Fácil

Foto de christiancleber

O MELHOR PROFESSOR É O TEMPO

O tempo me ensinou que Deus sempre soube de tudo que precisei...
Se não recebi a maioria daquilo que queria foi porque não soube chegar até ele e pedir...
Aprendi com o tempo que nem todos que me sorriram e bateram em minhas costas dizendo serem meus amigos realmente foram...
Aprendi com o tempo que a inveja é a alma do incapacitado, mas que o invejoso sempre admira aquele que possui algo que ele não tem , mantendo assim o admirado sempre no foco de seus pensamentos ausentes de brilho...
Aprendi que por pior que esteja uma situação, ela pode ficar ainda pior se nos entregarmos ao desespero e à falta de fé...
Aprendi que nem sempre a paciência da espera por algo pode me contemplar com a felicidade da conquista, sendo que muitas vezes tudo seria mais fácil se eu ao invés de esperar fosse procurar...
Aprendi que só damos valor a algo ou alguém somente depois que este algo ou alguém em nossa presença não se encontrar mais...
Aprendi que muitas vezes em nossa vida, temos que perder alguma coisa para poder achar outra...
Aprendi que nem sempre a palavra desculpe-me, tem o poder de deixar tudo como era antes...
E que o dom do perdão não está reservado a todas as pessoas...
Que mesmo eu sendo amigo, sincero, companheiro para com os outros, eu mesmo assim não consegui agradar a todos...
Aprendi com o tempo que nada melhor que ele próprio para demonstrar quem realmente te quer bem...
Que passe o tempo que passar e que faça o que fizer, você nunca vai conseguir pagar um favor recebido de alguém...
Aprendi que no presente sempre estamos com esperanças no futuro, mas que na verdade é em um determinado momento do passado que queríamos estar...
Aprendi que quando se ama uma pessoa, todos os seus defeitos se convertem em qualidades ou tolerância...
E se por ventura o mesmo amor um dia se esgotar, as qualidades e a tolerância com ele também se esgotarão, deixando em sua cabeça uma pergunta sem resposta... como pude amar alguém assim?

Aprendi que por mais tempo que eu tenha para aprender, o mesmo nunca será suficiente para que eu aprenda tudo...
E que ninguém no mundo por mais sábio que seja sabe tudo...
Aprendi que por melhor que alguém seja em algo, sempre existirá outro alguém que o supere...
Aprendi que não existem pessoas feias por natureza, mas sim pelas conseqüências de suas atitudes...
Aprendi que muitas pessoas por mais acompanhadas que estejam, lá no fundo do seu eu elas se sentem sozinhas...
Aprendi que cada dia que se inicia é uma nova chance de aprendizado, mas muitos não enxergam isso errando em algo que talvez possa ter a resposta bem a sua frente...
Aprendi que a morte só causa medo naqueles que tem peso na consciência e que somente a leveza e a pureza das atitudes vividas dará ao de boa índole uma nova visão sobre ela...
O tempo sempre ensina, mas são poucos o que aprendem sua lição!!!

Foto de Rosinéri

VERDADE

Numa ilha tanto tempo esperei
Para minhas mágoas te dizer
Depois te conheci, tantas incertezas
Amarguras sofri, e por aí andei sem saber

Um dia procurei teu sorriso e carinho
E senti gelo na alma quando sorriso não vi
Mas não sabia que vida rouba alegria do rosto
Amor desse é verdadeiro só que não percebi

Libertar a minha dor procurei outros caminhos
Lágrimas dos meus olhos enxugar tentei
Vi sol nascer e campos floridos e sorri
E no pôr do sol e noites frias chorei

Amei quem não conhecia
E quem não me conhecia me amou
Reconstruir vidas frágeis e ousadas
Não é para quem tão fácil desistia
Vendo horizontes o fim longe pra mim andava

Experiências ganhei e tempo passou
Em noites frias chorei sem saber porquê
Talvez um vazio na alma ressuscitou
Tão distante uma dor renascia sem fim

Em novos horizontes, o sol brilhava...

Com os frutos de noites de amor
Muitos sorrisos e alegrias ganhei
Tanto aprendi quando a eles cuidava
E minha dor da alma o adeus a dava

Finalmente senti tal amor verdadeiro
E então percebi que alguém tanto tinha perdido
Tentei de novo reconstruir esse amor primeiro
Mas deixei meu coração agir e outra vez a dor sentido

Agora sei mais o que é verdade e direito
Não quero viver com essa dor no meu peito
Irei tentar mais uma vez antes do fim
A ti te dar todo o meu respeito, e talvez enfim
um sorriso seu...

Foto de SamaNtha SaMm

Meu ex-amor

Eu sei que ia ser difícil viver sem você,
mas do jeito que estava, não dava mais.
Você me usou, brincou com meu coração.
Você não soube dar valor ao meu amor.
Eu juro que fiz tudo que podia pra sustentar esse amor,
mas você nem quis saber de mim.
Eu pensava que o amor era só um, mas é mesmo,
porque eu não consigo te esquecer.
Quem sabe se com o tempo eu te esqueço…
Agora você é somente o meu ex-amor,
você fica guardado na gaveta do armário
em uma foto sua que eu já tive só pra mim.
Mas eu vou te esquecer…
Eu sei que não vai ser fácil.
Você participou de tudo que eu sempre sonhei em minha vida,
e agora, você só é um retrato velho
guardado no fundo de minha gaveta…
Adeus…

Foto de lua sem mar

saudade

Saudade
*
*
*
Perdi-me na saudade dos sonhos,
Abri as portas e comportas
Daqueles espaços melancólicos
Hoje para mim e, talvez sempre…
Não li e revivi como antes,
Saudade abrasadora de um mundo,
Mundo tão mudado que hoje não conheço.
De ferro nunca fui e nunca o serei mas,
Seria fácil se de verdade ocorresse.
Chorar de saudade é do tempo alterado,
Como pensava eu que era tão feliz,
Talvez ate o seria mas, talvez ate não seria.
Abri uma porta…
Depois outra…
E outra…
Li e reli retratos belos e apaixonados,
Beijinhos doces que eram dedicados,
Os bons dias constantes,
Chorei!
Apenas chorei…
Não posso voltar no tempo,
Viver tudo novamente mas,
De forma bem mais apaixonada.
Fechei as portas e comportas do passado,
Dele retiro apenas uma palavra,
Saudade!

Foto de Sonia Delsin

LEVES COMO PLUMAS

LEVES COMO PLUMAS

Sou leve...
Sou uma pluma ao vento.
N’água...flutuo.
No tempo também posso flutuar.
Basta saber se soltar pra voar...
Sou leve...sou uma folha solta que o vento caprichosamente carrega de lá pra cá.
O que nos prende ao solo somos nós mesmos.
Os limites nós nos damos...
Por que não experimentar se soltar?
É tão fácil... basta começar...

Foto de pttuii

A besta negra

A perversão da inocência é o maior perigo que o homem criou à sua própria capacidade de desbravar fronteiras. Não há limites ao desejo por aquilo que é simples, fácil de agarrar, simples de ‘desvirginar’. Mas por detrás de uma tentação, há sempre o perigo do incerto, daquilo que não se espera, mas que se sabe que é destrutivo, e até letal.

Quem duvida, experimente segurar no ser mais inofensivo que encontrar. Limite-se a segurá-lo por uns minutos, sem pensamentos perversos. Apenas desfrute do prazer da comunhão com aquilo que foi criado para espalhar a boa disposição.Atingida a comunhão consigo próprio, e com o mundo que o rodeia, deixe esse ser seguir a sua vida, e regresse à rotina que sempre conheceu.

Asseguro-lhe que a primeira coisa que vai sentir é um medo enorme. De dentro da sua alma surgirá uma entidade desconhecida, quase que um reflexo dos pavores que sempre assombraram a sua existência. Perderá o controlo de todas as suas funções vitais e, gradualmente, vai deixar até de se considerar como um ser humano.Exagerado? Se pensa assim, experimente agora colocar um desafio a si próprio. Peça ao seu corpo para voltar atrás, e encarar o pedaço de inocência que acabou de atravessar a sua vida. De certeza que não vai conseguir. Os remorsos já respondem por si, quase como se o consumissem por dentro. Sente-se incapaz até de respirar e, desesperadamente, luta contra a tentação. Parabéns, acabou de conhecer a sua própria besta negra.

Ela é má, dominadora,....a entidade mais cruel que alguma vez pisou o nosso planeta. Por muito que deseje, ela nada tem a ver consigo. Vai fazer com que se sinta até enojado de se ter conhecido a si próprio.Quer um conselho? Tente pensar na morte. No mais sombrio dos refúgios, longe de si, longe dos que o conhecem e, principalmente, muito distante de quem nutre sentimentos pela sua pessoa. Lentamente, o ser humano mortal que nasceu dentro de si voltará a assumir o lugar natural, e ela, a besta negra, repousará de novo num sono de duração incerta.De futuro, procure evitar situações semelhantes.

Até poderá controlar-se a si. Mas olhe que a besta negra tem um sono muito, muito leve.

Foto de Sonia Delsin

ADEUS, MEU AMOR

ADEUS, MEU AMOR

Quando eu deixei você entrar em minha vida
não pensei o quanto seria difícil um dia vê-lo dela sair.

Quando o conheci me encantei com você.
Você também se encantou comigo.

Tudo entre nós sempre foi tão fácil.
Nunca precisamos dizer muita coisa um ao outro.

Nossas mãos falavam por nós.
Nossa pele se amava.
Nossos corpos juntos formavam um só ser.
A harmonia fazia de nós o casal ideal.

Vivíamos grudados que é como querem viver os namorados.
O amor não podia morrer... era ele que nos fazia viver.

No dia que ventou forte em nossa vida não me dei conta de que a tempestade estava destruindo um sentimento tão lindo.

Você desviou-se de um caminho que havíamos traçado.
Já queria estar do outro lado.
O encanto havia acabado.

Vi você a procurar outra... pra amar.
Tentei até me enganar.
Porque só em você eu havia colocado todo o meu querer.
Me esqueci que existia o sofrer...

Foto de Sonia Delsin

UM TEMPO PRA DOIS APAIXONADOS

UM TEMPO PRA DOIS APAIXONADOS

Pensei que seria fácil lidar com a distância.
Não é.
Pensei que seria fácil lidar com a impossibilidade.
Menos ainda.
Mas entre nós existe uma coisa linda.
Quando conseguimos nos encontrar é só felicidade.
Nos amamos de verdade.
O que peço ao Pai Eterno é que um dia eu possa ao lado de minha alma gêmea ficar.
Gostosamente namorar.
Sem pensar que vamos novamente nos distanciar.
Que o relógio vai nos cobrar.
Será que chegará um tempo novo pra nós?
Acredito que sim.
Que um dia terei você inteirinho pra mim.

Foto de pttuii

Reformados

não somos tão poucos assim
que nem nos reste discernimento,
sôfrega batelada de nada é o que é,
depreendo que nos reste o
arrastamento pelos bicos
das mesas de esplanada,
a mirar tetas,
a mirar cus,
seremos poucos
quando fecharem as
ruas do sofrimento neoplásico,
meninos de ranho fácil
ganharão nesse dia,
as esquinas melancólicas
serão balizas dos vossos berlindes,
lençóis brancos amarelecidos,
sim, irá de assoar nesses trapos
pois as velhas desleixadas merecem,
até lá,
seremos cada vez menos,
os senhores de clemência
misturada com fortuna,
as almas centrípetas que se
portam pior que gatos em lutas jónicas...
com os próprios rabos,
em suma,
os controlos remotos de fugida,
(epitáfio de punheteiros, na minha linguagem)
para o fim ficam os sonhos,
nunca feliz soma de nadas,
é como os chamo,
odeio-os.....

Foto de LUCAS OLIVEIRA PASSOS

AS ESTRELAS

As estrelas Lucas Oliveira Passos

As estrelas estavam lá, no pedaço de céu que me cabia apreciar pela janela, naquele leito de hospital em que eu me encontrava, arrasado e sem entender nada...mais uma vez minha vida mudava completamente, numa guinada imprevizível...a necessidade da cirurgia, a gravidade da doença, e por fim a notícia que tentaram me passar e que me recusava a entender, sabia que era algo terrível, algo que teria que me lembrar e aceitar para o resto da vida, mas naquele momento o bloqueio não permitia, eu não conseguia pensar, apenas aquela imensa tristeza, e um gigantesco desejo de morte que nunca havia sentido antes em toda minha vida.

A enfermeira se aproximou sem fazer qualquer barulho, e cuidadosamente fechou a pequena janela, próxima ao meu leito, minha única referência para o mundo exterior, minha única fuga para os pensamentos terríveis que invadiam minha mente.

- Tenho que fechar a janela, os outros pacientes estão reclamando do frio, me desculpe, sei que é a única coisa que parece lhe interessar...

Assim, todas noites, meu céu quadrado e pequeno, contido nas dimensões daquela janela, se apagava irremediavelmente, as estrelas, que eu tanto estudara e pesquisara, por puro deleite, em certa etapa da vida, eram agora meu único consolo, me faziam pensar no tão pequeno que eu era, naquela imensidão tamanha do universo.

Não sabia quanto tempo já se passara desde o dia em que me internei com câncer e uma hérnia abandonada por muito tempo, calculava algo em torno de uns seis meses, tudo fora um sucesso segundo os médicos, mas meu corpo não era mais o mesmo, meus 75 anos pesavam bastante no processo, o restabelecimento era lento, a angústia era grande, havia algo medonho a ser encarado, assimilado e entendido...um amargo na garganta, um peso imenso no peito...por que meu cérebro se recusava a processar a notícia que foram me dar? Minha filha Aninha, por que não aparecia mais no hospital para me visitar?

As lágrimas brotavam abundantemente nos meus olhos, não devia ser assim...tão acostumados com o sofrimento devido aos anos de trabalho voluntário na ajuda desvalidos...comecei a lembrar palavras que foram ditas...concluí que havia acontecido com Aninha algo terrível, agora ela era apenas uma pequena estrela no céu e ao mesmo tempo uma chaga aberta para sempre no meu peito, para o resto do resto de minha vida, pois minha vida agora só seria um resto, que talvez nem merecesse ser vivido...chorei a noite inteira...nunca fora de chorar, nunca chorava, mas era impossível evitar...comecei a recordar o passado e parei exatamente quando Aninha havia entrado em minha vida...antes de nascer...ainda quando era nada mais que uma promessa de vida no corpo de uma mulher, quinze anos atrás...em um ponto de ônibus em Copacabana...

- Tu podes me ajudar? Estou com fome, estou grávida, meu namorado me abandonou, minha família não quer me ver, cheguei de Curitiba ontem e não como nada a dois dias, preciso que alguém me ajude...

Olhei a mulher nos olhos atentamente, estimei não mais que 30 anos para sua idade, observei todo seu corpo, era bonita, estava maltratada, entretanto vestia roupas de qualidade...seus olhos mostravam que estava em situação de carência e mêdo, o corpo, uma gravidez de no mínimo dois meses, senti muita pena dela, eu nunca abandonaria uma mulher à própria sorte, mesmo sendo desconhecida, e assim me senti envolvido e pronto para ajudar...

- Qual é o seu nome, moça?

- Sonia, mas tu podes me chamar como tu quizeres, se puder me ajudar te agradeço muito...Tu és casado, posso ajudar no serviço da tua casa?

Aquela pergunta me fez lembrar que já fora dezenas de vezes, não no papel, mas a muito tempo este conceito de ser ou estar havia perdido o significado em minha vida, deixava o amor fluir da forma que viesse, amava as mulheres incondicionalmente, deixando-as livres para entrar e sair de minha vida como bem entendessem, aprendi a recomeçar sempre que fosse possível, sem olhar para trás e sem me importar com nada, estivera diversas vezes no topo e na base, e sabia que após tempestades a terra se torna fértil e pronta para a fecundação, e que o importante eram os dias de sol que viriam, trazendo lampejos de felicidade...pequenos momentos que tinham que ser aproveitados antes que se acabassem...não fechava nunca qualquer porta que pudesse permanecer aberta em minha vida, essa era minha filosofia de vida, era como eu me sentia...

- No momento estou morando sozinho, se você quizer, eu te levo para minha casa, lá você pode se alimentar, tomar um banho, trocar de roupa e ficar quanto tempo quizer...até ter um lugar melhor para ir...quando quizer ir...

E assim, desde o primeiro dia morando em minha casa, Sonia se posicionava como minha mulher, sem reservas, na cama inclusive, sem nada perguntar, sem nada pedir, com seu olhar meio ausente e distante, por vezes inquieto.

Comecei a perceber que Sonia seria um pássaro passageiro em minha vida e não demoraria a se lançar em novo vôo, e isto me incomodava, havia me apaixonado mais uma vez e agora amava Sonia e a pequena semente que crescia no seu útero, fecundada por outro homem, mas já adotada totalmente por mim. Passei a visitar minhas tias levando Sonia e a promessa de Aninha, cada vez maior em sua barriga, apresentando-a como minha nova companheira, na extrema tentativa de faze-la gostar daquela opção de vida, mas sentia que o olhar de Sonia estava cada dia mais longe.

Tinha percebido desde o início que Sonia, assim como meu falecido filho Lalo, apresentava sintomas típicos de viciados em drogas, a abstinência estava lhe pesando cada vez mais e chegaria a um ponto em que ela não suportaria ultrapassar...isso me aterrorizava e me fazia passar noites em claro procurando uma alternativa, abri o jogo com ela, mas ela negou tudo e inverteu a situação, dizendo que se eu queria um motivo para me livrar dela e de Aninha. Talvez Sonia nunca tenha sabido o quanto me feriam essas afirmações...o quanto era grande o meu amor por ela.

O tempo foi passando, dias, semanas, meses e finalmente Aninha nasceu, pequenininha, indefesa, totalmente dependente de tudo e de todos, sem saber em que mundo fora lançada e por quanto tempo...eu tentava esconder as lágrimas que brotavam de meus olhos quando observava a total indiferença de Sonia em relação a Aninha, e comecei quase por adivinhação do que viria, a ler tudo sobre crianças.

Quando Aninha completou duas semanas de vida, cheguei de uma entrevista para um novo emprego e não encontrei mais Sonia, ela havia partido, deixando apenas um pequeno bilhete junto ao berço. Sonia levou quase todo dinheiro de nossas reservas, Aninha passou nesse momento a ser responsabilidade e problema apenas meu. Eu me recusei a acreditar, andava pelas ruas olhando em todas as direções, procurando por Sonia, levando fotos, falando com drogados, mas nenhum sinal de Sonia, devia estar longe...talvez em Curitiba...talvez em qualquer lugar do mundo, bem longe dos meus olhos mas ainda dentro do meu coração, ocupando um espaço imenso e significando talvez a maior derrota de toda minha vida.

Sentia uma imensa agonia e abraçava Aninha toda vez que precisava sair para conseguir algum trabalho, agora eram apenas eu e ela, apenas nos dois para enfrentar o mundo e lutar pela vida. Como conseguiria trabalhar e ao mesmo tempo cuidar do bebe, teria que conseguir uma atividade que pudesse ser feita em casa, que não tomasse todo meu dia...tinha que conseguir voltar ao topo, com bastante dinheiro seria mais fácil resolver as coisas... nunca me importava com o dinheiro, mas agora ele era a coisa mais importante para que eu pudesse cumprir meu juramento, daria o máximo do resto de minha vida para que o futuro de Aninha fosse o melhor possívcel...eu sempre recomeçava...já não me assustava com isso... e assim fui vivendo aqueles dias de angústia e amargura, tendo como único prazer observar a vida e o tempo fazendo de Aninha uma menininha cada vez mais linda.

O tempo foi passando e meu trabalho em casa, com desenho, arte final e fotografia, conseguia manter Aninha na escola, ela estava cada dia mais linda, com seus dois aninhos completos, me chamava sempre de paizinho, o que me deixava orgulhoso, eu já aceitava que iria viver apenas para que aquela criança pudesse ser alguém neste mundo hostíl, e assim evitava agora me envolver com outras mulheres, vivia só para Aninha.

Quando Aninha completou quatro anos, escrevi para minha tia que morava em Porto Alegre, que não via já a uns vinte anos. Informei sobre minha vida e minhas preocupações em relação a minha filha, a incerteza das coisas e a necessidade de ter alguém que pudesse ajudar caso eu ficasse doente ou morresse. A resposta de minha tia veio rápida, “venha para Porto Alegre, só aqui poderemos te ajudar, precisamos de alguém de confiança para a fábrica de tecidos, minha filha Tânia separou do marido e já não consegue tocar tudo sozinha, ele participa do conselho de administração, mas não do dia a dia da fábrica, entre em contato, poderemos nos ajudar, sei que você é competente quando está motivado, te esperamos aqui ”.

O convite me deixou orgulhoso e me fez sonhar com a possibilidade de estar perto de Curitiba e conseguir encontrar Sonia, ainda moradora em meu coração apesar de tudo o que acontecera, e assim, em poucos dias eu e Aninha já estávamos reduzidos a apenas duas grandes malas, que continham tudo que tinhamos na vida, também cheias de esperanças e sonhos de melhores dias em nossas vidas.

Quando os momentos são felizes, passam muito rápido, e assim, Aninha já estava fazendo dez anos de vida. A ida para Porto Alegre fora muito boa para mim, Tânia estava muito abatida com a separação e se dedicou totalmente a mim e a filha, embora tivesse suas duas filhas adolescentes para cuidar. Aninha vez por outra me abraçava e lamentava por mais uma vez não poder ter a oportunidade de conhecer sua mãe. Eu procurava a todo custo esconder as lágrimas que teimavam em rolar de meus olhos cerrados enquanto a apertava fortemente contra o peito, dizendo que um dia isso seria possível, que ela voltaria e seríamos felizes. Estava muito bem posicionado na empresa, como diretor de produção, mantinha dois detetives mobilizados na busca por Sonia que parecia ter se transformado em pó. Não sei até hoje, se foi por me observar sofrendo e sem ninguém para compartilhar, ou se foi para causar ciúmes em Silvio, que a largara para viver com outra mulher, que Tânia começou uma aproximação maior, me fazendo seu acompanhante a festas e jantares e fatalmente acabamos nos gostando e começando um relacionamento amoroso escondido.

Era um sábado de manhã, acordei bem cedo pois havia combinado com Tânia um passeio nas regiões serranas, recebi um recado de Tia Albertina, me chamando no seu escritório, não imaginava o que poderia ser, lembro que eu estava muito orgulhoso com as novas máquinas que haviam dobrado a produção, embora a contragosto dela, que achava que as empresas tinham que operar sem dívidas, e que votara contra a compra do novo maquinário financiado. Tânia ficara pela primeira vez em posição contrária a dela e a de Silvio, durante a votação do conselho de administração. Silvio visitara tia Albertina na véspera e falara em reparar um erro e voltar a viver com Tânia. Até hoje não sei se eu estava certo ou não, mas nunca imaginei ouvir de minha própria tia o que ouví alí;

- Canalha, acabou para você, eu confiei em você e você me traiu, não adimito, não posso acreditar que você se envolveu com Tânia, ela é muito mais nova que você, isso é um desrespeito, quero que você volte para o Rio de Janeiro, não quero você mais aqui, já fiz as contas e este cheque é tudo que você tem direito, pegue sua filha e suma daqui, hoje mesmo...

Rasguei o cheque na frente de minha tia e fui buscar Aninha, preparamos as malas, apenas duas grandes malas, largando todo o resto para trás, novamente cheias de esperanças e sonhos de melhores dias em nossas vidas...

Hoje, um ano após sair do hospital, começo a procurar pelos parentes que me restam e pelos vizinhos, só agora consigo falar em Aninha sem que a voz me escape e um pranto enorme me sufoque, foi muito duro tentar recomeçar a vida e tentar entender como tudo se passou, eu e ela fomos vivendo nosso amor fraternal, que aumentava a cada dia, e nos bastávamos, o mundo não tinha mais sentido, até que a necessidade da cirurgia nos separou pela primeira vez na vida, aquela profunda tristeza e o medo da minha morte foi capaz de matar Aninha, de uma forma tão violenta que o coraçãozinho dela, de apenas quinze aninhos, não aguentou a solidão, se recusou a bater e parou para sempre. Eu e meu velho coração, ficamos em coma várias semanas, porém já tantas vezes vacinado pelas angústias da vida, aguentei firme até hoje, embora não consiga aceitar o que se passou e sinto, cada vez que olho as estrelas, que Aninha está lá, linda como sempre foi em sua curta vida, sempre ao alcance dos meus velhos e cansados olhos, minha amada estrelinha...Minha filha Aninha!

Sigo a jornada da vida, cumprindo minha missão, voltei ao trabalho voluntário com os desvalidos, tentando dar um pouco de utilidade a este resto de vida, sei que é questão de pouco tempo, breve estarei com ela para sempre...junto as estrelas...

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