Infância

Foto de HELDER-DUARTE

MONTES DE ALVOR

Minha aldeia e dique!
Em ti fui criança!...
Sem ter, infância.
Quando, aos seis anos, vim de Monchique.
Meus amigos, oh Montes de Alvor!
Não foram, teus meninos, que me batiam,
Sem a Deus, terem temor!
Nessa escola, onde os gritos de Maria Emília, entoavam.
Mas meus amigos, foram:
As hortas, com as batatas…
E o milho, que meus pais, semeavam.
Montes de Alvor! Montes de Alvor!
Foram ainda, as tourinas vacas.
Sim tu aldeia! Dos meninos sem amor!

Foto de Rawlyson

saudades

Saudades

Há um momento em que eu paro e olho distante.
..Meus olhos não dizem nada, mas minha mente revela
Um sentimento quieto e frio,
Um nó na garganta, um olhar lacrimejante, mas um daqueles sentimentos relutantes.

Recordo da minha infância que embora fora ligeira,
Mas para mim se manteve eterna.
E Lembro claramente do sorriso inocente daquele que um dia minha vida deixaria...
Engulo seco mais uma vez, e retornando a lembrança daquela criança que cujo o sorriso eu Proporcionava.

De vagar, bem lento, às vezes rápido,
As vezes colorido, as vezes preto e branco.
São os fleches que vêem a minha mente, o que é isso?
Sentimento que me traz dor, mas também dar prazer,
Isso é saudade, e é isso que eu cinto por você, meu irmão.

Homenagem a Rayclon M. Junqueira
Falecido em 1989

Rawlyson Junqueira.

Foto de Carmen Lúcia

Lembranças gravadas

Não entendi muito bem...
Ainda sonhava com bonecas,
E meus sonhos eram azuis...
Queria, um dia, ser como ela...
Minha mãe, mulher mais bela,
Que agora me abraçava, chorava,
Molhava-me com o pranto,
Gesto incomum ao seu acalanto...

Ouvi vozes ao redor...
“Agora estão sós, ele partiu...”
Sabia que deveria chorar
A morte de um pai é dor demais,
As lágrimas não vinham, não fui capaz...
Ou minha tenra infância privou-me de chorar
E arrancou-me o pranto que não soube rolar.

E caminhamos juntas, minha mãe e eu...
Recomeçando a vida, juntando o que rompeu,
Eu era sua razão, e ela minha certeza,
O meu ancoradouro, a minha vela acesa...

Ainda jovem e linda, paixões ela inspirou,
Sentiu a intensa dor do amor que acabou...
Caiu e levantou, desafiando a vida
De novo um grande amor abriu sua ferida.

A tudo eu assistia, percebendo que a perdia,
Meu mundo se ruía, o meu barco partia,
Voltada aos seus amores, de mim se separou
E o pranto nessa hora em minh’alma rolou.

Fui vê-la várias vezes
Em seu leito de agonia,
Queria que entendesse
Que só seu bem queria...
E o meu amor por ela
Crescia a cada dia...
Mas minha voz calou
Meu pranto a embargou,
Voltei a ser menina, que conhecia a dor.

Carmen Lúcia

Foto de João Freitas

CONTO DE FADAS

CONTO DE FADAS
Que bom tempo a memória me traz do colégio, dos amigos, da alegria de viver, da falta de futuro.
Todos iguais, com gostos convergentes, muitas disputas, quase sem lideranças.
Primeiro amor, mesada, poucas tarefas em casa, comida e roupa lavada.
Política, de ouvir falar, esperando o final do horário gratuito.
Mas um dia, no dia a dia, amigos ficam distantes, cobranças tornam-se reinantes.
Novas vidas adentram na de cada um, desviando caminhos, antes paralelos.
É a tal idade adulta, matando a infância e a adolescência.
São desencantos, que transformam carruagens em aboboras e cavalos em simples roedores.

João Freitas - Direitos autorais registrados.

Foto de Gideon

O Theatro da minha vida

Domingo, 2 de outubro de 2005

Na sexta-feira passei em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia. Estava iluminado. Era noite. Tinha um enorme cartaz, que já estava lá há tempo anunciando espetáculos a preço popular.
Meu coração pulava pela ânsia da arte. Tenho fome de arte, todo o tipo dela. A cada dia reconheço que deveria ter estudado Arte, não Economia e Informática. Às vezes penso que ainda há tempo para estudá-la. Tavez entrar em uma faculdade de Artes, enfim. Aliás, estou amadurecendo a idéia de fazer faculdade de Violino. Tenho estudado arduamente, diariamente. O cartaz do Theatro Municipal estava chamativo. Pensei rápido: Meus filhos, vou trazê-los aqui!.

Cheguei em casa e liguei para a Idailza avisando-a de que no Domingo eu levaria o Jean ao Theatro Municipal. Ela passou o telefone para ele e então ouvi um “Oba!” feliz.
Liguei para a Irani, irmã de Idailza e que é mãe da Priscila e de duas gêmeas de 8 anos, lindas: Paloma e Paola.
No domingo levantei-me às 6:30. Ageitei-me e camihei para apanhar o Jean, Paloma e Paola. A Paola é apaixonada por Violino. Diz ela que quer aprender este instrumento ainda na infância. Elas duas já estavam agitadas quando eu
e o Jean chegamos lá. Enfiei todo mundo no Pálio, passamos na Nete, outra irmã de Idailza, para convidar a Dayane, sua filhinha, mas ela não pode ir.

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro é lindo por fora e por dentro. Deslubrante mesmo. As crianças quase ficaram com o pescoço duro de tanto olharem para o alto. A Paola disse:

- Tio, aqui está cheio de mulheres peladas.

Onze horas em ponto a orquestra estava a postos e entrou o maestro. Para a minha surpresa agradável era o grande e conhecidíssimo Isaac Karabtchevsky. Meu coração disparou a mil por hora. Confesso uma coisa aqui. Também foi a primeira vez em que entrei no Theatro Municipal. Desde garoto sonhava ir lá. Sempre ouvia meus colegas na banda de música falarem sobre o Municipal. Quando cresci e passava em frente a este monumento, sempre via a classe rica descendo de seus carros com seus chofés e então concocluía que aquilo não seria para mim.

Ainda menino quando eu solava o Prelúdio La Traviata de Verdi no clarinete junto com a orquestra me imaginava em uma grande orquestra no Teatro Municipal com o corpo de balé se movimentando ao som da música que eu tocava. Bem, isto ficou somente na imaginação mesmo, pois jamais toquei no Municipal.

Enfim, voltando ao espetáculo. O maestro, após a verificação da afinação feita pelo spala, dirigiu-se ao público de forma muito simpática e passou a explicar situações de ensaios etc. Pois é, o espetáculo seria iniciado, como foi, com o Hino Nacional. Isaac Karabtchevsky fez uma brincadeira com o público lançando um desafio para ver quem conseguiria cantar o Hino Nacional inteiro sem errar. Deu chance para três pessoas mas ninguém conseguiu. Todos rimos muito e finalmente, ao seu comando, todos se levantaram para cantarem o nosso Hino Nacional. Foi um momento de muita emoção. A orquestra iniciou a apresentação e pude sentir aquele espírito da arte passeando pelas galerias do Theatro. Todos em silencio com a atenção direcionada para o palco. A Paola fez carinha de choro de emoção e todos rimos um pouco dela. Ainda bem que não notaram a minha cara de choro também, pois não resisto a concertos sem chorar. Claro que disfarço o quanto posso, mas nem sempre consigo. Enfim, o espetáculo acabou e voltamos todos felizes para a casa. Antes, tive de passar no Mc Donald com as crianças. Enfim, visitei o Theatro Municipal do Rio de Janeiro que tanto visitou as minhas ânsias musicais.

Todos rimos. Ela se referia aos afrescos e vitrais com os painéis do Theatro. Chegamos cedo e compramos quatro ingressos na galeria nobre. Entramos na nave do Theatro, nos sentamos e ficamos observando os músicos afinarem os seus instrumentos. O Theatro estava lotado. As crianças não paravam de olhar os vitriais e as obras de arte.

Foto de Cy Nara

Saudades

Sinto saudades de ti;
Não mais a saudade doída que te nega a partida e lamenta a tua ausência.
Aquela que angustia, corroendo mente e peito em dores afastando do coração o prazer.
Sinto daudades de ti;
Não mais a suadade doída que te nega a partida e lamenta a tua ausência.
Aquela que trás lágrimas aos olhos e tristeza ao olhar.
Sinto saudades de ti;
Não mais a saudade doída...
Aquela que faz com que minha face se renda agravidade e a dor,arqueando a angulação dos meus lábios para assim privar do meu rosto o sorriso.
É, sinto saudades de ti;
E o som da tua voz guardado na lembrança, me inunda o peito e todos os sentidos.
Tal qual as cores, cheiros e gostos sendidos na infância.
Meus olhos brilham, meu coração se alegra.
Agravidade e a dor não mais existem.
Agora sim, consigo vislumbrar com clareza a imensidão do gostar.
Como foi bom ter podido um dia te reencontrar!
Ah! Sinto saudades de ti;
E nesse exato momento,em contradição a melancolia que poderia advir de tão saudoso sentimento.
Posso sorrir! trazendo aquecido meu peito com o carinho que contigo aprendi.
Eu esstou feliz, em paz...
Porque sim. É assim!
Sim, eu sinto saudades de ti.

Foto de Carmen Lúcia

Em busca de mim...

Venho de infância dorida
Esquecida em cirandas da vida
Em que sonhos antes de se sonhar
Tendem a acabar, sem mesmo começar...

Venho de adolescência sofrida
Coerente com as incoerências
Que a juventude desenha na vida
(In)conseqüência da infância perdida...

Sigo por uma estrada que nunca existiu
Clamando o amor que jamais me sorriu
Buscando a flor que o espinho feriu
Pisando as pedras que o destino esculpiu...

Mas vou...sigo...persigo...prossigo...
Tentando me buscar, me resgatar
Quem sabe se ao ser gerada
Tenha sido semente amada
Que ainda será brotada
Renascendo em direção da luz...

Carmen Lúcia

Foto de Sonia Delsin

O FANTASMA DA SALA

O FANTASMA DA SALA

Quando menina eu sempre ficava com minha mãe na sala aguardando a chegada de papai. Ele saía todas as noites, fizesse tempo bom ou ruim. Era um hábito que tinha, e do qual só se livrou quando eu já estava com quinze anos de idade.

Ficávamos um tanto inseguras na casa sem uma presença masculina, porque morávamos numa chácara.

Minha mãe era uma mulher corajosa e depois de ter trabalhado o dia inteiro ainda contava lindas estórias para nos distrair, todas as noites. Hoje eu me pergunto onde ela conseguia tanta força para suportar tudo o que suportou.

Ouvíamos o nosso velho rádio. As radionovelas... mas a minha paixão eram as estórias de fadas, princesas, príncipes encantados. Eu poderia ouvir mil vezes Cinderela (morria de pena da borralheira e vibrava com o final da estória) e ainda assim queria ouvir de novo. E "Joaninho Pequenino"!... Esta meus irmãos queriam ouvir mais e mais.

Eu nunca ia dormir antes papai chegasse. Minha mãe embalava um a um até que dormisse e eu ficava "firmona". Aguardava-o porque ele sempre trazia doces e também porque o amava tanto e queria vê-lo ainda uma vez antes de pegar no sono.

Enquanto o aguardávamos ficávamos as duas na sala, minha mãe e eu, e foram as melhores horas de minha vida (aquelas horas tão nossas).

Não sei depois de tantos anos se estávamos sugestionadas pelo ambiente, ou se pela ausência de papai, pelas nossas cabeças tão capazes de fantasiar... mas o fato é que minha mãe e eu víamos um fantasma.

Verdade mesmo! Ele se esgueirava rente a parede da sala e adentrava pela porta semi-fechada do quarto da nona. Usava um chapéu na cabeça e logo que ele entrava no quarto a impressão que tínhamos era que a noninha conversava com alguém.

No outro dia ela dizia: O "Queco" veio me visitar de novo esta noite.

Cresci assim, com aquele fantasma passando rente a parede e nem o estranhava mais. Ele fazia parte das nossas noites. Nem nos assustava.

Confesso que sentia mais medo quando as folhas das bananeiras balançavam-se com o vento do que com aquela figura que lentamente passava por nós.

Não conheci pessoalmente este meu avô, pois que faleceu bem antes de meu nascimento. Mas o vi, o senti, ou sei lá o quê. Ele fez parte de minha infância. Não foi um fantasma assustador, foi uma presença fluídica que ficou entre as tantas e tantas incógnitas que não decifrei em minha vida.

Foto de Henrique Fernandes

AMO-TE PAI

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.
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Pai, não te tive na minha infância
Como ambos desejaríamos
Porque andavas ocupado com a vida
Numa luta constante pelo meu alimento
Um sacrifício pelo meu melhor futuro
Mesmo assim, ocupado naquela luta
Por entre muitos breves momentos
Foste o meu pai
O muito pai que sempre foste e serás
E quando finalmente conseguiste
Um pouco deste meu melhor futuro
Partiste
Levando contigo o resto da sabedoria
Que hoje me falta
É com alegria que te recordo
Foram tantos os sorrisos sinceros
Foram gargalhadas, foram brincadeiras
E aprendi ouvindo os teus sermões
Quando ralhavas aos meus erros
E tanto mais que me ensinaste
Sou a continuação do homem que foste
Respeitando teu presente do passado
No hoje de cada dia com saudade
Dos abraços que ficaram por dar
Das conversas que não tivemos
No tempo que nos foi tão curto
Mas acredito que de onde estejas
Estás comigo nos melhores valores
Desculpa todas as desilusões que te causei
Amo-te pai

(Ao meu pai Vitorino Fernandes que já está noutra dimensão)

Foto de Sonia Delsin

DÓI A LEMBRANÇA

DÓI A LEMBRANÇA

Meu olhar se perde no que resta...
Da floresta.
Os galhos que se balançavam estão na minha lembrança.
Eu guardei o meu lugar.
Guardei a relíquia da minha infância.
Passo lá e olho o que sobrou.
Meu peito fica apertado.
Suspiro fundo, suspiro dobrado.
É do meu passado.
A floresta em festa.
As abelhas, os pássaros, o vento nas folhas...
O cheiro.
Deus, o cheiro de mato!
Guardo tudo e a reminiscência chega a me doer.
Parece que meu coração vem moer.
Quem diria que uma pequena floresta ia morrer?

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