Lembranças

Foto de katielle gomes

velho amor

Foi um amor..

A princípio, tentei nomear o meu sentimento como loucura, mas me dei conta de que a loucura é perplexamente desnorteada, e não é assim que eu me sinto. Depois, tentei chamá-lo de ilusão, mas ilusão é o que não pode existir, e sei que em mim ficaram boas lembranças do que aconteceu entre nós. Foi então que me encontrei em um beco sem saída, tentando evitar com todas as minhas forças a possibilidade de o meu coração está apaixonado por alguém. Não por medo de amar, mas por receio de não ser correspondida. Porque ao longo de minha vida, aprendi a sutil diferença entre amar e ser amada.

Parece fogo que arde, mas eu não consigo ver. É como uma ferida que dói, mas não consigo senti-la. É uma vontade de querer largar tudo e correr para os teus braços, afundar a minha cabeça sobre teu peito e lá permanecer. Com a mais louca vontade de prender os meus olhos aos teus, sem cessar. Porque tenho a mesma sensação de estar olhando a noite, negra e inebriante, que me faz querer sonhar sempre mais alto, embora sempre devagar, para aquele momento nunca mais acabar.

Por tantas vezes eu te vi passar e nem ao menos olhar para o meu rostinho maravilhado, e perceber um incontrolável sorriso, formando-se nos cantinhos da minha boca, que tanto quis encontrar a tua. Perco a conta de quantas vezes penso no teu sorriso e me encontro nos teus olhos que me deixam em estado de plenitude e serenidade. Mas decidi rezar todas as noites e todas as manhãs e pedir ao meu Deus, que tire a tua imagem da minha cabeça e o teu nome da minha boca. Porque não posso me arriscar a amar alguém assim como você, um perfeito mistério pra mim.

Porque nem ao menos imagino o que sentes quando escuta o meu nome ou quando olha nos meus olhos. Porque fico em dúvida se algum dia, irás citar o meu nome na tua história. Não posso arriscar que o meu debilitado coração se despedace no peito, acredito que não terei mais forças para concertá-lo outra vez. Embora, com a mais convidativa contradição, sinto a mais doce e perversa vontade de me jogar nessa história. Vivendo no risco de ser mais uma neblina nos dias ensolarados, como uma chama ateada a uma palha. Tudo por você. Posso viver no risco, só pelo prazer de encontrar-me com os teus abraços, vivendo no persuasivo presente do teu amor, que agora, apenas vaga nas minhas lembranças.

Antigos amores, sempre as mesmas lembranças....

Foto de Luis Paulo Silva Gomes

Lembranças

Das sombras que me fazem chorar
Às lembranças que me fazem te amar
Como as folhas de outono que caem
Ao sopro do vento
O qual verre minha lembranças

Ao coroar o amor vivido
Ao sentir o gosto amargo da solidão
Destruindo e acabalando com meu coração
Venho a recordar o amor contido

Contido em saudades
E como o Sol
Essas dores sempre voltam

Foto de Carmen Vervloet

Folhas de Outono

Você chegou e me trouxe compreensão
em poucas horas de convivência
desfez um ponto negro no meu coração...
Retomei minha perdida consciência,
emergi de profundo oceano
de um passado de prantos, dores e desenganos.

Salva e liberta caí em seus braços
despreocupada e envolta na minha própria luz
cingida pelo seu forte, mas terno abraço
entregue ao amor que à felicidade conduz
tocando os limites extremos da existência
entregando-me à vida em completa anuência.

Nossas almas arrebatadas por intensas emoções
desprovidas de medos e inseguranças
sem buscar explicações, motivos, nem razões
deixando no passado as tristes lembranças
experimentando uma liberdade e paz tão profunda
que já nem importa se nesta outonal viagem
viajamos de primeira classe ou de segunda.

No renovar da estação o que a nós importa
é que destranquemos todas as portas
para que possamos viver este pleno amor
e que cuidemos dele com a mesma delicadeza
como quem cuida da mais tenra e perfumada flor
sem a preocupação de buscar fertilidade ou segurança
vivendo impulsionados pela emoção feito crianças.

Foto de ALEXANDRE FILHO

SONETO DE UMA TARDE

Olhos e noite, querubim , despida...
peças de um castigo que seduz
Ocaso da leveza, beijar-te é luz
És fascínio, declínio, esmeralda polida

Fonte são teus sonhos, teu riso e dor...
Pele que cerceia, ufana, cosmogonia
Fios de ouro e mirra em ti são persona e sintonia
Páginas de livro, cantigas de amigo, aedos do autor

Teus passos, tuas coxas, doces lembranças
Mãos que percorrem, discorrem do ser...
Maculam pecados, acaso, nuanças

Amo-te pelas verdes tardes, pretérito, novidade
Por tuas formas, promessas idílicas no amanhecer
E um adeus que me sossega até a morte, nos territórios da saudade.

Foto de lua gallardo

mentira

Uma mentira que perdura, dias a fio no leito amargo duma vida imprecisa… pensar no que poderia ser se tudo fosse diferente.
As palavras ditas que soaram doce e cativa mas que hoje são lembranças que só querem ser esquecidas, apagadas de um tempo infundado…
As lembranças insistem em martirizar os segundos que tento ser eu própria, afastada de infortúnios do passado. Até a brisa doce que sopra a minha face, insiste em sussurrar recordações de sentenças carecidas.
Viver encoberta em sentimentos, abafar as vontades, o desejo… e voltar sempre ao mesmo lugar, para tentar sentir o que dizes, tentar só mais uma vez… voltar para ti!

Foto de Izaura N. Soares

Uma Borboleta Tristonha (Mini Conto)

Uma Borboleta Tristonha ( Mini conto)
Izaura N. Soares

Hoje, em um dia sereno e ensolarado, resolvi pescar.
Peguei minha varinha de pescar, arrumei as iscas num recipiente e partir para um lugar calmo onde pudesse pescar os meus peixinhos.
Encontrei um rio num lugar lindo e maravilhoso, era um lugar encantador donde os pássaros cantavam e desejavam boas vindas.

Sentei-me na beira do rio e lancei o meu anzol fiquei a espera de pegar nem que seja um peixinho mesmo que depois eu fosse soltá-lo. Fiquei horas esperando num silencio total. Até os pássaros também fizeram silencio silenciando suas cantorias. De repente percebi que a varinha balançava em minhas mãos, e sentir um peso enorme, disse pra mim mesmo, ufa! Deve ser um peixão, pois a vara envergava a tal ponto de eu não mais agüentar. Mas com calma eu consegui puxar para fora.

Qual não foi minha surpresa, não era um peixinho, não era um peixão, era apenas uma pequena borboleta que havia caído no chão e rolado para o rio. Minha surpresa aumentou, como pode uma pequena borboleta ficar tão pesada ao ponto de eu não agüentar puxar a vara. Não sei como aquela borboleta agüentara ficar na água e ainda com dificuldade ela se mexia. Minha curiosidade aguçava ainda mais, me aproximei do pequeno ser e indaguei-me.

– Hei borboleta, como pode você, tão pequenina pesar tanto quase a me derrubar?
- A borboleta tão cansadinha de tanto se debater contra a água me respondeu com ar de tristeza. - A minha tristeza é o peso que eu carrego nas costas por ver os meus jardins se definhando e eu sem nenhum lugar para pousar.
A minha solidão é tamanha que não encontro mais os amigos que antes viviam a me cortejar. Cortejavam-me devido a minha beleza, as minhas cores variadas.
Lágrimas, não existem mais, pois as deixei tudo no fundo do rio.

Fiquei ouvindo e assistindo a luta daquela pequena borboleta para sobreviver. Pensei, quantas vezes deparamos com problemas tão simples e fazemos deles um campo de batalha achando que somos os únicos a passarem por isso! Então, resolvi ajudar a borboletinha, peguei a em minhas mãos, aqueci a com o calor dos meus dedos coloquei a de pé novamente. Que alegria eu senti, vendo a bater as asas livre rumo à liberdade!

Continuei sentada na beira do rio sem nenhuma vontade de continuar a pescar. O lugar era tão lindo, as árvores eram imensas, as flores eram belíssimas, mas a tristeza da pequena borboleta era tão grande que ela não conseguia enxergar a beleza daquele lugar. Mas algo me incomodava, as lembranças me castigavam. Lembravam de pequenos momentos, pequenas alegrias que não dava nenhuma importância.

Hoje, vendo um pequenino ser lutando pela vida, lutando para sobreviver é que percebo que não precisamos de muito para ser feliz.
Basta apenas um amor correspondido, um sorriso espontâneo até mesmo de alguém desconhecido.

Para um pequeno e frágil ser como uma borboleta, voar é necessário, ser feliz é preciso... Pois a borboleta com toda a sua fragilidade é o símbolo da verdadeira liberdade!
Que pena que ela não sabe da grandeza do seu voo e muito menos da beleza das suas cores que ofusca o olhar de quem a vê.

04/06/2011

Respeitar os direitos autorais de um poeta é respeitar a si mesmo!

Foto de Allan Dayvidson

NÃO EXISTE

"..."

NÃO EXISTE
Por Allan Dayvidson

Sem mãos esbarrando, sem longos olhares;
Sem música decorando todos os lugares.
É... já entendi.

Nada de belas palavras, nada de flores;
Nada de poemas feitos de todas as cores.
É claro! Já entendi.

E se alguém perguntar por você,
Direi que não existe
E não estarei tão longe da verdade,
Mas algo em mim insiste em acreditar
que meu lugar é bem aqui,
procurando...

Não há espaço para pequenas tolices;
Embora o grande espaço do que eu nunca disse
É...não mesmo.

Não espero grandes conexões;
Não procuro em nós dois as exceções
Porque corro o risco de encontrar.

Se me perguntarem para onde vou:
A lugar nenhum.
Preciso terminar o que já começou
Mas sou só um...
Juntando...
cacos,
Em meio a tantos pedaços,
Procurando...

Queria roubar sua distância;
Queria nutrir esperanças;
Queria...
E queria...
Queria deixar para lá!
Mas nunca realmente abandono nada...
Embora eu tente.

Se alguém perguntar por você
Direi que não existe.
E cedo ou tarde isso será verdade,
Mas demora tanto!
Eu fico com velhas lembranças
E muitos poemas empoeirados.
Fico com o tempo que sobra
Mas meu coração nunca se dobra!
E algo em mim ainda insiste em dizer
que meu lugar é bem aqui,
Procurando...
você.

Foto de XandaoCM

TIC TAC

Estou cansado desse TIC TAC
Dessa constante preocupação com o tempo
Desse eterno e estúpido arrependimento
De não ter feito algumas coisas
Ou ter feito coisas que não devia
Pela luta por algo que achava-se que valia a pena, mas não valia
As pessoas preocupam-se demais com o passado
E esquecem de viver o agora
O que resultará em arrependimento alguma hora
Por ter esquecido de ter vivido o presente
Que será o passado perdido
E isso será um loop infinito
Em que as lembranças serão mais eminentes que os sonhos
A preocupação é e será com o que foi e não volta
Até que haja uma reviravolta
O futuro não terá valor
Não até que ele vire passado
E todos se arrependam por não terem mudado
Estou cansado desse relógio
E desse barulho infernal
Estou já começando a passar mal
Quero acabar com isso de uma vez por todas
Acabar com minha angústia e aflição
Que abala profundamente meu coração
A culpa é desse relógio maldito
Quero quebrá-lo, jogá-lo na parede
Acabar com essa minha sede
Mas se eu quebrar o relógio
Certamente outros virão
Esse é um paradigma sem solução

Foto de betimartins

Ecos da solidão!

Ecos da solidão!

Renasci do mundo das sombras
Repleta de frio, gelando-me na alma
Escuto as vozes longínquas, vozes confusas
Vozes do além, onde estás tu? Onde?
Martelo as paredes, desesperada, as procuro
Elas vêm dali, as sombras se movem diabolicamente
O medo invade minha alma, apenas tremo de medo
Minhas pernas estão bambas, dormentes, cansadas
Algo gélido, algo sinistro, toca os meus ombros
Quis sumir da terra, que era aquilo que me que tocava?
Eu não o entendo, não vejo nada, vai além de mim
Volta tocar-me, minha garganta sente um nó fechado
Quero gritar, mas não consigo nada sai nada, inerte!
Mas o que é isto que vai além de mim? Grito!
O medo invade a minha alma, o gélido consume-me
Meu coração bate, descompassado, como ele bate
As sombras se movimentam ao meu redor, são tantas!
O cheiro incomoda o meu nariz, cheira a podre, mal
Escuto movimentos, a vida lá fora, respiro de novo
Tento acalmar o meu coração, algo acontece ali
Era o tempo, o tempo parou, sugou as lembranças
De uma vida ativa, cheia de muitas alegrias, passada
Mas o tempo, esse não perdoa, não mede distancias
Trás consigo os ponteiros afiados, batendo, as horas
Trazendo a solidão, apenas a solidão em forma de ecos..

Foto de Carmen Lúcia

Entre as miragens

Transformei em doce saudade
o seu amor, essa ausência sem fim
e tudo o que me lembra distância,
trazendo-o para perto de mim..

Nem mais solidão eu sinto
quando a saudade entra pela janela
que aberta fica quando pressinto
a dor trazendo seu sinal de alerta.

Então me acerco das lembranças
que retêm meu pranto e me fazem sorrir,
crer que tudo ficou como era antes
sem o medo de um dia vê-lo partir.

Perco-me em fantasias, faço-o ressurgir
entre as miragens que me vêm encontrar
e me pego a dançar ao som da melodia
vinda das estrelas , tema de nosso sonhar.

_ Carmen Lúcia_

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