SOLITÁRIA
Nas roscas da luxúria geme a virgem
Lasciva se abandona à vertigem
Impudente, tremeluz à luz da vela;
Sua forma revelada entre as cobertas,
As pernas arqueadas, entreabertas,
Estertora entre soluços a donzela.
Tola, se entregou a tal amante
Hirta e resoluta, jaz arfante,
Num doudo e ensandecido gozo;
Um rubro refulgir cobriu-lhe a face
No lânguido torpor do desenlace,
Sob o manto da penumbra foge o esposo.
Feéricas visões no teto dançam,
Luzes mornas no leito solitário lançam
Soturnas sombras, enleadas de langor;
Ele célere voltou p’ra outros braços,
Tredo, se aninhou noutro regaço,
E deletério, se entregou a outro amor.
Efêmera, translúcida alma,
Só agora te sobreveio a calma,
Só agora a solidão te basta;
Só agora aplacou seus medos
Só agora repousou seus dedos
Qu`agora brincam na cabeleira vasta.
Mas súbito a noite cai feito mortalha,
Nas árvores um vento lúgubre, farfalha,
Espalhando folhas secas pelo chão;
A ausência do amado tange o leito,
A ausência de amor lhe cinge o peito,
Qual adaga lhe trespassa e fere então. . .
Preada aos grilhões do sofrimento,
na falta do amado ,um tal tormento,
Que até mesmo dessa vida el`abriu mão;
Tens por sarcófago o corpo frio, por cripta o leito,
E por túmulo vazio, tens no peito,
uma lápide em lugar do coração.
Alva, transparente pousas nua,
Pálida, nitente à luz da lua,
Seu nítido contorno me seduz,
Debalde luta co`a tristeza, jaz cativa,
encerrada em seu sepulcro, morta- viva
qual vampira, refugia-se da luz.
Mas não! . . . basta! . . . um chamado,
Da vida, nas vertentes, ouço um brado,
Ë o sol qu`inda te clama, estais VIIIIIVAAA!!!
E te vejo ressurgir com passos tortos
Como Lázaro, rediviva, vens dos mortos,
Do étereo despertada, vens altiva.
Vem p`ra vida que é certo. . . Ah quem me dera!
Que um novo amor aqui `inda te espera,
Ademais, também, ainda sois tão bela.
Enterra os mortos e o passado lega à lama,
E sai desse torpor, formosa dama,
E vai viver a vida minha donzela.
BRUNO