Cores

Foto de William Contraponto

Nossas Cores

Se as nossas cores
Numa dessas aparecem
Em tempo na TV
Somem áudio e imagem
Antes da cena sensível
De um toque
Entre o rapaz
E o que vem

Essas forças que condenam
Impedem a igualdade
Com um excesso
Do sucesso da crueldade

Mas nossas cores
Na alma transcendem
E são todas as cores
Que a vida tem

Eu sei...
Num dia desses
Haverá justa lei,
Enquanto isso... seguimos
Em amores clandestinos
Naquela Quinta Estação
De suave brisa
E colorida paixão

Forças pouco sábias
Andam pela contramão
Já objetivos claros
Clareiam até a bruta escuridão

E nossas cores
Na alma transcendem
Sendo todas as cores
Que a vida tem

Foto de Arnault L. D.

Única

Embora muito me esforce,
a cada dia os fatos se diluem.
Perco detalhes na lembrança,
feita a renda que se esgarça,
perdendo laços, que se excluem
ao esquecimento que avança.

A cada vez que recordo,
as linhas são mais fragmentadas,
as cores tem menos contraste.
Porém, nesta nau ainda abordo...
E ela me leva ao céu, qual escada,
que a cada passo do chão me afasta.

A realidade torna-se imprecisa.
Mesclada, a confundir-se ao sonho.
Talvez, lembre tal real o que sonhei,
e os vendáveis diga sentir em brisa...
Teu perfume, por mais que estranho,
sinto junto a mim... e apenas lembrei...

Mas, obstante a cada traço
que o viver eruda, a tornar distante...
No fim, inda haverá o que esquecer. Sei.
Enorme amor, mesmo se em mínimo pedaço,
ainda haverá, quando findar todo restante.
Talvez sem história, lembre apenas que amei.

Foto de betimartins

Hino de amor à natureza

Hino de amor à natureza

No verde que minha vista já não alcança, no espaço repleto de beleza eu vejo as rolinhas, felizes e contentes debicarem seus petiscos, os insetos soltos por ali...

Entre os vôos de marcar territórios, os bem-te-vis são agressivos por demais, disputa o pobre pica-pau de penas avermelhadas, fazendo mesmo assim as suas graças na árvore...

Olho o lago com suas imensas águas, espelhando Dourado do Sol, refletindo as nuvens e as árvores dali, e na beira do lago os canto agitados dos quero-queros, querendo eu longe dali...

Entre os pulares nas árvores gigantes, olho e não consigo entender vejo misturados no verde os belos periquitos a namorar, que algazarra eles fazem ali...

Observo as outras árvores e vejo os ninhos do joão-de-barro, quanta perfeição e observo ali e quanto trabalho árduo ele tiveram pelos seus amados filhinhos...

De repente escuto o barulho na água de um mergulhão quase azul e esverdeado a pescar, que belos vôos ele fazia na água, rumando para a enorme castanheira descansar...

Ruídos estranhos e estridentes me fazem olhar para as arvores vizinhas, qual é o meu espanto que vejo famílias de sagüis espreitarem-nos, alguns ainda muitos bebezinhos...

Perdemos em breves pensamentos, ao ver tanta união ali, os bebês seguirem suas mães e lembrar quantos de nós os humanos mataram e maltrataram as nossas crias...

Jamais são deixados ao esquecimento, nem deitados ao lixo, apenas são animais, mas que cuidam verdadeiramente das suas crias como as mães devem ser de verdade...

Olho para o relógio e vejo que são onze horas, vejo gente com seus lanches, para ficar a descansar do trabalho, ficando apreciar o que a natureza ali oferece...

Rasga o silencio da represa, o trem que esta chegando ali, sãos os mais variados vagões de mercadoria, onde outrora era o café que mais se transportava ali...

O Sol se esconde por breves momentos, ficando tudo no mais absoluto silêncio, a penumbra sobressai ali recolhendo os nossos pensamentos...

As nuvens são arrastadas pelo vento que suavemente se faz sentir, deixando o Sol, emergir trazendo o calor e iluminando tudo por ali...

Uma pequena serenata se escuta ali, como agradecimento á vida que corre ali, de novo o barulho das águas, são a belas famílias de capivaras, que vem descansar ali...
Na cor prata da água, vejo emergir os peixinhos, buscando os restos de comida, deixados para as famílias de patos que vivem espalhados ali...

Observo a vida em forma bruta, quanto ela é majestosa, recheada de coisas tão belas como o amor, partilha vivida por eles ali...

Imaginei um verdadeiro artista pintando aquele quadro visto ali, quais seriam as cores pintadas, até os detalhes das minúsculas borboletas e as belas libelinhas voando por ali...

Alegre e completamente feliz, quis dançar ali, esvoaçar como os pássaros, cantar como um canário, como se fosse uma oração e agradecimento a vida...

A paz que eu encontrei e senti ali, apenas é a melhor união com Deus, o mais belo hino de amor cantado pela natureza para mim...

Betimartins

www.betimartins.prosaeverso.net 25 de Março de 2011

Foto de Mitchell Pinheiro

O animal que raciocina

O animal que raciocina pisou lá na grande bola branca
Mas tem deles que ainda vestem com a tarja preta do absurdo a moldura de uma mulher.
Moldam suas vidas aos seus moldes.
Mutilam-nas contra o prazer sublime!
Apedrejam a rainha dos poemas, a bailarina da docilidade, a provedora da vida, a guardiã do colo protetor e do amor mais forte.

O animal que raciocina transita velozmente pela terra, num leve toque dos dedos, submerge com os peixes e voa com os pássaros.
Mas a pele escura ainda é golpeada pelas chagas de outrora
Pelos que pensam que a qualidade de um ser tem cor
Que existe mais de um tipo de gente
Mas a humanidade de uma pessoa não pode ser medida por esses olhos cegos
Mas pode ser muito bem descrita por um poeta de olhos fechados

O animal que raciocina se faz ver e ouvir além de todas as distancias
Aciona instantaneamente seus pares espalhados pelo mundo através de caixas de circuitos, fios, antenas e maquinas espaciais
Mas os povos ainda compartilham do inseticida que destrói os formigueiros que incomodam a grande lavoura capitalista.
Mesmo após as grandes pulverizações ocorridas em Hiroshima e Nagasaki

O animal que raciocina instrumentaliza os sons e produz melodias que encantam a alma, faz magia com a voz, esculpi o inefável e transforma a tinta e as cores em olhares maravilhados.
Mas a pólvora ainda queima meio a ruína dos derrotados.
A espada consome grandes riquezas e espalha sua destruição enquanto a fome alastrada faz o animal que pensava se juntar aos outros animais.
A pólvora ainda é o alicerce dos fanáticos que como justiceiros divinos, transformam sua vida na arma mais brutal e selvagem que ceifará muitas outras vidas de errantes pecadores desavisados.

O animal que raciocina enxerga o micro-invisível, o celular, o atômico, os astros mais distantes e estuda o nano-mundo
Mas da pedra ao pó as veias familiares são entorpecidas pelo desvario mais inexplicado
Pelo escambo da juventude por seringas e pílulas, de conjugues e filhos por bebidas e ervas, de vidas por farelo de morte.

O animal que raciocina desvia o curso de rios, explora as profundezas da terra e das águas, troca um coração enfermo de um vivente pelo saudável de um desafortunado.
Mas o verde está ficando cada vez mais cinza
O potável jazendo nos canos de esgoto
O ar, no negrume da ganância
A flora e a fauna defloradas
A flora e a fauna preservadas?! Nos museus, nas fotografias, na historia...

O animal que raciocina é temido pela fera mais selvagem
O animal que raciocina é a fera mais selvagem a se temer

Foto de annytha

O GRANDE CIRCO

O GRANDE CIRCO passou, deixando para trás uma grande multidão de sonhos e fantasias, falsas alegrias, pessoas vazias, que estiveram ali, talvez numa tentativa de encontrar algo que pudesse preencher os seus vazios, e por isso gritavam todos com uma só voz, os nomes de duas personagens, que pra mim, não passam de desconhecidas, mas penso que devem ser os protagonistas do GRANDE CIRCO – “ VIVA ZÉ PEREIRA, VIVA JUVENAL...” e prosseguem nesse ritmo alucinantes, em busca dos sonhos que, possivelmente nunca se realizarão, pois, O GRANDE CIRCO, nada tem a oferecer, a não ser meras ilusões.
Colombinas, trocaram suas vestes de seda e babados, pelo semi-nu! Pra que tanta roupa?
Pierrôs, não são mais apaixonados, e já não têm mais olhares tristes e nem pingos de lágrimas escorrendo pelo seu rosto, “ que por causa de uma colombina acabava chorando!” Hoje, eles, preferem disputar com as mulheres, por isso, se travesti iguais a elas..., E assim, todos passam quatro dias caminhando e dando vivas aos tais Zé Pereira e Juvenal...
As chuvas de confetes, foram trocadas pela chuva de latinhas, copos e garrafas descartáveis (ainda bem que são descartáveis). Ninguém se incomoda com isso; todos cantam, riem e gritam freneticamente, num jogo de empurra-empurra...
Serpentinas, já não são usadas para laçar algum apaixonado!
Ninguém liga pro cansaço...
Enfim, chegam ao fim da linha, sem se importarem com a exaustão.
Todos com suas diversas fantasias multicores, que, na quarta-feira “ingrata” (até hoje ainda não conseguí descobrir por que essa quarta-feira é “ingrata" e os deixa contrariados)perderão seus encantos e as suas cores, deixando apenas grandes lacunas... Agora, já cansados e sem forças, e com olhares tristes, acompanham o GRANDE CIRCO que vai deixando as ruas para ir embora. Mãos acenam, dando adeus ao GRANDE CIRCO que está partindo, deixando apenas, angústia e solidão, porque era pura fantasia!
Hoje passei pelas ruas vazias e sujas, com um odor horrível, um misto de bebidas alcoólicas e cigarros! De longe, vi que alguém estava sentado numa calçada, com o olhar perdido e triste, talvez, fazendo um balanço dos quatro dias de euforia. Quem sabe, estivesse pensando aliviado, que não é e nunca foi “ladrão de mulher” e com o seu rosto quase sem pintura, dava pra ver que seu semblante estava triste e chorava, porque nem mulher ele tinha mais, pois o GRANDE CIRCO a levou, deixando-o só e desolado! Coitado do palhaço que já fez rir a tanta gente e agora, com o coração dilacerado, estava ali a pensar que O GRANDE CIRCO, não tinha picadeiro nem trapézio, só malabarista, e ele, mesmo sendo palhaço, fazia também malabaris, foi ai então, que caiu na realidade!
E assim, mesmo em meio a tantos sonhos perdidos, fantasias destruídas, falsas alegrias, desilusão e cansaço, todos aguardam com muita ansiedade, a volta do GRANDE CIRCO, que chegará com muito mais ilusões, sonhos e fantasias, pra oferecer aos foliões!

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Foto de SANDRA FUENTES

ÚLTIMO ANDAR

Maquiava os olhos às cinco da manhã e ficava em seu quarto olhando para o espelho. Não havia traços do tempo em seu rosto, mas o coração, com rugas profundas, se fazia de desentendido. Fumava um cigarro que deixava pela metade. Olhava o mar pela janela do apartamento minúsculo e pensava em seus sonhos-pesadelos. Nem sempre é possível distinguir um do outro quando se dorme. As cores se confundem e os personagens mudam de cena durante um sono profundo. Mas a mulher vestida de segredo, tirava suas meias transparentes e caminhava descalça em direção à porta. Gostava quando ia sentindo nos pés o frio daquele piso do corredor pintado de verde. Sentava na escada e acendia mais um sonho, que deixava pela metade.Ela quer descer. Passa pelos degraus como fumaça. Em silêncio caminha até o portão. Desconhece aquele lugar. Sem olhar para trás, faz o caminho de volta. Pega a chave que estava sob o tapete. Surda-muda. Sonho-pesadelo. É lá seu lugar, é onde ela mora: no último andar, na última porta.

Sandra Fuentes

Foto de SANDRA FUENTES

DESENCONTRADOS

Escrevo em tuas costas
Meus versos molhados

De

Palavras inconfessáveis
Tatuando em tuas pernas
As cores da minha boca

Nos teus olhos prossigo
Relendo os textos
E, devoro em segundos
tuas rimas desencontradas

(decoro)

E repito de forma incansável
Inconsciente
O deleite da tua doçura perversa

Escreve em mim

Tu
Agora
Teus desejos desesperados

Frente e verso

Até que eu chore
Olhando de frente
Pra tua poesia

Sandra Fuentes

Foto de Eveline Andrade

Arco-íris

E no meio da estrada, ao apreciar a bela paisagem que passa por mim, percebi que algo colorido nas nuvens seguia meu olhar. Um lindo arco-íris me persegue, estântaneamente te imagino aqui, para te mostrar o arco-íris e te ouvir falar dele poéticamente como só um grande poeta sabe fazer. A anciedade de te ver bate mais forte, o arco-íris me deixou sem sua gentil compania, para voltar ao mundo das cores. Me leva contigo arco-íris, me envolve no teu manto mágico e me leva à passear contigo pelas nuvens, aquelas que se reunem ao teu redor para perderem a palidez e serem coloridas uma vez na vida. Me leva num vôo sem fim sobre a estrada que atravesso, assim sem parar, para nos braços do meu amor eu logo chegar.

Evelyne Andrade
22/02/2011

Foto de Marilene Anacleto

Anjos 7 - Anjos da Tarde

No calor intenso à beira mar,
Preparam o frescor, os Anjos da Tarde,
Indo e vindo com suas asas amorosas
Em movimentos de amor e suavidade.

Em contínua devoção ao Deus Criador,
Que protege os filhos Seus de suas criações,
Colocam mais leveza e amor nas noites,
E elevam os corações para percebermos o Amor.

Com o frescor da brisa que a chuva aproxima,
Vem o medo das recentes tempestades.
Mas a presença destes Seres reanima
A esperança em Deus e na Vida ora nos dada.

E os Anjos vêm e vão, num devotado festim.
Com cheiros de chuva na terra, voam as pétalas,
Asas de pássaros em festa e perfumes de alecrim,
Anjos da Tarde trazem o Paraíso da calma das florestas
Em odores e cores amarelo, alaranjado e carmesim.
Marilene Anacleto

Foto de Carmen Lúcia

Pássaro mutante

De quantos voos necessitas
Pra extravasar teus trinados?
De quantas cores te camuflas
Pra desmascarar camuflados?
Às vezes, suave passarinho,
Na construção de seu ninho,
Esposa, filhos, lar...

Por outras, és sabiá,
Entoas tristes gorjeios
Trazendo saudades de lá...
Ou então, um beija-flor...
Planando... Não sais do lugar,
Vôo rasante, apaixonante,
Rodeias a flor pra lhe falar de amor!

Transmutas-te numa gaivota
Quando queres reverenciar o mar...
Entre nuvens desapareces,
Em altas ondas ressurges,
Vôos coreográficos
Em azuis celestiais.

E quando ronda o furacão
És o condor que reaparece
E das grandes montanhas desce
Camuflando-se de negro tufão
Em defesa dos oprimidos,
No combate à corrupção.

_Carmen Lúcia_
08/03/2008

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