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Espelho

Foto de Karine K.

PEQUENA FLOR

Nascido menino, pequena flor
quem lhe encontrou no espelho não se mostrou contente
Riram do desmonte, viram as pétalas pairando no ar

A pequena criança vai ao circo
e se vê no palco alegrando a plebe
Para ganhar aplausos é preciso pular
de pés grandes, com sandálias pequenas
neste mundo de prazer de comprar

Uma mão de tesouros
Uma boca de gírias
Um corpo de gingado

Há pedaço de você na estrada
que não colam com mentiras

Você, entre os vocês criado
se escondem entre seus medos
e debaixo da sua roupa de palhaço

ainda que não queira saber
o mundo não é um circo fechado.

Foto de Karine K.

REBULIÇO

Hoje não quero falar do funcionamento das coisas
nem da instrumentalização dos corações
quero deixar as páginas solitárias

Sem grande laboro
pequenas melodias crescem sem razão
sem perdão

minha face no espelho das convenções
fica quase disforme
a alma chora calada
a métrica se desfaz
a ciência se desmente
e a fé desteme a certeza da linha da vida.

Mas esse universo é galopante

veja o espetáculo que o circo na TV mostra
para a mente descamar

veja os discursos-escudos
falácias das bocas que só contém dentes

o medo agora vem em forma de fantasia

Se eu paro, o lixo merece minha boca
mesmo que seja saboroso e hilariante
a negação de uma proposta de um projeto corroído

Não sou palco pra ser acometido
onde até o racional malabarista desequilibra e cai
e o crítico ofegante se afoga no seu próprio grito

Mesmo quase querendo estar cega
vejo no fundo do poço, no lampejo da água suja
que ainda somos apenas soldados criando matéria.

Foto de vanessa_sbm2

Se eu pudesse

Se eu pudesse
te daria o nascer do sol
entretanto
se eu te desse o nascer do sol
a vida seria escura e sombria

Se eu pudesse
te daria o mar
mas se eu o fizesse
acabaria com toda uma vida marinha

Se eu pudesse
te daria algo
tão grande e extenso
quanto o mundo...
mas jamais o mundo
pois...
se eu te desse o mundo
junto a ele
viria toda a guerra
todo o sofrimento
toda a or e
te faria sofrer

Portanto
te dou apenas o meu amor...
que é tão lindo
quanto o nascer do sol...
É tão extenso
quanto o mar...
É tão sincero
quanto um espelho

Te dou o meu amor
que é tão grande
quanto o mundo...
que é tão eterno
quanto a vida...
que é tão real
quanto...
a morte

Te dou o meu amor
que é tão infinito
quanto o espaço...
É tão verdadeiro
quanto o mais lindo
o mais extenso,o mais sincero
o maior,o mais eterno
o mais intenso dos sentimentos:
O amor!

Foto de francineti

Quem ama não maltrata.

Não posso me conformar,
Não consigo calar diante de tanta covardia,
Amiga o que te faz suportar este amor que te humilha e aprisiona?
Não te deixes maltratar por este homem.
Olha-te no espelho.
Não vês o teu olho roxo?
O teu corpo marcado,
A tua alma ferida?
Não aceito que tu digas que ele age assim por ciúmes.
Dizes que ele te ama.
Acho que isso não é amor.
È posse, doença...
È covardia.
Quem ama não bate.
Quem ama respeita, cuida...
Liberte-se. Vai a luta!
Deixa essa história,
Constrói uma relação de respeito.
Não aceita prepotência,
Não silencia diante da opressão.
A vida te espera...
O amor verdadeiro pode nascer
È só deixares acontecer.

Foto de Paulo Gondim

As pedras da rua

As pedras da rua
Paulo Gondim
04/09/2006

E, mais uma vez, vejo a lua brilhar
Nas pedras dessa rua escura
Por onde muitas vezes te vi passar
Com tua roupa branca, de renda
Com tua sombrinha francesa

Uma visão colonial
É a sim que me lembro
Era assim que te via
Caminhando por essa rua de pedras
Que descia até à margem do rio
Que contornava a encosta
E se perdia por detrás da serra

E eu te seguia com os olhos
Fazendo as curvas da rua
Vendo em cada pedra, em cada curva
O vulto sinuoso da imagem tua

E tu passavas, para lá e para cá
Deixando em cada pedra dessa rua
O perfume, o cheiro, um gesto
Sem contar o olhar, que me dirigias
Mas era só sonho, um sonhar modesto
Que me enchia a alma de fantasias

E a rua continua escura, com suas pedras
Algumas pontudas, escorregadias
Como espelho, a refletir a lua
Rua solitária, fria, vazia
Como tua saudade, que sempre vem
Em cada pedra antiga dessa rua

Foto de joão jacinto

Resto de gente

Sou pedaço de vida,
deitado na sombra de uma multidão,
sou força vencida,
mergulhada e perdida em desilusão,
sou dor viciada,
de choro e de pranto sem poder fugir,
sou no sofrimento,
o espelho do tempo, sem nunca o medir.
Sou desgosto secreto
e incompreendido na palavra sim,
sou um resto de gente,
vergado ao silêncio, não se riam de mim,
sou pobre engeitado,
em nudez de encanto carrego minha cruz,
sou um fado pesado,
sou compasso trinado, sou um canto sem luz.
Se digo o que sinto,
se minto o que sou, não o faço por querer,
não me disfarço e me escondo,
no falso sentido do que acabo por ser.
Se me dou e me desfaço,
se luto esquecido e vivo insatisfeito,
sou no cinzento tristeza,
verbo conjugado no pretérito imperfeito.
Sou um rio parado,
sem margens, sem leito, sem fundo, sem foz...
Uma barca sem remos,
sem redes, sem leme, sem velas, sem nós...
Sou tarde poema,
de versos sem rima, lento de se pôr,
sou no novoeiro,
o que desaparece e se apaga de cor.
Sou um resto de gente,
o que sobra do início, o que falta para o fim,
vergado ao silêncio, não se riam de mim.

Foto de joão jacinto

Ainda é tempo

Não se herda a pobreza,
cresce-se de cegueira,
sofre-se submisso à culpa,
respeita-se em contrariedade,
a arrogância do preconceito,
sonha-se a dormir,
corre-se de pé,
luta-se com medo,
estimula-se o amador,
nega-se a aventura,
silencia-se o desejo,
foge-se do amor...
Cobre-se de negro
o espelho que reflita
a coragem da alma,
habita-se na solidão
de um metro quadrado
e morre-se rodeado de gente,
no arrependimento
de nunca se ter vivido.

Impera a inteligência do Espírito,
ainda é tempo de abundância,
na riqueza de ser feliz,
diferente,
Eu.

Foto de joão jacinto

Mortais pecados

Olho-me ao espelho, debruado de talha,
luminosamente esculpida, dourada
e pergunto-me ao espanto das respostas,
na assumida personagem de rainha má,
quem sou, para o que dou, quem me dá.
Miro-me na volumetria das imagens,
cobertas de peles enrugadas,
vincadamente marcadas,
por exageros expressivos,
de choros entre risos,
plantados nos ansiosos ritmos do tempo.
Profundos e negros pontos,
poros de milimétricos diâmetros,
sombras cinzentas, castanhos pelos,
brancas perdidas entre cabelos,
perfil de perfeita raiz de gregos,
boca carnuda, gretada de secura,
sedenta de saudosos e sugados beijos
de línguas entrelaçadas,
lambidelas bem salivadas.

Olho fixado no meu próprio olhar,
de cor baça tristeza,
desfocando a máscara, de pálido cansaço
e não resisto ao embaraço de narciso;
sou o Deus que procurei e amei,
em cumprimento do milagre
ou o mal que de tanto me obrigrar, reneguei?
Sou o miraculoso encantador a quem me dei
ou a raposa velha, vaidosa, vestida de egoísta,
com estola de alva ovelha, falsa de altruísta?

No meu lamento, a amargura porque matei;
sangrando a vítima, trucidei-a em ranger de molares,
saboreei nas gustativas variados paladares,
viciadas no prazer da gula do instintivo porco omnívoro.

Rezo baixinho, cantarolando, beatas ladainhas
de pecador que se rouba e se perdoa,
a cem anos de encarceramento.

No aliciamento cobiçante de coxas,
pertença de quem constantemente
me enfrenta, competindo nas mesmas forças,
traindo-me na existência do meu possuir,
viradas as costas, acabamos sempre por fingir.
Entendo velhos e sábios ditados,
não os querendo surdir em consciência.
Penso de mim, a importância de mais,
que outros possam entender,
sendo comuns mortais,
minha é a inteligente
certeza do enganar e vencer.

Sadicamente bofeteio
rechonchunda face de idealista tímido,
de quem acredita e se deixa humilhar,
dá-me a outra, para também a avermelhar.

Vendo-me a infinitas e elegantes riquezas,
de luxúrias terrenas, orgias, bacantes incestuosas,
sedas, glamour, jóias preciosas,
etiquetas de marca,
marcantemente conotadas
que pavoneiam a intensa profundidade da alma.
Salvas rebuscadas, brilhantes de pesada prata,
riscadas de branco e fino pó.
Prostitui-me ao preço da mais valia,
me excita de travesti Madalena,
ter um guru para me defumar, benzer e perdoar,
sem que me caía uma pedra na cauda.

Adoro o teatro espectacular,
encenado e ensaiado em vida,
mas faço sempre de pobre amador,
sendo um resistente actor.
Escancaro a garganta para trautear,
sem saber solfejar.
Gargarejo a seiva da videira,
que me escorre pelo escapismo do meu engano,
querendo audaciosamente brilhar,
descontrolando o encarrilhar,
do instrumento das cordas da glote,
com a do instrumento pulmunar
e desafino o doce e melódico hino.

Sou no vedetismo a mediocridade,
que se desfaz com o tempo,
até ser capaz de timbrar,
sem ser pateado.

Acelero nas viagens
que caminham até mim,
fujo do lento e travo de mais.
Curvas perigosas, apertadas,
que adrenalinam a fronteira do abismo.
Fumo, bebo a mais
e converso temas banais,
por entre ondas móveis,
que me encurtam a pomposa solidão,
nada é em vão.

Tenho na dicção um tom vibrado e estudado,
de dizer bem as palavras que sinto,
mas premeditadamente minto
e digo com propósito sempre errado.
Sou mal educado, demasiado carente,
enfadonho, que ressona e grunha durante o sono.
Tenho sempre o apreçado intuito do saber,
do querer arrogantemente chamar atenção,
por me achar condignamente o melhor, um senhor,
sem noção do que é a razão e o ridículo.
Digo não, quando deveria pronunciar sim.
Teimosamente rancoroso, tolo,
alucinado, perverso, mal humorado,
vejo em tudo a maldade do pecado.
Digo não, quando deveria embelezar a afirmação.

Minto, digo e desfaço-me de propósito em negação.

Mas fiz a gloriosa descoberta do meu crescer,
tenho uma virtuosa e única qualidade;
alguém paciente gosta muito de mim.

Obrigado!

Tenho de descansar.

Foto de Emerson Mattos

O Maior

Autor: Emerson
Data: 11/07/05

Paciência e retidão
Conveniência no perdão
Tolerância e calmaria.
Não se irrita
Nem de noite,
Nem de dia.
Num futuro deslumbrado
Amnésia do passado

Conformidade no que tem
Cegueira no de alguém
Da decência é marcada
Inveja não leva nada
Inocente não ofende
A pureza é presente

Dá cuidado e atenção
Isso sempre é a missão
Sofrimento não incomoda
Isso é eterna prova
Sua crença é certeira
Não alcança outra maneira.

Virtual intolerância,
Prepotência, arrogância
Declarada discordância.
A paixão te aturde
Ser maior, não ilude.

Sua vida é eterna
Sua elegância terna
Como espelho é refletido
Do olhar só vem despido

Foto de Nennika

Ainda te espero...

Lamentar sonhos perdidos
Remexer no passado...
Voltar no tempo...
Reviver sonhos adormecidos...
Se entregar em devaneios...
Nada disso é proibido!!!
Ser feliz ou sofrer...
Mais ainda assim acreditar...
Ainda que impossível...
Mas a esperança que agoniza...
Ainda respira...
Ainda vive no espelho do tempo...
Onde vejo refletida a imagem destorcida
De alguém que ficou no passado...
Entre lembranças... Simplesmente adormecido...
Na beleza inesquecível...
De um sentimento que ainda vive dentro de mim...
Gritando desesperadamente... Para que volte...

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