentar de novo,... e novamente, pois a meta maior é ser feliz; Você pode ser mãe, ao mesmo tempo estudar e fazer escolhas profissionais, trabalhar e amamentar os filhos que escolheu ter.
Obviamente, o Mundo não é o "País de Alice", e ainda existem mulheres aprisionadas dentro de “burcas”, vitimas da ablação das suas genitálias, através de clitorectomias, tudo contra o “haram" - pecado original somente das mulheres". Tudo em nome de “Alá” e da desculpa cultural de costumes que procuram justificar a existência de um “ser inferior”, enfim, subjugação, dominação etc. Nossos salários ainda são menores, nem todos se despiram de uma série de preconceitos, ainda se espanca, encarcera, mutíla e “mata, tudo em nome da honra”. Mulheres são aliciadas para as mais variadas formas de prostituição, inclusive aquela que a escraviza como objeto consumista de modas, padrões, silicones e formas...etc, etc e tal.
Mas, uma profunda reflexão sobre a integridade do Ser, tem-nos feito emergir e conquistar, tem-nos permitido lutar. E aí reside o “Poder das Meninas"- Fraternidade - Quem pode mais tem aberto caminhos, na certeza de que haverá um dia em que o poder será compartilhado entre todos os gêneros da espécie Humana - o respeito será definitivo, permanente, indivisível, prestigiando a PESSOA.
Lembrando dessa humana condição de Ser Mulher, todos os dias agradeço a Deus por ser mais uma poderosa como você.
Rosamares da Maia.

HOMENAGEM PELO DIA 08 DE MARÇO, DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Foto de Marilene Anacleto

Feliz Natal! Feliz Ano Novo aos Amigos!

Anjos do Natal nos lembram o que o Deus Menino quer de nós:
Momentos de luz para nossa alma, preencher nossa vida com amor.

Reunir as famílias por costume, dar presentes por obrigação,
Estressa o corpo e a mente, diminui e faz gemer o coração.

O medo de não presentear alguém, por poder, um dia, ficar só,
Esconde a bondade genuína e a generosidade de um coração.

O amor, essência da vida, neste tempo emana seu brilho,
Oferece um bombom, um afeto, um abraço ou um sorriso.

Decora a casa com alegria, cozinha com prazer e emoção,
Dê um sorriso numa longa fila, presenteia com amoroso cartão.

Observa as flores, as aves, o mar. Fotografa-os, se assim puder,
A flor da paz começa a te sorrir, a flor da vida vai, em ti, reviver.

A estação maravilhosa do natal, época das almas em festa,
Não deve ser pesado fardo a ocultar o Espírito dessa Época.

Passeia pela tua natureza, e, sobre ti, derrame um flóreo olhar.
Esteja sempre bem contigo mesmo. É este o apelo do Natal.

E para o ano que ora chega, conserva esse olhar, a flor da paz.
O sorriso, o bombom e o abraço são maneiras de amar e de se amar.

Feliz Natal! Feliz 2012!
Prosperidade e longa vida aos amigos leitores e todos os administradores deste espaço poético!

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Setembro – Capítulo 2

Somos divididos em dois tipos de seres humanos, na nossa realidade. Os de sangue quente e os de sangue frio. Os possuidores de sangue frio, por apresentarem poucos escrúpulos, com o tempo se tornaram dominadores da sociedade em que vivemos. Sua palavra é lei, seu gesto é dinástico. Trocam de pele a cada três meses e detestam variações de temperatura.
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Meus patrões estão fazendo planos para o final desse mês de abril. Foi-se o frio do inverno junto com as reclamações dos meus mestres, suas peles hoje são rosadas e alvas, as crianças pedem menos colos e mimos, o trabalho se torna de novo vital e urgente. Embora ainda se demonstre certa lentidão na retomada dos afazeres, os ditos, por serem necessários, logo são realizados para a satisfação geral dos anseios.

- Vai boi, pasta!

O generoso e bom Luís Maurício é o melhor do que se pode esperar de um superior.
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Um dia li um livro. Ou melhor, engoli. Não que eu tenho sido obrigado à comê-lo, por mais que acreditem ser essa minha obrigação, pelo que lhes disse até agora, não sei bem, o que conto, nem para quem. Não sei se estou num passado ou num presente. Bem, não importa. Como citei li um livro de relance, por uns três milésimos, o suficiente para obter a seguinte frase de seu interior:

“Não é por ser engraçado que seja comédia.”

Não entendi muito a frase, mas a guardei na memória. Eu nunca havia lido um livro antes. Sequer sabia se sabia saber ler. Pois então, o livro estava nas mãos da dona Clarisse. Dona Clarisse é uma atriz. Finge que ri, finge que ouve, finge que pensa e que tem opinião. Admiro seu jeito, nas minhas modestas faculdades. Antes que achem que sou apaixonado por ela, soa tão doce a minha maneira de tratar desta e tratá-la, logo que a vejo, provarei que nunca a amarei do fundo do meu coração contando o episódio cômico e engraçadíssimo que vivemos.

- Venha idiota, preciso de um tapete! – Dona Clarisse é sempre um doce de mulher.

- Não.

- Disse alguma coisa?

- Não.

- Quem bom. Deixe-me que eu te pise, e não grite.

Ela me quebrou duas costelas ao me usar em ser inútil.
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Depois de tal chalaça, e quase que digo que era anedota, outra situação com alegres conseqüências me turvou o rosto em lágrimas de riso, de escárnio, de champanhe em sal gelado escorrendo pelas pálpebras. Em outro dia, ou mesmo hoje, ou mesmo agora, a patroa observa fixamente todos os seus bens acumulados pelo marido e sua mobília nobiliária, milionária, da qual sou tão íntimo em jamais encostar.

- O Luís Maurício é tão bom...

Finjo que observo em silêncio.

- Amo o Luís Maurício, ele é o homem da minha vida...

Não uivo por dentro, nego o que esperam que eu sinta.

- O Luís Maurício me dá tudo o que quero...

Por um instante imagino que a patroa está tentando convencer a si mesma de que ama seu marido, que está infeliz com os caminhos que tomou e que preferia a liberdade ao invés do conforto. Besteira, ela não seria assim tão ingênua

- O Luís Maurício é minha alma gêmea...

Enfim, vocês não enxergam que nunca vou amar minha patroa, que ela não é o ar que respiro todos os minutos e que não quebraria essa horrenda jaula imunda e sufocadora que limita os sonhos e aspirações que eu teria se eu fosse livre?

- O Luís Maurício... É um maldito...

Droga. Pensei alto. Tão alto que a patroa disse exatamente aquilo que eu estava pensando.
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- Clarisse, você...

- Eu mudei de idéia. Não quero trocar o engolidor.

- Mas eu nem disse o que eu queria...

- O que importa? Qual o problema? Eu não quero mais trocar o engolidor e posso te dizer isso antes que me pergunte.

O patrão fingiu que me olhou com um generoso e bom ódio.

- Luís, eu sei que se preocupa comigo. Mas você não precisa se preocupar tanto. Eu estou bem, juro. Nosso casamento está firme, nosso amor é como uma rosa que desabrocha na mais pura beleza em flor que anuncia a primavera.

Por um momento achei que a patroa me olhou fixamente nos olhos e quis dizer que somente comigo seria feliz de verdade nesse mundo sujo e cruel ao qual temos que nos sujeitar.

- Eu te amo, Luís, não desconfie.

Eu não admito que amo aquela mulher.

- Ou você acha que eu iria te trocar por um simples... Dimas...

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Unidos Para Vencer

"Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão e, ao se encontrarem eles trocam os pães, cada homem vai embora com um pão. Porém, se dois homens vêm andando por uma estrada cada um carregando uma idéia e, ao se encontrarem eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas idéias" - Ditado Oriental

O ser humano é um animal social. Sempre vive em grupos para facilitar sua sobrevivência. Logo são necessárias a interação e a cooperação, bases que tornam possível a convivência dos seres em harmonia e, portanto, seu provável progresso pessoal. Colocar essa teoria na prática e evoluí-la nada mais é do que uma obrigação, algo vital para a construção de uma realidade mais digna não apenas para os que mais precisam, bem com a de todos nós.

O ser humano dispõe de uma inteligência altamente desenvolvida. Cabe então usá-la. Tendo condições, é muito mais simples alcançar os objetivos. Mas essas condições não surgem da noite para o dia. É preciso empenho para criá-las, já que as metas costumam ser difíceis, mas não impossíveis. Conciliando as possibilidades com os sonhos, pode-se obter uma boa oportunidade. Basta ter os pés no chão, mas também sem nunca deixar de acreditar em dias melhores. Parece complicado de se conceber, contudo, é uma via onde o equilíbrio se coloca como o ponto de encontro entre o que é o trabalho e o que é a recompensa. Multiplicam-se as chances de vitórias quando unimos esforços para o bem comum.

Simplificando:

“O resultado de uma soma sempre será positivo.”

Logo devemos estar Unidos Para Vencer.

Foto de Ozeias

Indesejada

Vou começar por onde a minha história deveria ter terminado. Se a nossa vida realmente é escrita por algum deus, este não quis me dar o ponto final naquele momento. Ainda faltavam papéis, linhas tortas e muita tinta no tinteiro.
Sempre achei que a história de ver a vida diante de seus olhos, antes de sua tragédia, fosse coisa de filme. Mas naquele momento, enquanto aquela carreta se aproximava desgovernada e impiedosamente do meu veículo, pude me ver ainda menino de cócoras olhando para o meu cachorrinho de estimação, as pipas perdidas que caiam mansas e tortuosas pelo céu enquanto eu e meus amigos corríamos e pulávamos os muros dos quintais para pegá-las; depois vi o sorriso de Isabel, que me olhava timidamente no pátio da escola, depois o beijo, o arroz caindo sobre nós sob aplausos e gargalhadas, o seu corpo despido...
– Seu marido teve muita sorte. É a primeira vez que direi isso, mas foi justamente a imprudência que salvou a vida dele. Pouco depois da batida, o carro pegou fogo. Se ele tivesse usado o cinto de segurança, não teria sido arremessado para fora do veículo e... Bem, ele teve muita sorte. Comparado ao que poderia ter acontecido, seu marido está bem. Um braço quebrado, três dentes perdidos, alguns hematomas e arranhões.
– Quanto tempo ele ficará internado?- Ouvi Isabel perguntar. Sua voz soava preocupada, trêmula.
– Três ou quatro dias. Precisamos realizar alguns exames para nos certificarmos de que seu marido realmente não sofreu nada grave. Os pré-exames apontaram nada, mas preciso ter a mais absoluta certeza, pois algumas lesões apenas aparecem horas ou até mesmo dias depois do acidente. Esqueci de mencionar a forte pancada que seu marido sofreu na região da cabeça. Oito pontos.
Senti a mão de Isabel apertando a minha.
– E como está o outro motorista?
– Infelizmente, morto. Mas a causa da morte não foi este acidente, foi outro. A família já foi notificada do ocorrido.
– A morte veio buscar um e aproveitou a viagem para carregar o meu marido com ela.
O médico riu, embora a voz de Isabel tivesse soado solene. Aquele devia ser daqueles que encaravam o fim da vida como um simples fim de ciclo vital, deixando de lado o ar poético da criatura encapuzada e sua enorme e inseparável foice. Ainda assim, tomei simpatia por ele. Diferente dos outros, tinha uma voz amigável, como se minha esposa fosse uma conhecida, deixando de lado aquele ar áspero e autoritário.
– Então neste momento ela está irada. Bom, a senhora...
– Você, por favor.
– Você- Disse enfático, como se a ênfase estivesse se desculpando por ele- me dê licença, pois agora preciso olhar outros pacientes. Depois volto, e se precisar de alguma coisa é só usar o telefone.
- Antes, posso te fazer uma pergunta? É que o senhor...
– Você.
Isabel riu, desculpando-se.
– Você acredita em Deus?
Houve uma pausa. Senti-me tentado a abrir os olhos, mas decidi permanecer na falsa inconsciência. Pude ouvir as folhas das árvores lá fora se agitarem seguido de uma tímida trovoada.
– Já vi coisas que as pessoas consideram como um milagre creditado a Deus ou a algum santo- Disse o médico, agora sério- mas também vi coisas horríveis, difíceis até para mim que tenho experiência. Isso me faz perguntar onde está Deus, seu amor, sua clemência. Se ele ama todos da mesma maneira, por que uns recebem o milagre e outros não? Uma vez, uma criança com câncer morreu segurando a minha mão enquanto um estuprador sobreviveu a dezoito tiros. Há tantos motivos para sua crença quanto para a descrença.
Isabel permaneceu calada. Se bem a conhecia, ela estava olhando para o chão, movendo os lábios como se estivesse reproduzindo as palavras do médico, reflexiva. Ouvi a porta se fechar, depois eu pude ouvir o que pareceu ser a chuva, que foi ficando cada vez mais distante. Então adormeci.
Abri meus olhos. O quarto estava vazio, frio e escuro. Chovia com tanta braveza que pareciam cair pedras ao invés de gotas. Tentei me sentar, mas não tinha força, como se meu corpo pesasse uma tonelada.
– Cadê a enfermeira?
Como se ela estivesse esperando eu chamá-la, a porta se abriu. Mas não era nenhuma daquelas moças vestidas de branco com seus decotes propositais. Aquela era maior, e vestia um enorme capuz negro. Ao invés de uma bandeja, trazia consigo uma foice, que quase tocava o teto. Ao passar sob o ventilador, sua foice tocou a hélice que soltou algumas fagulhas parando de girar sob um incômodo barulho de metal em atrito.
– Merda! – Assustou-se a figura, pulando para trás. Não pude conter o meu riso. – Do que você está rindo?
A ponta da foice agora roçava o meu nariz. A lâmina era fétida e fria. Trêmulo de medo, olhei para ela. A princípio o seu rosto era um borrão negro, mas logo foi tomando forma. Os olhos eram grandes, vermelhos, e me olhavam com fúria; sua boca era miúda e arroxeada; o nariz era tão minúsculo que eu mal podia vê-lo. A morte era extremamente magra e feia. Não fosse aquele volumoso capuz que dava volume à sua pessoa e aquela foice ameaçadora, eu teria sentido pena. Sentia-me nauseado por aquele cheiro podre que invadia o quarto.
– Me desculpe. ENFERMEIRA! – Gritei. A morte gargalhou, mas de sua boca pareciam sair mais de um som, como se uma multidão gargalhasse.
– Pensou mesmo que ia escapar de mim? Tudo bem, você não é o único. Sempre repito essas sete palavras para outros tolos, seja em francês, grego, inglês, russo, indígena. Pode me dizer a vantagem de sobreviver quando você sabe que é só uma questão de tempo? Você vê o corpo em um caixão e pensa “coitado”, como se somente ele fosse o único ser mortal, deixando de lado a ideia de que um dia você também estará na mesma situação.
– Prefiro morrer a ficar velho e feio como você!
– Sou feia, mas sou eterna e invencível!- Bradou ofendida- A vida é linda, mas de nada serve toda a sua beleza. Ela não é eterna, muito menos invencível. E é a mim que vocês recorrem na dor quando a vida prova por si só que a beleza não é o suficiente, quando a dor, a solidão, a loucura os assolam. Veja.
A morte apontou para a ponta do cabo de sua foice. De lá saia um fino fio de fumaça que em direção à porta. Com seu enorme e esquelético indicador, ela puxou para si a fumaça. Apoiou o cabo no chão e então começou a puxar o fio. Então comecei a ouvir gritos, lamentos e choros. De repente surgiu um senhor, cabisbaixo, preso ao fio por uma algema. Depois um menino, que lançava seu olhar curioso para a morte.
– O que é isso?
– As duas últimas almas que recolhi. Um velho conformado e uma criança. Aposto que você está sentindo pena do garoto, mas não se esqueça que ele um dia seria um velho e que esse velho já foi uma criança. Não vê? A vida é ilusão, apenas uma aparência.
Olhei novamente para o menino que mantinha agora um olhar de fascínio para a morte.
– O que ele está vendo?
– Um palhaço. Nossa conversa chega aos ouvidos dele como uma história, a sua preferida em vida.
– Mas então você só é feia para mim porque apenas eu a vejo assim?
– Sou feia e velha para você fisicamente, e feia e velha para o mundo filosoficamente.
– E este velho?
– Não consegue me olhar por vergonha. Precisamos ir.
Ela caminhou em minha direção. Em pânico, tentei me debater, mas estava eu ainda permanecia pesado. Tentei gritar, mas as gargalhadas da morte abafaram o meu grito.
Acordei com a trovoada e o coração ribombando. Isabel, que lia uma revista ao meu lado, guardou-a e sorriu para mim.
– Que susto! – Disse-me beijando a bochecha.
Ainda assustado, sentia o alívio que me invadia ao perceber que o encontro com a morte fora apenas um pesadelo. Toda aquela conversa com a morte, aquela sua imagem feia, aqueles sons perturbadores, aquelas duas almas presas ao fio pertenciam à minha mente.
Sentir os lábios de Isabel me trouxe novamente à vida. Ainda com o corpo dolorido e com o braço esquerdo quebrado, consegui puxá-la para junto de mim. Queria prová-la, senti-la novamente, pois queria provar mais uma vez o gosto da vida. E era bom.
Terminado os exames, voltei para casa. Como se o céu estivesse sendo gentil comigo, Guandu estava nublado e frio. Em frente ao portão de casa, uma faixa dizia: BEM VINDO DE VOLTA. Assim que pus meus pés na varanda, uma onda de aplausos e assovios quebrou o silêncio. Rostos familiares foram emergindo da casa e do quintal, sorridentes.
- Não foi dessa vez, hã? – Disse-me Eustáquio com leves tapinhas nas costas- Você, hein?
Depois vieram outros. Eu estava feliz por rever aqueles meus amigos, mas uma pequena ponta de tristeza havia crescido em mim. Enquanto os observava comendo o bolo, conversando, rindo, lembrava da morte e suas palavras em meu sonho. Por mais que a situação tivesse sido apenas uma imaginação minha, aquelas palavras não deixavam de ser uma verdade. Naquele momento estávamos comemorando o fato de eu ter sobrevivido ao acidente, mas no fim eu morreria, bem como todos os que estavam ali. Ninguém parecia ter noção daquilo, ou então não se importavam.
– Está bem, amor?
– Sim.
Isabel estava mais linda do que de costume naquele dia. Olhava-me com ternura a mais. Seus lábios ágeis e sorridentes pareciam esconder alguma coisa dos outros, que era só pra mim. Eram quase sete da noite quando os últimos amigos presentes se despediram de nós. Éramos apenas nós dois novamente. Então seus olhos e lábios se confessaram. Seu vestido azul caiu, deixando-a apenas de lingerie vermelha.
– Agora sou eu quem vai cuidar de você.
Fizemos amor na varanda, no quarto e na sala.
Quanto ao meu carro, era óbvio que eu estava um pouco ressentido. Não pelo prejuízo, pois havia o seguro, mas é que aquele meu veículo tinha um valor que se compreendia além do material. Por exemplo, foi nele que eu conheci a maravilha do sexo oral ao som de Jimi Hendrix. Ali conheci também pela primeira vez a textura da boceta umedecida pelo tesão que eu proporcionava a ela.
Discretamente, limpei o canto do olho onde uma lágrima teimava em escapulir. Estava diante do meu carro. Não era mais azul. A parte dianteira estava irreconhecível. Vendo-o ali é que tive noção da minha “sorte”. É entre aspas mesmo. Para mim, a sorte não é você não escapar de um acidente ileso, ou com vida, sorte é você não se envolver em nenhum acidente.
– É difícil. A gente trabalha pra ter as coisas da gente. Às vezes o carro é o meio de a gente conseguir o sustento da família.
– É.
– Mas graças a Deus que você tá vivo, não é?
Seu hálito fedia a cachaça. Seus cabelos grandes, brancos e encardidos esvoaçavam com o vento quente. Com uma mão engraxada protegendo o olho do sol, olhou para o céu.
– Acho que amanhã chove. Pode olhar aí despreocupado, tá? Precisando é só chamar. Juca!
Pensei que algum rapaz fosse aparecer, mas logo vi um cachorro da raça vira lata, acinzentado, surgir na porta de sua oficina. Com o rabo eufórico, seguiu o seu dono.
Aproximei-me do meu carro, toquei o metal distorcido.
– É isso aí, companheiro.
Dei meia volta e saí dali.
– Ó o picoléééé! – Gritou um moleque descendo o morro com seu carrinho. Para proteger a cabeça, usava um boné que estampava um vereador acenando com o dedo polegar e um sorriso amarelado; sua camisa excessivamente grande da seleção brasileira terminava pouco acima do joelho. Os picolés não eram muito bons, mas as pessoas compravam para ajudá-lo. Seu pai era aleijado, mas conseguia alguns trocados anunciando ofertas em portas de lojas e farmácias. Sua mãe falecera de dengue quando ele tinha ainda cinco anos de idade.
– Me vê um de milho verde. – Pedi enquanto caminhava em sua direção. Ele parou, abriu a tampa do carrinho e começou a remexer sua mão à procura do picolé.
– O último – Estendeu-me o picolé com um sorriso no rosto. Depois ficou sério novamente– Você não é o moço que bateu de carro vindo de Colatina?
– Foi.
Mostrei-lhe meu braço engessado. O menino assentiu, fechou tampou novamente o carrinho e estendeu sua mãe.
– Cinqüenta centavos.
Retirei do bolso uma nota amassada de dois reais e disse-lhe para ficar com o troco. Olhou para a nota, depois para mim.
– Obrigado, moço – Pegou o seu carrinho e continuou a andar, olhando-me novamente com um sorriso no rosto que parecia agradecer mais uma vez. – Ó o picolééé!
Cheguei em casa e encontrei Isabel adormecida no sofá. Sua cabeça repousava sobre as mãos em concha e suas pernas estavam encolhidas. Lembrava uma menina que, depois de fazer muita arte, decide descansar um pouco no sofá da avó. O aparelho de som estava ligado em volume ambiente e tocava La mer. Estava ouvindo o cd de clássicos franceses que eu havia comprado para ela numa loja de CDs certa vez em São Paulo.
Criada com a avó, que havia passado grande parte da vida na França, Isabel tomou gosto pela música francesa. Morria de tesão quando ela cantarolava pela casa suas músicas preferidas, fazendo aqueles biquinhos franceses.
Despertou sorrindo para mim. Fui até ela, beijei-lhe e perguntei se queria tomar um banho comigo. Ela aceitou de prontidão, pois estava sentindo muito calor. Aumentou o volume do som e fomos para o banheiro.
Nem aquela água fresca conseguia apagar aquele fogo que nos envolvia naquele momento. Como se já não bastasse o sol, nos incendiamos. Minha boca indecisa não sabia se beijava o seu corpo ou se o mordia. Sua mão percorria pelo meu corpo me ensaboando com delicadeza enquanto nos beijávamos. O sabonete escapuliu de sua mão.
- Pega. -Ordenei.
Ela abaixou-se lentamente enquanto eu observava o seu gesto gracioso esperando o momento certo. Então me apoderei de seu corpo.
Quase tudo foi ficando normal como antes. Meu dentista me devolveu os dentes que faltavam, as pequenas dores que ainda assombravam o meu corpo haviam desaparecido quase que por completo, e retirei os pontos de minha cabeça. Faltava apenas o gesso, mas ainda não era tempo. Tinha que ficar mais uma ou duas semanas com o braço engessado.
Como ainda estava impossibilitado de voltar ao meu trabalho, passava a maior parte do tempo em casa. Já estava sentindo falta das máquinas de escrever do cartório. Algumas vezes, sentado no sofá imaginando formas nas manchas do azulejo, tinha a impressão de ouvir as teclas das máquinas. Já estava começando a ficar chateado com toda aquela ociosidade. Não, não estava enjoado de ficar o dia todo com Isabel, jamais. É que também queria sentir novamente aquela vontade de voltar para casa e tê-la de volta para mim. Fazia falta a falta dela.
- Que você acha de um bolo de banana?- Indagou-me Isabel, fechando o livro e olhando para mim com um sorriso de quem acaba de ter uma grande ideia. E de fato era. A tarde estava nublada e fria. Dias assim sempre me deixavam com mais fome do que de costume.
Outro detalhe em Isabel que me deixava excitado era o seu quadril em movimento enquanto ela batia os ovos para o bolo. Por muitas vezes no banheiro fantasiei aquela imagem. Observando-a do sofá, tive uma ideia: iria realizar minha fantasia.
Levantei-me e caminhei em sua direção lentamente. Agarrei-a por trás.
- Ai, que susto.
Beijei-lhe o pescoço, apertei sua cintura e deslizei com minha mão por sua coxa. Rindo, pediu que a deixasse fazer o bolo, mas havia dito por dizer. Estava tão derretida quanto a manteiga caseira sobre a pia. Minha mão encontrou a sua boceta, que já estava molhada. O ritmo da colher diminuiu, mas logo aumentou novamente. O som da colher de pau batendo na bacia de plástico misturado ao gemido de Isabel estava me deixando tão excitado que eu corria o risco de a qualquer momento explodir em gozo. De repente a velocidade da batida aumentou tanto que parecia ser uma batedeira a executar o serviço ao invés de Isabel. Seus gemidos estavam aumentando. Podia senti-la tremendo de prazer, até que por fim ela não agüentou. Empurrou a bacia, largou a colher, soltou um grito orgástico e ergueu-se na ponta dos pés, caindo de costas para mim, que sorria satisfeito com a cueca molhada.
Embora estivesse fazendo frio, ambos estávamos suados. Era como se a casa tivesse aumentado quarenta graus. Isabel ainda não havia conseguido se recompor, tendo ainda leves espasmos.
- Vá tomar um banho e me deixe terminar esse bolo, homem de Deus!- Expulsou-me Isabel em meio ao riso.
- Não quer vir comigo?
- Não- Voltou-se para a bacia, dando um longo suspiro.
Apesar dos quatro anos de casados e do sexo abundante, não tínhamos nenhum fruto gerado. Também nunca chegamos a ter uma discussão sobre filhos. Para nós, estava bom do jeito que estava. Algumas pessoas, quase todas, têm a mania de achar que filho é a obrigação de um casal. Mas, tanto para mim quanto para Isabel, a obrigação de um casal é nada mais do que o amor e o prazer. Não usávamos camisinha, portanto, se por acaso uma criança fosse gerada ela seria aceita.
Finalmente o bolo havia assado. O cheiro fez com que eu despertasse do meu cochilo quase que instantaneamente. Da cozinha, ela olhava para mim sorridente. Retribuí o sorriso, mas dessa vez com um misto de decepção. É que durante esse breve sono eu vislumbrei um bebê em nossa sala. Enquanto espalhava os brinquedos no tapete, olhava para Isabel, que tirava do forno o bolo. Era tomado por uma sensação boa, calorosa, de gozo. Quando despertei e não notei aquela pequena figura ali, foi estranhamente triste.
- Tive um sonho diferente, hoje.
- Como foi?
- Nós tínhamos um bebê. Ele estava ali no tapete brincando enquanto você assava o bolo. Estranho, é que mesmo não sabendo como é ser pai, senti falta.
Minha confissão pegou Isabel de surpresa. Pude ver nos olhos dela uma faísca de tristeza. Sorri para ela, que olhou para o tapete.
- Às vezes também vejo bebês pela casa, durante o sono. Quando vejo alguma grávida exibindo sua barriga, fico imaginando quando for a minha vez, se ela chegar.
Ficamos em silêncio por um tempo. Ambos mantínhamos os olhos no tapete, absortos em nossos anseios ocultos. Percebi nos olhos de Isabel as lágrimas se formando. Seus lábios que há pouco jaziam imóveis agora tremiam vacilantes. Em quatro anos aquela foi a primeira vez que vi a vi chorar de aparente tristeza. Talvez fosse hora de compreender que um filho era algo além de uma obrigação, como uma unificação de dois amantes; um ser sagrado. Não ter filho é uma ferida que, quando não tocada, é indolor. Naquele momento estávamos sentindo, e era ruim. Eu queria dizer alguma coisa para confortá-la, mas havia um nó em minha garganta. Sentia que, se começasse a falar, também choraria. Decidi permanecer em silêncio, até que por fim ela voltou a falar.
- Não somos culpados de nada. – Forçou-me um sorriso, servindo-nos de mais bolo.
Voltamos ao nosso silêncio reflexivo. Mastigávamos mecanicamente. Nosso café já estava morno. Havíamos nos esquecido que dias nublados e frios tinham melancolia também.
- Podemos ir ao médico e ver se há um problema em nós- Sugeri.
- Vamos deixar assim. Se tiver que vir, virá. A ciência pode dar esperança, mas também pode arrancá-la.
- Do que está falando?
- Sabe a Madalena? O médico disse que ela não podia ter filhos, nem com os mais modernos tratamentos. Sabe o que é uma mulher que sonha ter um filho ouvir isso do médico?
Assenti com a cabeça, mas no fundo eu não sabia como era. Há sensações e sentimentos intrínsecos aos gêneros. Por exemplo, um chute no saco. Uma mulher nunca vai saber como é a dor. Talvez aquela notícia que Madalena recebera fosse um chute no saco da esperança. Isabel queria conviver com a incerteza da esperança de ter um filho. A angústia de uma espera esperançada era muito menor do que a certeza de que o que se anseia nunca virá.
O resto do dia foi silencioso. A noite chegou depressa, mas o sono não. Os grilos no quintal, os latidos dos cães vadios, os passos lerdos dos velhos crentes, o motor da geladeira ecoava pelo nosso quarto. Levantei-me, fui para o quintal, acendi meu cigarro. Olhei para o céu que já não estava mais nublado bem no instante em que uma estrela cadente riscou o negro. Sorri, pois havia me lembrado da infância quando estrelas cadentes, quando vistas e não alarmadas, davam sorte. Ou que contar estrelas dava verruga. Mas o que custava um pedido? Então pedi à estrela um filho. Quem sabe Deus, se ele existisse mesmo, não ficaria sensibilizado e nos desse um filho?
- Pensei que tivesse largado o cigarro- Surpreendeu-me Isabel, sentando-se ao meu lado, tomando o cigarro da minha boca e dando um trago. Abracei-a.
- As pessoas falam que o cigarro mata. Sabe de uma coisa? Um dos poucos luxos dado ao homem é poder escolher a forma como vai morrer. Se eu quero morrer porque fumei muito, ótimo.
Isabel gargalhou, aquecendo-me. Um vento gélido fez com que o cabelo dela roçasse em minha nuca. O cheiro de cigarro misturado ao de xampu era uma combinação interessante. E lá estávamos nós dois no quintal, conversando banalidades, rindo um do outro, contando estrelas, fumando o terceiro cigarro como se aquele dia houvesse começado naquela noite.
Finalmente chegara o dia de arrancar o gesso. Pedi ao médico que me desse de recordação, pois nele havia marcas de batom de cores variadas que Isabel deixara. Por mais que Isabel teimasse em me levar a Colatina em sua Brasília azul que herdara de sua avó, preferi ir de ônibus. Há tempos sentia vontade de me sentar em meio a estranhos com seus rostos e cheiros distintos. Gostava de ver os velhos cochilando, ouvir as conversas na tentativa de captar sentido nas histórias que se entrelaçavam. Mas naquele dia apenas uma pessoa falava. De pé, olhando para todos com severidade, sacudindo a bíblia enfaticamente acompanhando as palavras, uma mulher pregava para todos nós.
- O senhor, nosso salvador, está chegando. E vocês pensam que ele veio buscar pessoas pecadoras como vocês? Não! Ele quer pessoas de bem, que dedicaram suas vidas a ele. Vagabundos, prostitutas, viciados, adúlteros e assassinos não terão lugar no reino de Deus.
Enquanto ela falava, algumas crianças olhavam para elas com ar de medo. Outros olhavam pela janela as vacas subindo os morros, pastando. Uma senhora gorda na poltrona ao lado olhava para ela com cumplicidade, concordando com a cabeça em cada palavra da mulher. Seus olhos intimidadores iam de um passageiro ao outro, até que, percebendo que eu a encarava, eles pararam em mim.
- A morte é o preço que paga o pecador! Deus vê tudo o que você faz aqui e anota tudo em seu caderno para que no dia do juízo ele possa te julgar.
Desviei meus olhos para a janela. Tornei a olhar para ela, que ainda me encarava. Pigarreei, levantei-me e fui ao banheiro. Seus olhos me seguiram, seu tom de voz aumentou.
- Os pecadores pensam que podem se esconder de Deus, mas aos olhos dele nada escapa! Eu estou aqui a pedido dele, pois ele me deu a missão de avisar a sua chegada. Sou fiel a ele, pois sei que sua promessa se cumprirá. DEUS É FIEL!
- E feliz é a esposa dele!- Gritou um garoto.
- Menino! – Advertiu sua mãe, ou tia. Pude ouvir as gargalhadas e não me contive. Dei a descarga e saí, vendo que a mulher havia se sentado, cálida.
- Você teve uma boa enfermeira- Brincou o médico, enquanto tirava de meu braço o gesso. Disse-me depois que eu poderia sentir uma dificuldade em esticar o braço, mas que logo, logo ele voltaria a ter a sua flexibilidade natural.
Já na rodoviária de Guandu, uma cigana me abortou.
- Homem bonito, de bom coração, é amado e invejado. Por um real te falo o nome das amadas e outras coisas que a sua mão mostrar.
Como havia justamente uma moeda de um real em meu bolso, tirei-a e entreguei à cigana, dizendo-lhe que não era preciso ler a minha mão, pois sabia bem o nome da minha amada.
- Não estou mendigando, não, moço. Não posso aceitar a moeda se o moço não me deixar ler a mão. Moço acredita que a mão da gente traz a nossa história?
- Não.
- Então moço não perde nada se me deixar ler. Vejo que tempo pro senhor não é preocupação no momento.
Olhei em volta, mas a rodoviária já estava deserta, salvo um vira lata magricela que se abrigava sob um banco de cimento. Coloquei minha sacola no chão e estendi-lhe a mão.
- Moço tem tanta linha na mão! Essa linha aqui, ó, diz que sua felicidade ainda não é completa. Hum, essa linha está em branco, então quer dizer que moço não tem filho, ainda. Ainda, porque vejo a aproximação dessa outra. Moço tem vontade de filho?
- Até que tenho.
- Pois moço terá. - Olhou-me com um sorriso, depois voltou para a minha mão, voltando ao seu ar de concentração, como se realmente houvesse alguma coisa em minha mão- É tanta coisa escrita e falha nessa sua mão! Tem uma linha falhando... Moço passou por uma situação difícil? Perda na família, acidente ou alguma coisa assim? Seja o que for, foi algo que te afetou diretamente.
Olhei para ela com certo ar de incredulidade. Mas ainda não me convencia. Qualquer um que morasse em Baixo Guandu ou estivesse por lá nos últimos tempos saberia do meu acidente. As notícias por lá corriam rápido.
- Qual o seu nome?- Perguntei-lhe, interrompendo-a. Ela me olhou, sorriu mais uma vez e fez um gesto para que eu me sentasse ao banco.
- Moço precisa saber que não sou de dizer meu nome assim para os estranhos.
- Perguntar seu nome é tão indecente quanto pedir para ler a minha mão.
A cigana gargalhou batendo as mãos, fazendo com que o cachorro sob nós se assustasse, saindo ao galope para a rua.
- Moço de língua afiada. Já, já, vou dizer, assim que eu terminar sua mão. Moço me interrompeu numa linha muito importante. Deixe-me ver. Moço ama a esposa?
- Sim.
- Moço também é muito amado pela mulher. Mas isso o moço já sabe, não é?
Assenti com a cabeça, rindo para ela.
- Mas o moço vai ter que se preparar. Está vendo aqui, ó?- Indicou-me a cigana uma linha quase imperceptível. – É a linha da paixão.
Paixão? Ri mais uma vez diante do absurdo. A cigana estava indo muito bem em seu número de adivinho, mas envolver paixão foi um erro que a maioria dos ciganos comete. Sempre paixão, dinheiro e rosas vermelhas. Reparei que ela havia se calado. Olhei para ela, que olhava fixamente para a minha mão. Sua boca avermelhada jazia entreaberta, sua respiração quase que havia cessado. Tentei fazer um movimento para retirar minha mão, mas ela a segurava com força.
- O que há de errado?
A cigana parecia não me ouvir. Fiz um pouco mais de força, fazendo com que ela despertasse. Lentamente suas mãos se afrouxaram, deixando a minha livre. Seus olhos fixos encontraram os meus, que a olhavam curiosos. Senti um leve arrepio na nuca.
- Chavela.
- O quê?
- É o meu nome- Disse a cigana, levantando-se. Seu rosto assumia um ar preocupado.
- A leitura acaba em paixão?
- Algumas coisas estão confusas. Melhor moço ter cuidado.
- Acidente?- Sorri-lhe, como se tivesse contado uma piada.
- Tem muita coisa que moço desconhece nessa vida. Hoje é moço quem ri, amanhã é o destino. Mas não sei se moço acredita nessas coisas.
A cigana virou as costas. Antes do terceiro passo, virou-se para mim.
- Coloque um copo com água debaixo da lua no seu terreiro e beba da água ao meio dia. É bom pro moço.
Seja lá o que for que a cigana tenha visto, não parecia ser bom. Repreendi-me por estar preocupado com aquilo. Não acreditava naquelas coisas, havia feito por distração. No fim era tudo a mesma coisa. Até que para um real, a cigana havia feito muita coisa: entretenimento e receita para simpatia.
Cheguei em casa ávido por um banho. O dia estava muito quente. Chamei por Isabel, que não respondeu. Então reparei na geladeira um bilhete.
Fui á casa da Ana. Fiz suco de acerola.
Beijo, Isa.
Ana era uma grande amiga nossa. Foi ela quem nos apresentou, ainda no colegial. Morava no centro da cidade, e era casada com o dono do supermercado. As pessoas na cidade diziam que o casamento era por interesse, pois o homem era desprovido de beleza. Baixo, calvo e barrigudo. Já Ana era linda. Tinha longos cabelos ruivos, era alta e de corpo invejável. Eu me masturbei pensando nela por muito tempo até a chegada de Isabel. Com a morte do marido, Ana se casou com um entregador do mercado. Com esse casamento, as pessoas diziam que o casamento fora arquitetado por Ana e pelo pobre rapaz, que nada tinha a ver com o destino infeliz do falecido.
Sabia que as visitas de Isabel à casa de Ana eram longas. As duas sempre saiam para assistir a algum filme no cinema, ou preparavam algum bolo ou coisa parecida. Tomei o meu banho, servi-me de um pouco de suco, peguei um pedaço que ainda restava do bolo, liguei o som, deitei no sofá e adormeci.
Estava no ônibus. Não havia ninguém ali exceto a cigana, que me olhava com um olhar intimidador, que me pareceu familiar. Trajando seu longo vestido vermelho, segurava uma grande bíblia. Esbravejava coisas que eu não podia compreender. Tentei me levantar, mas não conseguia. Embora o ônibus estivesse parado na estrada, podia senti-lo sacolejar. Uma vaca que pastava defecou. Mas ao invés de sua bola de fezes esverdeada cair, caiu um bebê. Olhei novamente para a cigana, cujo vestido agora começava a se incendiar. Tentei alertá-la, mas não conseguia movimentar minha boca. O fogo de seu vestido correu pelo chão do ônibus, subindo pelas poltronas em direção ao teto. Meus pés começaram a queimar, mas não podia fugir. A cigana estava derretendo como se fosse feita de parafina. Reparei que meus pés também derretiam. O líquido denso que outrora fora a mulher começou a rastejar pelo chão incendiado em minha direção, envolvendo-se em meu braço, transformando-se em gesso. De repente, o ônibus começou a derreter. Todo o veículo havia derretido, exceto a parte onde eu estava. Agora podia ver a estrada, onde uma enorme carreta surgiu em minha direção, desgovernado. No carona, um homem que parecia ser o motorista agonizava. Ao volante, sorridente, a criatura encapuzada me encarava. A ponta da foice saltava da janela. Desesperado, levantei-me. Mas meus pés estavam tão moles que afundaram no chão carbonizado do ônibus.
Acordei no chão da sala, com a mão na testa.
- Mal tirou o gesso do braço e já quer colocar de novo?
Levantei-me enquanto Isabel retirava do congelador a forma de gelo. Embolou alguns cubos no pano de prato e os trouxe, agachando-se diante de mim, que havia me sentando no sofá, com a mão na testa.
- Caramba.
- Deixa eu ver.
Afastou minha mão, colocando o pano com o gelo no local. Massageou-o por uns minutos, dando leves sopros no galo que havia crescido em minha testa. Reparei que sua boca formava um bico trêmulo, como se já não mais agüentasse segurar o riso que teimava em sair. Então ela vacilou, soltando a gargalhada. Também ri dando um leve tapa em sua testa.
- Acho melhor a gente fazer um plano de saúde. – Brinquei. Isabel concordou ainda aos gargalhos.
Vi que ainda não havia anoitecido, e que nem passavam das cinco e meia. Estava molhado de suor, então decidi tomar um banho. Do banheiro podia ouvir os meninos lá fora brincarem de pique bandeira. Quando era menino, também brinquei naquela rua. Morrer era uma coisa que só acontecia à gente grande. E não éramos gente grande, por isso corríamos, ríamos como se a vida fosse uma eterna brincadeira. Lá estava eu, ouvindo o passado, absorto no presente perturbador. Aquele segundo pesadelo, bem como o acidente, me lembrava mais uma vez que eu não era imortal.
Para quebrar o silêncio que se instalava durante o jantar, perguntei a Isabel como estava Ana. Respondeu-me que Ana estava bem, e que ela viajaria com o marido para o Rio de Janeiro na semana que vem. Ficariam por lá durante um mês inteiro hospedados na casa de praia de um primo.
- Ela chamou a gente pra ir junto.
Parei de mastigar por um momento. A ideia era interessante, e eu tinha férias a serem tiradas. Por um raio de segundo, minha boca se abriu para dizer que havia adorado a ideia, e que ela fizesse as malas. Mas estava precisando trabalhar, ocupar minha cabeça. Disse-lhe que, se quisesse, ela poderia ir. Isabel discordou, disse que também não estava muito a fim de ir, e que até havia recusado o convite na mesma hora. Insisti que ela fosse viajar com a amiga um pouco.
- Você não duraria duas semanas.
Rimos. Ela consultou o relógio, levantou-se da mesa e foi para o quintal, deixando o prato ainda na metade. Voltou com um copo de água na mão, colocando-o sobre a mesa.
- O que é isso?
- Simpatia. - Respondeu-me, virando copo o copo de uma vez. – Receita que uma cigana me deu hoje. Pediu para ler minha mão por um real.
- Você aceitou?
Isabel deu de ombros, voltando ao seu prato.
- Apesar de eu não acreditar muito nessas coisas, aceitei a ideia.
- E o que ela disse?
- Que “moça” vai ter um filho, que marido de “ moça” ama ela, que minha mão tinha muitas linhas, essas coisas. No fim, disse para eu ter mais cuidado com meu marido, e que eu colocasse um copo de água sob o sol ao meio dia, e que depois o retirasse à meia noite e bebesse a água. Mais cedo, quando você caiu do sofá, lembrei da cigana.
Pensei em dizer a Isabel que uma cigana, provavelmente a mesma, havia me abordado hoje, e que havia me dito quase que as mesmas coisas. Mas preferi assentir sorridente, como se estivesse achando graça de tudo aquilo.
Terminamos o jantar em silêncio. Como havia tirado um longo cochilo naquela tarde, não estava com sono. Já Isabel, com a cabeça recostada em minha coxa, bocejava incessantemente diante da televisão. Logo adormeceu, enquanto eu, olhando para a TV, ruminava a história que ela havia me contado. Por coincidência ou não, uma cigana havia abordado nós dois no mesmo dia, dizendo quase que as mesmas coisas. Depois a mulher disse para Isabel tomar cuidado com “o seu marido”. O que ela quis dizer com isso? Eu estaria prestes a me apaixonar por outra mulher, o que era impossível, ou eu novamente corria um risco de morte? “Deixe de bobeira”, pensei, “ você nunca acreditou nessas coisas, não vai ser agora que você vai acreditar”. Desliguei a TV, acordei Isabel e fomos nos deitar.
- Desse jeito que vamos ter filho?- Sussurrei beijando-lhe o pescoço. Ela retribuiu, puxando minha bermuda.
Acordei com uma batida na janela. Abri-a e dei com os meninos lá fora, olhando para mim, de ombros erguidos, como se estivessem com medo. Vi então a bola sobre a grama, encostada no nosso muro gradeado.
- Podem pegar a bola- Disse a eles, que logo relaxaram, agradecendo e se desculpando. Fechei a janela e fui para a cozinha. Eram dez e meia da manhã.
- Bom dia, dorminhoco. Você ouviu a pancada na janela?
Disse-lhe que eram os meninos brincando lá fora, e que, sem querer, haviam acertado a janela com uma bola. Era sábado, dia em que a rua se infestava de crianças. Nada mais natural do que algazarra e coisas voando pela sua janela.
Propus a Isabel que saíssemos à noite. Poderíamos comer uma pizza, assistir a um filme ou alguma coisa assim. Isabel aprovou a ideia com um largo sorriso no rosto. Passamos o resto do dia na sala. Eu, lendo um romance; Isabel, pensativa com a tampa da caneta na boca a espera de uma luz para completar a cruzadinha. Para quebrar o silêncio incômodo, Isabel havia ligado o toca discos que pertencera à sua avó. Como era de esperar, o disco era de uma cantora francesa que, segundo Isabel, era um dos maiores ícones do cenário musical da França, e até do mundo. Dentre todas as cantoras que Isabel me apresentara, aquela era a minha preferida.
Padam... Padam... Padam...
Fomos ao cinema, mas largamos o filme na metade. A história não era muito boa, mas desistimos ao ver que o que jorrava do pescoço do personagem mais parecia suco de morango do que sangue. Enquanto saíamos da nossa fileira para ir embora, passei por uma mulher que me olhava com um meio sorriso. Seu olhar soava maldoso. Antes de sair, olhei novamente para ela, que ainda me encarava. Moveu os lábios num gesto que interpretei como um beijo.
Do cinema fomos a uma pizzaria, onde encontramos com outro casal amigo nosso. Juntamos nossas mesas e comemoramos a descoberta de que eles seriam pais. No caminho de volta, Isabel não falou nada. Respeitei o seu silêncio abraçando-a. Compreendia o seu ressentimento. Assim que chegamos em casa, Isabel foi para o quarto. Pensei tivesse ido se deitar e chorar até adormecer. Demorei um pouco para entrar, mas assim que entrei, ela avançou em minha direção. Puxou minha camisa com força, fazendo com que alguns botões caíssem no chão. Não sabia se aquele ato era o desespero de ter um filho ou se ela realmente estava com vontade de transar comigo.
Domingo, como quase sempre são os domingos, foi um dia enfadonho. Para piorar, havia a ânsia pelo próximo dia onde eu finalmente voltaria a trabalhar. Isabel me pediu que comprasse o frango assado. Na volta, dobrando a esquina da Dez de Abril, dei de cara com o carro da funerária, seguido de outros carros lentos, e pessoas com seus pesares. Uma senhora passou de mãos dadas com um garoto, que me olhava com seus olhos que pareciam me perguntar por que eu também não os seguia. Tropeçou mas mal teve tempo de cair, pois a senhora, provavelmente sua avó, já o havia erguido pelo braço. Sempre achei que domingo fosse um dia para morrer. Durante a volta, fiquei imaginando o cortejo seguindo o meu caixão.
Acordei com o despertador e Isabel puxando o cobertor. Levantei da cama quase que no mesmo instante, ansioso. Até havia sonhado com meus dedos ágeis sobre as teclas da máquina de escrever, que produziam sonoros claps. Mal tomei café, despedindo-me de Isabel com um beijo. Peguei sua Brasília emprestada e fui trabalhar.
Fui recebido com aplausos calorosos. Mariana, nossa rechonchuda e simpática ajudante, surgiu de trás da cabine com um pequeno bolo com meu nome em glacê vermelho. Não esperava toda aquela agitação pela minha volta. Agradeci a todos pela surpresa, dizendo que estava feliz em poder voltar trabalhar com meus colegas e amigos.
Foi logo que me sentei em minha cadeira que a vi entrar. Tinha longos cabelos cacheados e louros. Seu vestido era de excessivo decote, e seus lábios eram carnudos e avermelhados. Andava como se estivesse em um concurso de beleza. Era alta, mas apenas sob o efeito das plataformas de seu sapato. Então reconheci aquela figura graciosa que acabara de se sentar diante de mim, desejando-me bom dia com sua voz mansa e hálito bom. Ela era a mulher que me olhava no cinema. Havia até me esquecido dela e de seu gesto com os lábios, que me pareceram um beijo.
- Bom dia. – Respondi por fim, pigarreando, olhando para a minha máquina de escrever.
- Gostaria de fazer uma certidão de óbito.
O falecido era um senhor de setenta e cinco anos, vítima de uma pneumonia. Era o seu único tio, e ela, sua única sobrinha que havia vindo de Santa Tereza para cuidar dele. Lágrimas correram de seus olhos. Ela sorriu para mim, desculpando-se. Disse-lhe que não havia por que se desculpar, e ela, sorrindo-me mais uma vez, disse que eu era gentil.
Assim que ela saiu, pensei comigo se ela realmente havia olhado para mim e me mando um beijo ou se aquilo não passou de uma impressão. Era meiga, de ar inocente. Era sensual, hipnotizava com os olhos, mas parecia não ter consciência do seu poder de sedução.
Era hora do almoço, e eu seguia para casa. Passei em frente à praça, e lá estava a sensual figura desfilando. Vi que de sua bolsa uma pequena agenda caiu. Como ninguém pareceu notar o acontecido, encostei a Brasília. Peguei sua agenda e corri para alcançá-la.
- Oi. – Sorriu-me.
- Sua agenda.
- Ah, obrigada. Ando tão distraída...
Esticou o braço para pegar sua agenda, tocando rapidamente a minha mão. Estava excitado.
- Tudo bem. Acontece. – Disse, enxugando minha mão suada na calça.
Ia me retirando, quando ela me perguntou se eu estava indo almoçar. Respondi que sim, e então ela me perguntou se eu não gostaria de almoçar com ela.
- Deixei na panela de pressão uma carne com batata. Já deve estar pronta.
Não sabia ao certo se deveria aceitar. Certamente Isabel estava me esperando para almoçar em casa com algum prato especial para comemorar a minha volta. Mas aquela criatura encantadora ali me encantou de tal maneira que acabei aceitando. A casa onde seu tio morava era logo na esquina.
Além de tudo era boa cozinheira. Acabei repetindo a carne, o que ela tomou como elogio. Durante o almoço, contou-me que o velho falecido era o seu único parente vivo. Mais uma vez chorou, então afaguei suas mãos para confortá-la. Esse gesto fez com que ela me olhasse surpresa. Desculpei-me, mas então ela sorriu dizendo que quem deveria se desculpar era ela por estar se lamentando para um convidado em plena hora de almoço.
Quando saí, ela me disse que prepararia outro prato ainda melhor se eu prometesse almoçar com ela no dia seguinte. Prometi que voltaria sem nem pensar.
- Eva. - Estendeu-me a mão. Cumprimentei-a, dizendo o meu. Atravessei a rua em direção à praça. Entrei na Brasília e voltei para o trabalho.
Quando cheguei em casa, Isabel me esperava no portão. Parecia estar mais ansiosa do que brava. Veio ao meu encontro, abraçando-me. Disse que havia me esperado para almoçar em casa, e que havia feito uma carne cozida na panela de pressão. Depois me encheu de perguntas, que respondi brevemente. Na janta, comi da carne cozida que não era tão boa quanto a que eu havia comido mais cedo. Antes de dormir, lembrei da cigana que havia profetizado uma paixão. Eva, só podia ser. Até então, nunca havia olhado para outras mulheres com aquele olhar desejoso. Adormeci, pela primeira vez, desejando outra mulher.
No outro dia, cheguei ao trabalho pensando logo no horário de almoço. Como havia dito a Isabel, o serviço estava com alguns assuntos pendentes e eu deveria resolvê-los naquele mesmo dia, ficando no serviço direto, comendo alguma coisa lá mesmo. Ela propôs levar o almoço, mas disse que não precisa se preocupar. Relutante, Isabel concordou.
Meio dia, já estava na Brasília seguindo para o meu encontro com Eva. Enquanto dirigia, imaginava minhas mãos deslizando por suas coxas, seus lábios carnudos chupando o meu pau, que depois penetraria sua boceta de pelos louros. Estacionei a Brasília em frente à praça. Sentada no banco, olhando para mim, Chavela, a cigana, fez sinal. Ignorei-a, indo em direção à casa.
- É ela! É ela, moço. A paixão e o perigo. Destino vai rir, moço!- Gritava-me a cigana.
Algumas pessoas assistiam à cena, curiosas.
- Maluca. – Disse, enquanto abria ao portão da casa.
Eva me esperava sorridente, ainda com um avental. Ao ouvir a gritaria que a cigana arrumava lá fora, perguntou-me o que era. Disse-lhe que era uma cigana maluca que estava me perseguindo. Reparei que não havia nenhuma panela sobre o fogão, nem sobre a mesa.
- O prato de hoje é frio. – Explicou-me, apontando o dedo para a geladeira. – Pode pegar para mim enquanto me troco?
A energia caiu. Ouvi um rosnado e pensei que fosse o cachorro do velho que eu não havia notado no dia anterior. Abri a porta da geladeira ouvindo o barulho de vidro se quebrando.
- Filha da Puta!- Xinguei, dirigindo-me para fora. Tive a impressão de sentir um cheiro de gás. Do lado de fora, com uma pedra na mão e o dedo no relógio, a cigana me encarava.
- Sua louca!- Avancei em sua direção. Antes que eu pudesse tocá-la, ela ativou novamente a energia do relógio.
- NÃO!- Foi a última coisa que ouvi de Eva antes da casa explodir, produzindo um barulho ensurdecedor. Caí no chão, ferido por alguns estilhaços. Chavela também rolava no chão, ferida. As pessoas corriam para ver a cena, assustadas.
- Era ela, a Indesejada. – Contou-me a cigana, diante de mim no leito do hospital. – Não aceitou te perder da outra vez. Mas agora ela sabe que não é a sua hora. Não agora.
Acordei e vi Isabel ao meu lado, sentada, com a mão acariciando a barriga, como faziam as grávidas.
O jornal do dia seguinte trazia a matéria sobre uma casa que havia explodido pouco depois da morte de seu proprietário, ferindo duas pessoas que passavam no local. No cartório, Jairo afirmava que nenhuma mulher com a aparência que eu descrevia apareceu por lá na segunda feira, e que a certidão de óbito do tal falecido já havia sido feito por um sobrinho, que havia morrido há dois dias.

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