Hoje não quero falar do funcionamento das coisas
nem da instrumentalização dos corações
quero deixar as páginas solitárias
Sem grande laboro
pequenas melodias crescem sem razão
sem perdão
minha face no espelho das convenções
fica quase disforme
a alma chora calada
a métrica se desfaz
a ciência se desmente
e a fé desteme a certeza da linha da vida.
Mas esse universo é galopante
veja o espetáculo que o circo na TV mostra
para a mente descamar
veja os discursos-escudos
falácias das bocas que só contém dentes
o medo agora vem em forma de fantasia
Se eu paro, o lixo merece minha boca
mesmo que seja saboroso e hilariante
a negação de uma proposta de um projeto corroído
Não sou palco pra ser acometido
onde até o racional malabarista desequilibra e cai
e o crítico ofegante se afoga no seu próprio grito
Mesmo quase querendo estar cega
vejo no fundo do poço, no lampejo da água suja
que ainda somos apenas soldados criando matéria.