Gesto

Foto de Enise

Eu sei quando te quero

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Eu sei quando te quero
Não um querer sofrido que me cobra planos
Mas quando despe a minh’alma dos meus medos...

Eu sei quando te quero
Não num corpo de massa e forma
Mas quando se apodera de todos os meus sentidos...

Eu sei quando te quero
Não num ato sem barreiras pronto para levitar
Mas quando penetra na minha loucura e me leva para qualquer lugar...

Eu sei quando te quero
Não num gesto corriqueiro, rotineiro, sem pensar
Mas como me conduz para que eu me queira sempre mais...

Eu sei por que te quero
Não da maneira simplificada onde só se despejam palavras
Mas da forma sutil com que me faz apaixonar.

Eu sei para que te quero
Não para ver a minha alma em alerta, de prontidão
Mas sim livre de qualquer sombra ou escuridão...

Eu sei de que forma te quero
Não em saudade, com piedade ou solidão
Mas sem a inércia que me amedronta em vão.

Eu sei como que te quero
Não com tua boca deslizando sobre a minha em sofreguidão
Mas pelo beijo que marca meu corpo na tua criação.

Eu sei quanto te quero
Não no tamanho do abraço que eu possa inventar
Mas na volúpia com que meus braços insistem em te enlaçar.

Eu sei da capacidade que tenho em te querer
Não com a ansiedade que mora em mim sem permissão
Mas na intensidade que vem comigo em ebulição.

Eu sei quanto te amo
Não pelo tempo que teu corpo pousa sobre o meu em explosão
Mas pela força do amor que vive em mim...

E para isso não existe explicação...

Enise

Foto de Henrique Fernandes

AMAR SEM MEDO

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Sofrer corrói a alma
Com falta de um gesto de ternura
De se dar num toque e sentir seu ser por completo
A noite conquista o domínio
Dessa vontade de estar bem próximo
Cada vez cria mais vontade de olhar
Nos olhos e entrar no infinito
O vento sopra súplicas pela janela sussurrando agonia
Este vento transporta notícias da angústia do ego
De um querer saber mais um pouco da sua alma gémea
Que loucura duas almas tão idênticas
Tão afeiçoadas na sua postura de querer um outro
Nunca antes alvejado de forma desenfreada
De loucura sem tamanho e sem entender que alguém
Não se conheça numa troca de palavras
E possa trazer tamanha paixão
E até mesmo um amor corpóreo.
Serão concretos os olhos nos olhos?
Será possível?
Concretizar algo de tão esperado desde sempre?
Há fantasias que brotam sonhos bem cedo
Mas que por vezes a desilusão converte em pesadelos
Trazendo reflexos de um amor possível como sentença
Não tenho certeza mas reconheço que já vi este reflexo
Não me parece estranho mas o pânico intenta intimidar-me
A sustentar uma vida num prometido de riquezas na alma
A maior prosperidade
Que podemos alcançar é amar sem medo de sofrer.
Isto será possível?

Foto de Teresa Cordioli

EU, O CORAÇÃO...

Teresa Cordioli
(depois de grande amigo, receber em forma de doação um implante cardíaco)

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Sou o Coração, ilustre e magistral órgão vital.
Carregam-me no peito, em lugar frontal...
Da vida, digo ser o maior provedor,
E garanto por excelência ser o órgão do amor...

Sou Universal, vivo querendo me tornar imortal.
Pulando de um peito para outro eu vou, sem importar
Para o peito de quem, a cor da pele ou dinheiro do bolso.
Apenas da necessidade de alguém, e do despojar do outro.

Digo vem, me aceita, que te dou vida nova!
Chega de lágrimas e de dor, vêem ao amor.
Não te custa nada, sou material usado, descartado,
Posso ser reciclado, mas tenho um grande valor.

Os que de mim necessitam, TODOS ME ACEITARIAM...Se me doassem...
Porque? Porque sou o amor, SOU VIDA NOVA, te alivio a dor,
Não exijo penhor, não conheço o rancor, somente o valor,
O valor da vida...Que deve ser seguida e não interrompida....

(Ah, ia esquecendo de dizer: Tenho selo de garantia, estou dentro do prazo de validade, fui formatado, limpo, posso ser usado, recarregado, E AMADO).

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Compreendo o tamanho gesto de amor, o que significa, a nova chance para a vida...
para os familiares que doaram e aos que receberam......... meu carinho! Obrigada...

Teresa Cordioli

Foto de madim_shakur

poesia do momento

Uma palavra
as vezes vale um
gesto
uma palavra,
por vezes faz um verso.
Uma palavra é tudo o
que peço.

Não quero nada demais
talvez carinho e compaixão
mas agora que penso,
so quero teu
coração.

A verdade é esta que encerra
um poema de loucura
É a verdade que todo
o homem procura,
é tudo e coisa
nenhuma.

poesia do momento.....

Foto de JEFFERSON BESSA

triste Sonho

Quando te conheci,
Meu coração disse sim.
Com muita alegria,
você sorriu para mim.
Apesar de nada saber sobre você,
Me apaixonei sem querer
Com capacidade maio de ter:
Respeito, Sinceridade,
E ácima de tudo lealdade.
Juntos formamos um amor sem dor.
Não sei... Acho q me engabei
Pois aquele sorriso era apenas um gesto de carinho
que meu coração fraco imaginou
Ser aquele que sempre sonhou.
Foi nessa hora que acordei
Com você me dizendo te amo
Fiquei alegre por ter sido
Apenas um triste sonho.

Foto de V.Gusmám

Algum Dia Será Sempre

A Vida segue enfim a regra!

Mas tudo esta tão calado,

Vejo esse dia que me alegra

Imaginando-me igual de outro lado!

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Irei amanhecer

De tanto esperar...

Nem vou mais chorar,

De tanto querer...

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Desta vez esta perto

Eu vou, eu vou...

Teu Caminho é certo

Todo pranto acabou.

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São dias de Paz agora.

São dias de dores sempre.

Paz que na esperança mora

E dores que a alma não entende.

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Mas já estou melhor por fora

Mais um dia desperto.

Vejo teu gesto que me aflora

No vazio deste coração deserto.

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Imagino viver o Amor...

Amar o sonho...

Deixar o mundo tristonho

Desta terra, que efêmera é a dor.

(V.Gusmám)

Foto de Henrique Fernandes

GESTO DE PALAVRAS DOCES

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O equilíbrio é uma sintonia
Por um caminho aberto
Um impulso de energia
Pelo intimo desperto

Numa fonte de êxtase e prazer
Satisfação tem o dom de equilibrar
O requinte de viver
Explorando o corpo de bem-estar

É um saber como e quando
A tarefa de um sentimento
É educar a alma cantando
Tons de encorajamento

É um diploma de ser gente
Um gesto de palavras doces
Uma massagem de carinho quente
E dar ao corpo um instinto de posses

Foto de karla888

Amor Arte

Adormeco em vales esquecidos,
longinquos, inexistentes
onde as flores brilham em alaridos,
e as aves cantam melodias persistentes...
...a dor nao existe, a alegria e eminente,
o amor e a alma do mundo,
transparece num movimento,num gesto inconsequente...
...onde um olhar puro faz saltar o desejo
de querer um inevitavel beijo,
...e quando acontece o universo gira,
os mares enrolam-se,
a brisa aquece, as arvores dancam,
alimentando os sonhos dos amantes...
...fazendo sorrir as bocas dos restantes,
afinal o amor existe em toda a parte,
entre animais, pessoas...e os passarinhos?
...num sorriso, num gesto..., numa tela...
...afinal ser amado e saber amar e uma arte.

Foto de Henrique Fernandes

ACOLHO A TUA PESSOA

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Sirvo-me da profundeza vaidosa
Na face madura e presunçosa
Do amor que há em mim sem falsidade
Num gesto de simplicidade
Na quentura de um enlaço á toa
Acolhedor à tua pessoa
Sem ser mão na mão é de alma
Expondo-me ao teu juízo de calma
Entranhado no meu ser verdadeiro
De corpo e mente num inteiro
Desejo que conquista a saudade
Na autentica alegria e vontade
Que me percorre o pensamento
Entre súplicas que chegam no vento
Como um poema comprometido
Escrito não lido mas sentido
No meu chegar a ti com vaidade
Desaguando na tua verdade
Sublimo com fervor
Sem saber lidar com o amor
Desta extravagância que é sentir
Um índice de sensações a florir
Personalidade que sai do obscuro
Na lida com o amor no seu puro

Foto de Mentiroso Compulsivo

O Actor

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Cansei-me.
Desliguei o leitor de CD’s, fechei o livro, e rodei do sofá para o chão. Cheguei à janela, afastei as cortinas. Chovia a “potes”.

Fui comer. Voltei à janela. Já não chovia. A noite estava escura, o ar, fresco da chuva, cheirava a terra molhada; a cidade lavada. Vesti a gabardine e saí.

Cá fora, a cidade viva acolheu-me. No meio dos seus ruídos habituais, nas luzes do passeio. Percorri algumas casas e vi um bar um pouco retirado. Era um destes bares que não dá “muitos nas vistas”, sossegado e ao mesmo tempo, barulhento.

Com alguns empurrões, consegui passar e chegar ao balcão. Pousei o cabo do guarda-chuva na borda do balcão e sentei-me. O bar estava quente e o fumo bailava no ar iluminado. Senti o cheiro a vinho, a álcool. Ouvi as gargalhadas impiedosas de duas mulheres e dois homens que se acompanhavam. Deviam ser novos e contavam anedotas. Eram pessoas vulgares que se costumam encontrar nas pastelarias da cidade, quando vão tomar a sua “bica” após o jantar. Estes foram os que mais me atraíram a atenção. Não, esperem... ali um sujeito ao fundo do balcão, a beber cerveja...
- Desculpe, que deseja? – perguntou-me o empregado.
- Ah! Sim... um “whisky velho”, por favor.
Trouxe-me um cálice, encheu-o até ao meio e foi-se embora.

Bebia-o lentamente. O tal sujeito, desagradável, de olhos extraordinariamente brilhantes, olhou para mim, primeiro indiferentemente, abriu a boca, entortou-a, teve um gesto arrogante e voltou o rosto.
Estava mal vestido, tinha um casaco forte, gasto e sapatos demasiado velhos para quem vivesse bem.
Olhou-me de novo. Agora com interesse. Desviei a cara, não me interessava a sua companhia. Ele rodou o banco, desceu lentamente, meteu uma das mãos nos bolsos e veio com “ares de grande senhor” para o pé do meu banco.
O empregado viu-o e disse-me:
- Não lhe ligue... é doido “varrido” e “chato”.
Não lhe respondi.
Entretanto, ele examinava-me por trás e fingi não perceber. Sentou-se ao meu lado.
- É novo aqui?!... – disse-me
Respondo com um aceno.
- Hum!...
- Porque veio? Gosta desta gente?...
- Não os conheço – cortei bruscamente.
Eu devia ter um ar extremamente antipático. Mas, ele não desistiu.
-Ouça, - disse-me em voz baixa, levantando-a logo a seguir – devia ter ficado lá donde saiu, isto aqui não vale nada. Vá-se por mim... Está a ver aqueles “parvos” ali ao canto? Todos reparam neles... levam o dia a contar anedotas que conhecem já de “cor e salteado”...Vá-se embora. Todos lhe devem querer dizer, também, que não “ligue”, que sou doido...

Tinha os olhos raiados de sangue. Devia estar bêbado. Havia qualquer coisa nos seus olhos que me fez pensar. Era um homem demasiado teatral, havia nos seus gestos e segurança premeditada, simplicidade sofisticada do actor. Cada palavra sua, cada gesto, eram representações. Aquele homem não devia falar, devia fazer discursos.
Estudando-me persistentemente, disse-me:
- Você faz lembrar-me de alguém que conheço há muito, mas não sei quem é... Devia ter estado com esse alguém, até talvez num dia como este em que a chuva caía de mansinho... mas, esse alguém decerto partiu... como todos... vão-se embora na noite escura, ao som da chuva... nem olham para ver como fico.
Encolheu miseravelmente os ombros, alargou demasiado os braços e calou-se.

Eram três da manhã. Tinha agarrado uma “piela” com o ilustre desconhecido. Tinha os olhos muito abertos, os cotovelos fincados na mesa da cozinha e as mãos fechadas a segurarem-me os queixos pendentes. Ele tinha um dedo no ar, o indicador, em frente ao meu nariz, abanava a cabeça e balançava o dedo perante os meus olhos. Ria às gargalhadas, deixava a cabeça cair-lhe e quis levantar-se. O banco arrastou-se por uns momentos e cai com um estrondo. Olhou para mim com um ar empobrecido, parou de rir e fez: redondo no chão. Tonto, apanhei-o e arrastei-o para a sala.

Deixei-o dormir ali mesmo. Cobri-o com uma manta, olhei-o por uns instantes e fui aos “ziguezagues” para o meu quarto.

No dia seguinte acordei com uma terrível dor de cabeça. Dirigi-me aos tropeções para a casa de banho. Vi escrito no espelho, a espuma de barba; “Desculpe-me, obrigado. Não condene a miséria!”

Comecei a encontrá-lo todos os dias à noite. Fazíamos digressões nocturnas, íamos ao teatro. Quando percorríamos os corredores dos bastidores, que ele tão bem conhecia, saltavam-nos ao caminho actores que nos cumprimentavam; punham-lhe a mão no ombro e quando ele se voltava, davam-lhe grandes abraços. Quase toda a gente o conhecia.

E via-lhe os olhos subitamente tristes, angustiados. Ele não se esforçava por esconder a tristeza: era uma tristeza teatral. De vez em quando, acenava a cabeça para alguns dos seus amigos e dizia:
- Não devia ter deixado...

Inesperadamente, saía porta fora, certamente a chorar, deixando-me só. Quando saía via-o pelo canto do olho encostado a uma parede mal iluminada, mão nos bolsos, pé alçado e encostado à parede, cenho franzido e lábios esticados. Nessas ocasiões estacava, por momentos, e resolvia deixa-lo só. Estugava o passo e não voltava a olhar para trás.

O seu humor era variável. Tanto estava obstinadamente calado e sério, como ria sem saber porquê.
De certa vez, passei dois dias sem o ver. Ao terceiro perguntei ao “barmen”:
- Sabe o que é feito do actor?... Não o tenho visto.
- Ainda não sabia que ele tinha morrido? Foi anteontem. A esta hora já deve estar enterrado...foi melhor para ele...
Nem o ouvia. As minhas mãos crisparam-se à roda do corpo, cerrei os dentes. Queria chorar e não conseguia. E parti a correr pelas ruas. Por fim, cansei-me. Continuei a andar na noite, pelas ruas iluminadas. E vi desfilar as imagens. Estava vazio e, no entanto, tantas recordações. Não sentia nada, e apenas via as ruas iluminadas, as montras, os jardins.
Acabei por me cansar, de madrugada tive um sonho esquecido.

Percorro as ruas à noite, os bares escondidos, à espera de encontrar um actor “louco e chato”. De saborear mentira inocente transformada em verdade ideal. E há anos que nada disso acontece. É verdade que há sujeitos ao fundo do balcão, mal vestidos, a beber cerveja... mas nenhum que venha e pergunte se sou novo aqui... As pessoas continuam a rir como dantes, todos os dias vejo as mesmas caras, e se me perguntarem se gosto desta gente digo-te que não as conheço ainda... e olho-os na esperança que venha algum deles e que lhe possa dizer, como a raposa de “ O principezinho”:
- Por favor cativa-me.

Acordei, tinha parado de chover, lá fora ouviam-se as gotas mais tímidas ainda a cair dos telhados, fazendo um tic-tac na soleira do chão, como quem diz o tempo da vida continua, por segundos parei o tempo e pensei, mais um dia irá começar e neste dia eu também irei pisar o palco, todos nós iremos ser actores, uns conscientes da sua representação, outros ainda sem saber bem qual seu papel, uns outros instintivamente representando sem saber que o fazem e outros ainda que perderam o seu guião....

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