Favela

Foto de pttuii

'Mutatis, Mutandis'

A quem conseguir captar a essência do que é ser feliz, e vendê-la como patente registada,.....alvísseras. Diz quem o tentou, que a dificuldade está sempre no processo de selecção de odores. A brevidade de uma experiência, de um momento, de um cenário idílico, torna quase impossível reunir tudo num único composto.
Admite-se, quase 10 mil anos depois de o ser humano se ter levantado para começar a caminhar, que já houve quem chegasse perto. Mas a fugaz capacidade de compromisso do homem, torna esse desígnio quase impossível. Quem vive muitos anos com a felicidade de chegar à recta final da existência, com a ilusão de que está apto a compreender o motivo pelo qual não se matou logo depois de nascer, pode sem problemas assumir-se como um ser humano realizado. Assentar arraiais num planeta fétido, e poder viver consciente de que nada se deve a ninguém, é bom. Deve aliás ser o prazer supremo da existência humana.
No mapa genético do homem que, neste momento, está a ser baleado numa favela do Rio de Janeiro, por simplesmente estar no sítio errado, no momento impróprio, deveríamos todos encontrar um espelho. O reflexo das virtudes dos que almejam o sucesso ao virar da esquina, e dos defeitos da irredutível aldeia de gauleses que morreu à espera do colapso do universo.
É confuso, quase até sinistro, raciocinar sobre algo que, provavelmente, é o mais insondável dos mistérios da criação. A falta de pureza da condição do Homo ‘Sapiens’, torna o conceito de felicidade mutável, mutante e, no limite, perigoso até de abordar. Queima sentir o bem-estar interior, o ‘Nirvana’ dos momentos de perfeição. Mas também deve doer a quem luta por os conseguir captar e, em permanência, falha esse desígnio.
A bíblia diz que, no princípio, era o verbo. Eu cá sinto que antes do verbo, já provavelmente andavam no ar uns espermatozóides que, ao encontrarem o óvulo do conhecimento, se juntaram para produzir a mais tortuosa das criações. A mente humana.

Foto de Anjo Gc

A vida vivida

A vida é um grande aprendizado
Que consigo viver grandes problemas
Em cima de grandes felicidades.
Sempre vivo em cima dos obstáculos que reajo dentro das razões.
Eu sempre imaginava que um sorriso fosse
eternamente. Mais um dia pode provar ao contrario,
pois lagrimas de magoas me alcançou me deixando
no chão e eu que nunca entendia o motivo de:
cair e levantar
perde e ganhar
sofrer e amar
erra e acertar
Enfim ficar por baixo e em seguida estava por cima.
Mais posso crescer com isso, e fortalecer o meu corpo
Com o aprendizado que vivo na vida.
Ao ficar só. Mil pensamentos eu tenho para querer sofrer, mais
demonstro dois mil e um, para viver e pode amar a vida.
Eu sempre queria crescer mais não queria passar por problemas
Complicados e difícil.
Mais agora posso fazer da minha vida uma bela historia de aprendizado
e superação.
Uma vez se encontrava sozinha perto de situações difíceis, e fiquei
a chorar e a entra em desespero.
Ate quando um cara que morava dentro do mundo.
Chegou para mim e foi dizendo:
- Em certos tempos a vida é um mar, tem dias que está calmo e outros
dias está agitado.
Eu considero minha vida como oficina de arte, em uma parte é fácil e
outras é complicadas.
Observando o movimento fiquei me envolvendo dentro de uma
grande realidade, que fez atualizar meus sonhos.
Ao entender que o sonho não acaba ate que o tempo escreva fim.
Ele com seu jeito meigo e cativante, alegremente riu e disse:
-Você é uma jovem que não deve se entregar ao problema, e pode
fortalecer os objetivos e crescer o seu jeito de viver.
Eu simplesmente já estava certa que a vida é de altos e baixos.
Então tive mais a conclusão que temos que ter a certeza que o que
vivemos é um grande aprendizado do que faz de nós as armas
fortes e firme para as guerras que se encontra na vida.
Ele sempre feliz! Olha para mim e fala:
-Você é uma mina especial!
Mais penso que com a vida e o mundo você crescerá e poderá ser a
Rainha do aprendizado, e moverá montanhas com a força otimista que
seu coração vive.
Então fiquei no reflexo do xaveco!
Nossa que experiência?
Que me fez subi grandes degraus, mais pode realizar lindos momentos
e crescer dentro de uma escola, que é a freqüência dos meus desejos
e anseio.
Ao ficar animada,resolvi fazer o diário da minha vida!
Peguei uma folha e comecei a escrever:
- A vida é preta e branca que me faz realizar e fazer grandes magias
de sonhar e sobreviver.

Sou uma mina complicada que os problemas sempre transformam num
só, onde cresço e sobrevivo para viver com bastante disposição e forma
poesias, magias numa linda fantasia que descubro,
que vivendo eu aprendo
que sonhando eu conquisto
que perdendo eu ganho.
Então ando na favela e vejo uma vida que faz uma grande diferença
da historia.
Eu apenas a mina que sofre no silencio!!
E faz um diário que revela que a vida não é tão simples como parece,
Mais devemos acreditar que o sonho sempre é possível de sonhar,
E fazer da estrela brilhar.
A vida só é vida quando é vivida!
(¯`v´¯)
.`•.¸.•´ ♥;;;

Foto de Anjo Gc

A vida vivida

A vida é um grande aprendizado
Que consigo viver grandes problemas
Em cima de grandes felicidades.
Sempre vivo em cima dos obstáculos que reajo dentro das razões.
Eu sempre imaginava que um sorriso fosse
eternamente. Mais um dia pode provar ao contrario,
pois lagrimas de magoas me alcançou me deixando
no chão e eu que nunca entendia o motivo de:
cair e levantar
perde e ganhar
sofrer e amar
erra e acertar
Enfim ficar por baixo e em seguida estava por cima.
Mais posso crescer com isso, e fortalecer o meu corpo
Com o aprendizado que vivo na vida.
Ao ficar só. Mil pensamentos eu tenho para querer sofrer, mais
demonstro dois mil e um, para viver e pode amar a vida.
Eu sempre queria crescer mais não queria passar por problemas
Complicados e difícil.
Mais agora posso fazer da minha vida uma bela historia de aprendizado
e superação.
Uma vez se encontrava sozinha perto de situações difíceis, e fiquei
a chorar e a entra em desespero.
Ate quando um cara que morava dentro do mundo.
Chegou para mim e foi dizendo:
- Em certos tempos a vida é um mar, tem dias que está calmo e outros
dias está agitado.
Eu considero minha vida como oficina de arte, em uma parte é fácil e
outras é complicadas.
Observando o movimento fiquei me envolvendo dentro de uma
grande realidade, que fez atualizar meus sonhos.
Ao entender que o sonho não acaba ate que o tempo escreva fim.
Ele com seu jeito meigo e cativante, alegremente riu e disse:
-Você é uma jovem que não deve se entregar ao problema, e pode
fortalecer os objetivos e crescer o seu jeito de viver.
Eu simplesmente já estava certa que a vida é de altos e baixos.
Então tive mais a conclusão que temos que ter a certeza que o que
vivemos é um grande aprendizado do que faz de nós as armas
fortes e firme para as guerras que se encontra na vida.
Ele sempre feliz! Olha para mim e fala:
-Você é uma mina especial!
Mais penso que com a vida e o mundo você crescerá e poderá ser a
Rainha do aprendizado, e moverá montanhas com a força otimista que
seu coração vive.
Então fiquei no reflexo do xaveco!
Nossa que experiência?
Que me fez subi grandes degraus, mais pode realizar lindos momentos
e crescer dentro de uma escola, que é a freqüência dos meus desejos
e anseio.
Ao ficar animada,resolvi fazer o diário da minha vida!
Peguei uma folha e comecei a escrever:
- A vida é preta e branca que me faz realizar e fazer grandes magias
de sonhar e sobreviver.

Sou uma mina complicada que os problemas sempre transformam num
só, onde cresço e sobrevivo para viver com bastante disposição e forma
poesias, magias numa linda fantasia que descubro,
que vivendo eu aprendo
que sonhando eu conquisto
que perdendo eu ganho.
Então ando na favela e vejo uma vida que faz uma grande diferença
da historia.
Eu apenas a mina que sofre no silencio!!
E faz um diário que revela que a vida não é tão simples como parece,
Mais devemos acreditar que o sonho sempre é possível de sonhar,
E fazer da estrela brilhar.
A vida só é vida quando é vivida!
(¯`v´¯)
.`•.¸.•´ ♥;;;

Foto de Carmen Lúcia

Uma Maria entre tantas...(homenagem à Mulher)

Na favela era ela
Que descia a ladeira
A semana inteira,
Uma trouxa na mão...
E lavava contente
As roupas com sabão
Na bica, de contramão;
Em seu ventre levava
O filho que esperava
O que mais desejava
E a fazia sorrir...

Sentiu dores...
Chegara a hora
De seu filho nascer...
Deitou-se num colchãozinho
Num cantinho, no chão.
Ajeitou-se sozinha...
Enfim, era Maria,
Nada tinha a temer
E sim agradecer
Pelo sonho realizado...

E os anos passaram...
A criança cresceu...
Os trabalhos dobraram...
Pra ver o filho criado
Tinha que haver sacrifício
Renúncia e dedicação...
E assim ela o fez...
Revirou-se ao avesso
Pra lhe dar educação...

Mas como toda Maria
Traz consigo triste sina...
O pior aconteceu...
Na favela anoitecia,
(ou seria em todo lugar?)
Hora da Ave- Maria!
Trouxeram seu filho querido
Num lençol branco manchado
De seu sangue derramado,
Onde jazia, sem vida,
Vítima de bala perdida
Que achou seu coração...

Hoje Maria ainda chora
A saudade jamais vai embora,
E em seu peito mora...
Ah! Saudade!
“É o revés do parto...
é arrumar o quarto,
pro filho que já morreu...”
E espera que chegue a hora
De tê-lo de novo em seus braços...
Sonho que nunca descreu.

*trecho de Chico Buarque

(Carmen Lúcia)

Foto de Sirlei Passolongo

Máscaras

Luzes na avenida
sonhos na passarela
histórias e alegorias
que nem lembram
o barracão da favela

não mostram na televisão
os sonhos dos meninos
que enfeitaram os carros
alegóricos
pra que?
esse é um problema
histórico.

não mostram as meninas
que os gringos
brincam no carnaval
deram a elas camisinhas
para o comércio sexual

eis o país do carnaval.

(Sirlei L. Passolongo)
.

Foto de Sirlei Passolongo

O Natal Passou na Favela

Na favela
corre o menino
rumo ao lixão
do terreno baldio
pra tentar encher
o estômago vazio.
O natal passou
e nada foi diferente
não teve coca-cola
muito menos
algum presente.

O natal
passou por ele
mas não teve ceia
não teve paz
teve bala perdida
fome e dor
não teve Papai Noel
nem abraços
cheios de amor
apenas sonhos
jogados ao léu
Seu tênis furou a sola
e sua ceia foi a cola
pra manter
a fome ausente.

Mas nas casas
dos políticos
que dele
prometeram cuidar
teve champanhe
importada
e nobres frutos
do mar
Ceias milionárias
regadas por caros
petiscos
À custa do sofrimento
dos meninos aflitos.

(Sirlei L. Passolongo)

Direitos Reservados a Autora

.

Foto de Lou Poulit

SÃO JORGE E O DRAGÃO

CONTO: SÃO JORGE E O DRAGÃO
AUTOR: LOU POULIT

Sentados em bancos tipo meia-bunda, Hermes e Cuia haviam acabado de chegar ao balcão da birosca. Cuia era bebedor dos bons. Mulato quase negro, de fala mansa e bigodinho de chinês. Bom malandro, natural da favela, sobrevivente a tudo. Em vez do calção e dos chinelos-de-dedo, de terno e gravata daria um excelente relações públicas. Só bebia cachaça e tinha preferência: “Ô Portuga, dá meu marimbondo aí!” Já seu amigo Hermes era letrado. O Vela, como era chamado desde a adolescência, era megérrimo, branco como um defundo, e parecia meio lento em tudo. Havia se afastado dali por alguns anos e nesse tempo fez faculdade, arrumou emprego, casou, separou, casou de novo, separou de novo, casou mais uma vez... Continuava mal bebedor, pedindo a mesma marca de uísque: “Ah... Bota qualquer um aí, Portuga”.

O Cuia só observando. Em sua cabeça um silêncio era bom conselheiro: gozado, o tempo passa e as pessoas vão se modificando. Aquela que conhecemos desde dos tempos das pipas e peladas, agregam-se com outras que não conhecemos ainda, mas parecem tão importantes quanto as antigas, senão mais. E todas se dão muito bem umas com as outras, dentro do mesmo corpo. Era manhã de domingo, dia de decisão no campeonato local de futebol. A birosca na encosta da favela já estava quase lotada. Se a polícia chegasse de repente, com certeza ganharia o dia, porque já era quase impossível aos de dentro vigiar os que viessem de fora, e alguns ali eram desejados pelos homens da lei. O tumulto pacífico da birosca era como o Hermes. Com o passar dos anos alguns não arredam pé. Outros, desconhecidos, chegam, depois voltam e vão ficando. E outros tantos somem, por algum tempo ou definitivamente. Mas a birosca ainda era a birosca do Portuga e as alterações individuais não modificavam muito a mistura. Fora a fauna birosqueira, tudo mais parecia continuar nos mesmos lugares: as garrafas de bebidas mais caras, os salames e enlatados cobertos de poeira. No nicho de táboa a lâmpada devia estar iluminando o São Jorge que, a despeito da ausência da sua lança, não fora ainda comido pelo dragão, apesar de tantos anos de luta. O próprio Portuga sempre se dizia desconfiado de que aquele dragão enchia a cara durante a madrugada, depois que fechava as portas, e que só por isso não conseguira ainda comer o santinho.
 
O Hermes agora tinha uma identidade virtual, a julgar pelo palavreado que estava usando e que provocava a indignação dissimulada dos bebuns mais próximos: Sabe, Cuia, o Portuga devia deletar aquele mictório compactado... Como é que é? — Espantou-se o amigo. É verdade, mermão... Aquilo é um banco de vírus! O Portuga é meio lento mesmo. Ele quer que esses caras acertem uma latinha daquelas. Já viu bêbado bom de mira?... Não. Nunca vi não... Então, Cuia, pra começar você tem que se espremer pra passar na portinhola. Só nisso já vai um risco. Depois tem que segurar a bebida, o cigarro, a portinhola... A portinhola?... Claro, mermão, vai que alguém deixa pra última hora e entra lotado. É uma senhora portada!... Riram-se os dois e o Cuia completou: É o que chamo de um arranca-rabo! E o cara que não queria encostar em nada... Vai chegar em casa todo molhado – Hermes interrompeu - E a dona encrenca vai inserir o cara na casinha do quintal, vai passar a noite junto com o Totó!... Ô Hermes, por falar nisso, cadê a Laurinha?... Laurinha? Ô Cuia, que estória é essa de “por falar nisso”? Eu nunca dormi com o Totó não. Você precisa ler as atualizações do meu perfil... Ler as atualizações... – Repetiu o outro perplexo. E faz isso rapidinho, porque eu to saindo, Cuia... Você ta saindo. Já vai embora?... Que vou embora, cara? Quis dizer que to desistindo das mulheres dos outros... — E aproximou-se do ouvido do amigo — Estou apostando todas as fichas na Mentirinha... Que Mentirinha, Hermes?... Ô rapaz, aquela gata gorducha, que trabalha na “lan house”, vai dizer que nunca viu?... Sei, da loja de internet ali no fim da ladeira. Mas não era a Laurinha a razão da sua vida?... Laurinha nada. Se arrumou com o dono da firma, agora desfila de gerente... Ô meu irmão... — O Cuia mostrou-se penalizado — Que azar... Azar? Você não sabe da missa a metade. Depois dela já tive a Mariazinha, a Teresinha e a Socorrinho... É mesmo Hermes?... Tô te falando, Cuia, mulher dos outros agora pra mim é homem!... Nenhuma delas deu certo, né?... Não podia dar: A Mariazinha só queria saber de ganhar coisas caras... Ih, mermão, isso ia te deixar na miséria... Deixou mesmo. A Teresinha no início era uma santinha, o marido tinha sido atropelado, vivia numa cama, e ela passava o dia fazendo sexo pelo computador... Mas isso não resolve, Hermes... Não, a gente saía toda semana... Então, qual foi o problema?... Ela acabou viciada, Cuia. Perdeu a fibra... Como assim, não era a sua mulher?... Não!! Era mulher do computador!!... Ô Portuga, dá mais um aqui pro Hermes!

Cuia precisou pedir mais bebida para dissimular. Tinha muita gente em volta olhando, curiosa por saber quem era aquela tal mulher do computador. Sem se dar conta e parecendo soterrado de tanta culpa, Hermes foi se explicando: Mas a Laura, ô Cuia, ela não foi a única culpada, sabe? Porque quando comecei a desconfiar dei de ficar deprimido. Depois, você sabe. Eu já não dava mais cem por cento, depois nem oitenta, e foi diminuindo, diminuindo a transmissão dos dados. Entende?... Dos dados? Ah, sim, acho que entendo. Mas e a outra?... Quem, Cuia? Já te falei, depois foi a Mariazinha. Me deixou numa miséria de dar gosto. Ô acesso caro aquele, sô... Aí eu não podia mais fazer outras coisas das quais gostava e sentia falta, não tinha grana pra nada. Estourei o cartão de crédito. Ninguém olhava mais pra minha cara, mermão... Tentando entender melhor, o Cuia arriscou meio sem jeito: Ah, a transmissão voltou a cair, né?... Chegou a menos de um quilobite por segundo! Ô desespero o meu... Por que você não fez uns programas, pra variar?... Programa, não fiz nenhum, Cuia. Mas baixei tudo que pude baixar. Todo dia era dia de “down”. E nada de “up”... Nem um cachorrinho? — O Cuia perguntou brincando, para tentar levantar o astral do amigo... Nem um, era só cavalo-de-tróia!... Essa eu não conheço ainda, mermão... Nem queira, Cuia. Depois você tem que fazer uma faixina geral. É muito chato mesmo. E se perdesse o HD nunca mais vinha aqui beber com você. Em falar nisso, ô Portuga! Cadê o meu uisquinho?... Já vos dei, ó pá!... Tão dá outro!
Da posição em que estava, Cuia percebia o interesse crescente dos bebuns em volta na estória do Hermes, mas achou melhor não interromper. O amigo devia estar precisando desabafar. Depois, eles não poderiam mesmo entender aquele dialeto de informática. E o Vela continuava falando: Agora a Teresinha, Cuia, nas primeiras vezes aquilo chegava sem jeito, olhando pro chão... Mas dali a pouco a santinha virava o demônio com rabo e tudo. Caraca, mermão! – O Cuia completou – Você só no piloto-automático... É isso, Cuia, o navegador era dela. Ela que escolhia a página. E num tinha anúncio não!...
 
Ao ouvir tais palavras, um dos bebuns já bastante calibrado, amigo dos tempos das pipas, chegou-se ao ouvido do Cuia e perguntou: Ele tava vendo televisão?... O Cuia dissimulou: Ainda não sei, mermãozinho. Fica na tua aí, na moral. Deixa o cara acabar de falar, valeu?... O bebum voltou meio inconformado pro canto dele e o Hermes falando: Mas foi assim só nas primeiras vezes. Pôxa, Cuia, eu já tava apaixonado por ela quando, numa tarde, começou a balbuciar umas arrôbas diferentes... Que arrobas, Hermes?... Endereços, Cuia... Ah, dos outros amantes dela?... Que outros amantes? Amante era eu, o resto era virtual! — Hermes indignou-se, deu um murro na táboa do balcão e pediu mais uísque. Do seu canto, sentindo-se desprezado pelo Vela, o bebum disse com a voz lenta: Taí, que machão que ele é... E recebeu um olhar enviezado do Cuia.
 
O Vela nem se dava conta do que acontecia à sua volta, ia desfiando o seu rosário enquanto a audiência dos bebuns aumentava: Eu não queria bloquear nem excluir a Teresinha, mas a cada nova tentativa ficava pior. Aí conheci a Socorrinho, que também era Maria, Maria do Socorro... E qual era o problema dela, mermão?... Não era ela não, Cuia. O problema era o marido dela... Ué, por que?... Porque o cara tinha mais de dois metros de altura, era muito forte e ruim que só o cão... E ele sabia que era chifrudo?... Sabia, mas era apaixonado pela Socorrinho e já tinha mandado dois pra lixeira, cara!... Ih, canoa furada, Hermes... Então uma tarde ela me chamou na casa dela... E você foi, maluco?!... Fui, ela me disse que estava precisando de um desencanador... Ocê é doido... É foi doidice mesmo. Quando eu pensei que ia carregar o arquivo, a um megabyte por segundo... O cara te deu o flagrante... Não, tocaram a campanhinha... Ô mermão, ninguém toca a campanhia pra entrar na própria casa... Pois é, mas já derrubou a velocidade, né? Era o filho da vizinha. Ela despachou o moleque e a gente voltou pro matadouro...

O bebum desprezado era um bebum respeitado. Toda hora fazia uma careta, ou um gesto, e os demais bebuns, formando já uma meia-lua às costas do Hermes, trocavam impressões. Percebendo tudo, o Cuia tentou levantar a moral do amigo: Aí você fez o couro comer... O bebum balançou o dedo indicador e fez beiço, querendo dizer que não acreditava. O Hermes respondeu: Mais ou menos, Cuia... Os bebuns metidos a jurados dissimularam uma risada, quando o bebum desprezado saiu da birosca fazendo uma porção de gestos. Mas não demorou muito, alguns minutos depois lá estava ele novamente, pedindo licença para passar e voltar ao seu canto. Que mais ou menos é esse? – Perguntou o Cuia... Eu disse mais ou menos porque quando o programa estava quase carregado, ela me sussurrou que ouvira um barulho na cozinha. Quase que não deu tempo. De repente o cara entrou no banheiro, já tirando a roupa, e quando me viu perguntou o que eu estava fazendo ali... E você, mermão, por que não pulou a janela?... Que janela, Cuia? Primeiro porque não tinha uma por onde eu pudesse passar. Segundo porque o banheiro era tão pequeno e o cara tão grande, que eu tinha a impressão de que éramos duas sardinhas numa lata. Ou melhor, uma sardinha e um tubarão!... Que coisa, rapaz... Ele entrou tirando a roupa e eu tentando vestir a minha!... E aí?... Ai eu disse que já sabia qual era o problema... Como assim, Hermes?... É, mermão, foi o que ele também perguntou. Vou explicar: Quando corri pro banheiro, logo vesti a cueca. Aí ouvi o cara falando que havia chegado o caça-vírus. Então, em vez de por a roupa, eu desenrosquei o sifão da pia e abri a torneira. Só não deu tempo de abotoar as calças... E o cara caiu nessa? Mas que otário!... Bem isso eu não sei. Porque eu disse a ele que no dia seguinte voltava pra tirar o entupimento. Ele me pediu que saísse do banheiro porque queria olhar o serviço. Enquanto ele olhava eu fui saindo. Quando pus o pé na rua, mermão, desembestei que nem a mula-sem-cabeça! E ainda passei uma semana correndo. Vendo o cara atrás de tudo que era poste.
 
A turma de bebuns já não dissimulava mais as risadas e os julgamentos. E já não era composta apenas de bebuns, nem somente de homens. Haviam chegado mais torcedores e algumas prostitutas mas, devido a bebida já em conta alta e ao peso das lembranças, o Vela não se importava. Expunha-se ao ridículo, despertando a piedade de alguns. Cuia não sabia mais o que fazer. Pensava em como levar o amigo para casa, enquanto ele ainda pudesse andar com as próprias pernas. Mas de repente o Hermes se empolgava e recomeçava a falar, sem tramelas na lingua já melosa. Estava claro que ele não se submeteria a nenhum conselho: E tudo por causa daquela piranha, Cuia! A gente era feliz. Eu percebi muito antes e falei com ela. Disse que o Afrânio ia querer lotar o disco, secretária novinha, com tudo no lugar, se sentindo importante... É, o cara foi esperto... Ela é que foi uma vagabunda! Eu avisei antes, ela aceitou porque se entusiasmou com as gentilezas do Dr. Afrânio — Disse o Hermes com desdém... Mas calma, mermão, isso agora já é passado. Esquece essa estória e vai em frente. Você não quer pegar agora a Mentirinha? Então pega e esculacha, mermão. Vai te fazer esquecer as outras. Inclusive a Laurinha... Ah, a Laura não, Cuia. Eu não consigo esquecer o que ela me fez. Nunca, jamais vou perdoar aquela mulher. Se encontrar com ela na rua eu arrebento aquela piranha de porrada.
 
Sem sair do seu canto, o bebum desprezado balançava o dedo e fazia beiço. Os demais, já em franco debate, se dividiam. As prostitutas, em grupo, se defendiam. Alguns torcedores defendiam as prostitutas, para que tivessem o que fazer depois do jogo, afundar a mágoa em caso de derrota. O Portuga não tomava partido, bastava-lhe vender bebidas para todos. No fundo todos se divertiam, aproveitavam o fim-de-semana. Até o dragão se divertia com aquele São Jorge sem lança! Menos o Vela. Estava realmente consternado, não parava de imaginar formas alternativas de trucidar a Laura. E usava as opiniões dos bebuns para reorientar as suas tramas, curtindo a dramatização da sua desgraça, como se isso lhe causasse prazer. Numa dessas, ao dirigir-se ao grupo de prostitutas para ver sua reação, percebeu que uma delas saia de trás do grupo e atravessava em sua direção. Ele não queria falar com ela, era apenas uma puta, como dizia ser também a Laura. Tudo farinha do mesmo saco! Era assim que dizia a si mesmo. Quando o Hermes escutou aquela voz de mulher lhe dizendo um curtíssimo “Oi” pelas costas, imaginou que o mundo havia parado de repente. Um silêncio palpável preencheu o ambiente. O Vela tentava decidir o que fazer, sob o peso de muitos olhares. Quando se voltou para trás, viu que havia uma mulher muito bonita no centro de um pequeno espaço, obviamente aberto para ela. Apesar do congelamento generalizado, apenas o bebum desprezado balançava a cabeça, mas agora positivamente. O Hermes não conseguia articular uma só palavra. Dentro do seu íntimo encharcado de uísque da marca “qualquer um”, tudo era escuridão, uma multidão de vultos ia e vinha, sem que ele pudesse organizar o pensamento. Não teve coragem de dizê-lo, mas não podia pensar noutra, só podia ser a Laura. Queria olhar dentro dos seus olhos, pois conhecia-lhe o olhar, mas a bebida já não o permitia. E quando a mulher lhe estendeu docemente a mão, com um sorriso calmo e soberano no rosto, o Vela não conseguiu fazer resistência.. Atravessando um silêncio galhudo e o farfalhar dos julgamentos de cada um dos presentes, sumiram os dois entre os torcedores que, na rua, preparavam-se empolgados para tomar o caminho do estádio. Como se houvessem ali dois mundos paralelos, o casal e os torcedores não se confundiam, mal se notavam. Era de se pensar que não estivessem no mesmo tempo e no mesmo lugar. Uma mão imensa e irresistível parecia abrir aquele mar de gente, enquanto o Vela, como um bicho dócil levado pela coleira, sentia-se seguro a ponto de não se perguntar se ela viera a mando de São Jorge ou do Dragão.
 
Na birosca, foi o bebum desprezado que quebrou a perplexidade. Deu um tapa na lateral do balcão, fazendo um estrondo que deixou o Portuga furioso: Ô Portuga! Dá outro marimbondo aqui pro meu amigo Cuia, que ele está pagando o meu também... E virando-se para o mulato, que se mantinha pensativo, sussurrou: Como nos bons tempos, heim Cuia?.. Uma a uma as pessoas foram se reacomodando pela birosca. O bebum sentou-se no banco, que o Hermes deixara morninho, e filosofou com ar de sábio: Ah, o amor. Coisa mais linda é o amor... Encafifado, o Cuia não respondeu, mas quis saber: Olha, você até pode me achar com cara de panaca, mas eu não tenho idéia de quem era aquela mulher. Não a vejo há anos, mas acho que não era ela não... O bebum virou a sua cachaça toda de uma vez e depois ficou olhando para o chão, reflexivo, com um sorriso torpe nos lábios. Depois de um tempo, finalmente falou claramente: Não era ela mesmo, Cuia... Mas então, quem era ela?... Depois de fazer uma careta, como se rebuscasse o passado, explicou: Você não se lembra da Lalá, a menina que vendia bala na estação do trem... Não, não me lembro mesmo...

Eu ainda era um homem respeitado naquele tempo. Pois bem, eu sempre comprava umas balas pagando uns centavos a mais, mas a Lalá não pisou no meu laço. Anos depois meteu-se com aquele bandido, famoso por cortar as orelhas dos seus desafetos... O Pinga-Fogo... Isso, ele mesmo. Ele sustentava a ela e a outras molecas. A Lalá engravidou para se sentir mais segura, mas o cara apareceu cheio de buracos e pouco depois ela perdeu o bebê. Então andou na mão outros bandidos, vendida como mercadoria ou emprestada, para os mais valentes. E desapareceu de repente. Passou uns anos fazendo programas com gente endinheirada, gerentes de banco, diretores de empresa... Então, foi nesse tempo que ela conheceu o Vela... Não, Cuia. O tal do Afrânio começou a se sentir incomodado e, para mudar o cardápio, demitiu a Lalá. No desespero ela conheceu o Pinga-Fogo que, no início, deu guarita pra ela... Mas não deu pra reconhecer, mermão. Ta muito diferente... Por isso eu lhe disse que não era ela. Você acha que depois de passar por tudo o que ela passou, alguém pode continuar sendo a mesma pessoa de antes?... É, você tem razão... Tem três meses que ela reapareceu, ta morando num privé dividido com outra, no bairro aí de trás... Mas por que ela tomou aquela iniciativa? O Vela podia meter a mão na cara dela... Porque, como lhe disse amigo, coisa mais linda é o amor...
 
O Cuia custava a acreditar. Não vai me dizer que ela está apaixonada pelo Hermes?... Que apaixonada coisa nenhuma, Cuia... E como ela veio parar aqui na birosca?... Eu chamei, ora. Ela é puta, não é adivinha. Mas eu conheço ela muito bem. Você sabe que conheço as putas daqui. Não posso mais pagar pelos serviços delas, mas conheço bem várias delas e sou amigo delas... Que coisa de doido, quem vai pagar? Quando o Vela entender tudo não vai tirar um tostão do bolso... Nada de doido não, Cuia. Ela não veio receber dinheiro não... Como não?... O bebum parou, se ajeitou no banco e continuou: Cuia, meu velho Cuia, eu já vivi um pouco mais que você. E lhe digo com toda a convicção: As mulheres que vivem de programa não são todas iguais. Mas são seres humanos todas elas, têm sentimento. Eu não pedi, apenas perguntei se ela queria fazer isso. Ela confiou em mim e topou fazer... Mas o Hermes não ama essa mulher... Já deve estar amando, Cuia... Mas não é a Laurinha que ele ama... Que diferença faz, Cuia? Ele precisava amar, se regenerar, tirar o paredão de dentro dele. Você acha que o amor dele, que ele não podia exercer e não servia pra nada, é mais amor que o da Lalá, dado de graça, pela necessidade dele e por amizade a mim? E ademais ela não tem mais nada a perder, só tem a dar. Qual o pecado nesse caso?... Mas por causa dela o Vela podia ter perdido a vida, lá no banheiro do caça-vírus. E noutras vezes, porque ficar pegando as mulheres dos outros, se não for pecado com certeza é muito perigoso...
 
E será que o Vela vai segurar a peteca? Do jeito que saiu daqui, não sei não... Ora, Cuia, ela é uma mulher sofrida, experiente, com certeza vai dar o jeito dela... Mas ele não vai se casar com ela, né?... Casar? Acho que ela não ta pensando nisso, não. Não é esse o trato. Se você sair com uma puta e falar em casamento, nunca mais ela sai contigo, pra não apanhar do cafetão... Mas vai que a Laura pensa... Acho mais fácil que o doido do Vela queira isso... O Cuia pediu a conta ao Portuga, pagou a cachaça e pendurou a conta do uísque, reclamando do preço. Ó crioulo! Então meu estabelecimento virou agora a casa da sogra? Vais dependurar a conta do outro? — O Portuga fez-se de indignado... Ó Português, não virou agora não. E já saindo o mulato completou, para desespero do birosqueiro: Não virou porque sempre foi. Ou você pensa que eu esqueci de quando abriu aqui esse seu barraco? Eu fui dos primeiros a honrar sua birosca com a minha presença, seu ingrato. Nem água pra lavar os copos você ainda não tinha... Ora pois espere aí mesmo, que eu já mostro a sua honra... Para delírio da freguesia o Portuga sacudiu no ar uma garrafa vazia, porém o Cuia já se encontrava na calçada, a uma distância segura, fazendo gestos obcenos para irritar ainda mais o amigo birosqueiro. Vinde cá, ó crioulo! Vou mandar o meu São Jorge correr uma gira atrás de você!... Qual São Jorge? Esse aí cheio de poeira? Deixa de ser mão-de-porco, ó português, e dá uma lança nova pra ele. Ó que o dragão acaba comendo ele, heim...

Depois, já descendo a ladeira, com ar de satisfeito o Cuia disse ao seu amigo bebum: Bom, tomara que pelo menos você esteja certo e ela saiba acender velas. Senão, quando ele voltar aqui, vai dizer que de repente bateu um vento... Que nada, Cuia, você manja muito é de despacho, mas num entende nada de computadores. Ele vai dizer que justo quando o programa estava carregado, caiu a conexão!

Foto de Sirlei Passolongo

Menina do Brasil

Era uma menina linda
Olhos cheios de esperança
Queria pouco da vida
Apenas uma criança

Era uma menina sapeca
Revestida de alegria
Só desejava uma boneca
Pra lhe fazer companhia

Era uma menina pura
Sonhava os contos de fadas
Alma cheia de ternura
Ainda brincava de mãos dadas

Era menina faceira
Coração doce e apaixonado
Só pensava em brincadeira
Vivia num mundo encantado

Era menina tão bela
Sorriso cheio de amor
Sonhava ser cinderela
Desabrochava em flor

Era menina da favela
Pés no chão, sonhos na lua
Triste sorte da bela
Só queria sair da rua

Era menina de tantos brasis
Filha do sertão e da cidade
Só queria ser feliz
Num lar sem frio e maldade

Era menina brasileira
Filha da desigualdade
Sonhava pra vida inteira
Apenas a felicidade

Era menina inocente
Acreditava nos homens
E tudo que tinha na mente
Era matar sua fome

Era menina esperança
Continuava a sonhar
Só queria ser criança
Sem fome poder brincar

Era menina do noticiário
Vendida por algum dinheiro
Por mais um salafrário
A um gringo estrangeiro.

É , agora, uma menina triste...

(Sirlei L. Passolongo)

Foto de Remisson Aniceto

Insurrecto

Misérrima
vida de favela
que vivi!
Desvalida
vida ávida,
desprovida.
Vida sem brios,
sob pontes,
sobre rios...
Vi-a vil,
hostil,
dividida.
Quisera vê-la
à luz de velas,
baixelas...
Ah! Vida vil,
vil vida.
Viu vida mais vil?
Viu?
Ó Orco!
Ao me vires,
vil verme,
ousarei vê-la
in extremis
à luz de velas!

Foto de Boemio

Anjo caido

Nunca vi tanta maldade junta em um só coração
Tenho vontade de chorar mas não consigo,
Perdi minhas asas ao cair,
Chamei meu pai
Mas parece que ele quer que eu fique aqui
Por que meu Deus?
Fui trancado numa jaula pra apresentações de circo,
Eles jogavam amendoim em mim e riam de mim,
Pediam para pular e fazer caretas engraçadas,
Da minha auréola jogaram disco,
Calçaram-me sapatos de marca, calça jeans e gravata social,
E tive de trabalhar 8 horas por dia,
Deram-me um barraco na favela
E todos os dias eu volto de ônibus lotado
E sou assaltado na esquina.
Minha jaula não tem luz pra iluminar,
Quando tenho tempo de orar ao Senhor
Logo tenho de acordar,
Meu Criador me ajude
Estou sofrendo muito aqui
Minhas asas estão demorando a crescer
O que eu faço?
_ “Meu anjo, esta é uma provação que estou lhe impondo
Faço isso pra ver o quanto se parece com eles
E o quanto sua fé se equivale a deles,
As pessoas que lhe fazem agora sofrer
Oram todos os dias mas não pedem pra suas asas crescerem,
Você é um anjo e deves lhes proteger
Mesmo para que isso aconteça deixe de existir...
“Mas meu Senhor o que eu posso fazer,
“Teu filho aqui morreu, imagine o que farão comigo...”
“Tens muito medo, deixe que lhe protejo
anuncie o que foi anunciar, que logo Eu vou voltar.”
O anjo foi trancado no calabouço frio do esquecimento,
Seu Senhor voltou pra lhe buscar, suas asas cresceram, ele não quis voar.

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