Farrapos

Foto de Carmen Lúcia

Não digas nada...

Não digas mais nada...

Teus olhos já disseram tudo.

Mudos, fizeram-me entender

o que tuas palavras sonoras

foram incapazes de dizer...

Perderam a força, a elocução

e na indecisão mudaram de rumo,

acovardaram-se perante a missão.

Nelas eu não iria acreditar.

Não me atingiriam tão fortemente

quanto teu olhar...

Esse sim, calou-me fundo...

Tiro certeiro, profundo,

que me fez cambalear,

perder o chão, rodar o mundo,

chorar.

Como descrer da crueza de um olhar?

Final inconsolável para quem ama

e se vê inesperadamente só,

sem mesmo o consolo da ilusão,

tendo a presença constante da solidão.

Dor inigualável ao ver fragmentados

os sonhos,

outrora tão sonhados...

Agora, farrapos atirados ao chão.

E os próximos passos

tornar-se-ão pesados, drásticos...

Deixar o tempo passar, tentar esquecer.

Tempo que não passa....

Teima em retroceder.

Achar motivo pra sorrir...

Como? Se a razão de meu riso

não está mais aqui?

Viver por viver...

Ou sobreviver.

É o que tento, o meu intento.

Sentindo na alma um frio gelado;

o coração pulsando fraco...

Vivendo dias sempre iguais,

que projetam no ar

um quê de "nunca mais..."

(Carmen Lúcia)

Carmen Lúcia Carvalho de Souza
19/02/2009

Foto de Edson Cumbane

Os meus pensamentos

Os meus pensamentos
Sobem montes
E descem
Até as águas mais profundas
E pensam, porquê mentes moribundas?

Os meus pensamentos
Tocam horizontes
Descobrem fontes
Dos mais macabros segredos.

Os meus pensamentos
Tocam ventos
Vivem todos os tempos
Tornam-se farrapos
Quando param de indagar.

Os meus pensamentos
Indagam o amor
Indagam a dor
São passa-tempos
São momentos
Que se resumem
Em pensamentos
Que se assumem
Em sentimentos
Os meus pensamentos...

Foto de LuizFalcao

"O MENSAGEIRO"

De LuizFalcão

Um homem!...Farrapos!...Pés descalços! Na mão um cajado!...
Uma sensação forte comovia a todos quando chegou o estranho!...
A praça estava cheia naquele dia!...
Era como um imã àquela figura.
Em pouco tempo uma multidão o cercara como se fora conhecido.
Talvez um amigo?
Não era o caso, no entanto, havia um certo brilho no olhar!
Fascinante, inebriante, hipnótico!
De repente brados ecoavam da multidão:

- Fala-me do amor!
Disse o solitário
- Fala-me da esperança!
Implorou o desesperado
- Fala-me de vida oh sábio!
Suplicou o moribundo

Calmamente ergueu a cabeça, olhou fixamente o ajuntamento e como alguém que alcançara o conhecimento disse:

- “Falar-vos-ei a todos de uma só vez”

Uma pausa.

- “Sábio não sou”

Disse ele.

- “Posto que sábio, há um só e é aquele que das vossas necessidades me instruiu, não por palavras jogadas ao vento, mas com poder para aplacar duvidas e sarar feridas dos corações, qual os vossos neste momento”

Assim, continuou o indagado a responder aos seus interpelantes

- Trago-vos a Palavra que expressa a vontade e também o nome daquele que me enviou a responder-vos.
Quando perguntais pelo o amor, ou pela esperança, ou pela a vida, lembrai-vos peço-vos deste nome, posto que fora dele jamais achareis para vós resposta nem solução.

Ele é todas essas cousas e muito mais, e quem a Ele se achegar, jamais sentirá falta delas.

Falo-vos de Jesus Cristo o Salvador, Filho do Deus vivo, que deixou sua glória nas mãos do Pai Eterno e desceu a terra em forma da sua criação e se fez carne.

Ele, o Autor da vida, habitou entre os homens!
Experimentou as limitações humanas como se Deus não fora!
Viu a dor dos desvalidos com olhos de homem!
Sentiu as emoções humanas, das quais, todos vós sofreis os embates.
A tentação suportou em corpo humano e a tudo dominou por amor, para dar-vos a esperança da vida que está por vir.
A morte não pôde derrotá-lo, pois o Senhor da vida, da morte é o Mestre.
Mas ainda que por breve momento, sim, por paixão, por amor profundo pela obra de Suas mãos, que sois vós, permitiu-se perecer até ressuscitar ao terceiro dia depois de entregar nas mãos do Pai Eterno o seu Espírito Incriado.

Como O Cordeiro de Deus foi Ele imolado na cruz do Calvário!” ...
Dessa forma continuava a discursar o emissário, tendo a sua frente uma multidão ainda maior de ouvintes:

- “Amor!” ...

Oh Sim! Falar-vos-ei de Amor e direi que não é uma mera palavra a qual os homens vulgarizam”.
Amor é o sinônimo do auto-sacrifício ao qual o Pai das luzes dispôs-se por vós outros que interessados indagam.
O Seu amor é a esperança que traz vida aos corações sedentos da verdadeira justiça, posto que O Senhor dos senhores e O Mestre dos mestres, não vos criou para dar-vos a morte, mas formou-vos do barro para presentear-vos de vida.
Mas então, se assim é, por que vós vos sentis desesperados, abandonados e sem vida em vossos corações?
Porque sentis despojados do brilho da luz que do alto se vos reluz?

Perguntou o que discursava.

- “Responder-vos-ei também a esta questão, ainda que aparentemente possais já não querer saber, visto o tom que estas palavras possam percutir em vossas almas, no entanto, não silenciarei mais os lábios até que tudo o que me foi ordenado vos seja proclamado, porquanto sei que dentro dos vossos corações tais questões foram sondadas por Aquele que tudo vê.”

Fez uma pausa o arauto...

Olhando em volta, encheu-se da graça que do alto lhe trasbordava as entranhas.
Com a voz transformada, como se ele não fora o que discursava, disse em tom mais doce que o mel que escorre dos favos:

- “Por que me negais em vossos corações? Por quê!?...”.
...Minha Palavra o mundo correu e o rodeou e deu voltas e voltou sem nunca me chegar vazia.
Desde o inicio, por todos os meios e modos, através dos astros no firmamento, para que ao olhá-los imaginásseis que não estariam lá por mero acaso, antes, haveria uma mão que os houvera formado e que do acaso não sois vós também o fruto.
E assim, entendêsseis que há quem por vós se importe, e por meio de Homens Santos vos falei.
Assim, através de toda a natureza que vos cerca, Preparei os vossos corações para que quando chegasse aos ouvidos vossos a palavra minha, fosse como boa semente que cai em terra fértil e brota e cresce e frutifica.
Mas vós porém, escutando-a não ouvistes.
E vendo a cruz, altar do sacrifício eterno e definitivo, não crestes e não olhastes dentro dos olhos meus, quando no momento em que o sangue me escorria o rosto, ao Pai clamei por vós, para que não vos destruísse.
Minha cabeça cravada em espinhos foi coroada por todos os homens de sobre a terra, mesmo aqueles ainda não nascidos, para que nenhum de vós fosse inocente.
Sim por todos vós, obra das minhas mãos. Fiz-me sacrifício!
Minha dor e meu amor são o gracioso dom com o qual vos presenteei.
O transpasse dos pregos em mãos e pés, dos quais permiti que minha vida se esvaísse para que por meu sangue o Pai Eterno não vos visse a maldade dos corações, posto que o meu sangue tem este poder.
O poder de lavar-vos as maldades, as quais Eu, Eu mesmo vos perdoei.
Estáveis nus diante de meu Pai, porém, com cada gota do meu sangue confeccionei para vós vestes brancas e cobri vossas transgressões desde as vossas cabeças até a planta dos vossos pés e vos revelei o propósito que desde a eternidade estava no coração do Pai.
Quando subi as minhas alturas para assentar-me ao trono da minha glória, não vos abandonei, antes enviei sobre a terra o meu Espírito para vos guardar, ensinar e conduzir, mas vós não o ouvis, estais surdos com o alvoroço dos povos e as festas das vossas maldades.
E agora?
Que vos farei?
Vós os que não me deram ouvidos perguntais pelo amor, e pela esperança e pela vida?
A todos os que clamais com sinceridade, falo-vos novamente pelo mensageiro, destes últimos dias da terra, que diante de vós está.
Quereis vida?
Ouvi-o!
Quereis amor?
Ouvi-o!
Quereis esperança?
Eis ai diante de vós aquele, por cuja boca falo-vos novamente.
Ouvi-me agora, antes que tarde seja ou com toda certeza, assim como do pó vos tirei para amar-vos, para o pó vos lançarei e no mar do esquecimento, nunca mais sereis lembrados, posto que isto vos prometo, quando voltar nas nuvens com meus santos e anjos, vos declararei também a extensão do meu juízo!
E, se encontrar-vos novamente perguntando por todas estas coisas, sem que delas tenhais tomado à posse que hoje vos dou, por minha palavra eu vos digo hoje:
Não achareis mais em mim clemência e nem misericórdia, ainda que com lágrimas de sangue as imploreis.
Meus anjos tomar-vos-ão de sobre a face da terra, assim como as águias que arrebatam as suas prezas e lançar-vos-ão no lagar da minha ira, pois desprezastes o meu amor que vos derramei.
Assim digo-vos: Vinde!...
...Vinde e banhar-vos-ei no meu sangue!
Tomais, pois a posse da herança que vos preparei para que no lugar da ira minha, acheis os céus em festa ao ver passar pelos portais da santa morada, vós todos, os que para meu Pai, com o meu sangue comprei!...
...Vinde! ...Vinde!!!!!!.."
Calou-se em profundo silêncio o mensageiro e abrindo arcos gigantescos de alvas e reluzentes penas desapareceu!....

Foto de Carmen Lúcia

Onde mora a tristeza?

No cair das folhas secas de outono
que vagam em abandono
despindo o verde dos sonhos,
morrendo sem ter vivido a emoção
do renascer de uma nova estação.

Na noite sem lua, sem prata e crua,
onde estrelas se escondem, escuras,
e sombras ressurgem do nada,
onde o silêncio faz sua caminhada
e a tristeza peregrina nua.

No pranto do lobo que uiva, do cão que ladra
as dores da infinda madrugada...
Euforia que acaba. Premonição!
O riso se fecha, o homem se cala
e a tristeza abala sem anunciação.

Mora nos becos úmidos, nas esquinas,
onde farrapos humanos se esquivam
da dor de mostrar o que são, por que são...
Pra que tentar sobreviver?
Quem lhes irá estender a mão?

Enfim, no coração de quem parte
ou de quem fica...
lamentando a despedida,
chorando a dor da saudade,
clamando a volta de alguém,
querendo partir também...

A tristeza, com certeza,
mora onde o vazio persiste
em eternizar o que é triste.

(Carmen Lúcia)

Foto de Edson Cumbane

Belos momentos

São belos momentos
Que me trazem
Os farrapos do tempo
Que me fazem
Fugir dos tormentos.

São simples
E quase indizíveis
E quase impossíveis
Os momentos
Nos meus pensamentos
São belos momentos!

Foto de Carmen Lúcia

Não digas nada!

Não digas mais nada!
Teus olhos já disseram tudo.
Mudos, fizeram-me entender
o que tuas palavras sonoras
foram incapazes de dizer...
Perderam a força, a elocução
e na indecisão mudaram de rumo,
acovardaram-se perante a missão.
Nelas eu não iria acreditar.
Não me atingiriam tão fortemente
quanto teu olhar...
Esse sim, calou-me fundo...
Tiro certeiro, profundo,
que me fez cambalear,
perder o chão, rodar o mundo,
chorar.

Como descrer da crueza de um olhar?

Final inconsolável para quem ama
e se vê inesperadamente só,
sem mesmo o consolo da ilusão,
tendo a presença constante da solidão.
Dor inigualável ao ver fragmentados
os sonhos,
outrora tão sonhados...
Agora, farrapos atirados ao chão.

E os próximos passos
tornar-se-ão pesados, drásticos...
Deixar o tempo passar, tentar esquecer.
Tempo que não passa....
Teima em retroceder!
Achar motivo pra sorrir...
Como? Se a razão de meu riso
não está mais aqui?

Viver por viver...
Ou sobreviver.
É o que tento; o meu intento.
Sentindo na alma um frio gelado;
o coração pulsando fraco...
Vivendo dias sempre iguais,
que projetam no ar
um quê de "nunca mais..."

(Carmen Lúcia)

Foto de pétala rosa

ONDE GUARDEI MEUS SONHOS

ONDE GUARDEI MEUS SONHOS

No teu peito que beijei ontem numa madrugada
calma e quente
nas tuas mãos cheias de encantos.

Nos momentos entrelaçados dos teus beijos de linho suave
e nas folhas caídas de mais um outono de silêncio.

Nos nenúfares dum lago onde a tua mão me beijou
em momentos de cândura e paixão.

No relicário da memória ou talvez numa rosa transbordando de saudade.

Guardei meus sonhos, na nudez branca dos lençois
no teu corpo adormecido entre pétalas numa
partilha de beijos e desejos.

Na pele veludo e cetim do prazer vibrando na paixão solta
dos gestos loucos que percorriam
cada fio do meu cabelo.

Nas palavras de poesia, a tua e a minha
nos hinos de amor, numa harpa de pura inocência.
Oh! são divinas as palavras onde me escondo
e vivo esta paixão, onde guardo os farrapos dos meus sonhos
adormecidos pelo cantar de mais uma fantasia
dos teus beijos de amante.

Na fragilidade secreta dum encontro onde
nos amanos em silêncio
na pura luz do meu ventre macio
onde descansas, e me beijas com a magia
duma estrela no infinito.

Guardei sim o meu sonho, no meu corpo
numa dança de fogo inebriante onde se agita a alma
num jardim de beleza nascido dum linho raro, e,
onde deuses enlaçados
pelo engano dos sonhos
acordam florindo mais um tempo no mundo das rosas...

Naquela aguarela eu guardei meus sonhos, pintados
no olhar do desejo...

Amália LOPES

--

Foto de Sonia Delsin

MENTIRAS

MENTIRAS

Ele mentia.
Ela sabia.
E fingia.
Fazia de conta que não via.
Ele sempre mentia.
Ela sofria.
Seu ser se contraía.
E buscava força lá no fundo.
Não conseguia entender o mundo.
Por que, se ela o amava tanto, ele lhe causava tanto pranto?
Mentiras.
Seu coração ficou em farrapos, em tiras.
E ela pensava.
Tantas mentiras.
Tantas...
Que sentido teve o seu viver?
Quanto sofrer!
Ela só queria... uma coisa... esquecer.

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

" VIDA DE ARTISTA "

VIDA DE ARTISTA

Nem só de gloria vive João, pois há de se prover o pão.
Numa luta incessante, João não tem tempo o bastante.
Para ser um desportista, nem tão pouco um artista.
Pois aos seus precisa acolher
Com seus parcos vencimentos, sem lamurias ou lamentos.
Aos seus dar o que comer
Nem só de gloria vive João
Não adianta o estrelato, pois é como cidadão comum.
Que João se sente frágil, não importa ser hábil bonito ou ágil.
E é no anonimato, que João sente a realidade.
Pra que tanta vaidade, se os seus não estão amparados.
Sente uma enorme depressão, de um lado a fama e a glória.
Do outro, a fome e a miséria.
Mas que vida tão inglória, não era isso que João queria.
Ao se deparar um dia, com o glamour e a pobreza.
João chorou de tristeza, pois ao representar com alegria.
Esconde no peito a agonia, de aos seus não conseguir amparar.
Na sua alegre fantasia, João sonhou um dia.
Seu personagem trocar.
Ao contrario do que parece
Ele aparenta ser rico feliz e sem problemas
Mas bem sabe que só ele apenas
Tem um prato para comer
João queria ser artista famoso
Ser saudável rico e charmoso
Mas a realidade é sincera
Não mente esconde ou adultera
A condição de qualquer cidadão
Mas João é perseverante, para levar seu sonho adiante.
Trabalha de dia e representa de noite
O teatro lhe realiza, mas a verdade é um açoite.
Oh dura fantasia, ou será realidade.
João é um homem de verdade
Sem ferir sua hombridade, até mulher teve que ser.
Existem Jogos por toda parte
Cada um exercendo a sua arte
Que para realizarem seus sonhos
Amargam tempos medonhos, para seus ideais alcançar.
E neste ir e vir, só nos resta aplaudir.
Pois o show não pode parar.
E João terminou sua parte, realizou sua talentosa arte.
Agora é hora de ir pro barraco, vestir seus humildes farrapos.
E pro trabalho ir se entregar, porque a vida também não pode parar.

Foto de ANACAROLINALOIRAMAR

DESGASTE DE UMA RELAÇÃO!

*
*
*
*
Dessa união não ouve então.
Que se esperava o coração.
Fagulhas dos ressentimentos,
Deceparam com o tempo.
Os traços de um relacionamento.
Que o tempo não suportou.
Foi com muito pesar que terminou,
Sem as batidas do coração,
Não tem laços que não se desfazem.
Falsas promessas,noites vazias,ilusões
E o contentamento de uma reação sem ação.
Um dia, tudo foi formoso,foi ,e fui amante ideal.
Mas hoje, isso nos faz mal.
A direção é essa a tomar, temos que nos afastar.
Para indiretamente não nos magoar.
E os farrapos foram que restaram, dessa relação,
Sem condição de permanecer.
Vamos esquecer, e nossas vidas viver.
E quem sabe amigos ser?!

Anna
09/05/08 ( A FLOR DE LIS )*-*

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