Direito

Foto de Rute Mesquita

O quarto interdito

O silêncio profundo,
de um quarto sombrio,
que muito deixa a desejar,
atrai-me por sentir que é interdito.

O meu Mundo,
agora pulsa como o correr de um rio,
soluça ao respirar,
e é este o seu repito.

Aproximo-me daquela ombreira,
os meus passos fazem o chão gritar,
sinto-me transpirar,
como se estivesse ao abrigar de uma lareira.

O mistério mantém-se,
o meu trémulo aumenta,
O meu medo contem-se,
mas, a minha alma o alimenta.

O nervosismo censura,
aquela escuridão está prestes a domar-me,
e eu só peço que atrás daquela porta exista uma ferradura,
que se perdida, irá proclamar-me.
Um pedaço daquele chão que ruge,
caiu mesmo debaixo dos meus pés,
estive à beira do abismo,
ao olhar a palavra ‘puxe’
e ao hesitar a sílaba ‘Rés’.

Tenho uma mão transpirada sobre a maçaneta,
e na outra, o coração
imagino qual será a minha vinheta,
nesta minha aterrorizarão.

Entrei de pé direito
e sinto um vazio enorme…
o meu coração agora chora encostado a meu peito,
pedindo que não me conforme.

Este era o quarto da minha outra parte…
ele não está… nem mesmo a sua sombra…
Aqui caio moribunda nesta arte,
o único apoio que me sobra…

O que mais preciso dizer?
Lágrimas inundarão este quarto,
já nada tenho a perder…
daqui já não parto.

Foto de powtpotter

Chance..

Eu sei que ainda nao me ama,
Não precisa mentir,
Só quero que entenda,
Que um dia vai sentir.

Me dá uma chance de te fazer feliz,
Voce nao pode se privar,
A esse sentimento todos tem direito,
Todos tem o direito de amar.

Ninguem te entende como eu,
Nao deixe essa chance escapar,
Por favor me deixe te fazer feliz,
Por favor me deixa te amar!!

Se um dia te fizeram sofrer,
Nao te faço sofrer assim,
Vou ser a parte boa da tua vida,
Voce tem que confiar em mim.

Quem nao confia nao ama,
Nao vou jamais me cansar,
Vou tentar dia e noite te dar,
Novamente o direito de amar.

Foto de Graciele Gessner

Ladrão de Leite. (Graciele_Gessner)

Jamais pensei que alguém tão próximo pudesse ter ligação direta, que pudesse roubar o direito de amamentar, colocando em risco a sobrevivência de um recém-nascido. Amamentar é direito da criança; mas a mãe também tem o direito e o dever de estar em paz. Quem não respeita este período está declarando: “sou ladrão de leite”.

Compreendo que tudo possa influenciar negativo ou positivamente, no entanto, há pessoas que não percebe o quanto mal é capaz de proporcionar. Sei que é complicado viver num ambiente em que os problemas são as bases e as soluções são desprovidas de qualquer ação imediata. Pior ainda, quando os problemas vêm de fora e temos que bloquear os verdadeiros indícios de uma catástrofe que possa afetar um inocente.

Amamentar exige dedicação, amor e proteção. Dedicação e muita paciência com aquele que temos aos nossos cuidados. Amor e muito carinho para que sinta o aconchego materno. Proteção, segurança e paz são alicerces de uma tranquila amamentação.

Um lar em harmonia pode influenciar demais na amamentação. A pessoa que se acha no dever de desrespeitar a tranquilidade da mãe e de seu bebê está roubando não apenas o leite daquele ser indefeso, e sim, roubando a sua saúde.

06.07.2011

Escrito por Graciele Gessner.

*Se copiar, favor mencionar a devida autoria. Obrigada!

Foto de Belinha Sweet Girl

Estar só

E quando a solteirice é tão antiga e tão enraizada que chega a irritar? A mulher solteira conta vantagem sempre que pode sobre suas amigas comprometidas. "Gosto de ser livre", ela diz, com toda uma pompa de mulher independente. Pergunte a ela se é feliz, e essa pompa se desmanchará, dando lugar a uma cara de mulher desiludida e sem esperanças.
O mais incrível é que a mulher solteira [de orgulho ferido] se sente no direito de achar que qualquer casal que anda de mãos dadas e se beija em público é louco. E ainda diz "Que gente mais melosa!", como se fosse a cena mais absurda já vista. No fundo ela queria estar vivendo o mesmo, sentindo o mesmo frio na barriga. A verdade é que ela passou tanto tempo sem amar que passa a achar ridículo quem ama e se entrega a esse sentimento.
A mulher solteira que diz "gostar de ser livre" é apenas uma mulher desiludida com o amor. Simplesmente ainda não apareceu alguém que mexesse com ela. Não quer dizer que quando ela recusa convites pra sair ela realmente QUEIRA ser solteira.
Também tem muito de medo envolvido nessas situações. Talvez a mulher solteira tenha medo de se envolver a ponto de se apaixonar, e de repente descobrir que não é [não foi ou não será] correspondida. Tem medo de amar sozinha. Medo de sofrer. Sendo assim, ela prefere dizer que não se compromete, que não quer namorar e nem casar, que homem só traz problema, etc. Ah, e também costuma recusar mil convites pra sair, e na maioria das vezes culpa o trabalho por isso. A mulher solteira deixa de se dar uma oportunidade de ser feliz, por medo de amar, ou por medo de não agradar o outro, ou por falta de amor próprio.
Ela esquece que só se vive uma vez, e que a vida passa rápido. Esquece que faz parte da vida errar nas escolhas e sofrer por elas. Esquece que de tudo que se vive, se tira uma lição. Esquece de sonhar, de enlouquecer de vez em quando. Esquece de viver. Esquece que o amor é um mal necessário.

Foto de cnicolau

Falta

Não consigo mais escrever,
as palavras fogem de minha boca,
a escrita já não consegue mais ser honesta,
e o corpo começa a sentir os efeitos...

A mente não raciocina mais direito,
o coração bate mais fraco,
o corpo fraqueja...

Estou a todo dia lutando
contra os embaces de minha vida,
porém chega um momento em que
o cansaço chega, vem, entra em minha
porta sem pedir licença...

Tento ser forte novamente,
tento seguir adiante,
tento respirar normalmente,
tento falar, sentir, provar...

Mas apenas tento.

Esta difícil...

Jurei pensar que fosse mais fácil,
que seria mais tranquilo.

E por um tempo até o foi...

Mas hoje não sei o que aconteceu.
Senti muita falta...

E essa falta esta me machucando...
Feito uma faca que entra em meu peito
e tira tudo de bom que há dentro de mim.

Entra fundo, sinto a lâmina cortando
meu coração em inúmeras fatias,
como se fosse papel, e as jogando
janela afora...

Dói,
ta doendo muito,
muito mesmo...

Quase não esta mais dando pra segurar
a dor que esta prestes a explodir em meu
peito...

Sinto que a qualquer momento,
a qualquer momento.......

Cleverson Luiz Nicolau
25/07/2011

Foto de Moisés Oliveira

Não quero ter

Não quero ter que olhar-te como uma estrela distante, a brilhar no céu,
quero sonhos antigos, vivos em uma folha de papel.

Não quero ter que apagar a chama doce que arde na lembrança,
quero não ter que um dia, perder toda a esperança.

Não quero chorar a fome de quem quer beijar, quero sim,
sentir o corte fundo da forma sincera de amar.

Não quero essa ferida aberta, rasgando o alto do meu peito,
quero não ter que entender o que nem tu sabes direito.

Sempre guardarei comigo a lembrança dessa dor,
para recordar o dia em que, por ti, quase morri de amor.

Foto de Rute Mesquita

Maldito relógio!

Maldito sejas relógio!
Não me dás tempo de descanso…
Só sabes traduzir a minha vida em números…
Lanças vidas iludidas ao remanso
dos teus inúmeros.

Porque te achas com esse direito?
És morfológico?
Porque me chamas para a tua dança?
Se de mim pensas ter proveito,
não, descansa,
sou um ser com mais que um ‘lógico’.

Fazes uma contagem decrescente
corres supérfluo
às 6h marcas o sol nascente
e nos teus ponteiros eu fluo…

Quero acordar,
sem tempos, sem datas,
porque me manténs prisioneira?

Vais perseguir-me a vida inteira,
com a tua cifra,
dízima infinita, periódica…
Na tua racionalidade matemática
marcas o tempo em que matas…
fazes do tempo, uma temática
na qual só te embaraças.

Se recuas e avanças horas,
consoante as estações,
deixa as minhas de fora,
dessas homologações.

Arre! Cronometro, arre!

Foto de Rute Mesquita

A Cinco Pontas Dos Pés

Sinto que carrego correntes… pesos que se arrastam no chão. Oiço um rugir perseguidor. Um perseguidor tão pontual e assíduo quanto a minha própria sombra. Ainda não sei bem o que se passa à minha volta, ainda está tudo tão turvo… e eu sinto-me carregada de culpa, de arrependimento, de tristeza, de exaustão e de ódio por sentir tudo isto…
As coisas à minha volta estão a começar a compor-se, talvez deva continuar a desabafar…
Estou cansada, de tanto cair, estou cansada de olhar em redor e nada ver… estou farta de ouvir as minhas próprias lamurias, estou farta… neste momento só me apetece ter um tempo para mim. Preciso de travar mais uma guerra dentro de mim, aquela voz destabilizante não pára de querer medir forças comigo. Não me vou deixar vencer e é por isso que preciso deste tempo para mim, para que esta voz não venha como uma onda gigante e me leve este meu castelo que com tanto carinho construi.
De repente, uma súbita mudança surgiu, deixei de ver… mas, transpareci calma… não sei porquê mas, tinha confiança no destino e por isso passei neste primeiro teste, penso.
Sinto os meus cabelos a bailar com o vento. O meu corpo elegeu-se mais ou menos um palmo da superfície e flutua… não sei ao certo se deveria ansiar ou até implorar pelo chão, só sei que não o farei pois sinto-me leve como uma pena que voa aos sopros de brisas suaves. Recorda-me aqueles sonhos em que parece que a minha cama é um teletransporte.
Não vejo… mas, mesmo que visse iria fechar os meus olhos. Começo aos poucos a perceber esta viagem.
Cheira-me a sal, oiço o mar e nem preciso na areia tocar para saber que estou algures numa praia. O som das ondas diz-me que está maré baixa pois rebentam umas atrás das outras arrastando sal e humedecendo os pigmentos de areia que alcança. É como se as ondas beijassem constantemente a areia e a puxassem cada vez mais para si.

- ‘Serão amantes?’, pergunto e ao escutar a minha voz surpreendo-me com a minha pergunta, pois nunca tinha pensado assim.

Os meus pensamentos voltaram e pesam por isso, a gravidade actua novamente e pousa-me naquela areia. Acontece num processo tão lento que sinto que comecei por tocar a areia e agora entranho-me na mesma como se neste momento fizesse parte desta.
A minha visão, continua ausente mas, vejo um clarão de tons que vai desde a gama dos amarelos até aos laranjas mais avermelhados que me faz perceber que um calor se afoga naquele mar, dando lugar a uma outra gama de cores, cores que vão desde os violetas mais azulados aos verdes mais acastanhados. Julgo que seja o pôr-do-sol e que daqui por uns minutos se dê o erguer da lua.
E mais uma vez me surpreendo com o meu raciocínio, nunca tinha visto as coisas desta maneira tão sensível. Talvez por ter tido sempre a visão da ‘realidade’ facilitada e por isso nunca tivesse dado valor, penso.
Nisto, o mar agora beija os meus pés, como se me convidasse para entrar… mas, vou aguardar sentada de joelhos encostados ao peito e com os meus braços sobre os mesmos, pois uma brisa fria em breve virá arrepiar-me.
A lua já se ergueu, as cores que ‘vejo’ mudaram como, tão bem pensei que fosse acontecer. Um arrepio percorre a minha espinha, aquele arrepio por que já esperava mas, que não deixou de distorcer o meu corpo e fazer levantar todos os meus pêlos.
Os meus cabelos, agora mais que nunca parecem sem direcção, uns atravessam-se à frente minha face.

-‘Tenho que me mover, senão irei congelar’, disse para mim. E sentei-me de uma forma mais descontraída enquanto mexia na areia.
Imaginava a minha mão como uma ampulheta que com imensos grãos na minha mão suspensa no ar, decidia faze-los juntar-se aos outros seguindo uma constante, o tempo… e foi então que outro raciocínio inesperado da minha boca se soltou:

-‘Se encher a minha mão de areia e por uma abertura constante, a deixar cair e enquanto isso for contando os segundos até sentir a minha mão sem nada consigo perceber quanto tempo tem uma mão de areia, com aquela abertura de raio fixo e àquela distância do solo’.
Assim, percebo rapidamente que o tempo varia com dois factores, com o diâmetro do buraco que deixo, por onde a areia irá soltar-se e com a altura a que tenho a minha mão do solo arenoso, percebo que se me puser de pé a areia demora mais tempo a juntar-se àquele solo arenoso do que se eu estiver sentada. Após a experiencia dou por mim boquiaberta envolvida numa brincadeira de pensares, como se unisse uns pontos aos outros e no fim os justificasse com a experiencia.

-‘Deveria perguntar-me o que se passa? De onde surgem estes raciocínios? Porquê? Se ainda agora começo a descobrir os tais pontos, se ainda terei de uni-los e acabar com a sua comprovação que provém da experiencia?’

Sinto algo musculoso e texturado agarrado ao meu pé direito. Volto a sentar-me e pego naquele músculo e começo por tentar perceber a sua forma, percorrendo as minhas mãos pelo mesmo.
- ‘É uma estrela-do-mar!’, exclamei. E dou por mim a falar com esta estrelinha pela qual baptizei de cinco pontas dos pés.
- ‘Tens tantas pontas quanto os dedos que eu tenho nos pés e nas mãos. Não preciso saber a tua cor, pois para mim já és a Cinco Pontas Dos Pés mais bela que conheci.’ Confessava-lhe.
-‘O que te trás por cá minha Estrela? Bom, não interessa se aqui estás, é porque certamente fazes parte desta minha viagem e simbolizas algo na mesma, quem sabe sejas um daqueles pontos que terei de unir.’ Contava-lhe mas, discutindo comigo mesma.
-‘Sabes querida Estrela, esta viagem começou por ser um refúgio… passou a ser uma viagem de sensações, depois uma viagem rica em sensibilidades das coisas mais simples que agora vejo que são as mais belas e agora, encontro-te a ti, uma amiga como se adivinhasses que aguardava inquieta por contar tudo isto a alguém. Espera… é isso!’

Pousei a Cinco Pontas Dos Pés naquele meu pé que um tempo atrás se havia agarrado e comecei a unir os pontos.

-‘Vim num transtorno de estado de espírito, numa revolta por nada ver a minha volta e fiquei sem visão. Recordo-me que vinha carregada e que me sentia perseguida enquanto arrastava umas correntes e tudo desapareceu, eu elegi-me cerca de um palmo do chão e senti-me livre, leve como uma pena. Lembro-me também que procurava um tempo só para mim e vim parar a uma praia deserta. Depois aqueles meus raciocínios e olhares às coisas mais simples mas, que jamais em tempo algum lhes tinha dado tal valor. Desde aquele pensamento de o mar e a areia serem amantes, o pôr-do-sol e o eleger da lua, o arrepio e à pouco sobre os grãos de areia. E por fim, apareceste tu, claro! Vieste para eu me ouvir, a mim mesma e assim unir estes pontos.'
E continuei o meu discurso:

-'E com esta viagem, aprendi uma grande lição, que ao invés de me deixar domar pelas minhas lamúrias deveria confronta-las como sendo o que não são, belas e assim elas ficarão belas, porque assim as olho e quero que sejam. Isto de uma forma inteligente.
Aprendi que a beleza no Mundo está em todo o lugar, nas mais pequenas coisas encontramos o nosso mais sensível, o nosso mais profundo sentimento e assim afirmamos a nossa humanidade.
Aprendi que um amigo nos aconselha, nos apoia mas, que sobre tudo nos ouve, como tu minha amiga, Cinco Pontas Dos Pés que pouco precisaste dizer pois fizeste com que me ouvisse a mim mesma e chegasse onde cheguei.
Aprendi (…) a minha visão voltou!’

Está tudo turvo, sinto-me a regressar ao sítio de partida… e imploro:
-‘Estrela, estrela! Não largues o meu pé! Vens comigo!’

Estou de regresso e como me sinto bem, estou radiante de felicidade e tudo o que carrego agora comigo é paixão, paixão por toda a beleza que me rodeia e admiração, por esta experiencia que jamais esquecerei. Os meus olhos brilham, como duas pérolas, o meu rosto está iluminado como se uma auréola pairasse sob a minha cabeça. Estou vestida de branco e de sapatos e só penso ‘a minha Estrela!’. Descalço-me e não a encontro, dispo a camisa, as calças e o casaco e nada, não a vejo em lado nenhum… sento-me agrupada e lágrimas escorrem pelo meu rosto e quando já quase me sentia preparada para repetir a viagem vejo algo a mexer-se no meu casaco e qual é o meu espanto quando vejo a Cinco Pontas Dos Pés?! Que encantamento!

-‘Eu sabia que eras bela, minha Estrela, bela como aquele pôr-do-sol e ainda bem que vieste comigo pois serás sempre a minha melhor amiga e serás tu quem irá manter aquela experiencia sempre viva!’

Foto de Oliveira Santos

O Besouro Azul

Era outubro do ano passado, mês do meu aniversário e estava decidido a me dar um presente especial. Algo que marcasse uma época, sim, meu primeiro carro.
Iniciei minha cruzada em busca daquilo que seria um divisor de águas na minha vida. Diuturnamente pesquisava, não dormia direito, não comia direito, era pura ansiedade na minha procura incessante, e quando menos esperava lá estava ele. Uma jóia, um achado, raridade automotiva que habitava as memórias dos mais velhos e aguçava o desejo dos mais jovens. Um lindo, restaurado e personalizado Fuscão oito meia, motorzão mil e seiscentos, estofados em couro, som potente, instrumentos esportivos, lanternas especiais, rodas liga-leve quinze polegadas, levemente rebaixado, detalhes cromados, pintura impecável perolizada, coisa de colecionador. Era ele, eu tinha certeza, foi paixão fulminante. O Besouro Azul.
Tudo acertado com o antigo proprietário que o beijou como um pai que se despede de um filho que dificilmente verá novamente fui buscá-lo com um grande amigo que tinha mais experiência em direção veicular para levá-lo comigo. Enfim ele era meu, todo meu, somente meu.
Era como se tivesse nascido um filho que seria cercado de todos os cuidados e mimos, afinal era uma relíquia única em toda a cidade, talvez em todo o estado.
Foi uma das melhores sensações que tive na vida, de realização, de conquista. Eu era o cara.
Por onde passava era a sensação. As pessoas elogiavam, faziam ofertas, tiravam fotos, queriam vê-lo de perto, tocá-lo, sentí-lo.
Alguns amigos criticavam pelo fato de ser um carro velho. Ei, velho não! Antigo, é diferente. Mas eu não me importava com o que diziam os consumistas. Eles que ficassem com seus carros zero quilômetro, mas todos iguais. Hoje todos os carros se parecem, quase não se consegue distinguir um do outro com suas linhas retilíneas e formas geométricas. Eu queria algo ímpar, que fosse só meu, exclusivo!
E eu tinha, claro, o Besouro Azul arrancava suspiros até mesmo dos mais abastados com seus luxuosos veículos, todos automatizados e que só faltavam falar.
Até que na noite de Natal do mesmo ano, num piscar de olhos eu e aquele meu amigo do início da história vimos um vulto branco em nossa direção e tudo acabado. Acabado num muro de puro concreto do canteiro central de uma avenida muito movimentada da cidade.
O Besouro Azul parou de voar.

Foto de Luiz Islo Nantes Teixeira

OUVIDOS DE MERCADOR

OUVIDOS DE MERCADOR
(Luiz Islo Nantes Teixeira)

Ninguem jamais deve lhe dizer quem voce deve amar
Ou com que voce vai dividir o resto de sua vida
Nao importa os argumentos que venham lhe mostrar
Voce deve tomar sua decisao preferida
De acordo com o que seu coracao sentir e aprovar
Como o caminho de ser feliz na sua vida

Temos o direito de questionar
Temos o direito de argumentar
E haverao os que nao concordarao nem um pouco
Mas quando voce tiver problemas
Ninguem vira abrir as suas algemas
Ou tirar a corda de seu pescoco

Algums lhe chamarao nomes feios
Nem sempre bons de se ouvir
Alguns lhe falarao dos receios
Do que possa ser o seu fim
Mas o que os seus parentes ou amigos alheios
Tem que ver com o que voce estar a sentir

Que cada um guarde sua opiniao
Que cada um resfreie seu nariz
No assunto do coracao
No assunto de ser feliz
So vale a sua decisao
E o que o seu coracao diz

Portanto ame quem voce desejar
Nao importa com o que cada um pensa
Pois se este e o preco que voce tem que pagar
Se esta e a sua recompensa
Deixem falar
Absorva cada ofensa
Faca ouvidos de mercador
E faca do seu amor
A sua duradoura crenca
© 2011 Islo Nantes Music

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