Gosto

Foto de Lou Poulit

A MONTANHA E O PINTASSILGO (CONTO)

A MONTANHA E O PINTASSILGO
(Parte 6)

Naquela manhã não houve o habitual espetáculo de luzes dos coloridos véus da manhã, quando a alma da terra parece fazer vênias à chegada do astro-rei. A montanha cultivava especialmente o seu gosto por esse momento. Na verdade, ela se sentia uma montanha muito solitária, confinada em si mesma. Alimentava em segredo o sonho de, na próxima era, ser posicionada pelas contrações da terra em uma posição que lhe permitisse fazer amigas-montanhas. Tal era esse desejo seu, que em todo alvorecer de céu limpo ela adorava ficar observando as montanhas distantes distinguirem-se bem aos poucos do negrume, e as conferia como se pudessem ter dado uma saidinha furtiva durante a noite. Claro, elas estavam toda manhã nos seus respectivos lugares, mas mesmo assim a montanha gostava de fazer esse seu “confere” particular.

O sol já pairava sobre o horizonte, porém nuvens carrancudas e postas amontoadas pelos ventos, umas sobre as outras, só por uma espécie de concessão deixavam passar um raiozinho de luz, que ficava assim como cachorro-caído-do-caminhão, sem saber para onde ir. Era uma manhã escura demais. Aos seres notívagos, que já davam tratos ao lugar de dormir, restava a lamentosa conclusão de que podiam ter aproveitado mais, enquanto aos que, nos seus lugares quentinhos, esperavam pela luz do dia, a preguiça mostrava-se boa conselheira e muito sedutora.

Com um vôo curvo repentino, tirando proveito magistralmente de uma lufada de brisa, o pintassilgo tirou a montanha das suas reflexões. Esse é o meu velho e bom pintassilgo! ― Disse a si mesma a montanha orgulhosa. Ele pousou suavemente na ponta de um galho mais alto, todavia não se demorou ali. Logo decidiu-se a um vôo mais audacioso, embicando de pedra acima. Quase não conseguiu. E vendo-o depois arfar de cansaço, a montanha passou abruptamente do orgulho à mais uma preocupação: suas asas haviam perdido o vigor de antes, seu organismo já não demonstrava a mesma resistência. Isso significava que ele estava muito vulnerável. Qualquer predadorzinho barrigudo, desde que não fosse muito impaciente, acabaria por comê-lo. Desesperada, a montanha começou a procurar por todos os lados, querendo encontrar qualquer animal que representasse uma ameaça. Precisava encontrá-lo antes que ele visse o frágil passarinho. Nas redondezas haviam algumas raposas, uma pequena família, porém a montanha achou que, apesar de espertas e cheias de truques, elas eram lerdas demais para pegar um pintassilgo. Mais acima, um solitário gato-do-mato acomodara-se na reentrância de um lajedo, de onde, protegido pela relva, tinha uma vista privilegiada para encontrar seu almoço. Com imensos e atentos olhos de um verde azulado muito cristalino, ele ainda não vira o pintassilgo, mas estava perto demais para que a montanha se tranqüilizasse.

Em pouco tempo, ela viu confirmada a sua suspeita. O passarinho irrequieto acabou por despertar a atenção do felino. Não era exatamente o que ele poderia considerar um banquete, porém, apenas para o seu desjejum, até que não era mal lamber aquele coraçãozinho antes de engoli-lo. Era algo para ser mais propriamente degustado e nem tanto para abarrotar a pança. O gato bocejou, espreguiçou-se, e só então se dispôs a caçá-lo, tão certo da sua superioridade que já se imaginava palitando os dentes com a cana daquelas peninhas coloridas. Demorou algum tempo até que, muito sorrateiramente, conseguiu se posicionar para um bote seguro. Os gatos são extremamente pacientes e não gostam de errar o bote, tanto que, quando perdem a primeira tentativa, normalmente não tentam novamente. O pintassilgo havia se colocado em um galho abaixo do nível do terreno onde estava o gato, porque descobrira ali bem perto uma colméia de pequenas abelhas. Esperava a oportunidade de comer algumas delas sem, entretanto, atrair para o seu encalço um pelotão de abelhas furiosas. E de tão compenetrado, não se apercebeu do gato, que já estava bem próximo.

Roendo o sabugo das unhas nas pontas das lajes subterrâneas, a montanha era só desespero, porque o passarinho não dava atenção aos seus esforços de alertá-lo. O bote era iminente, a distância muito pouca e o bichinho nem imaginava o perigo que corria, por causa de umas poucas abelhinhas, tão pequeninas. Mas nessas horas a natureza mostra a sua complexidade. Eis que num arvoredo, próximo e acima dos dois, veio pousar um outro sorrateiro predador. Como não podia saber em quem o gavião estava realmente interessado, o gato estancou o seu bote e pôs-se imóvel, como se fosse uma pedra a mais na paisagem. Sua sensatez instintiva lhe fazia considerar que, embora os pássaros menores sejam destaque no cardápio dos gaviões, levar nas garras para o seu ninho um gato gordinho deveria ser preferível, pois assim regalaria a família toda com menos esforço.

Mesmo para uma montanha, acostumada à grandeza do tempo, aqueles segundos pareciam uma eternidade. Reconhecia que aquela era uma cena muito corriqueira da natureza, onde todos de alguma forma são predadores de uns e predados por outros, e embora seu instinto lhe dissesse que não devia interferir no curso natural das coisas, ela não suportava a idéia de ver o seu querido pintassilgo morto nas garras de outrem. Ora, havia esperado tanto para reencontrá-lo. Tinha agora a pretensão de readaptá-lo à natureza, tarefa longa e morosa. Não. Não e não. Definitivamente, não permitiria que ele fosse comido assim, à toa. Ele não seria mais que um aperitivo para qualquer dos dois, enquanto que para a montanha representava uma satisfação incomparavelmente maior.

(Segue)

Foto de Sirlei Passolongo

Por onde veleja o amor? (Sirlei Passolongo e Vinícius Motta)

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Me pediram um poema...
Alguns traços sobre o amor.
Mas minha lira restante numa face torta
Só sabe das entranhas horas
Em que o corpo bebe estrelas,
Em que o gozo saliva em dois as centelhas
Para afundar a noite no amanhecer...

Me disseram que era fácil versejar o amor
Mas não contaram do instante bandido
Em que a alma se perde insone
Em que a dor consome o sonho...
Não me ensinaram a versejar
Com o coração partido.

Deveras, as coisas do amor cabem
Além do fácil gesto de afiar
Credos em pulsações alfabéticas...
Não é velejar em seus navios,
Nem derramar-se inteiro em lábios.
Não! Seguir por essa estrada infindável
Compreende vícios que a lógica
Desconhece no romper do hálito.

Se mesmo assim me pedirem um poema
Que transcenda o âmago
Num verso em que a boca murmure
Esquecida do sal da lágrima
Direi que a minha lira é restante numa face torta
Porque o gosto amargo que a boca saliva
Embala no mesmo tom o encontro
E o desencontro do sonho...

Porque o amor tateia o imponderável
Com as mãos mais incríveis...
Por isso as palavras findam
Enquanto sangram incisivos
Os corpos apaixonados, enfim amados.

(Sirlei Passolongo e Vinícius Motta)

Foto de Sonia Delsin

TALVEZ... TALVEZ

TALVEZ... TALVEZ

Talvez amanhã ou depois eu possa tropeçar numa pedra pontiaguda.
Talvez eu fique muda.
Talvez haja espinhos.
Como já houve tantos.
A vida é feita de risos e prantos.
Talvez amanhã o badalar do sino desperte as borboletas.
E elas esvoaçando rabisquem traços no ar.
Talvez eu que tanto gosto de versejar, possa me calar.
Não sei do amanhã.
Nem sabemos se vai chegar.
Talvez a cisterna vá secar.
E o jardineiro, a roseira mais bonita, não possa mais regar.
A rosa vermelha talvez desabe.
Talvez o mundo acabe.
Talvez...
Quantos talvez.
Posso conjeturar.
Cismar, pensar.
Este mundo é sonho.
E é tão bom sonhar.
Se soubéssemos do amanhã ele só serviria para nos atormentar.
Quantos castelos criamos no nosso imaginar!
Talvez venham ventos.
Talvez o mais lindo castelo possa desabar.
Mas podemos construir outros no nosso pensar.
Talvez... talvez...

Foto de Sonia Delsin

GOSTO DE ASSOVIAR

GOSTO DE ASSOVIAR

Nisto pareço com meu paizinho.
Gosto de assoviar.
Alto.
Ou baixinho.
Gosto.
Como gosto de cantarolar, gosto de assobiar.
Quando sozinha parece que o assobio vem me fazer companhia.
Alegra meu dia.
Gosto de assoviar.

Foto de Rose Felliciano

SÁBIA DECISÃO

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.
.
.

"Tive que me acostumar...
A não ver teu rosto
A esquecer teu gosto
E a me despedir...

E assim fui acostumando...
A desfazer os planos
A esquecer os sonhos
Deixar de dizer "te amo"...

Tal qual folha seca em outono
E em completo abandono
O vento vinha a me arrastar...

Mas não me acostumei a sofrer...
Reergui então o meu ser...
...Decidi voltar a me amar!" (Rose Felliciano)

.

*Mantenha a autoria do Poema*

Foto de ANACAROLINALOIRAMAR

TUA AUSÊNCIA

***
***
**
*

Já não me conheço dês de então quando partiu.
A tua ausência já nem sei o que dizer:
A tua Ausência transformou-se em semente seca no
Meu pobre coração;

A tua ausência é o cheiro do perfume
Que já não sinto mais,contigo foi...
O sabor o gosto as delicias , se tornaram amargos
A tua ausência os transformaram em coisas sem existência
Assim como tua ausência se foi...

A tua ausência só traz dor, melancolia
Faz-me chorar, me faz sentir o vazio
Em minha cama todas as noites
Todas as manhãs.

Na mesa sempre seu copo, com café
E leite esta!....Suas torradas, sempre fresquinhas
Tudo isso...só para cobrir tua ausência.
Mas não permito que ninguém sente em seu lugar.

Volta amor, a tua ausência esta me causando insônia,
Falta de apetite falta de sede, a única sede se chama você
Sinto falta da vida, sinto falta de você
A tua ausência me traz insegurança.

A tua ausência me deixa de alma ferida.
Volta amor que me conduz,
Venha viver outra vez nosso amor.
Já não agüento mais a tua ausência.
Ainda não inventaram vacina para
Apagar a tua ausência! Volte!

Anna AFlor de Lis.

Foto de Joaninhavoa

Diálogo, de namorados (d`outros tempos...)

D`ideias brilhantes
Surgiam como diamantes
Na nobre donzela, e de seus
Ares emcabulados, mas ainda
Assim como que ousados
A certa altura, pronunciou
A média voz, de tom marcante
Meigo e escaldante:

- Chega-te aqui! Ao pé de mim
Vem cá! Ao meu ouvido
Vem! bem juntinho
Quero dizer-te um segredo
bem baixinho, gosto de ti...
e tu de mim?!

(Ele em tom desalinhado
e de total desprendimento
responde...)

- Eu? Não estou nem aí...

(Dito isto, seu semblante
lentamente se modifica
como quem teve uma
ideia fulminante...
E o fumo até parece
que já fazia parte do seu
olhar matreiro como
que um arqueiro!...
Pelo que disse em tom
brejeiro misto de réplica
submisso e terno:

- Mas, vem! Vem cá
Chega-te aqui!
Mais! mais e assim...
Ao pé de mim! do meu nariz
Sim! Assim...
Agora roça, roça...
Ponta com ponta...
O meu no teu e o teu
no meu e...
E de repente como
num ápice...
A agarrou e a beijou
Freneticamente!
Nossa!
Como suspirou!...

JoaninhaVoa, In "Diálogos, de namorados - d`outros tempos..."
(em 06/04/2008)

Foto de Sirlei Passolongo

Embriagada de você

Quero
me embriagar
do teu corpo
como se fosse
uma taça de vinho
Sentir o perfume
e o gosto
e me perder
nos teus carinhos

Quero
bailar em teus braços
ao som de amadeus
saborear tua essência
embalada pelo cheiro teu
me embebedar em tua boca
como se fosse
o gole primeiro...

Quero
rasgar tua roupa
sentir teu corpo
ardendo em brasa
me olhando
como um animal
à caça
depois, fazer dele
minha taça.

(Sirlei L. Passolongo)

Direitos Reservados a Autora

Foto de Sónizia

Tempo

Posso desaparecer:
- por uma hora...
- por um dia...
- por um mês...
Mas estarei sempre por perto.

Posso até nao te dizer:
- Bom dia
- Boa tarde
- Boa noite....
Mas estarei sempre por perto.

Sabes porque?
- Porque gosto muito de ti.

Foto de Danoninho

Como se reconhece o amor..

Amar alguém sem se saber porque é estranho.
Creio que tudo começa, quando não nos damos conta,mas já pensamos demais numa só pessoa.
Demora algum tempo para que tenhamos noção de tal sentimento.Principalmente se for por alguém que mal conhecemos.
Um dia, uma pessoa totalmente estranha atravessa nosso caminho e sem se saber por que, o coração acelera.Os dias passam e você continua sem saber nada sobre esse outro alguém, mas por algum motivo ele não sai da sua cabeça.Os dias continuam a passar e você passa a sentir a falta de algo desconhecido...anda pelas ruas sempre a procura de alguém ou alguma coisa...a procura dele!!!
Nos enganamos, distraímos o coração enquanto o tempo passa e nos tornamos mais apegadas ao sentimento que temos, mas ainda sem respostas.
Daí você começa a se perguntar quando é que isso começou.
Essa loucura, essa falta, esse frio na barriga, esse coração a bater louco e desordenadamente sempre que pensa.. e quando vê perde a respiração simplesmente.
Falar você não pode ou não deve...e falar o que?Pois ainda simplesmente não se sabe o que é.
E os dias assim continuam até que você começa a se aperceber de que é recíproco. Cada olhar trocado parecem se despir, ali mesmo!!!
Começa a se aperceber que por algum motivo, seu corpo a leva de encontro ao dele. Sente a vontade de estar perto, tocar..assim..como que sem querer.
Daí vem a necessidade..fase impossível de não se viver.
Necessidade de respirar o mesmo ar que ele, de estar perto ou nos mesmos lugares.
Necessidade de sentí-lo e sentir o seu cheiro agarrado em você.
E o cheiro?Que enlouquece e nos deixa tontas... e então temos a resposta...estamos apaixonadas!
Palavras proferidas de uma boca que você deseja.
Palavras ditas diretamente ou discretamente a você e de você a ele.
Muto mais que palavras...
Desejos secretos, camuflados em coisas sem interessa algum.
Mas já não se consegue esconder os sentimentos...dos dois.
A respiração ofegante e o sorriso de orelha a orelha denunciam a paixão!
E acontece então o inevitável e tã esperado toque...o beijo!!!
Boca na boca, línguas que passeiam como se quisessem descobrir sempre algo novo.
Línguas apressadas em sentir o gosto, gosto tão bom de sentir...gosto da paixão, do desejo, das vontades...
Vontade de tirar a roupa ali mesmo, como se nada mais interessasse, nada fosse mais importante que nós.
Vontade de descobrir o corpo um do outro, cada parte, cada cantinho.
Passear os dedos em todo ele. E finalmente...sentir a paixão em plenitude, sem saber do amanhã ou sequer esperar por ele...
E agora sim, sabendo e tendo todas as respostas.
Mas nada agora importa...somos um do outro!

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