Família

Foto de Fernanda Queiroz

Lembrar, é poder viver de novo.

Lembranças que trás ainda mais recordação, deixando um soluço em nossos corações.
Lembranças de minhas chupetas, eram tantas, todas coloridas.
Não me bastava uma para sugar, sempre carregava mais duas, três, nas mãos, talvez para que elas não sentissem saudades de mim, ou eu em minha infinita insegurança já persistia que era chegado o momento delas partirem.
Meu pai me aconselhou a plantá-las junto aos pés de rosas no jardim, por onde nasceriam lindos pés de chupetas coloridas, que seria sempre ornamentação.
Mas, nem mesmo a visão de um lindo e colorido pé de chupetas, venceram a imposição de vê-las soterradas, coibidas da liberdade.
Pensei no lago, poderiam ser mais que ornamento, poderia servir aos peixinhos, nas cores em profusão, mesmo sem ser alimentação, prismaria pela diversão.
Já com cinco anos, em um domingo depois da missa, com a coração tão apertadas quanto, estava todas elas embrulhadas no meu pequenino lenço que revestia meus cabelos do sol forte do verão, sentamos no barco, papai e eu e fomos até o centro do lago, onde deveria se concentrar a maior parte da família aquática, que muitas vezes em tuas brincadeiras familiar, ultrapassavam a margem, como se este fosse exatamente o palco da festa.
Ainda posso sentir minhas mãos tateando a matéria plástica, companheira e amiga de todos os dias, que para provar que existia, deixaram minha fileira de dentinhos, arrebitadinhos.
Razão óbvia pela qual gominhas coloridas enfeitaram minha adolescência de uma forma muito diferente, onde fios de metal era a mordaça que impunha restrição e decorava o riso, como uma cerca eletrificada, sem a placa “Perigo”.
O sol forte impôs urgência, e por mais que eu pensasse que elas ficariam bem, não conseguia imaginar como eu ficaria sem elas.
A voz terna e suave de papai, que sempre me inspirava confiança e bondade, como um afago nas mãos, preencheu minha mente, onde a coragem habitou e minhas mãos pequeninas, tremulas, deixaram que elas escorregassem, a caminho de teu novo lar.
Eram tantas... de todas as cores, eu gostava de segura-las as mãos alem de poder sentir teu paladar, era como se sempre poderia ter mais e mais ás mãos, sem medos ou receios de um dia não encontrá-las.
Papai quieto assistia meu marasmo em depositá-las na água de cor amarelada pelas chuvas do verão.
Despejadas na saia rodada de meu vestido, elas pareciam quietas demais, como se estivessem imaginando qual seria a próxima e a próxima e a próxima, e eu indecisa tentava ser justa, depositando primeiro as mais gasta, que já havia passado mais tempo comigo, mesmo que isto não me trouxesse conforto algum, eram as minhas chupetas, minhas fiéis escuderias dos tantos momentos que partilhamos, das tantas noites de tempestade, onde o vento açoitava fortes as árvores, os trovões ecoavam ensurdecedores, quando a casa toda dormia, e eu as tinha como companhia.
Pude sentir papai colocar teu grande chapéu de couro sobre minha cabeça para me protegendo sol forte, ficava olhando o remo, como se cada detalhe fosse de suprema importância, mas nós dois sabíamos que ele esperava pacientemente que se cumprisse à decisão gigante, que tua Pekena, (como ele me chamava carinhosamente) e grande garota.
Mesmo que fosse difícil e demorado, ele sabia que eu cumpriria com minha palavra, em deixar definitivamente as chupetas que me acompanharam por cinco felizes anos.
Por onde eu as deixava elas continuavam flutuantes, na seqüência da trajetória leve do barco, se distanciavam um pouco, mas não o suficiente para eu perdê-las de vista.
Só me restava entre os dedinhos suados, a amarelinha de florzinha lilás, não era a mais recente, mas sem duvida alguma minha preferida, aquela que eu sempre achava primeiro quando todas outras pareciam estar brincando de pique - esconde.
Deixei que minha mão a acompanhasse, senti a água fresca e turva que em contraste ao sol forte parecia um bálsamo em repouso, senti que ela se desprendia de meus dedos e como as outras, ganhava dimensão no espaço que nos separava.
O remo acentuava a uniformes e fortes gestos de encontro às águas, e como pontinhos coloridos elas foram se perdendo na visão, sem que eu pudesse ter certeza que ela faria do fundo do lago, junto a milhões de peixinhos coloridos tua nova residência.
Sabia que papai me observava atentamente, casa gesto, cada movimento, eu não iria chorar, eu sempre queria ser forte como o papai, como aqueles braços que agora me levantava e depositava em teu colo, trazendo minhas mãozinhas para se juntar ás tuas em volta do remo, onde teu rosto bem barbeado e bonito acariciava meus cabelos que impregnados de gotículas de suor grudava na face, debaixo daquele chapéu enorme.
Foi assim que chegamos na trilha que nos daria acesso mais fácil para retornar para casa, sem ter que percorrer mais meio milha até o embarcadouro da fazenda.
Muito tempo se passou, eu voltei muitas e muitas vezes pela beira do rio, ou simplesmente me assustava e voltava completamente ao deparar com algo colorido boiando nas águas daquela nascente tão amada, por onde passei minha infância.
Nunca chorei, foi um momento de uma difícil decisão, e por mais que eu tentasse mudar, era o único caminho a seguir, aprendi isto com meu pai, metas identificadas, metas tomadas, mesmo que pudesse doer, sempre seria melhor ser coerente e persistente, adiar só nos levaria a prolongar decisões que poderia com o passar do tempo, nos machucar ainda mais.
Também nunca tocamos no assunto, daquela manhã de sol forte, onde a amizade e coragem prevaleceram, nasceu uma frase... uma frase que me acompanhou por toda minha adolescência, que era uma forma delicada de papai perguntar se eu estava triste, uma frase que mais forte que os trovões em noites de tempestade, desliza suava pelos meus ouvidos em um som forte de uma voz que carinhosamente dava conotação a uma indagação... sempre que eu chegava de cabeça baixa, sandálias pelas mãos e calça arregaçada á altura do joelho... Procurando pelas chupetas, Pekena?

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados

**Texto não concorrendo.**

Foto de Sentimento sublime

Conversa com O Criador... Osvania Souza

Conversando com O Criador!

Senhor...
Venho a Ti.
Não para pedir-Lhe.
Mas sim meu Senhor e criador.
Para agradecer-lhe.
Quero com você a sós
Conversar neste momento
Dizer-lhe o quanto grata eu Lhe sou.
Apesar de minha ignorância.
De minha pequenez diante de ti.
Sei que sou parte de Tua criação.
E tento com Tua ajuda
Chegar à perfeição.
Quero respirar bem fundo neste momento
Sentir que o ar que respiro em meu peito
É a essência da vida que é Você.
Sei Senhor que em mim Você fez guarida.
Quero agradecer a confiança a mim depositada.
Dizer que a cruz que Tu me destes não é pesada
Porque Você está comigo a caminhar.
Sabe meu Deus...
Vou falar um pouquinho da felicidade.
Ela existe sim e Você bem sabe.
Porque dentro de mim Você está.
Então meu Pai, meu Senhor e Criador.
Aqui estou inteira a Seu dispor
Faça de mim se digna eu for
Seu instrumento.
Não há nada que empeça este momento
E ao mundo eu vim para Te servir e não lamentar.
Se neste momento estou Contigo a conversar.
É porque na minha estrada Tu estás a caminhar.
Só um pedido eu Te faço neste instante.
Seja minha e de minha família
Uma presença constante.
Abençoando-nos e aos nossos semelhantes.
E tudo que nos pertence.
E junto a Ti venho agora neste instante
Agradecer o meu viver.
Obrigado Senhor.
Osvania

Foto de Osmar Fernandes

Vigário ou Vigarista?

Vigário ou Vigarista?

Celebra a missa,

Dá comunhão, evangeliza.

Ouve a confissão.

Batiza, crisma, casa, abençoa;

Comunga, canoniza, exorciza.

Dá extrema-unção,

Sermão, excomunga...

Coleta o dízimo,

Cobra serviços caros...

Impostos, não paga!

Recebe honorário justo.

Anda sempre de carro de luxo...

Faz bingo, rifa, festas...

Mora em casa de rico,

E tem sempre um serviçal por perto.

Nem sempre é celibatário...

Vende como ninguém a bíblia.

Prega o respeito à família...

Grava disco, canta no carnaval.

É pop, é sábio, é artista?

É o profeta ou o Judas de Cristo?

Se for moral ou imoral, juro que não sei!

É Vigário ou vigarista?!

Foto de CarmenCecilia

NOSTALGIA

Nostalgia

Hoje to meia que nostálgica...
Vendo o tempo que passou e fazendo uma retrospectiva...
Vi-me no álbum de retratos da família toda reunida
Sintonizei com todos os momentos que vivi nessa vida...

Tantas recordações... Imagens refletidas...
De sentimentos de pura alegria
Uns que se sedimentaram
Outros que só na memória ficaram...

Há fotos de pessoas presentes...
De outras agora já ausentes...
De momentos decisivos, marcantes...
E alguns remontam a uma época que não me lembro...

Coletânea de preciosidades...
De um que de saudades...
Da infância irmanada...
De grandes risadas...

De pais, tios, sobrinhada...
Como numa grande manada...
Dos colegas de escola...
Na foto de formatura... Em que agora muitas vezes não nos reconhecemos...
Será que este é aquele ou aquele é este?

Tenho nas mãos agora meu primeiro amor...
Perpetuado naquela imagem...
Foi embora e na sua bagagem levou minha primeira dor
A primeira frustração... Que o tempo amarelou.

Prossigo viagem...
Nessa triagem...
Em que cada momento registrado...
Traz sua mensagem...

Vou e volto do passado para o presente...
Esquadrinho tudo com meus olhos ardentes...
E guardo tudo devagarzinho... Com cuidado...
Pois sei que somam parte da minha estrada de continua a caminhada...
Nessa variedade de lembranças que a vida nos marca...

Carmen Cecília

Foto de Dirceu Marcelino

ESTÓRIAS QUE SE REPETEM

“ESTÓRIAS QUE SE REPETEM”.

Este conto se baseia na estória de “Eros” e “Lara” e de “Marcílio”, os dois primeiro personagens fictícios de nossa poesia denominada Súplica.
As estórias de “Eros” e “Marcílio” podem ser comparadas a do francês Jean Genet .
Sabe-se que “Genet nasceu de uma união ilegal. Sua mãe abandonou-o na primeira infância, tendo sido criado até a adolescência por uma família substituta e depois teria passado alguns anos em orfanato do governo, em Paris. Sempre se sentiu ‘um enjeitado’, pois seus irmãos adotivos o chamavam de ‘bastardo’, consideravam-no “ovelha negra” da família, a quem imputavam os atos mal feitos que fizessem e consta até que fora vítima de violência sexual”.
Aos poucos até os demais membros da pequena comunidade passaram a lançar-lhe a responsabilidade de todos os atos anti-sociais que aconteciam na localidade e passaram a chamá-lo de “ladrão” e “homossexual”. Desse modo, não tendo pai, não mantendo contatos com a mãe, sem ninguém com quem se identificar, foi assumindo a única identidade que poderia internalizar.
Porém, nosso personagem “Eros”, apesar de ter estória muito parecida com a de Genet, ao contrário, tinha pais e vários irmãos. Aliás, estes se destacavam no pequeno vilarejo em que moravam por serem trabalhadores, construtores de “calçadas de pedrinhas”. Eram muito requisitados para fazer seus serviços e “Eros”, com cerca de quatorze de idade podia ser visto acompanhando-os quase todos os dias pela manhã quando a família saia para o serviço diário e só à tardezinha retornava para casa.
Ao entardecer observa-se que “Eros” se associava ao grupo de adolescentes do bairro, pequeno grupo da vizinhança, grupo de amigos, autênticos. Passava a gozar dos folguedos juvenis típicos daquela região e sempre terminavam as brincadeiras em “peladas de futebol”. Após as mesmas, permaneciam por algumas horas conversando, raramente seu grupo mantinha contatos com meninas, apesar de que nas proximidades e no mesmo horário formar-se outro grupo de moças.
O primeiro dos adolescentes que passou a se associar com as moças foi “Eros”, que logo começou a namorar uma delas, a mais bonita por sinal – “Lara”. Esta aos dezesseis anos se destacava por sua beleza. “Eros” também era um rapaz bonito e logo começou a namorar “Lara”, um casal lindo de namorados e inseparáveis. “Lara” engravidou e apressou-se o casamento que sequer havia sido programado. Casaram-se e passaram a morar em uma casa doada pelos irmãos de “Eros”. Tiveram um casal de filhos, duas crianças que se destacavam por sua beleza e gentileza.
No mesmo período em outra pequena cidade vizinha eis que surge - “Marcílio”. Também, ao contrário de GENET, tinha pais. Mas eram ambos sexagenários. Alguns dizem que essa é uma grande dificuldade de pais que concebem muito tardiamente, pois quando alcançam a terceira idade já não tem energia suficiente para cuidar dos filhos adolescentes e acompanhá-los nos primeiros anos e após atingirem a maioridade. Parece-nos que foi o que aconteceu com “Marcílio”. Não teve o privilegio de ser assistido por seus pais já idosos, na sua infância e adolescência.
Mesmo sendo um belo rapaz, ao contrário de “Eros”, não se interessou por namoradas. Ao contrário, diziam que se interessava por rapazes. Apesar desses comentários na realidade nunca ninguém comprovara tal fato. Destacava-se no colégio onde estudava por ser inteligente e vivaz. Logo começou a ser chamado pelos colegas adolescentes de “Marcília”. Percebeu-se que não se preocupava com essas difamações, e aos poucos foi assumindo essa “identificação diferencial”. Como Genet assumiu a identificação de homossexual.
Porém, mais grave do que a assunção dessa identidade foi o fato de “Marcílio”, num mecanismo de fuga e evasão, passar a fazer parte de outro grupo pernicioso, uma “gangue” de usuários de drogas.
Talvez, tenha passado a associar-se a este grupo inconscientemente, induzido pelo casal que praticamente o adotou, fazendo-nos lembrar do slogan que hoje vemos afixados nas traseiras de ônibus caminhões e em alguns locais públicos:

“Adote seu filho, antes que ele seja adotado”.

“Marcílio” após ser adotado pelo casal, de alguma forma começou a se relacionar com outros jovens, pessoas de outra cidade, maior e próxima, e prosseguindo naquele mecanismo de busca de identificação, e de evasão, passou a fazer parte de um grupo formado por pessoas de fora do circulo familiar e da comunidade local, membros clandestinos, ocultos, que compareciam à pequena cidade para adquirir alguma coisa que só o “respeitável casal” comercializava muito livremente, pois além de vendedores de roupas – mascates – também eram respeitáveis no círculo dos ricos, dos mais abastados, pois moravam em uma das mais belas casas da pequena cidade e assim seus relacionamentos se estendiam aos altos círculos sociais.
Provavelmente, os pais legítimos de “Marcílio” gostaram do interesse do casal por seu filho, mesmo porque além de morar bem, do aparente sucesso material o varão exercia respeitável cargo público.
Com bom grado deixaram que “Marcílio” com eles permanecesse, trabalhasse, até morasse. Pensavam que ele trabalharia no bar, dormiria na casa do casal, mas na realidade o jovem passava os dias no bar, no recinto de jogo e à noite passava ao relento a perambular pela outra cidade vizinha, a “trotoir” pela praça e pelas ruas quase desertas até o amanhecer.
Ainda que se resumisse à jogatina ou a promiscuidade sexual o casal de velhos não teria muito com o que se preocupar. O problema era ainda mais grave. “Não percebia o velho casal que seu filho passava por problemas individuais que ‘induzia-o’ à fuga e ao refúgio no consumo de estupefacientes e ao cometimento de infrações conexas”
Aos poucos o respeitável casal que o “adotou” começou a utilizar “Marcílio”, para outros comércios que faziam além das vendas de roupas, que ofereciam para seus clientes de casa em casa.
Percebeu-se então que era um comércio clandestino e ilegal quando alguns cheques emitidos pelo casal foram objetos de registro de boletim de ocorrência na delegacia de polícia local e nas investigações procedidas constatou-se que apenas a assinatura era verdadeira, as demais escritas eram todas falsificadas. O casal dono do cheque, mesmo prejudicado desejava apenas resgatá-los, mas de forma alguma queriam que fosse aberto inquérito. Pois diziam que não pretendiam responsabilizar o adulterador, pois este era “Marcílio” “seu filho adotado” que já tinha naquela ocasião algumas passagens nesta mesma delegacia, por pequenos furtos e não pretendiam prejudicá-lo ainda mais. Por que será?
Ninguém sabia o que estava acontecendo, pois, geralmente, esses atos anti-sociais são imperceptíveis aos que não conhece a subcultura da localidade.
No seio dos grupos secundários que se interligam de modo imperceptível, através de um mecanismo de “transmissão cultural”, “alimentam uma tradição delinqüente com o seu peculiar sistema de valores anti-sociais, que se transmite de uma geração de residentes à seguinte”.
Na realidade “Marcílio”, não era apenas um pequeno delinqüente, hoje reconhecemos, também era vítima. Vítima tão culpada quanto aos delinqüentes traficantes de drogas. Durante as investigações dos estelionatos praticados por “Marcílio”, percebe-se que ele usava apenas camisas de mangas longas, com o propósito de esconder as inúmeras marcas de picadas intravenosas nas dobras dos cotovelos.
Mas como de fato cometera delito de estelionato, foi indiciado em Inquérito Policial e respondeu ao respectivo processo criminal.
“Marcílio” até então conhecido como “homossexual”, agora, também, passou a ser considerado “toxicômano” e “ladrão”. Embora a comunidade local o rejeitasse como sempre, surgem não se sabe como, pessoas abnegadas que espontaneamente oferecem ajuda nas horas de desespero e assim com colaboração de representantes de uma grande indústria local, conseguiu-se sua internação na instituição especializada na recuperação de toxicômanos.
Lá permaneceu por algum tempo nesta instituição, esperando o julgamento do mesmo processo a que respondeu, sendo condenado, foi recolhido à Cadeia Pública da Comarca, para cumprimento da pena de um ano e quatro meses de reclusão. Permaneceu recolhido no regime fechado até ser beneficiado com progressão para o regime de prisão albergue e passou a pernoitar na casa de albergado.
A Casa de Albergado era uma das poucas existentes, que pouco a pouco foi desativada, como as demais.
No mesmo período em que “Marcílio” permanecia internado, o “respeitável casal” que o adotara, também, foi preso, em flagrante por tráfico de entorpecente e ao final condenados as penas de três anos.
A “Respeitável Senhora” depois de um mês de reclusão na cadeia local foi transferida para uma Penitenciária Feminina do Estado. Lá teve algumas dificuldades de relacionamento com as demais reclusas, em face de ser esposa de funcionário público. Porém, com apenas nove meses de reclusão ela foi beneficiada com prisão albergue domiciliar e retornou para sua casa.
O “respeitável Senhor”, também, beneficiado com prisão albergue domiciliar, permaneceu preso apenas por um ano e dois meses.
Atualmente, ambos vivem felizes na mesma casa e continuam a ser respeitados na pequena comunidade. Consta que não reincidiram.
Ocorreu que, enquanto o respeitável casal saía do sistema prisional, logo depois, “Marcílio” ingressava, justamente, em razão daquele cheque adulterado cuja vítima era a “Respeitável Senhora”, pois fora condenado por estelionato.
Neste mesmo período Eros deu entrada na mesma cadeia em que estava recluso Marcílio, chegando a morar por pouco tempo juntos na mesma cela. Em razão disso saberemos a seguir o que acontecera com Eros.
“Eros” e sua bela mulher, também eram fregueses do respeitável casal e, provavelmente, além de roupas compravam outras “mercadorias”.
Logo a toxicomania de “Eros” o subjugou.
Inicialmente, por não conseguir acompanhar seus irmãos no trabalho de construção de calçadas, passou a ter dificuldades financeiras para suprir as necessidades da família e, provavelmente, para adquirir as substâncias entorpecentes de que necessitava, então passou a praticar pequenos furtos. Logo foi indiciado em inquérito. Mas sua primeira prisão ocorreu por porte de entorpecente. Tal infração era afiançável, porém, como nenhum de seus familiares se prontificou a pagar o valor arbitrado, chegou a ser recolhido à cadeia pública.
Consta que nessa oportunidade um dos presos, também oriundo da mesma comunidade, tentou seviciá-lo sexualmente e por resistir com afinco aquele não conseguiu seus intentos. Saiu da cadeia, invicto, mas marcado por uma das mazelas da prisão. Ainda dizem que a cadeia regenera, não foi essa primeira experiência de “Eros” o suficiente para ele.
Pouco dias depois, novamente ”Eros” foi preso por violação de domicílio. Desta vez, consta que o presidiário “Bárbaro” investiu sobre ele com intenções inconfessáveis e para resistir ele fingiu que estava tendo um ataque convulsivo, inclusive, espumando pela boca. Nesse estado foi socorrido e de alguma forma separado de ala da pequena cadeia, onde não poderia ser alcançado por seu algoz.
Ao saberem do sucedido seus irmãos e esposa fizeram esforços para pagar advogado e libertá-lo. Porém, consta que sua bela esposa inconformada do ocorrido, ou seja, com as constantes tentativas de sevícia a que o marido sofria, ameaçava-o abandoná-lo, caso não se corrigisse e retornasse à cadeia.
Foi o que ocorreu, pois decorridos mais alguns meses, outra vez “Eros” foi preso em flagrante por furto. Neste terceiro período consta que, totalmente, subjugado foi presa fácil de “Bárbaro”. Pior do que isso ao saber do ocorrido, sua esposa, o abandonou de vez. Logo arrumou outro companheiro.
“Eros” não foi abandonado apenas por ela, mas também, por seus irmãos e pais. Abandonado, não tendo trabalho e condição de comprar drogas, tornou-se um verdadeiro alcoólatra “bêbado de rua” e nos quatro ou cinco anos que se seguiram, retornou à prisão por flagrantes e condenações por furtos e uso de substância entorpecente.
Este foi o relato de “Marcílio” do ocorrido com Eros, porém, reservou-se a contar se “Bárbaro” tentara alguma coisa contra si. Chegou a dar a entender, que, o que importava saber sobre isso, se ele já era conhecido como “homossexual”.
Infelizmente, não foi longo o período de observação de “Marcílio”, pois ele que era conhecido como “alcagüete”, algum tempo após revelar esses casos que segundo a subcultura carcerária deveria permanecer oculto, e ainda por dar informações sobre outros delitos praticados na região, principalmente os relacionados ao tráfico de entorpecente, em certa data ao ausentar-se, descumprindo o horário de entrada na casa de albergado, foi morto num bairro de uma grande cidade próxima.
“Marcílio” morreu por “over-dose’ de cocaína, mas segundo dizem poderia ter sido forçados a tomar uma dose excessiva, ou seja, fora assassinado. Por quem? Não se sabe, pois esta é uma das estratégias do crime organizado.
Casos como o de “Eros” e “Marcílio” nos fazem lembrar e comparam-se com o de Jean Genet, mas agravados por serem estigmatizados, além de ladrões e homossexuais como “toxicômanos”, “alcagüetes” qualidades negativas que não são aceitas na sub-cultura carcerária, colocando-os na última categoria da hierarquia existente entre eles.
Estórias como de “EROS” e “MARCÍLIO” mesmo fictícias comprovam a dura realidade de nossos dias, mas o que é interessante são estórias que se repetem. Repetem...

Foto de Dirceu Marcelino

A BAIANINHA

BAIANINHA

Sequer me lembro de seu nome.
Talvez, em razão de um bloqueio inconsciente.
Um trauma, provavelmente, de uma namoradinha fugaz. Daquelas que surgem de repente e momentaneamente em nossas vidas e depois desaparecem.
Desaparecem mais deixam marcas profundas em nosso inconsciente, como disse.
Só recordei-me dela, provavelmente, em razão do conflito que estou sofrendo.
Conflito de transferência de personagens.
Pois, tudo indica que transferi o amor imaginário para outra pessoa imaginária, mais real que a primeira, posso dizer, pois esta existe mesmo que a conheça virtualmente.
Mas não consigo compreender porque me lembrei da “baianinha” desta maneira.
Encontrava-me parado na esquina da Avenida São João, em São Paulo.
Aguardava um amigo que passaria de carro e me levaria ao Fórum de São Paulo.
Fazia frio. O vento fustigava minhas costas, pois, esquecera o paletó no carro do amigo e para se livrar das rajadas de vento encostei-me em uma banca de jornal.
Escolhi aquele local, pois ficava a uma distancia de uma linda morena, parecidíssima com aquela “baianinha”.
Mas está já não era tão jovem.
E, justamente, por não ser tão jovem passou-me a fazer recordar de outra musa virtual.
Aquela que impregna minha mente em todos os instantes.
Musa de olhos verdes, penetrantes e femininos.
Lindos e indecifráveis.
Olhos de gata que vejo me espreitando por todos os cantos. No meio da multidão e até em meu sono.
Tanto pensava nela, que fiquei meia hora ligando meu celular. Revezando em ligar para o cliente e para ela. Ninguém atendia e o vento frio continuava a fustigar minhas costas.
Bastava-me encontrar um bar e ir tomar um cafezinho e automaticamente sairia do frio.
Mas não sei ao certo porque não o fiz.
Provavelmente, era porque queria permanecer vendo a morena.
E o que vi.
Uma mulher esbelta, pernas torneadas exibidas de forma formosa em um salto alto de no mínimo 12 cm.
Rosto tão lindo, olhos negros, cabelos da mesma cor, longos e bem penteados, um lábio carnudo e sensual que se delineava naquela face de princesa.
Mas o que me cativava.
É que ela abraçava e aconchegava ao seu corpo um menino de seis ou sete anos de cabelos pixaim,
Pensei:
“_É um baianinho”.
Ah! Preconceito. Porque um “baianinho”.
Agora. Passados alguns dias, consigo decifrar meus pensamentos.
Mas antes de chegar a esta interpretação, já mantivera contato com minha musa virtual.
Transmite-lhe num primeiro momento o que sentira.
Contei-lhe que havia naquele frio pensado nela.
Mandei-lhe uma poesia. Sequer sei se leu. Pois, pedi-lhe agora que me mandasse, pois perdi minha cópia e ela também não encontrou a sua.
Na realidade, não consigo me lembrar exatamente das palavras que escrevo nas poesias. Já houve casos de vê-las em mãos de outrem e sequer saber que eram minhas.
Mas, retornemos à “baianinha”, pois é dela este conto, “Baianinha” da qual jamais havia relembrando nos últimos quarenta anos.
Conto-lhes que aquela “baianinha” foi a primeira moça que me beijou.
Eu era um adolescente inocente.
Um caipira do interior.
Ela, afinal, era uma “baiana” que viera da Bahia, com toda sua família, permanecerá por algum tempo na Capital de São Paulo e agora estava ali, morando perto de mim, em uma pacata cidade do interior.
Por isso achava-a esperta, a final ela já era viajada.
E eu sequer conhecia uma praia.
Na verdade ela saiu de minha vida, tão rápido como entrou.
Só a vi mais uma vez: Em plena avenida São João.
No mesmo local, onde agora passava frio.
E, como a vi.
Estava fardado, pois era um policial.
Ao vê-la corri de encontro dela.
Percebi que se assustou.
Titubeou.
Olhou-me nos olhos
Vi que os delas brilharam.
Não sei os meus.
Mas no mesmo instante aquele brilho se transformou numa vermelhidão e algumas lágrimas verteram de seus lindos olhos escuros e ela se afastou, rapidamente, ao final correndo.
Corri atrás. Não alcancei a e só parei quando um velho senhor me disse:
_”Soldado pare! Essa putinha é boa gente”.
_ “Deixe-a”.
_“Ela é uma pobre menina”.
_ “Não a prenda”.
_ “Essa linda menina é sozinha”.
Não entendi naquele momento, o que o velho quis dizer:
Só agora compreendo, deveria ter lhe dito:
_”Senhor! Não quero prendê-la. É ela que me traz preso desde a adolescência”.
E, agora te digo.
Ainda estou preso até a envelhescência.
Só agora compreendo.
Porque olhava a linda morena, que subiu ao ônibus, sentou-se em uma banco do lado direito, de onde poderia me ver melhor e comigo conversava com os olhos.
Igual a “Baianinha”.
O ônibus saiu rapidamente e ela olhava-me com os olhos umedecidos, virou-se para trás, igual a “Baianinha” que de mim fugira e não sei por que tenho a sensação de tudo acontece agora, em minha envelhescência com outra também “Baianinha”.
Uma “Baininha” tão linda, como aquela fadinha, ressurgiu virtualmente como uma companheira de jogos de xadrez.
Tão inteligente e sábia.
Tão honrada e trabalhadora.
Uma bela professora.
Não pode ser a mesma, pois é mais nova.
Mas pode ser
A filha.
Era isso que eu queria que aquela “Baianinha” fosse:
Uma Mulher como você.
Agora minha Musa.

Foto de Osmar Fernandes

Síndrome do medo (1999)

Síndrome do medo
Redigido em 1999

A síndrome do fim do mundo
Atemoriza as pessoas deste milênio.
De geração em geração,
O tormento foi sempre o mesmo.
O homem está com medo.
Aumenta o número de religiões.
Por que, Senhor?!
Tudo o que nasce, morre.
Tanta vida vive na morte.
A vida está no fim?
O destino eterno é o cemitério?
Tanto segredo, mistério.
Tanto sonho não tem sorte.
Por que, Senhor?!
1999 anos da Era Cristã.
Segundo algumas profecias
Inicia-se a Era Satã.
É bala perdida que mata.
É seqüestro que abala...
Esqueceram-se do Messias?
Por que, Senhor?
Os seus filhos estão em pânico.
Doenças incuráveis se proliferam.
Drogas matam inocentes.
São crianças sem escola.
Outras, cheirando cola...
É desemprego, sem-teto, sem-terra,
Sem-comida, terremoto, guerra...
Por que, Senhor?!

Estupros, incêndios, suicídios.
A família está perdida.
Filho mata pai, pai mata filho...
A convulsão social é planetária.
A ciência inventa vida em estufa...
Bebê de proveta e clones ela cria, recria.
Por que, Senhor?!
Falsos profetas vendem a Bíblia.
A violência virou vício.
A Besta... Reina aplaudida.
A guerra nuclear está por um triz.
O homem já se engravida!
A mulher?!... Virou mãe de barriga de aluguel.
O ser humano está mesmo perdido.
Por que, Senhor?
Por que tanto sofrimento?
É porque o homem
Esqueceu o Seu maior mandamento:
“AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, COMO EU VOS AMEI.”
Por isso está no fim?
Perdoa-nos, Senhor!!!

Foto de Concursos Literários

Prêmios, patrocinadores e edição de poetas, participem

O Site de Poemas de Amor www.poemas-de-amor.net, esta em teu último Concurso Literário do ano de 2007.
É com imensa satisfação que fecharemos mais um ano de trabalho árduo e completamente compensador, pois a cada dia caminhamos levando nossos poetas a atravessar as fronteiras, em divulgação, oportunidade, e integração de uma família saudável, que reunida tem como ideal a realização dos sonhos poéticos, a edição.
Além de estarmos premiando com a personalização, de teu poema ou com aos 3 primeiros de cada categoria, ainda teremos 4 prêmios extra
Apoiados pelo dinamismo e bom gosto da decoração que, que vai colar em tua mente e ilustrar tua casa, apresentamos á todos vocês os prêmios que estão o esperando, juntamente a toda nossa equipe administrativa.
Venha participar deste grande evento literário.
Todos participantes não só estarão concorrendo a participação de uma coletânea dos melhores poemas do Concurso, como também a uma edição gratuita de 50 exemplares de teus poemas postados no Site, o qual será vendido dentro da loja virtual a ser inaugurada pelo poeta de maior destaque neste concurso.

Não é sonho, não é ilusão, é teus poemas ou contos em edição.

Grande abraço
Fernanda Queiroz

Foto de Ednaschneider

PROFESSOR

Ele é sábio e não valorizado
Ele é a base de todas as profissões.
Profissional dedicado
Sofre tantas pressões!

Aquele profissional que com todos seus méritos
Cuida dos doentes por ele passou:
Sim o médico
Um dia aprendeu com o professor.

O policial que protege o povo
Contra a marginalidade e a violência
Por ele passou quando era novo
E nem sabia o que era consciência

Aquele que julga e absolve o condenado
Que procura fazer a justiça
Aprendeu a palavra, um legado!
Com o professor, vítima de injustiças...

Injustiças sociais, desigualdades.
Cobranças de todos, incluindo família e sociedade.
E quando os mesmos reclamam, não têm apoio!
Cresceu no meio do trigo o joio...

E muitos não dão valor...
Àquele que com tanto amor
Nos transmitiu, nos ensinou.
Palavras, textos, vida e amor.

Mas o professor não se abala...
Ele é forte e de Deus é um porta voz
Com a consciência limpa, nítida e clara;
Parabéns para você. (Para nós.)!

15/10/07
Joana Darc Brasil *
Direitos autorais reservados

Foto de HELDER-DUARTE

Há uma sensação

Estou no fim...
Vida perdi...
Morte fugiu de mim.
O mal não venci...

Amigos não tenho,
Família morreu...
Nada contenho...
Tudo se esvaneceu.

Mas nada tendo...
Nem mesmo Deus...
Uma sensação acho que sinto,

Nesta minha confusão...
Neste coração meu,
Amor por Deus, ainda que não passe de ilusão!

HELDER DUARTE

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