Indiferença

Foto de Sirlei Passolongo

Qual a tua cor?

Se a pele
Não é alva
Não consegues ver
A alma?

Olhas com indiferença
Aquele que não consegues
Enxergar a grandeza
Do espírito...

Olhas com indiferença
Mas não vês a ti mesmo...
Julgas pela cor
Mas nunca observou
Quão negro é teu coração.

(Sirlei L. Passolongo)

Direitos Reservados a Autora

Foto de Darsham

O Amor...Incómodos à parte

Tenho um problema com o amor, um grave problema! Ouço dizer por aí, pelas bocas do mundo, pelas letras soltas que vejo e revejo em papéis perdidos em cada canto de vida que o amor é a coisa mais bela que existe…
Chega a cansar os meus ouvidos de tanto ouvir a palavra AMOR!!!
Enaltece-se de uma forma sublime…em filmes…em palavras…em livros…em poesia…na música…Vê-se e ouve-se amor em todo lado (para os ouvidos e corações atentos, claro está) que chego a sentir-me profundamente enjoada.
Não, ao contrário do que possam pensar, eu não sou uma pessoa insensível, pragmática, vazia, distraída…Eu escrevo poesia, sou a voz do amor para quem não pode ouvir… Eu ouço Beethoven, Chopin, fado…choro ao ver uma peça de ópera, comovo-me com filmes românticos, voo para longe enquanto leio cada linha que Nicholas Sparks escreve…e tenho em mim todos os sonhos do mundo…
O que me incomoda não é a existência do amor, ou até é, não sei…é tudo muito dúbio…
Incomoda-me a banalização, o dizer por dizer, o falar por falar…e o coração? Será que ainda alguém sabe o que é amor? Amor sem razão, daquele que nos atraca o coração e nos despe a alma? Daquele que nos sacode os bolsos da sensatez…daquele que nos amarra sem cordas, nos cala a voz…daquele que nos tira a respiração e nos faz acreditar que vamos morrer por não termos espaço em nós para estacionar este avião que invadiu o nosso coração…
Será que entre a pausa para o café, e os pagamentos do mês ainda se tem tempo para reflectir sobre o amor? Será que todas as bocas que expressam a palavra amo-te atribuem o verdadeiro valor a este sentimento tão sublime e majestoso?
Incomoda-me, claro que me incomoda ver almas vazias e desprovidas de sensibilidade, que faria revirar na sepultura grandes poetas que a historia não esquece, verbalizar, assim, como se fosse uma pancadinha nas costas a palavras amo-te…amar não é só falar, é praticar, é encher-se de vida e gritar ao mundo que no peito nada cabe mais…
Incomoda-me também que não existam teses sobre o amor, em que expliquem tudo o que há a ser explicado sobre ele, para que o possamos conhecer e reconhecer, para que saibamos quando encontramos o nosso amor, o verdadeiro, a outra metade de nós, que nos completa…podemos viver toda uma vida com a pessoa errada, sem sabermos onde está a certa, ou sabermos, mas nada podermos fazer, porque o tempo já é outro e construíram-se outras histórias, das quais não fizemos parte, por termos construídos outras, paralelamente…
O amor rege a nossa existência; determina quem somos; representa-se nas nossas convicções, princípios, crenças e atitudes e descreve a sua rota nas linhas do nosso rosto, no brilho do nosso olhar, abrigando-se no nosso sorriso…à espera da noite…ou do dia…
A dualidade do amor… isto também me incomoda, de verdade, esta sombra dúbia que me chicoteia por dentro, que me finta o discernimento e me espanca a razão…tanto nos pode elevar às estrelas, como nos faz cair e bater em cheio com a cara no chão…sussurra ou grita-nos, queima-nos ou gela-nos, dá-nos o sorriso ou a lágrima, protege-nos ou abandona-nos…e aquilo que é contrário do bom, não é bom e dói…
Quando temos amor por alguém a vida fica tão mais fácil, não temos medo de nada, somos capazes de atravessar o mundo se for preciso e sorrimos muito, muito mais …se o amor parte, uma parte de nós também vai com ele e tentamos dia após dia, encontrar razões que nos façam sorrir, procurando formas de conviver com a solidão, para que não doa tanto…o coração fica apertado e lentamente vamos encontrando o nosso caminho, descobrindo novos horizontes, navegando para outras margens…renascemos numa nova vida e colocamos mais uma pedra no castelo da nossa identidade e unicidade. Encontraremos outro amor, que nos devolverá o sorriso, de uma forma espontânea e tudo faremos para que os erros que sejam cometidos nesta nova história (sim, porque os erros fazem parte de nós) tentem ser compreendidos e ultrapassados, tentando edificar estruturas sólidas em termos relacionais…
Porventura, voltará a suceder-se o mesmo e o ciclo recomeça, ou poderá realmente dar certo naquela vez, mas por mais voltas que a vida dê, por mais labirintos que percorramos, haverá sempre uma porta aberta para o amor.
O amor transporta-nos em viagens alucinantes por caminhos desconhecidos no nosso interior…já procurei mil e uma maneiras de descrever este sentimento tão…tão…indecifrável e transparente ao mesmo tempo e nunca consegui passar para as letras a magnitude, a cor, o som, a temperatura, a textura, o odor, a mistura, a mescla de coisas unas e simples que nos invadem a alma e nos descabelam a lucidez que se apossa de nós quando experimentamos o amor…
Porém, encontrei uma “definição” que até hoje me pareceu a mais perfeita e a mais simples. É uma pequena parte de uma passagem da Bíblia, que integra «1Cor.13», e é assim:
“…O amor é paciente, o amor é prestável, Não é invejoso, não é arrogante, nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê. Tudo espera, tudo suporta…”

Digo que para mim esta é a definição mais perfeita do amor que já li, pela sua simplicidade e no entanto faz-me questionar e pensar tantas coisas…ou o amor entrou em vias de extinção, e as únicas espécies sobreviventes que o encarnam vivem no outro lado do globo, ou então esta pequena passagem sobre o amor, que tanto gosto, não passa de uma utopia, um discurso naif…publicidade enganosa?
O certo é que, aparte as utopias, a publicidade enganosa e os incómodos de que me queixo, o amor é o pão-nosso de cada dia, é o nosso alento, a nossa motivação, muitas vezes o perdão…sem ele, o amor, a vida é a preto e branco, o mar é só uma enorme porção de água, os dias não têm propósito, a música é só mais um barulho que chega aos nossos ouvidos, somos gelo…somos parasitas...
Incomodam-me muitas coisas no amor, mas o que me incomoda de verdade, é não amar, muito mais do que não ser amada…ao não amarmos não reconhecemos nem valorizamos o sentimento do outro, não sentimos, não somos, não se é! Porque o amor é o milagre, é o sentido, é a matéria de que somos feitos, é como que um culto a seguir…
Porque o amor é querer ser muito mais do que ter! É a harmonia entre histórias, atitudes, pessoas, credos, cores, partidos, clubes…a vassoura da diferença e indiferença, é a medida certa…qb (quanto baste) …
Prefiro amar, e só amar, ainda que nunca amada, pois de contrário não serei abençoada…
Beberei eternamente pelo cálice do amor, mesmo que sede não tenha e darei a beber de quem da secura padeça…

Depois de dar nós ao cérebro para tentar tirar o itálico do resto do texto, acabei por desistir, antes que o computador ficasse com ferimentos graves (risos). Se alguém me puder ajudar agradeço!

Beijinho
Darsham

Foto de Manu Hawk

Mágoa

Você chegou com a noite,
e com ela se foi...
Deixou uma saudade de algo
sonhado, mas nunca tocado;
desejado, mas não esperado;
vivido, mas não realizado.
Você despertou emoções fortes,
guiou-me por caminhos confusos,
entre a raiva, amizade, paixão, e tesão.
Hoje dói quando penso em você,
embora exista tanto carinho,
sei que não tenho o mesmo.
Sinto sua raiva, indiferença,
toda mágoa que causei,
por ter sido, talvez, sincera
ou inconsequente.
Você é muito querido,
está guardado aqui dentro,
mesmo achando que nada significou.

(por Manu Hawk - 10/11/2008)

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Respeitem os Direitos Autorais. Incentivemos a divulgação com autoria. É um direito do criador que se dedicou a compor, e um dever do leitor que apreciou a obra. [MH]
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Imagem editada com esse poema:
http://2.bp.blogspot.com/_nBlU_bxmX1o/SRe4hXVzWcI/AAAAAAAAAK0/BVpdBNgT9JQ/s1600-h/magoa.jpg

http://manuhawk.blogspot.com/

Foto de jeankarlos

ORAÇÃO DOS EXILADOS

Senhor!

Minha terra tem fumaça

O céu não da pra enxergar

As aves intoxicadas

Não tem forças pra cantar.

Nossas crianças têm fome

Vivem em morros dos horrores

Trazem droga empacotada da juventude roubam as flores.

Minha terra tem indiferença o que não existe aqui

Tem choro de criança o que não suporto mas ouvir.

As aves intoxicadas

Não tem forças pra cantar.

“Deus, que eu morra mas não volto para lá.”

( JK INSANO )

Foto de von buchman

Teu descaso é o meu real sofrer...Respostas Deusinha & Kiss

Não sei por que, mas sinto-me sendo descartado por ti...
Já não és a mesma pessoa que um dia eu conheci
e me apaixonei...
Tuas palavras e teus versos não são mais os mesmos...
Tuas palavras de carinho, que um dia me davas ,
hoje são meras palavras, somente de amizade e respeito...
Não vejo entusiasmo de tua parte por nada que escrevo...
Meus poemas e versos, nada mais valem para ti...
São meros rabiscos num papel descartável...

Um dia fui teu sonho...
Um dia fui teu amor...,
Um dia fui teu desejar...
Procurei saciar tua sede de amar
e realizar tuas fantasias do pecar....
Hoje, talvez, não passe de algo descartável na tua vida,
ou no máximo, um mero amigo ou companheiro...

Sinto-me abandonado e talvez, rejeitado...
Tuas doces palavras que um dia eu tinha e viajava...
hoje não passam de algo do passado...
Tenho saudades de ti...
Teus carinhos , tuas palavras ,
que um dia faziam parte do meu dia a dia,
hoje não passam de ecos do passado...

Que fiz para merecer teu desprezo...
Ou tua indiferença...
Te amo e te amei ...
Te desejo tanto ...
Talvez meu erro foi ser só teu...
Endeusei-te..
Fiz-te minha musa e o meu inspirar ...
Fiz-te meu realizar e o meu concretizar ...
E hoje vivo só um lembrar...
Dos teus versos e do teu amar...
Como fui infantil...
No meu real viver atual,
Vivo um sofrer por alguém
que achei que me amava...
Que me desejava e me fazia sonhar...

Que fiz para merecer este teu desprezo
e abandono...
Estende tua mão...
Alcança-me...
Tira-me do lodo do sofrimento...
Devolve-me a minha alegria...
O meu sorriso e o meu viver...
O inverno castiga meu coração...

Já não há flores no jardim
da esperança do meu amar ...
O tédio e o sofrer tem sido meus companheiros
no dia a dia do meu viver ...

Nunca pensei que derramaria lágrimas por alguém...
Mas hoje elas rolam em meu rosto e ardem como fogo,
pois brotam do meu sofrido coração...

Volta para mim, meu amor...
Faça renascer a esperança no meu coração...
Confesso que dependo de ti para viver...
Dos teus poemas...
Do teu olhar...
Do teu desejar...
Do teu sonhar...
E ...
Do teu amar !

Posso até ter te perdido....
Mas nunca vou deixar de te querer
ou de te amar...
........

resposta de minha Deusinha...

Eu não te esqueci,
Apenas meu coração está doido de tanta tristeza.
Morreu, perante tanta indiferença.

Eu não te esqueci,
Apenas a desilusão tomou conta de mim,
Sofro ainda por te amar...

Eu não te esqueci,
Mas teus poemas não são mais para mim,
Tuas palavras repetem-se a outras deusas,
A outros amores.

Eu não te esqueci,
Pois meu coração,
Não sabe viver sem o teu.
Minha vida,
Não faz sentido sdem a tua.
Minha alma vazia,
Ainda procura o teu caminho.

Eu não te esqueci,
Apenas adormeci...
E esqueci-me de quem nós fomos.
Deusaii
..........

resposta do anjo do pecar...

O teu silencio foi o meu sofrer

Por dias te procurei e não te encontrei
achei que tinha de mim se esquecido
para te nada mais era meus escritos
senti falta dos teus mimos
Não deixei de sonhar
com suas mãos....
sua voz...
com teu alhar...
sua boca a me beijar...
meu amado
eu não te abandonado
apenas fiz parte do teu silêncio
que invadiu minha vida
que me levou a
um jardim sem flores..
um choro sem fim...
noites sem dormir...
voce é meu amado
aquele que eu tenho me apaixonado
me encantado me entregado a todo instante
te pesso perdão por maltratar teu lindo coração
segure fieme em minhas mãos
jamais irei soltar as suas
voce faz parte de mim...

você é

voce é meu sonhar...
voce é meu amar...,
voce é minha fantasia o meu desejar...
voce é minha alegria...
voce é o meu sorriso e o meu viver...
voce é a pulsar do meu coração......

Mil... kiss_Kiss
doce...como..mel...

. . . . . . . . . . . . .
Tenhas meu eterno amar e meu mais ousado desejar...
Beijos e mimos de paixão
de quem nunca poderá esquecer-te
ou deixar de amar-te..
ICH LIEBE DICH ...
JEG ELSKER DIG ...
do Von Buchman

Foto de Osmar Fernandes

Isso não é amor é doença

Você pega demais em meu pé.
Não me deixa em paz um só minuto.
Desconfia até de minha fé.
Amor assim, só vive em luto.

Essa sua indiferença tão vulgar,
Ainda vai nos separar.
Já tentei provar que eu te amo.
Assim, você apaga nosso sonho.

Esse sentimento de amor,
Está sempre na UTI...
Não tem antídoto essa dor.

Isso não é amor, é doença!
Você acredita em todos tititis...
Ensina-me qual a sua crença.

Foto de Dennel

Suicídio do amor

Você me questiona a respeito das minhas afirmações, quando a culpo por meu sofrimento e desilusão. Você surgiu na minha vida quando meu coração estava tranqüilo e descompromissado. Na ocasião nada queria, a não ser a companhia dos meus amigos e aconchego da minha família, paixões não estavam nos meus planos.

Vindo não sei de onde surgiu você, linda, faceira e sapeca. Quem me chamou a atenção para sua beleza e encanto foi meu amigo (que hoje sei, não tão amigo), me incentivando a corresponder à sua paquera, detalhando o seu interesse por mim. Antes tivesse me tornado cego, surdo e mudo às suas ponderações.

Pouco a pouco, nos conhecemos e nos envolvemos; meus dias adquiriram uma nova dimensão, coloridos, surpreendentes e felizes com sua presença. À medida que os dias avançavam nossa felicidade aumentava, decorrente do amor que acreditávamos sentir.

Víamos nosso futuro construído a partir de uma base familiar, eu com minhas ocupações externas. À noite, quando voltasse, seria recebido pelo cão festeiro, alegre pelo regresso do seu dono; era recebido por você com um longo e ardoroso beijo, no tapete da sala, nosso pequenino encantado.

Quanta desilusão! Não sabendo como ou porque, os sonhos foram abruptamente interrompidos, os planos desfeitos. Busco incessantemente as razões do seu afastamento, inquiro meu coração, procuro onde poderia tê-la magoado, sem contudo, lograr êxito. Você não atende a meus telefonemas, não retorna aos meus e-mails; até sua família aumenta a minha dor e desilusão, ao mentir que você saiu.

Ontem te encontrei; até chorei de emoção, bateu forte o coração, as mãos suavam, e a palavra emperrou na garganta, permitindo-me apenas um “oi” que nem sequer foi respondido. Sua indiferença fez ruírem todas as minhas esperanças, meu olhar embaçado viu quando você cruzou a esquina, desaparecendo para sempre.

A amargura que sinto leva-me a escrever estas linhas, por favor, não repare na letra tremida; pois se escrevo não é para despedir-me, mas como o penúltimo ato anunciado de uma partida, partida da qual você é a causadora, ao me vender o último bilhete para embarque, fruto da sua insensibilidade.

Não lhe darei o direito de defesa, pois tem todas as culpas, inúmeras vezes me enfeitiçou com seu olhar, outras, prendeu-me com um sorriso magnetizado, do qual não conseguia livrar-me.

Creio que sequer uma lágrima será vertida, porém, quando me vires rodeado de flores, notarás um discreto sorriso no canto de meus lábios, sorriso irônico, de acusação, como a gritar para a sua consciência as palavras de acusação que em vida meu coração não permitiram. Olharás em volta e sentirás como se as demais pessoas estivessem te condenando, então saberás que é tarde, muito tarde para arrependimentos.

Juraci Rocha da Silva - Copyright (c) 2006 All Rights Reserved

Foto de LUCAS OLIVEIRA PASSOS

AS ESTRELAS

As estrelas Lucas Oliveira Passos

As estrelas estavam lá, no pedaço de céu que me cabia apreciar pela janela, naquele leito de hospital em que eu me encontrava, arrasado e sem entender nada...mais uma vez minha vida mudava completamente, numa guinada imprevizível...a necessidade da cirurgia, a gravidade da doença, e por fim a notícia que tentaram me passar e que me recusava a entender, sabia que era algo terrível, algo que teria que me lembrar e aceitar para o resto da vida, mas naquele momento o bloqueio não permitia, eu não conseguia pensar, apenas aquela imensa tristeza, e um gigantesco desejo de morte que nunca havia sentido antes em toda minha vida.

A enfermeira se aproximou sem fazer qualquer barulho, e cuidadosamente fechou a pequena janela, próxima ao meu leito, minha única referência para o mundo exterior, minha única fuga para os pensamentos terríveis que invadiam minha mente.

- Tenho que fechar a janela, os outros pacientes estão reclamando do frio, me desculpe, sei que é a única coisa que parece lhe interessar...

Assim, todas noites, meu céu quadrado e pequeno, contido nas dimensões daquela janela, se apagava irremediavelmente, as estrelas, que eu tanto estudara e pesquisara, por puro deleite, em certa etapa da vida, eram agora meu único consolo, me faziam pensar no tão pequeno que eu era, naquela imensidão tamanha do universo.

Não sabia quanto tempo já se passara desde o dia em que me internei com câncer e uma hérnia abandonada por muito tempo, calculava algo em torno de uns seis meses, tudo fora um sucesso segundo os médicos, mas meu corpo não era mais o mesmo, meus 75 anos pesavam bastante no processo, o restabelecimento era lento, a angústia era grande, havia algo medonho a ser encarado, assimilado e entendido...um amargo na garganta, um peso imenso no peito...por que meu cérebro se recusava a processar a notícia que foram me dar? Minha filha Aninha, por que não aparecia mais no hospital para me visitar?

As lágrimas brotavam abundantemente nos meus olhos, não devia ser assim...tão acostumados com o sofrimento devido aos anos de trabalho voluntário na ajuda desvalidos...comecei a lembrar palavras que foram ditas...concluí que havia acontecido com Aninha algo terrível, agora ela era apenas uma pequena estrela no céu e ao mesmo tempo uma chaga aberta para sempre no meu peito, para o resto do resto de minha vida, pois minha vida agora só seria um resto, que talvez nem merecesse ser vivido...chorei a noite inteira...nunca fora de chorar, nunca chorava, mas era impossível evitar...comecei a recordar o passado e parei exatamente quando Aninha havia entrado em minha vida...antes de nascer...ainda quando era nada mais que uma promessa de vida no corpo de uma mulher, quinze anos atrás...em um ponto de ônibus em Copacabana...

- Tu podes me ajudar? Estou com fome, estou grávida, meu namorado me abandonou, minha família não quer me ver, cheguei de Curitiba ontem e não como nada a dois dias, preciso que alguém me ajude...

Olhei a mulher nos olhos atentamente, estimei não mais que 30 anos para sua idade, observei todo seu corpo, era bonita, estava maltratada, entretanto vestia roupas de qualidade...seus olhos mostravam que estava em situação de carência e mêdo, o corpo, uma gravidez de no mínimo dois meses, senti muita pena dela, eu nunca abandonaria uma mulher à própria sorte, mesmo sendo desconhecida, e assim me senti envolvido e pronto para ajudar...

- Qual é o seu nome, moça?

- Sonia, mas tu podes me chamar como tu quizeres, se puder me ajudar te agradeço muito...Tu és casado, posso ajudar no serviço da tua casa?

Aquela pergunta me fez lembrar que já fora dezenas de vezes, não no papel, mas a muito tempo este conceito de ser ou estar havia perdido o significado em minha vida, deixava o amor fluir da forma que viesse, amava as mulheres incondicionalmente, deixando-as livres para entrar e sair de minha vida como bem entendessem, aprendi a recomeçar sempre que fosse possível, sem olhar para trás e sem me importar com nada, estivera diversas vezes no topo e na base, e sabia que após tempestades a terra se torna fértil e pronta para a fecundação, e que o importante eram os dias de sol que viriam, trazendo lampejos de felicidade...pequenos momentos que tinham que ser aproveitados antes que se acabassem...não fechava nunca qualquer porta que pudesse permanecer aberta em minha vida, essa era minha filosofia de vida, era como eu me sentia...

- No momento estou morando sozinho, se você quizer, eu te levo para minha casa, lá você pode se alimentar, tomar um banho, trocar de roupa e ficar quanto tempo quizer...até ter um lugar melhor para ir...quando quizer ir...

E assim, desde o primeiro dia morando em minha casa, Sonia se posicionava como minha mulher, sem reservas, na cama inclusive, sem nada perguntar, sem nada pedir, com seu olhar meio ausente e distante, por vezes inquieto.

Comecei a perceber que Sonia seria um pássaro passageiro em minha vida e não demoraria a se lançar em novo vôo, e isto me incomodava, havia me apaixonado mais uma vez e agora amava Sonia e a pequena semente que crescia no seu útero, fecundada por outro homem, mas já adotada totalmente por mim. Passei a visitar minhas tias levando Sonia e a promessa de Aninha, cada vez maior em sua barriga, apresentando-a como minha nova companheira, na extrema tentativa de faze-la gostar daquela opção de vida, mas sentia que o olhar de Sonia estava cada dia mais longe.

Tinha percebido desde o início que Sonia, assim como meu falecido filho Lalo, apresentava sintomas típicos de viciados em drogas, a abstinência estava lhe pesando cada vez mais e chegaria a um ponto em que ela não suportaria ultrapassar...isso me aterrorizava e me fazia passar noites em claro procurando uma alternativa, abri o jogo com ela, mas ela negou tudo e inverteu a situação, dizendo que se eu queria um motivo para me livrar dela e de Aninha. Talvez Sonia nunca tenha sabido o quanto me feriam essas afirmações...o quanto era grande o meu amor por ela.

O tempo foi passando, dias, semanas, meses e finalmente Aninha nasceu, pequenininha, indefesa, totalmente dependente de tudo e de todos, sem saber em que mundo fora lançada e por quanto tempo...eu tentava esconder as lágrimas que brotavam de meus olhos quando observava a total indiferença de Sonia em relação a Aninha, e comecei quase por adivinhação do que viria, a ler tudo sobre crianças.

Quando Aninha completou duas semanas de vida, cheguei de uma entrevista para um novo emprego e não encontrei mais Sonia, ela havia partido, deixando apenas um pequeno bilhete junto ao berço. Sonia levou quase todo dinheiro de nossas reservas, Aninha passou nesse momento a ser responsabilidade e problema apenas meu. Eu me recusei a acreditar, andava pelas ruas olhando em todas as direções, procurando por Sonia, levando fotos, falando com drogados, mas nenhum sinal de Sonia, devia estar longe...talvez em Curitiba...talvez em qualquer lugar do mundo, bem longe dos meus olhos mas ainda dentro do meu coração, ocupando um espaço imenso e significando talvez a maior derrota de toda minha vida.

Sentia uma imensa agonia e abraçava Aninha toda vez que precisava sair para conseguir algum trabalho, agora eram apenas eu e ela, apenas nos dois para enfrentar o mundo e lutar pela vida. Como conseguiria trabalhar e ao mesmo tempo cuidar do bebe, teria que conseguir uma atividade que pudesse ser feita em casa, que não tomasse todo meu dia...tinha que conseguir voltar ao topo, com bastante dinheiro seria mais fácil resolver as coisas... nunca me importava com o dinheiro, mas agora ele era a coisa mais importante para que eu pudesse cumprir meu juramento, daria o máximo do resto de minha vida para que o futuro de Aninha fosse o melhor possívcel...eu sempre recomeçava...já não me assustava com isso... e assim fui vivendo aqueles dias de angústia e amargura, tendo como único prazer observar a vida e o tempo fazendo de Aninha uma menininha cada vez mais linda.

O tempo foi passando e meu trabalho em casa, com desenho, arte final e fotografia, conseguia manter Aninha na escola, ela estava cada dia mais linda, com seus dois aninhos completos, me chamava sempre de paizinho, o que me deixava orgulhoso, eu já aceitava que iria viver apenas para que aquela criança pudesse ser alguém neste mundo hostíl, e assim evitava agora me envolver com outras mulheres, vivia só para Aninha.

Quando Aninha completou quatro anos, escrevi para minha tia que morava em Porto Alegre, que não via já a uns vinte anos. Informei sobre minha vida e minhas preocupações em relação a minha filha, a incerteza das coisas e a necessidade de ter alguém que pudesse ajudar caso eu ficasse doente ou morresse. A resposta de minha tia veio rápida, “venha para Porto Alegre, só aqui poderemos te ajudar, precisamos de alguém de confiança para a fábrica de tecidos, minha filha Tânia separou do marido e já não consegue tocar tudo sozinha, ele participa do conselho de administração, mas não do dia a dia da fábrica, entre em contato, poderemos nos ajudar, sei que você é competente quando está motivado, te esperamos aqui ”.

O convite me deixou orgulhoso e me fez sonhar com a possibilidade de estar perto de Curitiba e conseguir encontrar Sonia, ainda moradora em meu coração apesar de tudo o que acontecera, e assim, em poucos dias eu e Aninha já estávamos reduzidos a apenas duas grandes malas, que continham tudo que tinhamos na vida, também cheias de esperanças e sonhos de melhores dias em nossas vidas.

Quando os momentos são felizes, passam muito rápido, e assim, Aninha já estava fazendo dez anos de vida. A ida para Porto Alegre fora muito boa para mim, Tânia estava muito abatida com a separação e se dedicou totalmente a mim e a filha, embora tivesse suas duas filhas adolescentes para cuidar. Aninha vez por outra me abraçava e lamentava por mais uma vez não poder ter a oportunidade de conhecer sua mãe. Eu procurava a todo custo esconder as lágrimas que teimavam em rolar de meus olhos cerrados enquanto a apertava fortemente contra o peito, dizendo que um dia isso seria possível, que ela voltaria e seríamos felizes. Estava muito bem posicionado na empresa, como diretor de produção, mantinha dois detetives mobilizados na busca por Sonia que parecia ter se transformado em pó. Não sei até hoje, se foi por me observar sofrendo e sem ninguém para compartilhar, ou se foi para causar ciúmes em Silvio, que a largara para viver com outra mulher, que Tânia começou uma aproximação maior, me fazendo seu acompanhante a festas e jantares e fatalmente acabamos nos gostando e começando um relacionamento amoroso escondido.

Era um sábado de manhã, acordei bem cedo pois havia combinado com Tânia um passeio nas regiões serranas, recebi um recado de Tia Albertina, me chamando no seu escritório, não imaginava o que poderia ser, lembro que eu estava muito orgulhoso com as novas máquinas que haviam dobrado a produção, embora a contragosto dela, que achava que as empresas tinham que operar sem dívidas, e que votara contra a compra do novo maquinário financiado. Tânia ficara pela primeira vez em posição contrária a dela e a de Silvio, durante a votação do conselho de administração. Silvio visitara tia Albertina na véspera e falara em reparar um erro e voltar a viver com Tânia. Até hoje não sei se eu estava certo ou não, mas nunca imaginei ouvir de minha própria tia o que ouví alí;

- Canalha, acabou para você, eu confiei em você e você me traiu, não adimito, não posso acreditar que você se envolveu com Tânia, ela é muito mais nova que você, isso é um desrespeito, quero que você volte para o Rio de Janeiro, não quero você mais aqui, já fiz as contas e este cheque é tudo que você tem direito, pegue sua filha e suma daqui, hoje mesmo...

Rasguei o cheque na frente de minha tia e fui buscar Aninha, preparamos as malas, apenas duas grandes malas, largando todo o resto para trás, novamente cheias de esperanças e sonhos de melhores dias em nossas vidas...

Hoje, um ano após sair do hospital, começo a procurar pelos parentes que me restam e pelos vizinhos, só agora consigo falar em Aninha sem que a voz me escape e um pranto enorme me sufoque, foi muito duro tentar recomeçar a vida e tentar entender como tudo se passou, eu e ela fomos vivendo nosso amor fraternal, que aumentava a cada dia, e nos bastávamos, o mundo não tinha mais sentido, até que a necessidade da cirurgia nos separou pela primeira vez na vida, aquela profunda tristeza e o medo da minha morte foi capaz de matar Aninha, de uma forma tão violenta que o coraçãozinho dela, de apenas quinze aninhos, não aguentou a solidão, se recusou a bater e parou para sempre. Eu e meu velho coração, ficamos em coma várias semanas, porém já tantas vezes vacinado pelas angústias da vida, aguentei firme até hoje, embora não consiga aceitar o que se passou e sinto, cada vez que olho as estrelas, que Aninha está lá, linda como sempre foi em sua curta vida, sempre ao alcance dos meus velhos e cansados olhos, minha amada estrelinha...Minha filha Aninha!

Sigo a jornada da vida, cumprindo minha missão, voltei ao trabalho voluntário com os desvalidos, tentando dar um pouco de utilidade a este resto de vida, sei que é questão de pouco tempo, breve estarei com ela para sempre...junto as estrelas...

Foto de Sal

Alma só

Silêncio que oprime
Em alma desolada
Carente de afecto
De atenção
Peito prestes a rebentar
Num pranto de comiseração
De libertação ou exclusão
Nunca de indiferença
Alma só
Que apenas precisa
De um olhar teu
Um breve sorriso
Que aflore em teus lábios
Noite que se faz em dia
Perspectiva e ânimo
Replantados esmo que
Sejam falsos por
Ilusórios serem
Mas a vida é feita
De ilusões mais desfeitas
Que feitas, não posso
Não devo destruir a última
Esperança que ainda
Reside em minha alma
Torturada
Torturada de saber
Que há alguém que ame
Alguém ausente mas presente
Num breve sorriso
E numa vaga memoria

Foto de Rosinéri

A VELHA

Você já foi criança um dia...
Mas os anos se dobraram e fizeram de você um jovem, quase um adulto...
E agora você me olha com certo desprezo só porque muitos anos se dobraram para mim e hoje eu sou uma velha
Você observa minhas mãos trêmulas e se esquece que foram as primeiras a acariciar as suas, inseguras na infância. Critica os meus passos lentos, vacilantes, esquecendo-se que foram eles que orientaram seus primeiros passos.
Reclama quando lhe peço para ler uma palavra que meus olhos já não conseguem vislumbrar com precisão, esquecido das várias palavras que eu repeti inúmeras vezes para que você aprendesse a falar.
Diz que eu sou uma velha desatualizada, mas eu confesso que pensei muito pouco em mim, para fazer de você um homem de bem.
Reclama da minha saúde debilitada, mas creia, muito trabalho foi preciso para garantir a sua.
Ri quando não pronuncio corretamente uma palavra, mas eu lhe afirmo queesqueci de mim mesma, para que você pudesse cursar uma Universidade.
Diz que não possuo argumentos convincentes em nossos raros diálogos, todavia, muitas foram às vezes que advoguei em seu favor nas situações difíceis em que se envolvia.
Hoje você cresceu... É um moço robusto e a juventude lhe empolga as horas... Esqueceu sua infância, seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seus primeiros sorrisos...
Mas acredite, tudo isso está bem vivo na memória desta velha cansada, em cujo peito ainda pulsa o mesmo coração amoroso de outrora...
É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta... Só notei naquele dia... naquele dia em que você me chamou de velha pela primeira vez, e eu olhei no espelho... Lá estava uma velha de cabelos brancos, vincos profundos na face e um certo ar de sabedoria que na imagem de ontem não existia.
Por isso eu lhe digo, meu jovem, que o tempo é implacável, e um dia você também contemplará o espelho e perceberá que a imagem nele refletida não é mais a que hoje você admira...
Mas você sentirá que em seu peito o coração ainda pulsa no mesmo compasso... Que o afeto que você cultivou não se desvaneceu...
Que as emoções vividas ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos...
Que as palavras amargas ainda lhe ferem com a mesma intensidade...
E que apesar dos longos invernos suportados, você não ficou frio diante da indiferença dos seres que embalou na infância...
Por isso que eu lhe aconselho, meu filho:
Não ria nem blasfeme do estado em que eu estou, eu já fui o que você é, e você será o que eu sou...
Aquele que despreza seus velhos, é como galho que deixa o tronco que o sustenta tombar sem apoio.
A ingratidão para com os que nos sustentaram na infância é semente de amargura lançada no solo, para colheita futura.
Assim, façamos aos nossos velhos os que gostaríamos que nos fizessem quando a nossa idade já estiver bastante avançada.
Pensemos nisso!

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