Expressão

Foto de VirginiaSimon

Tempo

Dias, horas, segundos
Acho que já vi essa expressão,
Em algum lugar sem distinção,
Não importa de onde,
Apenas a contar,
Dias, horas, segundos.

A esperar,
Que seu amor seja meu
Vejo o quanto já sofreu,
e ainda sofre,
Chora,
Fica triste a esperar,
Uma solução do seu coração,
Traçado pelo tristeza do passado,
Que o machuca,
Não permitindo felicidade
De quem te ama de verdade.

Muito não posso fazer,
Apenas a esperar,
A garrafa esvaziar,
Eu tento derrubar,
Mas ela não cai,
Fixa ela está num sentimento,
Que não permite me amar,
neste momento.

Que saudade louca que sinto,
Do que foi vivido,
Por pouco tempo que seja
Foi bonito e você sabe disso.

Só o tempo nos dirá,
E Deus a abençoar,
O que queremos mudar,
transformar,
Num futuro feliz,
Sem medo de amar,
Sem medo de ser feliz.

Foram cinco palavras ditas,
Por você no meu ouvido,
E elas nunca mais saíram
Do meu pensamento
Do meu coração.

Meu amor por ti é intenso,
Verdadeiro e sabe disso.
E no momento me sinto,
Apenas a esperar,
Por você a me amar.

Eu espero,
pra você ficar comigo,
Não importa o tempo que seja,
Desde que você queira,
esse amor contigo.

De uma coisa tenho certeza,
feliz posso te fazer,
Só quero que me deixe
entrar no seu coração.
E que Deus nos guia,
iluminando nossos caminhos
e tenho muita força, amor e fé em Deus,
que tudo isso vai mudar,
para sempre.

Apenas isso...

=) Virginia Hartmann Simon

Foto de sebastiao alves da silva

Ficar sem você

É muito difícil para mim
Ficar em casa esperando o tempo passar
E as coisas tomarem um jeito
Eu tenho que sair
Ver a configuração das estrelas
E saber por quanto tempo ainda
Vou ter que te esperar...

Eu volto para casa
O tempo corre, mas não passa
Os pelos crescem em meu rosto
E uma como que poeira se deposita
Em meus olhos
Estou ficando cego para as outras coisas
Às vezes eu penso que não posso ficar assim
Que tenho que viver as outras coisas da vida
Que eu vou morrer de tanta falta
Que eu sinto de você...

Eu tenho vontade de gritar qualquer coisa
Gritar até minha garganta rachar
Até meu peito se demolir
E ao mesmo tempo me invade um silêncio
Que congela todos os meus atos
E eu passo a ser um ser sobrenatural
Em que apenas os olhos se expressam
E o resto do corpo fica como estátua
Sem nenhuma expressão
Eu fico preso
Entre o grito e o silêncio
Pois cada célula minha está sentindo,
Está sentindo como se fosse toda uma multidão,
A tu falta,
Cada átomo meu está sentindo,
Como se fosse um universo inteiro,
A tua falta,
Cada molécula de meu sangue
Como se fosse mais que a união de todos os oceanos
E lagos das galáxias,
Está sentindo,
E está sentido muito,
A tua falta...

É muito difícil para mim,
É extremamente difícil para mim
Ficar sem você...

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Minha Elis – Parte 3

Elis Regina Carvalho Costa. Cantora brasileira. Mesmo morta é mais importante que um bocado de vivos que eu conheço sem os querer ofender. Elis deixou a herança de seu talento até no sangue de seus filhos. Todos os três trabalham com música. Pedro Mariano é cantor. Maria Rita também. O primogênito João Marcello, que fora pai recentemente, é um produtor e crítico de mão cheia. Quando as revistas e os jornais se referem ao seu pequeno nascido como o ‘filho da Eliana’, fico um tanto desconfortável. Quero dizer, sem meias palavras, eu fico é puto mesmo! A criança é filha de Eliana, sim, que é uma apresentadora competente e que tem todo o direito de aproveitar sua maternidade. Agora, que seria muito importante recordar-nos de seu parentesco com a saudosa gaúcha, isso sim, seria bom. Mais do que ser ‘filho da Eliana’, essa criança deve ser apontada também como o ‘neto da Elis Regina’, uma das maiores cantoras que já tivemos, senão a maior. Fica aqui o meu singelo protesto. Mas não desejo me ater a essa discussão mais apaixonada do que pertinente.

O álbum mais famoso de Elis Regina é o Falso Brilhante, de 1976. O disco contava com músicas presentes no show homônimo, um espetáculo que juntava teatro, dança e canto numa apresentação memorável. O show locado no Teatro Brigadeiro teve 180 mil espectadores, o que o coloca como maior êxito da carreira da cantora e prova incontestável de sua popularidade e relevância no cenário da nossa arte. Quanto ao espetáculo, nunca o assisti seu vídeo completo. Mas o disco, não apenas pelas suas canções de maior sucesso, a citar, ‘Como Nossos Pais’ e ‘Fascinação’, marcou época. No auge do regime militar, que começava a ensaiar uma tímida abertura, o Falso Brilhante significou exatamente essa possibilidade, já que, ainda que veladamente, a crítica e a denúncia se faziam presentes na concepção da obra. O país vivia um declínio econômico considerável, a ditadura apesar de consolidada se encontrava desgastada e a incerteza, somada com o acobertamento sobre os desmandos realizados pelo então poder instituído tornavam a realidade brasileira numa situação difícil e pouco encorajadora. Valendo-se da brecha política, Elis remou contra a maré. Ainda que o Falso Brilhante seja um disco imerso na melancolia, sua mensagem final passa um fio de esperança durante a tempestade de seu tempo, um brando sopro de vida na austeridade de um país fechado, um suspiro diante das lágrimas causadas não somente pela violência como também pela miséria que tais circunstâncias trouxeram ao Brasil. Elis provou seu talento. E sua iniciativa ficou para o futuro, como marco da retomada da arte nacional como objeto de expressão dos anseios populares e de opinião.

Todavia, meu disco predileto da cantora não é o Falso Brilhante. Saudade do Brasil, um disco de 1980, pode ser considerada a obra definitiva de sua carreira. Não exclusivamente por ser seu último LP, Saudade do Brasil, que foi lançado em dois volumes, apresenta todo o desenvolvimento de Elis como artista. Numa estrutura seqüencial que de tão coesa chega a até se aproximar de algo conceitual, no sentido de se montar uma narrativa ao invés de se amontoar canção após canção, como que relatando o contexto histórico e social no qual se incidiam os brasileiros àquelas décadas, dando preferência a uma abordagem jornalística em detrimento do universalismo pessoal e intransferível nas artes gerais que encontramos desde então do final do golpe militar. Sem contar a gravação contou com uma quantidade de recursos muito maior para sua execução, o que elevou em muito sua qualidade, dando a cantora e seu repertório uma roupagem atual, destoante da imagem elitista e retrógrada atribuída para Elis antes desse trabalho. Elis, firme e ousada como nunca antes, decidira conduzir sua turnê de maneira até então inédita no país. Seu espetáculo seria montado em circos, para facilitar a mobilidade do show e reduzir seu preço. Ou seja, Elis queria levar sua arte aos mais pobres. Diante da negativa dos governos em obter uma autorização para o seu projeto, com toda a certeza surgira uma grande tristeza e amargura no âmago da cantora. Isso facilitou o processo que a levou à morte, pelo vício em remédios e drogas. Isso facilitou para enfraquecer a cultura nacional, tão restrita aos mais ricos, que temerosos de perder sua posição sempre pressionaram o desestímulo com a educação, a distribuição de renda e a justiça social, que em longo prazo causam mais do que prejuízos, causam o sofrimento de uma vida inteira de humilhações para nossos entes queridos, mal que conhecemos tão bem.

Minha mãe tinha doze anos quando Elis morreu. E certa vez, num desses especiais de televisão, passava a cantora, justamente num cenário que reproduzia um circo, justamente interpretando o repertório desse disco. Ela chorava, não somente pelo ídolo que Elis representa, mas pela realidade em que ela viveu e pelo plano de fundo em que calcava seu pensamento, nada mais que o desejo de paz e felicidade sempre cerceado aos mais simples. Foi ali que eu entendi o que era ser gente e ser artista de verdade. Foi ali que eu entendi que deveria não me abalar diante das dificuldades da vida, por maiores que elas sejam. E se Elis não viveu para ver suas expectativas suprimidas, esse é tributo que devemos ter com ela, que é o tributo de não nos conformarmos com a consternação, de tornarmos o Brasil um lugar onde a dignidade se faz presente, e onde o amor vale mais do que tudo.

Foto de VirginiaSimon

Verdades

Existem certas situações,
Que gostaria que não acontece-se em minha vida
Certas verdades,
que muitas vezes vistas
e não ditas,
me fazem ver o que meu coração não quer enxergar.

Me sinto um pouco perdida,
Um pouco sem rumo,
Tentando me encontrar,
Oh tristeza do jeca,
Bela expressão essa,
Que tento não permitir entrar.

Tento te buscar,
Mas não permite te encontrar,
Não sei o que fazer,
Não sei o que dizer,
O que antes permitia-me falar,
Hoje cala-me,
Não permitindo ajudar,

Ajuda essa de quem ama,
Amor esse verdadeiro,
Se hj se sente perdido,
Imagina eu nessa saudade que sinto,
Que tenta diariamente estar ao seu lado,
Fazendo-se presente a cada dia,
Mas vejo que não está permitindo
Pelo momento a minha entrada,

Não sei o que fazer,
Não sei o que dizer.
Só sei que quero você.
Do meu lado,
Nunca a frente,
Nem atrás,
Sempre ao lado.

O que eu faço diariamente?
Orar, orar e orar
Sei que vale a pena,
Pois sei que tem amor.
Que tem respeito,
Dedicação,
Admiração,
tolerância,
Palavras estas ditas pelo meu amor,
e as quais não mais tirei da minha mente;
Pratica-las é o que tenho feito diariamente;
Sem muito o que esperar,
Por que sei o que se passa em sua mente,
em seu coração;

Se um dia tudo isso vai mudar?
Pergunta essa que me faço diariamente,
desejando incessantemente
Mudar,
Mudar para melhor.
E hoje sei que é amor,
Amor este que sinto saudades,
amor este que quero ver bem,
amor este que quero ver feliz,
e em paz no seu coração.
Para sempre e sempre encontrar a paz.

Virginia Hartmann Simon

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Relatório

Não há fim ao Novo Tempo
Pois o Novo Tempo
Não acaba nunca

O que nos resta diante do caos e da incerteza
Senão um Deus de existência contestável
Um desejo de um nunca irrealizável
O amor humano e sua expressão barata
A prosa em versos
A metalingüística sem estilo definido

Escrever não é dom
É hábito

E quem diz ser sincero
É hipócrita só de alegar tal circunstância

E se no final de tudo encontramos a morte
Então a vida é só um detalhe
Acho

E logo é imprudente ser pessimista
Pois a surpresa pode ser boa
Se admitirmos nossa imperfeição

É que nem no futebol:
O confronto é inevitável
Mas temos que formar a equipe
E não subestimar o adversário
E não alimentar a violência
Pois a convenção das regras
Nos trás conforto

Fui freudiano nessa colocação

Aprendi que devo dizer não
Em boas doses ainda que moderadas
Para alcançar o objetivo primário da criação
E os três pontos na partida

Eis aí o que os crentes tanto procuram

Eis o que a droga e a ambição não podem pagar

Foto de Arnault L. D.

Um copo de mar

O silêncio, por tantas as palavras,
é o que chega-me do que mingua,
no atropelo, que a todas trava
sem poder dizer de uma vez a língua.

A incapacidade, sólida e atroz,
da expressão ante a ideia cheia,
é a constatação de que no após,
era maior o fogo que a ateia...

Do que já existia em polifonia,
num soar de incontáveis vozes,
apenas expresso o solo, sem harmonia,
nas palavras, uma a uma, em doses.

Sei que minha poesia é tão pobre...
Um copo apenas de um largo rio,
como o troar de um sino de cobre
se esforçando a cantar no vazio.

Como posso então soar em coral
as múltiplas vozes dos sentimentos?
Não posso. Mas, posso um copo, uma nau.
Flutuar no mar que leva em seus ventos...

Foto de Carmen Vervloet

Língua Portuguesa

Poetizada por Bilac e Caetano,
língua-mãe de um povo varonil,
língua doce onde ouço e falo “eu te amo”,
expressão do sentimento do norte ao sul do Brasil.

Dos trovadores tu és o júbilo e a inspiração,
da nossa alma tu és o casulo, o gentil ninho,
com teu vocabulário se expressa o coração
e nos cantares vais abrindo os caminhos.

Se por ventura te atropela o povo incauto,
aceitas expressões que se difundem afoitamente,
e no azul marinho deslizas teu léxico-barco
sob o teto estrelado de um céu resplandecente.

E o teu som tão lindo encanta mundos...
Lira singela, sonata em execução,
espalhas a música do sentimento mais profundo
e unes irmãos que habitam em tantos chãos.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Muito Além da Rede Globo – Capítulo 16

Domingo. Tempo ensolarado. Dia de jogo na cidade grande. O time local enfrentava uma equipe de menor expressão, promessa de goleada garantida. As famílias se aprumavam sem receio de vestir a camisa de seu clube de preferência. Não havia risco de confusão. Nada sairia do planejado naquele dia. Nenhuma briga tomaria as manchetes de jornal da segunda-feira.
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“Lá vem Armando com a bola, vem na boa, passou pra Lima, voltou, no meio de campo, domina Barbosa, abriu na direita para Patrício, ele avança, tabela com Lima na ponta, segura o lance, caiu, na linha de fundo, cruzou! Pra Luís Maurício de cabeça...! A bola vai entrando...!”

“(GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL...!)”
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- E aí vêm saindo os times... Ô, Joel, vem aqui dar uma palavinha pra gente...

O jogador do time pequeno atende a solicitação do repórter.

- Só uma perguntinha, Joel. – o repórter fita com certa maldade velada seu entrevistado derrotado – Como é que você, sendo um profissional do futebol, agüenta todas essas derrotas e humilhações, jogando em uma equipe sem grande tradição, que não conta com os patrocinadores de um grande time, com um plantel limitado tanto no plano técnico como no financeiro, e uma estrutura para o trabalho bastante aquém do aceitável?

O jogador dá um suspiro pelo ofegante do jogo e da questão.

- Olha... Amor e sentimentos não são coisas que se dizem apenas com essas palavras... Por trás de todos esses esforços existe o empenho de muitas pessoas que acreditam no trabalho honesto e na simplicidade da vida... Se os resultados não são tão bons ou nossas possibilidades não são tão grandes, o que importa mesmo é ter dignidade para apostar numa vitória que mesmo sendo improvável pode vir se não dermos um passo maior que a perna... Eu não estou nem aí de perder pelo resto dos meus dias, contanto que eu honre essa verdade... Dando certo ou não, é válido... No final da minha vida eu vou morrer mesmo... Então se eu vou morrer quero morrer sendo feliz, ou tentando...

O repórter desliga o microfone e a transmissão continua normalmente.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Minha Elis – Parte 2

Passaram-se quase três meses desde que escrevi a primeira parte dessa homenagem à Elis Regina. Não mudou muita coisa na minha vida. Continuo o mesmo. Para os americanos, a expressão “loser” serviria para designar o atual momento pelo que passo. O equivalente ao termo em português brasileiro seria “trouxa” ou “vacilão”. Pois bem, eu que me lasque. Quero falar da minha cantora favorita, que nunca terei a oportunidade de encontrar, mas que eleva minha condição e compreensão além das possibilidades naturais. Elis morreu em 82. Não ligo para o tempo. Sua expressão se faz influente e positiva, como artista brasileira, que soube mostrar nossa identidade em uma obra curta, mas consistente.

Voltemos ao ano de 2008. Lá, o bicho pegou um pouco para o meu lado. Eu tinha dois trabalhos, estudava, cuidava da minha irmã e ainda escrevia. Vínhamos de um despejo e da recente morte de um parente próximo. Nada parecia promissor, o que não se difere muito da situação atual, mas quem me dava força era Elis. As pessoas que se lembram da novela “Ciranda de Pedra”, versão de uma novela da Rede Globo de 81, sabem que a nova abertura era a música “Redescobrir”, composição de Gonzaguinha. Tanto ele como Milton Nascimento e Ivan Lins tornaram-se parte do meu gosto musical por influência da saudosa gaúcha. O que escrevo foi orientado de maneira decisiva pelas construções desses artistas. Algo que não tem preço, que tem valor inesgotável e inestimável.

Mas Elis morreu cedo, em demasia. Aos trinta e seis anos. Vítima do abuso de drogas. Da mesma causa faleceu Amy Winehouse, nascida em 83. Era muito talentosa também, a inglesa Amy. Então me pergunto: como seria Elis se estivesse viva? Ou melhor: como seria o Brasil se Elis estivesse viva? Elis, que vendia menos discos que uma Gretchen ou um Sidney Magal, na ocasião de sua partida, provocou uma comoção muito forte, recordada não apenas por seus fãs. Elis provavelmente teria participado dos movimentos de abertura política, dos quais já era simpatizante. Mas será que manteria a condição de mito? Se uma Elza Soares, cantora de nível parecido tem o reconhecimento internacional significante, seguiria Elis o mesmo caminho? Ou iria ao caminho dos tropicalistas, que se envolveram ainda que timidamente com o governo e hoje recebem algumas críticas severas por seu comportamento? De qualquer forma, ficam os vazios da carreira interrompida e do exemplo questionável. A obra de Elis é indelével, seu talento indiscutível, mas seu final foi trágico. Logo essa interrogação se torna mais delicada, tal como a da artista inglesa, o que transforma o paralelo em questão atual, em como o tempo passou, mas a situação da alteração de consciência não foi sequer tocada, frente ao que se

decorre disso. Dói saber que a morte de Elis podia ter sido evitada. Dói saber que isso influencia que outras pessoas também se deixem levar pelos vícios e excessos. O mesmo vale para Amy, e para tantos outros.

Elis Regina, na sua arte, passava uma postura ao mesmo tempo melancólica e otimista, emocionada e realista. Copio, por assim dizer, esse estilo. O subtexto encaixado nas metáforas características da produção da década de 70 é bastante parecido com o que tento apresentar hoje nas minhas linhas. Já Allan Sobral, meu amigo abençoado e crente, que sempre cito pela espécie de rivalidade camarada que nutrimos, vai por uma trajetória totalmente divergente, embora também muito digna e mais interessante. Allan Sobral é um tórrido romântico, tão apaixonado que quase já o admite. Seu estilo de escrever vai diretamente de encontro à proposta do site Poemas de Amor. É um fã confesso de Casimiro de Abreu, e adora o samba mais clássico, de Noel, Cartola e Paulinho. Outro dia, diz ele, sonhou com o João Nogueira. E no sonho recebeu o que todos esperam ter de um grande ídolo: Allan foi agraciado com um dessas bênçãos que só quem merece muito recebe. Ele abraçou o João Nogueira, falou com o João Nogueira. Desnecessário dizer que isso me deu uma inveja daquelas. Ainda assim, fiquei feliz: meu amigo ganhou um presente que nunca podia imaginar. E se ele pode, porque eu não? Tudo bem, o Allão é um grandíssimo poeta, sabe o que faz e vocês o conhecem. Mas, sei lá, a sorte também pode vir para o meu lado, se bem que a Elis deve estar muito ocupada, cantando para Deus enquanto Ele escolhe se teremos seu perdão ou não...

Bom, o que eu quero dizer mesmo é que sempre devemos lembrar-nos de Elis e seu canto. Basta ter a sensibilidade de ouvir sua mensagem, tão brilhante em vida. Se Elis se foi pelo mal, isso não anula o bem que ele nos deixou. Tenho certeza que é isso que ela me diria, se me encontrasse.

(Continua...)

Foto de caiofidelidade

Um pouco de melancolia.

"Deixei a Ira passar, como passa a tempestade lá fora,
mas súbita vem a calmaria após a tormenta, assim como pra mim a melancolia agora,
eu e meu companheiro que um dia há de me apunhalar, o cigarro, e a fiel companhia a solidão, ao som de Vivaldi, num dia sem data, com um rosto sem expressão."

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