Confiança

Foto de MartinhaAdoradora

Dom Ruan

Os teus olhos nos meus olhos,
As tuas mãos em meu rosto,
Os seus lábios em minha boca,

Um simples beijo que toca o meu coração
Nossos corações acelerados,
Nossas mãos quentes e tremulas,

E logo depois meu sorriso calmo e sem graça,
Acho que me liguei a você!
As coisas deixam de fazer sentido,
A vida passa a ter mais alegria,
O canto do passarinho ou há multidão a gritar
Para mim todos estes sons se tornam únicos

Pois o que me importa é você...
Na verdade só você não sabe disso ou não quer ver isso
Você me trás paz, segurando, alegria, confiança.
Nada me importa a não ser estar com você!

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"O OBSERVADOR"

O OBSERVADOR

Senhor, o que tenho para relatar não será de seu agrado, O que, ouvi e senti nesta viagem a que fui por vós incumbido, não é digno de ti. Vaguei por todas moradas que me mandastes, percorri vales e aldeias, visitei cada coração existente na terra, perdoe-me Senhor, mas poucos serão salvos. Ainda que fosse dotado de tua capacidade de amar e perdoar, ainda assim não me agradaria com tudo que vi e que agora a ti relatarei.
Era inverno no continente Africano, quando aportei para esta missão de observação, cheguei a um vilarejo onde havia muita movimentação, as pessoas corriam de um lado para outro sem se entenderem, tudo acontecia nos arredores de um pequeno hospital. Aonde as pessoas chegavam as centenas, das mais variadas maneiras, no lombo de animais, na carroceria de caminhões, em ônibus, a pé, em fim, todas enfermas, estavam contaminadas por uma virose que em poucos dias ceifaria a vida de milhares de africanos.
Ali vi a precariedade das instalações, o pouco material de primeiros socorros, e, sobretudo o despreparo e a falta de amor dos profissionais envolvidos, Senhor, mesmo sabendo bastaria um gesto e muitas vidas seriam salvas ,nada pude fazer, pois a função a que me foi outorgada não me dava direito à interferência.
Era noite e a lua já ia alta quando cheguei ao continente americano, às portas de uma grande cidade dos Estados Unidos da América, minha condição era de um cidadão invisível, via e ouvia a todos, inclusive o que se passava em suas mentes, mas não era visto e nem ouvido por ninguém A minha função era de observar tudo e relatar ao meu Senhor, criador de todas as coisas.
Perambulei pelas ruas, vi roubos, assaltos, crimes, prostituição, vícios e muita pouca solidariedade, muito pouco amor, nem parecendo à terra de meu Deus. Visitei alguns lares a que fui incumbido e parti sem demora para outras localidades. Estive em todo o continente Europeu, Ásia, América do Sul, Oriente, em fim, visitei cada cidade de cada País de todos continentes, visitei também cada coração existente na terra, e o que vi Senhor, muito te entristecerá, vi irmão matando irmãos, vi incesto, presenciei catástrofes promovidas por lideres por pura vaidade, estive ao lado de pessoas que tombavam de fome em frente de armazéns lotados de comida se estragando.
Senhor, mesmo dotado por ti de sabedoria, muitas foram às vezes que tombei em prantos por saber que não foi isto que desejastes para teu povo.
Meu Senhor, vi também aquele menino se consumir em prantos pela perda de seu animalzinho de estimação, vi uma mãe com andar tropeço de fome levando as mãos o pouco alimento que conseguira para sua prole, vi também Senhor poucos homens comprometidos com grandes causas, vi mulheres com os rostos inchados preparando remédio para curar a bebedeira de seus algozes, Senhor de tudo que vi, poucas são as coisas que são dignas de ti.
Clemência meu Pai, é o que precisa o traficante, aquele que aniquila a família pela fome do dinheiro fácil, Clemência Senhor é o que precisa o político que trai a confiança de seu eleitor, clemência Senhor, é o que precisa o ladrão quando rouba a dignidade do seu semelhante.
Conheci homens ricos que varias gerações não seria suficiente para gastar toda sua fortuna, mas mesmo assim continuava a se aproveitar dos menos favorecidos.
Meu Pai, se é que posso opinar, se faz necessária uma interferência, que a majestosa benevolencia que emana de seu cérebro criador, varra toda extensão da terra para acudir aquele povo sedento de amor, compreensão, honestidade, mansidão e inteligência, que a justiça que teu nome é sinônimo seja uma constante na vida daquele povo, que se divide entre injustos e injustiçados.
Meu Pai, Senhor dos tempos, Criador de todas as coisas, Senhor absoluto de todo Universo, dono incontestável do passado, presente e futuro, perdoe-os, ensine-os e proteja-os de suas próprias falhas e ignorâncias.
Em certo lugar Senhor, via uma mãe se prostituindo para levar o alimento para seu filho, seu olhar era de satisfação, mas seu coração gritava de dor.
Conheci pessoas encarregadas de passar a tua palavra meu Pai, mas na verdade mentiam em proveito próprio.
O teu nome meu Pai, ainda é o mais falado em toda vasta extensão da terra, mas nem todas pessoas sabem do quão grande és tu.
Faz-se necessária, Senhor uma visita, para que os terráqueos relembrem a sua devida Divindade, muitos são os que chamam por ti, o resto precisa urgentemente de teus ensinamentos.
Meu Pai, tudo que vi e ouvi sempre terás acesso ao meu intelecto e ao meu coração, mas Senhor, se é que posso te farei um único pedido, continue abençoando o povo Brasileiro.

Edson Paes

Foto de Camilinha PoP

A Amizade para mim

A Amizade, não é somente você olhar para o seu amigo todos os dias de manhã e dizer um: Olá ou: Tchau. A Amizade não é isso, ela vai muito mais além de um "Oi" e de um "Tchau". A Amizade é você se preocupar com a pessoa, é você aceitar a pessoa do jeito que ela é, seja rico ou pobre, negro ou branco, Deus nos fez com algumas diferenças de cor e de classes sociais, mas isso vai mudar alguma coisa, pouca mais vai, mas isso não deixa que nós sejamos diferentes por dentro. Amizade, é você ter confiança nele, ter respeito, carinho, fidelidade e principalmente: o Amor. Isso é uma veradadeira amizade pra mim.

Foto de Noslen

Aos meus amigos

A nossa vida é feita de experiências.
O nosso carácter é cimentado com a aprendizagem que conseguimos retirar dessas ditas experiências.
Aprendemos coisas tão simples como que depois de algum tempo expostos aos raios solares podemos sofrer queimaduras, ou algo mais complexo como aprender que por mais que nos importemos com alguém esse alguém por vezes simplesmente não se importa.
Aceitamos no nosso intimo que na realidade por muito que nos custe, não importa o quão boa uma pessoa seja para nós pois essa mesma pessoa vai ferir-te e magoar-te de vez em quando, só temos de aprender a perdoa-la por isso, pois amanha podes ser tu a magoar alguém…
As verdadeiras amizades perduram para sempre e crescem ao longo da vida, mesmo que afastados pelo tempo e pela distancia os verdadeiros amigos estarão sempre lá…
Aprendemos que podemos passar bons momentos fazendo algo com o nosso melhor amigo mas que mesmo não fazendo nada juntos, um simples olhar, um abraço ou uma palavra de conforto podem tornar o nosso dia bem melhor. Não temos que mudar de amigos só porque os nossos amigos mudaram a sua maneira de ser, temos sim de compreende-los e estar-mos lá nas horas e momentos em que eles poderão precisar de nós.
Com isto aprendemos que não importa o que adquirimos na vida nem o quão ricos possamos ser, mas sim de quem nos rodeamos e que amigos conseguimos manter, pois os amigos são a família que a vida nos permitiu escolher, com eles podemos falar para aliviar as nossas emoções, através da confiança que leva anos a depositar em alguém mas que leva somente um instante para que seja destruída, na vida por vezes fazemos coisas sem pensar ou por teimosia das quais nos arrependeremos para o resto de nossas vidas…
Na hora da despedida deixa sempre uma palavra de carinho, conforto ou um simples olhar mostrando o quanto a vossa amizade é importante, pois o destino por vezes é cruel e retira-nos as pessoas que mais gostamos sem que possamos dizer-lhes o que realmente significam para nós…
Levamos uma vida inteira a tentar ter muitos amigos para no fim de tudo os dedos de uma mão chegarem para contar os verdadeiros, amigos que nos levaram tanto tempo a conseguir e no fim de contas o tempo que realmente vivemos é muito pouco...
Sê amigo do teu amigo, não o julgues nem tentes mudar...
Aceita-o como ele é e está disponível sempre que ele precisar pois a vida é demasiado curta e amanha…
Amanha ele pode já cá não estar…

Foto de Carmen Vervloet

Violetas Silvestres

Violetas Silvestres

Debruço-me sobre meu coração
Que canta de alegria...
Indago de tanta euforia a razão
E entre questionamentos e analogias
Encontro entre as pequenas violetas
A resposta desta feliz reação...
O segredo desvenda-se...
Junto ao nascer do sol no infinito...
Ecoa dentro de mim como um grito
Banhando minha alma
Com lágrimas cristalinas
Que evoluem como bailarinas...
Prendo a respiração...
Liberto a tensão...
E anuncio o porquê
De tanto benquerer...
É o prazer do dar...
Do realizar...
O sonho de uma criança carente...
Oferecendo-lhe a dádiva...
O presente...
Sem alarde... No anonimato...
Às delicadas violetas do asfalto
Em nome de papai Noel.
O bom velhinho
Lá do céu
Que atende aos seus pedidos
Escritos a lápis...
Num pedaço qualquer de papel...
Onde desenharam seus sonhos
Em versos de esperança...
E ansiosas aguardaram...
Nas asas da sua louca fantasia
Que concretiza com poesia a magia...

E a confiança desta criança
Trouxe-me a paz... A bonança...
E a lembrança
Da minha longínqua criança...
Que me devolveu o brilho...
A luz... O sentido da vida...
Encontrado entre as silvestres violetas
Que teimam em florescer
Nesta selva de pedras!
Esmagadas pela indiferença de tantos!...

(Projeto Papai Noel)
Carmen Vervloet

Foto de Sirlei Passolongo

Poetas? e Poetas.

.
Nossa... Tenho visto poetas se perderem em meio a vaidades,
Sei que poetas não são deuses e portanto, são humanos dignos dos mesmos pecados como qualquer outra pessoa, mas sempre pensei que a alma do poeta estivesse retratada em sua poesia... que ao falar de amor, ele sabe do que fala, ele sente... ele ama de verdade...ao falar de sonhos... ele sonha como em suas letras, ao falar de amizade... ele preza por seus amigos com a mesma verdade que escreve em suas poesias.
E principalmente, ao fazer poesia ele faz jus ao dom dado por Deus a tão poucos... digo poucos, porque são raros os que podem escrever sem sofrer pra isso, sem que tenham cursado/ estudado pra isso e tocam nossa alma antes de olharmos o nome dele... que nos emocionam e nos fazem viver cada verso e até mesmo, versejar em voz alta com ele.
E, nos últimos tempos, vejo pessoas que se dizem “poetas” contrariando tudo que escrevem, alguns se aproximam de outros por interesse próprio e depois de atingido a meta, se afastam... outros a traírem a confiança dos colegas, usam de meios escusos e venenosos para tentar derrubar o outro, como se alguém estivesse acima de alguém nesse mundo tolo.
E quando digo: se dizem “poetas” é porque ser poeta é ser alma, ser gente de verdade, mas com dom de encantar com sinceridade, com a graça de falar a alma de verdade, de cantar o amor com simplicidade... de levar a poesia com a única ambição de atender a arte, a emoção, e construir amizade e paz.
ou será que tudo isso é sonho meu?
Bem, perdoem-me o desabafo.

Sirlei L. Passolongo.

Foto de Paulo Gondim

Natal sertanejo - (Cordel)

NATAL SERTANEJO
Paulo Gondim
04/12/2007

O natal do sertanejo
Não tem muita regalia
Com pouca coisa se faz
Como é seu dia-a-dia
Vai à igreja rezar
Pede a Deus pra lhe ajudar
Pede paz e alegria

Não é dia de natal
É dia de Nascimento
Natal é coisa de rico
Que vive criando invento
É pra quem tem muito dinheiro
E o nosso pobre roceiro
Só ganha para o sustento

Por isso o bom sertanejo
Não faz festa no natal
Não se dar a esse luxo
É coisa bem natural
Nem por isso sente culpa
Nem sequer se preocupa
Se alguém vai falar mal

O rico, sim, é de festa
Com seu povo da cidade
Come e bebe como bicho
Tudo em grande quantidade
Se mostra ser poderoso
No seu jeito escandaloso
Com luxúria e vaidade

O rico faz muita festa
Mas nem sabe pra quem é
Coitado do Deus Menino
De Maria e de José
Por ninguém vão ser lembrados
Ficam sós, abandonados
Ali, num canto qualquer

É assim há muito tempo
Um natal de hipocrisia
De divino não tem nada
Só profano, só orgia
Só comércio, só consumo
Eis o mais triste resumo
Desta triste fantasia

Mas tem muita gente pobre
Que embarca nessa farsa
Quer fazer natal de rico
E acaba na desgraça
Se comprou não vai pagar
Quando a loja vem cobrar
Suja seu nome na praça

Por isso que o sertanejo
É mais sábio, sim senhor!
Sua festa é mais discreta
Mas é cheia de amor
Não se mete com “gastança”
Mas não lhe falta esperança
E a Deus canta louvor

Sua festa é muito simples
Diferente da cidade
Nela se festeja a vida
Sem nenhuma vaidade
Não se bebe caros vinhos
Mas com todos os vizinhos
Se pratica a caridade

É com esse objetivo
Que se festeja o natal
Com respeito ao Deus Menino
Que vem combater o mal
Renovar a esperança
Reforçar a confiança
Num plano espiritual

Foto de TerrArMar

Porque Hoje é o dia do orientador educacional

Porque Hoje é o dia do orientador educacional

PAULO FREIRE

Mil novecentos vinte e um decorria,
Quando Paulo Freire Nasceu,
Em dezanove de Setembro seria,
E no recife, Pernambuco, aconteceu.

Aí, sua meninice viveu,
E, a ler, sua mãe o ensinou,
Um grande volte face se deu
Quando para Jaboatão se mudou.

Aqui conheceu a dor,
Quando seu pai faleceu,
Mas a solidariedade e amor
Também ele conheceu.

Conviveu, nas suas brincadeiras,
Com os meninos das favelas,
Conheceu a vida das lavadeiras
E também aprendeu com elas.

Podemos dizer que aquela dor,
Provocada pela paterna partida,
Fez de Paulo Freire o Educador
Que Aprendeu na escola da vida.

Foi aqui que se interessou
Pela problemática do Português.
Muitas dificuldades passou,
E, ainda novo, homem se fez.

O segundo ano do secundário,
Só aos dezassete anos o começou,
Foi um homem extraordinário,
Aluizio P. de Araújo que o apoiou.

Em quarenta e quatro casou
Com Elza, uma professora primária,
Cinco filhos é a prole que ficou
Dessa relação extraordinária.

Nesse meio tempo foi convidado,
Pelo colégio Oswaldo Cruz, a leccionar
Ali se vira, outrora, abrigado
E agora, ali podia servir a ensinar.

Director do sector da educação
E cultura do Sesi, órgão recém-criado,
É a sua futura ocupação,
Mas não é homem de ficar acomodado.

Nos anos cinquenta tem projecto novo,
É no campo da educação escolarizada,
Descobre-se o educador do povo,
Faceta, em si, cada vez mais vincada.

No recife, um instituto é criado,
Capibaribe, mas não está sozinho,
Tem muita gente a seu lado,
Que quer, prá educação, outro caminho.

Paulo Freire educou a educação,
Mas também a vida politica,
Mereceu a sua atenção e dedicação,
E em prol delas sua vida sacrifica.

Ao exílio se viu condenado,
Foi um homem incompreendido,
E escreveu, já no Chile exilado
A obra “Pedagogia do Oprimido”.

Esta “Pedagogia do oprimido”
Seria a sua obra maior
Mas Paulo Freire ficaria conhecido,
Por ser um grande educador.

Este exílio lhe deu alento novo
Para explanar um projecto pioneiro,
Mas preferia dar ao seu povo
O que ensinava ao mundo inteiro.

Trabalhou com afinco e confiança,
“Cultura popular, educação popular”
E também, “Pedagogia da esperança”
Outros livros que viria a publicar.

Livros, escreveu muitos mais,
Fez poesias de cariz educativo,
Colaborou com pedagogos mundiais,
O seu método mantém-se activo.

Foi homenageado por onde viveu,
América Latina, Estados Unidos,
E outros onde desenvolveu
Projectos ainda hoje reconhecidos.

Varias escolas o adoptaram,
A Europa rendeu-se ao seu valor,
As ex-colónias portuguesas despertaram
O seu espírito de educador.

Dois de Maio de Noventa e sete,
A morte o apanha à traição,
Um enfarte do miocárdio o acomete.
Morria um nome grande da educação.

O Brasil chora a sua morte,
Mas não esquece o seu contributo,
O mundo enaltece esta alma nobre,
Que fez da educação o seu culto.

Com Ivan Illich se cruzou,
E António Sérgio conheceu,
Com mais nomes trabalhou,
A todos ensinou e com todos aprendeu.

A dizer, muito mais havia,
Mas para não ficar complexo,
As fontes e a bibliografia,
Juntámos em páginas em anexo.

Terminamos a nossa reflexão
Com uma questão sempre nova
“De que servirá a educação
Se não for, permanentemente, colocada à prova?”

Foto de Concursos Literários

Encerramento do 4º Concurso Literário de 2007

Encerrado dia 30.11.2007, este foi sem dúvida alguma o recordista em participação, conteúdo e integração.
As postagens que ultrapassaram a data prevista no edital, foram remanejadas aos blogs, visto que a data já estava pré-estipulada no edital.
A data de postagem esta sendo desde dia 07.10.2007 a 30.11.07 ás 23.59 horário de Brasília, textos postados depois serão eliminados.
Apesar de ter-me mantido um pouco ausente o que não significa que não tenha acompanhado os quantitativos e qualificativos postes presente neste concurso que até o presente momento foi o maior em toda história de poemas de amor.

Gostaria de agradecer á todos os participantes, que mais uma vez trouxe á nossa página com tua participação e integração o colorido do dia a dia, a confiança permanente e sobretudo esta partilha de afeto que nasce desta integração, fazendo-nos sentir mais que poetas, mais que aspirantes das letras, mais que participantes, mais que competidores, onde se forma uma grande família que faz deste brilhante meio de comunicação que é a internet, uma página na vida da gente

Página esta que ganhar, ser premiado, já faz parte de nossa história,onde o Google já aponta teu nome de poeta vencendo a barreira do anonimato.
Tenho certeza que em 2008 será ainda melhor e maior a participação, “Poemas de Amor” é um site de 1º ranketing em todo sistema de busca da internet, contando hoje com mais de sessenta mil pessoas que diariamente passam por aqui e tem a oportunidade de ler e de conhecer, não a administração, não á Miguel Duarte, mas á você poeta que com tuas linhas e versos compõe este universo onde sonhar é possível e alcançar nosso ideal.

Ainda selecionando os poemas e participantes, venho agradecer mais uma vez, este baile, esta festa, que vocês poetas vem nos premiando sempre com fidelidade, a qual é exatamente nossa bagagem para continuar em frente sempre lutando por mais e mais conquistas, onde o prêmio se faz presente esta registrado em nossa páginas, onde o nome de cada poeta é marco de nossa história.

Venho comunicar também que “Poemas de Amor” hoje conta com Miguel Duarte, na presidência Fernanda Queiroz na administração e mais três moderadores, a eles o direito de se manifestarem ou não publicamente, e também com uma bancada de jurados internos, formada por “Acadêmicos Profissionais “ somando 11 (onze) jurista, totalizando 15 pessoas que estarão fazendo parte da comissão de julgamento para premiação.
Aos acadêmicos profissionais, também todo direito de se apresentarem ou não, de emitir um comentário público ou não, visto que a liberdade de ação é o que podemos oferecer por tamanhos préstimos e colaboração, filantropicamente ofertada.
A votação popular do site, é um mecanismo criado para se aplicar a popularidade, ficando os Concursos com critérios próprios para elabora o planejamento de julgamento.
Infelizmente serão escolhidos somente 10 premiados, como estabelece o edital.
Premiação:

I - II - III

Para os 3 (três) primeiros lugar na categoria em Poemas:

Um adesivo com teu poema vencedor, ou outro que lhe seja muito especial, o que importa é que você poderá ter um poema teu decorando tua casa, e ainda mais, poderá escolher a cor pela tabela de corres e a fonte que mais gostar, (serão exposto no site), ou você poderá passear pelo site de nosso patrocinador e se encantar com a beleza, bom gosto e qualidade que este vem nos ofertar.
Importante- O adesivo colante decorativo, não poderá se precisar em medidas, visto que é montado onde os caracteres é que formam o prêmio, para isto existe um limite padrão, equivalente a um diâmetro de mais ou menos 90cm em largura e comprimento, em 15 (quinze) linhas contando com a assinatura.
Caso o poema ganhador ultrapasse, este já pré-estipulado padrão, o poeta poderá optar por um trecho do poema que mais gostou, ou se for o caso, escolher um dentre os teus ou até mesmo criar um novo, dentro do limite planejado, mas neste caso, somente se não for demorado, para que a I- Stick possa cumprir com tua premiação no tempo previsto pela mesma.

IV – V – VI Prêmios

Para os 3 (três) primeiros lugar em Contos:

Para esta categoria, fica valendo o mesmo espaço descrito na categoria acima. O poeta poderá optar por um trecho em tua narrativa que mais lhe aprouver, levando assim para tua sala, teu escritório, ou teu quarto, um pedaço de uma história que sempre será marco em Poemas de Amor e em tua vida.

Haverá ainda a distribuição de 4 (quatro) prêmios.

A I-Stick dará o valor de R$ 100.00 (Cem reais) em compras On Line diretamente de teu site, onde vocês poderão escolher na mais sortida linha de decoração, o bom gosto e a harmonia de cores, para enfeitar o teu lar.

Os Prêmios distribuídos serão para:

VII Prêmio

O melhor Vídeo Poema – Vale à pena premiar esta arte de fazer arte que vem assolando nossas páginas e colorindo imagens aos nossos olhos.

VIII Prêmio

Poeta Revelação – Esta premiação será observada a data da adesão ao Site desde o Dia 01/10/07, quando foi colocada a categoria de Concursos para a realização deste último Concurso Literário de 2007.
Este retrocesso de 7 dias se dá a justiça em que o tema descrito, chamou á atenção de novos poetas, angariando tua participação, portanto que venham os novos poetas, com tuas belas composições, “Poemas de Amor”, quer exatamente descobrir teu talento, incentivando-os cada dia mais a acreditar que o futuro e a realização, começam agora, e pode muito bem ser aqui.
Sejam todos bem vindos.

IX Prêmio

Poeta integração- O que seria poeta integração?
Sabe quando você recebe um comentário onde à interpretação do poema vem junto a um comentário que te deixa exatamente a certeza de que você passou uma mensagem?
Sim, isto se chama integração, se chama leituras aos poetas amigos, se chama participação, se chama fazer de “Poemas de Amor” tua parada obrigatória, como escritor, leitor e incentivador, portanto este prêmio será de sumária importância no site, visando a qualidade, e a quantidade dos comentários efetuados por um único poeta, ele poderá escolher teu prêmio no estoque de bom gosto do nosso patrocinador, I-Stick.
Importante – Moderadores não estarão concorrendo a este prêmio.

X Prêmio.

E o último prêmio em compras On Lime da decoração que faz a emoção da internet, “Poemas de Amor”, reserva o direito de classificar como “Prêmio Surpresa”, o qual será revelado junto aos outros citados acima.
A data da divulgação dos vencedores será do dia 24.12.07 até dia 3l.12.07, ás 23.59. Horário de Brasília.
OBS: Estamos pensando em editar um resultado por dia, caso seja possível, ficaria bem emocionante, começaríamos do 10º Prêmio até o 1º Lugar.

* Importante*As despesas de envio da premiação fora do Brasil, correrá por conta do ganhador.

Sem dúvida alguma teremos deste concurso uma coletânea que será vendida em nosso site, divulgado no sistema operacional de Marketing do Google.
Para que haja realidade além de sonhos é imprescindível que o poeta selecionado, para participar da coletânea terá que se atentarem as normas e datas dos protocolos exigidos, sendo que a relação dos Poemas e Poetas será divulgada On Line, onde cada um deverá se comprometer em registrar em um comente onde poderá postar tua desistência ou o número do protocolo de envio, devidamente registrado ao destino da edição, ou seja Lisboa- Portugal.
Futuramente interessados em edição própria deverá fazer contato com Fernanda Queiroz através do e-mailfernandaqueiroz23@gmail.com.

Meu agradecimento á todos os participantes, leitores e visitantes, que contribui para que este site esteja cada vez melhor.
Obrigada a comissão julgadora na organização do professor Antero, que se prontificou a nos auxiliar neste grande e último evento do ano de 2007.
Obrigada Miguel Duarte, por mais uma vez fazer de tua casa palco de nossas realizações.

Grande abraço.
Fernanda Queiroz

Foto de Lou Poulit

O PORCO-ESPINHO DE ESTIMAÇÃO

CONTO: O PORCO-ESPINHO DE ESTIMAÇÃO

Plac, plac, plac... plac-plac... O relógio antigo pendurado na parede encardida do escritório sequer fazia o tic-tac comum e implacável, com o que qualquer relógio de corda tenta destruir os nervos dos ansiosos. No entanto muito pior, era a impressão de que ele movia o ponteiro mais lentamente, à medida que se aproximava a hora de ir embora.

Plac, plac, plac... plac-plac... Era sexta-feira e fim de mês, mas o salário, que já estava no bolso do Filé, não pagaria as dívidas, nem mesmo todas as despesas normais do mês. Por que então não gastar uma parte, para se divertir um pouco? Depois de um mês inteiro catando milho naquela máquina, datilografando guias carbonadas nas quais era proibido haver uma rasura sequer, isso parecia muito justo. Só que era preciso esperar o maldito relógio apontar a hora de parar.

O Filé, como era amigavelmente tratado no trabalho, era um homem infeliz porque pensava não ter expectativas para a sua vida. Pegar o trem de volta para casa era uma alternativa absurdamente sem graça. Fizera isso o mês inteiro. O cardápio seria o mesmo, assim como as cobranças do senhorio e da mercearia. E da sua mulher, com o sorriso escasseado pela vida dura e fartos depósitos de gordura pelo corpo, ele não poderia esperar nem um lapso de desejo, felizmente. Naquela sexta-feira, pensar em fazer sexo com sua mulher era impensavelmente proibido. Durante o mês inteiro ela o proibira disso e daquilo. Agora era a sua vez de mostrar que também tinha o poder de proibir. Ao menos isso.

Não. Não e não. Naquela noite, assim que o miserável relógio se dignasse a apontar o fim do expediente, ele sairia sem rumo e sem destino. Queria ser o que todo mundo parecia se orgulhar de ser: um cidadão comum, numa cidade comum, sob regime capitalista comum, sem que tivesse que fazer para isso algum esforço incomum. Ora, só queria ter a impressão de que as notas no seu bolso, faziam dele alguém importante, ou pelo menos alguma coisa. Ansiava por julgar justificada a tortura diária de fazer aquele mesmo serviço durante o mês todo. Filé tinha sempre a sensação de ser consumido, agora queria consumir um pouquinho, ser servido, assediado para comprar algo e ter o inusitado prazer de dizer que “não, muito obrigado”, mas não por dissimulada incapacidade. Queria dizer não porque não, e pronto, já que passara o mês dizendo sim. Estava assim determinado a fazer apenas algumas das coisas que todo mundo faz naturalmente. E só poderia fazer isso naquela sexta-feira pois no sábado estaria de novo nas mãos da mesmice.

O Filé sentiu um friozinho na espinha quando o chefe passou pelas suas costas e com um tapinha no ombro autorizou o fim do serviço, segundos antes do relógio. Enfim, ali renascia o rapaz viçoso por cujo sorriso, noutros tempos completo e carnudo, a mulherada perdia a compostura. Não era rico, longe disso, mas se vestia bem e usava algumas pulseiras douradas, além de um grosso cordão, onde se via sempre uma medalha com o triângulo maçônico, cujo significado Alfredo desconhecia por completo, mas tudo fantasia. Sua aparência, somada ao sorriso de quem não tinha dívidas ou qualquer outra preocupação, era o suficiente para que conseguisse a maioria das coisas que desejava. O que na verdade não era muito, porque seus desejos tendiam a uma certa proporcionalidade, em relação à sua, digamos, sintética compreensão do mundo. Alfredo era um rapaz feliz, ironicamente, porque não tinha grandes expectativas.

Filé passou pelas portas do escritório e da entrada do prédio sem deixar de cumprimentar uma única pessoa. Já na rua, passou a se comportar como um respeitável senhor. Não quis entrar em nenhuma condução. Como ainda não sabia para onde estava indo, o melhor era andar pelas calçadas, assim poderia parar em frente às vitrines, e esperar que alguma atendente jovem e gostosa viesse lhe oferecer o seu melhor sorriso. Durante todos os demais dias do mês isso não aconteceria, a menos que estivesse no caminho de alguma daquelas evangélicas, que saem em grupo pelas ruas vendendo revistas de igreja e oferecendo a salvação das almas, ou o inverso, como acreditava o Filé. Logo uma vendedora veio de dentro da loja. Não lhe pareceu tão bonita quanto esperava, mas era razoável. A noite estava começando.

Satisfeito por não ter cedido à tentação das vendedoras que encontrou pelo caminho, que até pediram cartão de visitas e número de telefones para futuras compras, depois de percorrer quatro quarteirões encontrou uma boate do lado oposto da rua. Chegou a parar para atravessar dali mesmo, porém viu entrar e sair da casa pequenos grupos de homossexuais e decidiu que devia aplicar melhor seu rico dinheiro, tão arduamente conseguido. Voltou às vitrines. Ainda era cedo para ele, mas a maioria das lojas já estava fechando as portas. Sem problemas, disse a si mesmo, de qualquer forma não pretendia comprar coisa nenhuma. Mas se não teria mais belas e jovens atendentes para lhe sorrir na porta das lojas, então teria que procurá-las noutros lugares. Não haveria de ser tão difícil. Nos quarteirões próximos decerto as encontraria.

Logo adiante, Alfredo passou por uma bela moça, que parecia esperar pelo namorado, encostada num poste de luz. Não... Pensando bem, não podia ser isso. A mulher parecia uma vitrine ambulante. Estava vestida e postada de modo a oferecer partes suas que, pelo jeito, julgava mais ao gosto popular, e só faltava mesmo uma plaquinha em algum lugar, para indicar o que houvesse ali a preço promocional. Além do mais, estava lhe sorrindo com o mesmo ar de sem-decepções que acabara de ver nos rostos das vendedoras nas lojas. Ah, então ela está a fim de um programinha... É bonita demais – pensou – é perfeita. Nem sua mulher, quando era novinha, era tão perfeita. Ora, por que fora se lembrar dela justo agora? Era como se a lembrança da mulher, de tão concreta, lhe empurrasse pelas costas em direção à garota. Mas assim, tão bonita, com certeza lhe custaria os olhos da cara.

Ei, gostei de você... – Filé falou de mal jeito, pois já nem se lembrava direito como se fazia isso. Ela fez que não o ouviu, e ele remendou perguntando: Quanto custa o chorinho?... Para alguém que pergunta como um extra-terreno é bem mais barato – Respondeu a mulher simpaticamente, fazendo graça... Mais barato quanto?... Depende do que você quiser fazer... Como assim? Tem algum tipo de tabela de preços? – Tentando repetir seu velho e irrecusável sorriso – Tem alguma coisa em promoção?... A mulher não gostou muito, clientes que pedem promoção no início da noite são, no mínimo, idiotas. Entretanto, ela resolveu propor um preço intermediário. Derrubaria esse cliente rapidamente, pensou ela, e depois arrumaria mais dinheiro com outro. Mas como mesmo aquele preço mais barato era inviável para o Filé, ele lamentou com muita sinceridade. Quando virou as costas, ela propôs outro menor e logo um outro ainda mais barato, todos recusados. Filé a ouviu dizer a certa distância que fosse à merda, mas nem se importou. Estava dividido. Dessa vez não tinha sentido prazer em dizer que não. Aquela mulher era realmente muito bonita e ele seria capaz de uma verdadeira loucura, se fosse para tê-la só para si... Quem disse que ela aceitaria? Paciência – confortou-se – a noite é uma criança...

Filé prosseguiu em sua caminhada. Mais uma última vez olhou para trás e ela ainda estava lá, na mesma posição, no mesmo poste de luz. E para se recolocar no lugar de quem decide ele disse à meia-voz: É apenas uma puta... Havia muitas na região em que estava, uma espécie de centro com muitas casas de diversão para homens que tivessem algum dinheiro. Uma cerveja! Sim, para matar a sede que já se fazia sentir. Atravessou a rua e passou por uma vitrine redonda, engastada na parede, onde haviam fotos de streepers. Poderia entrar naquela. Eram todas mais ou menos a mesma coisa.

CAPÍTULO II

De início, o ambiente era escuro demais para que o Filé pudesse identificar o que havia dentro da boate. Mas dava pra ver onde era o balcão do bar e lá ele resolver ficar um pouco, até que sua visão se adaptasse à brusca mudança de luz. Pediu um caneco de cerveja com o tom de uma ordem, foi prontamente servido e bebeu o primeiro todo de uma só vez. Estava com sede por causa da caminhada, mas também queria impressionar. Sabia que durante alguns minutos, embora ele não pudesse observar as pessoas com muita clareza, estaria sendo observado pelas mulheres que já se encontrassem lá desde antes, à espera de um cliente. O espaço era pequeno e o condicionador de ar mantinha a temperatura mais baixa do que ele gostaria. Apontou para uma marca de conhaque que conhecia e, servido, percebeu que já era possível enxergar algumas mesas vazias. Tomou a bebida e levou outra dose para uma daquelas mesas, escolhendo a que estava mais ao canto.

Em alguns minutos já havia desprezado vários olhares. Havia ali mulheres de vários tipos, para muitos gostos, sendo naquela casa a maioria composta de mulatas bundudas. Uma das mulheres lhe chamava mais a atenção, uma loira alta e carnuda, porém ela sequer olhava pra ele. Irritado com o que lhe parecia uma falta de consideração da tal mulher, o Filé chamou uma das meninas e mandou que levasse um recado seu. Precisou esperar por longos minutos, mas enfim a mulher levantou-se e veio ao seu encontro, sentando-se no lado oposto da mesa sem cerimônias. Ao chegar trouxera o mesmo sorriso de sem-decepções e, antes que ele o perguntasse, foi logo adiantando o seu preço para o serviço mais rápido, um boquete à queima-roupa. Ele balançou a cabeça positivamente, mas começou uma conversa qualquer. Queria beber mais e ganhar tempo para criar algum clima. Ela preferiu cerveja e Filé mandou que trouxessem para si próprio a garrafa de conhaque.

Dizendo se chamar Paula e mantendo uma aparência de interesse profissional, a mulher aceitou a tal conversa qualquer, mas a partir de certo ponto encurtou a distância e começou a tocá-lo, pegando em sua mão. Ela tinha um hálito forte de bala sabor eucalipto e palavras doces que, entretanto, não dissimulavam o timbre de voz surpreendente, encorpado demais para uma mulher tão bela. O Filé, que se sentia o dono da situação e mantinha um ritmo de goles acima do hábito, tinha a sua capacidade de avaliação já comprometida. Estranhou apenas que ela o tocasse com força e, depois, que suas mãos eram de fato grandes e fortes. Começou então a pensar, que aquela também não era a mulher ideal. Ela bebia muito pouco e, a julgar pelo tamanho do corpo e pela robustez das mãos, caso tivesse que pegá-la à força teria muita dificuldade. Contudo, como já estava mesmo gastando o seu parco dinheiro, era preferível que não fosse em vão.

Com o andar da conversa Filé foi se sentindo cada vez mais pressionado. A doçura inicial cedera lugar a palavras sempre mais impositivas e isso dava a ele a frustrante impressão de que ela estava no comando das ações. Em contra-partida, as suas coxas eram irrecusáveis e ele não resistiu à tentação de pegar nelas ali mesmo. Podiam estar melhor depiladas, porém ele estava perto demais do que pretendia, e não quis recuar. E foi chegando a mão, até que ela o interrompeu e decidiu: Vamos subir, tem um quarto lá em cima esperando por nós. O homem olhou para a escada, que lhe pareceu muito longa, mas normal para uma casa de sobrado como era aquela, e concordou.

Passaram por um corredor escuro, estreito e curto, no alto da escada, e depois por outro maior. De ambos os lados, vários espaços, separados por placas prensadas à guisa de biombos, eram destinados aos amantes com um mínimo de estética e conforto, e sem janelas. Impaciente com a lerdeza etílica dele, Paula o puxava pela mão. Filé parou de repente, se esforçando para conter aquele trem, e perguntou para onde estavam indo. Tenho um quartinho logo ali, só para clientes especiais – ela explicou. Ele achou razoável, pois uma mulher com tanto comprimento não caberia mesmo num daqueles cubículos. Subiram mais dois lances curtos de escada, numa passagem de penumbra que cheirava a forro de telhado, e finalmente Paula abriu a porta do tal quarto. Era apenas um pouco maior que os demais. Como ventilação, o que poderia fornecer um basculante de dois palmos, uma cama e um criado-mudo, uma mesa de bar com duas cadeiras, pregos nas paredes serviam de cabide e uma lâmpada pequenina, a mesma que iluminava uma pequena imagem de Santa Joana D’Arc, colocada no alto, acima da cabeceira da cama.

A sós com aquele mulherão, o Filé devia estar feliz. Tão perto dos seus atrativos, devia estar muito excitado. Prestes a consumar o seu plano, devia jogá-la na cama e obrigá-la a fazer todas as suas vontades, sem avisos ou ponderações, e com todas as concessões. Entretanto, ficou ali mesmo, parado como um bichinho indefeso esperando o bote do predador á sua frente. A mulher desistiu de esperar pela iniciativa dele e foi para cima. Empurrou o Filé para a cama e começou a lhe tirar a camisa, com pouca ou nenhuma delicadeza. Aceitando o pega aqui e espreme ali, o homem chegou rapidamente a duas conclusões pouco desejáveis: primeiro que ela era musculosa e dura demais, o extremo oposto da mulher passiva à qual estava acostumado, e segundo, que estava por demais armada entre as pernas!...

Que isso, mulher... Isso é um assalto? – Perguntou ele com o seu sorriso mais tímido... Não, meu amor, é só uma brincadeira que nós vamos fazer... Que brincadeira?... Meinha, amor... Que estória é essa de meinha?... Assim ó, primeiro você, pode até esculachar que eu topo, mas depois será a minha vez... Pode parar que eu sou macho – garantiu o Filé, tentando parecer bravo e definitivo... Mas Paula ajoelhou-se na cama e, muito convincentemente, arrancou de um só golpe o próprio vestido. Depois disse com inacreditável doçura: E daí, meu amor? Eu também sou, olha aqui ó... Não senhor! Então você quer me comer, seu viadão?... Não amor, só o seu pintinho medroso...

O que se seguiu foi um verdadeiro pandemônio, um arranca-rabo que não poderia caber num espaço tão exíguo, com o fundo sonoro dos gemidos do estrado e das juntas da cama. Sobretudo, não havia espaço para escapar! Pequeno, magrelo e bêbado, o Filé esperneava e dava coices, suas mordidas pareciam inúteis. Pensou em gritar por socorro, talvez alguém o escutasse, mas achou que isso seria vergonhoso demais para um macho com passado glorioso. Para aumentar seu desespero, embora procurasse não conseguia saber exatamente onde estava a porta, cuja face interna era pintada com a mesma tinta da parede. Com tanto pega, estica e puxa, veio enfim o cansaço, o esgotamento precipitado pelo álcool, e uma grande e desesperadora perda de esperança. O homem era muito mais forte e o Filé sentiu os olhos embaçarem, eram as suas lágrimas, que não podia mais conter. Sentiu-se bruscamente levantado pela cintura e posto de quatro na cama. Esperou o golpe de misericórdia. Mas este não veio.

Inexplicavelmente, a imagem da incólume Santa Joana D’Arc havia despencado do seu dossel. Surpreso, Paula a pegou com desesperado carinho, e depois sentou na cama com tal desgosto, que o estrado já alquebrado não suportou e desabou, levando os três para o chão. O Filé já não estava mais tão bêbado que não pudesse entender a raríssima oportunidade que estava tendo. Lembrou-se ainda de pegar a sua camisa, e para escapou daquela bicha enorme, esparramada no que sobrou da cama, achou a maldita porta camuflada e foi-se embora, escorregando nos degraus escuros, segurando as calças à meia-bunda. Aos trancos e barrancos, passou pelos largos homens da segurança e ganhou afinal a rua. Estava ofegante, mas aliviado. Poucas vezes na vida sentira um tamanho alívio.

CAPÍTULO III

Depois de andar mais alguns quarteirões, sempre olhando para trás porque havia saído sem ter pago a ninguém, a garganta novamente secou e o Filé escolheu um bar qualquer para beber alguma coisa. Entrou sob os olhares desconfiados dos que estavam bebendo no balcão, e teve de passar por todos eles, porque o bar era comprido e estreito, só havendo uma vaga no final. Lá também haviam várias mulheres, mas àquela altura todas lhe pareciam suspeitas.

Ali foi bebendo, sem prestar atenção às conversas dos outros que, entretanto, queriam que participasse e volta-e-meia perguntavam sua opinião sobre uma coisa qualquer. Eles não sabiam, mas o Filé ainda não se recuperara do susto e sua falta de sorte podia estar teimando, querendo mais. Além do que, nesse bar não havia nem um calendário com a figura de Santa Joana D’Arc! Junto à caixa registradora, até havia um calendário, mas o Filé não sabia de que santo era. E disse a si mesmo que se ele não conhecia o santo, com certeza a recíproca era verdadeira. Como se não bastasse, aquele santo, em vez de estar num dossel, estava num pregador metálico dos grandes. Não dava pra acreditar que o tal santo fizesse tamanho esforço por um desconhecido.

Na verdade, o pessoal do balcão queria trazê-lo para a conversa porque a conta já estava alta. E tanto fizeram, que o Filé sentiu-se à vontade para dar uma curta opinião a respeito da questão em pauta: um jogo de futebol. Foi o suficiente, já estava dentro. Assim, pediram mais bebida e algum tira-gosto. Agora já gostavam do Filé, que soltava cada vez mais. Achavam que ele entendia tudo de futebol e não economizava palavras, empolgava-se e seus argumentos deixavam a todos convencidos. Porém, de repente, o assunto mudou para mulheres boas de cama. Então a performance do Filé mudou, não queria falar sobre isso. Falou apenas para defender a sua opção sexual, posta em dúvida por brincadeira e tão infeliz coincidência. No mais se calava, comia e bebia, mais dedicado aos seus próprios pensamentos do que à conversa.

Lá pelas tantas, alguém sugeriu um jogo de palitos para decidir quem pagaria a conta. Filé gostou da idéia, pois na purrinha ele se garantia. Contudo a idéia foi derrubada pela maioria. O bar era de um velho senhor, que entregava toda a responsabilidade a seu filho adotivo. Tinha plena confiança nele, havia tirado o negrinho da rua. Ele sabia que tinha sido abandonado à própria sorte pelos pai e era de devotada gratidão ao velho. Porém não era mais o moleque franzino que vivia de esmolas e pequenos furtos. O negro agora era um homem grande e falava grosso, para quem quisesse ouvir.

Olha aí, pessoal, deu só isso aí. Já dividi e a cota de cada um está no avesso. Mas vocês já sabem que aqui não vale cartão, quero grana, dinheiro vivo... Num pedaço de papel, rasgado de algum pacote de cigarros, estava uma discriminação incompreensível do total. O Filé resolveu protestar, pediu que o negro explicasse a conta e o homem torceu o beiço: Mas tu é marrento, heim... Todos ali sabiam que o Filé tinha a sua razão, mas o negro tinha fama de encrenqueiro e ninguém queria passar a noite na delegacia. A maior parte deles concordou, sem saber se a conta estava certa, e o Filé teve que se conformar. O dinheiro que tinha dava para pagar a sua cota, mas faria diferença mais na frente, ainda queria andar para achar uma mulher que valesse à pena.

Esgotadas as escaramuças, todos meteram a mão nos seus bolsos sob o olhar satisfeito do negro. Em princípio ninguém percebeu, porém o Filé não estava nem ali, ou preferia não estar. Sua mente vasculhava desesperadamente a memória recente, em busca de uma pista. Por eliminação de todas as possibilidades restantes, a dedução parecia certa: Aquele viado da boate, bateu a minha carteira! Eu devia ter imaginado, lógico, por isso me deixaram escapar e nem vieram atrás de mim. E agora? Sem a grana da cota da despesa e sem santinha... Achou que tivera mais sorte antes, pois lá seria apenas um! Só de olhar para o negão, já dava vontade de sair correndo. Era o que queria fazer, mas com toda aquela gente entupindo o corredor do balcão... Lembrou-se do mictório, talvez lá houvesse um basculante por onde pudesse escapar. Foi até o fundo do bar, mas logo viu-se frustrado. Era apenas um cubículo. Além de não haver nele nenhuma passagem além da porta, sentiu-se mal ali. Era inseguro demais, muito menor que o quartinho da boate. Estreito como um curral de matadouro, era o lugar ideal para o negão demonstrar a sua imensa generosidade.

Não havia outra esperança, teria muito o que correr, se conseguisse chegar até a calçada. Como esperava, ao abrir a porta do mictório para sair, deu de cara com um olhar terrivelmente coletivo. Feita e refeita a soma do pagamento, faltava exatamente uma cota e só podia ser do cotista ausente. Eu já sei que vocês não vão querer acreditar, mas roubaram a minha carteira... – O Filé optou por ser sincero. O mais velho dos cotistas, tentando ajudar, sugeriu que ficasse para limpar pratos e copos. Porém o negro tinha uma outra alternativa: Não... Tenho aqui uma coisa pra ele deixar bem limpinha...

Prevendo o que estava para acontecer, uma senhora levantou-se de uma das mesas enfileiradas junto à parede e pediu que deixassem o pobre-coitado, e que ela pagaria a parte dele. Ninguém quis acreditar, muito menos o Filé. Ele olhou a negra velhinha de cima a baixo e pensou em recusar a ajuda, mas depois se lembrou de que não tinha alternativa, e ficou olhando, procurando entender o que estava acontecendo. Era uma mulher idosa e mal vestida, tinha ao lado um despencado carrinho de feira e nele amarradas, com barbantes e tiras de trapos, várias bugingangas sem valor. A negra cheirava mal e estava bebendo cachaça, mas em uma caneca feita de lata de salsicha. Ora, era uma mendiga. Como poderia ter dinheiro para pagar a sua cota? Acanhado, o Filé se aproximou para agradecer e foi então que reparou em algo embaraçoso. Pendurada em seu pescoço, ruço por falta de banho, havia uma medalha enzinabrada, onde ainda se podia ver a imagem de santo, o mesmo santo do calendário, que protegia a caixa registradora do bar.

A mulher resolveu acabar com todo aquele descrédito. Meteu a mão na sua sacola de perna de calça jeans, tirou uma nota de cinqüenta, entregou ao negro e ainda lhe disse que não precisava fazer troco, porque da próxima vez que viesse tomaria umas doses por conta. Passado o aperto, os demais foram tomando cada um o seu caminho, uns fazendo piada, e outros perguntas, cujas respostas explicassem aquilo. O Filé convenceu-se de que a mendiga era louca, coitada, e sentou na outra cadeira da mesa, só para não ir embora assim, sem demonstrar uma gratidão mais verdadeira. Para ter o que falar, ele perguntou a ela que santo era aquele, gravado na medalha. A velha disse que não sabia, mas era de muita estimação. O Filé torceu o beiço, em sinal de dúvida. Qual é o problema? Você nunca teve nada de estimação?... – Disse ela desconfiada...Problema nenhum, mas eu nunca tive não. Não gosto de bichos de estimação, nem de me sentir preso a nada. Aliás, já tenho a encrenca da minha mulher pra me prender... Porém a mendiga não achou a graça que ele esperava. Torceu, agora ela, os beiços largos e úmidos de cachaça, como sinal de desaprovação, e lhe disse que tratasse de não fazer mais tantas perguntas. E que voltasse para o seu caminho, com a proteção do santinho, qualquer que fosse o nome. Sem jeito, o Filé foi mesmo embora.

CAPÍTULO IV

A maré estava mais baixa do que o normal. O mar havia recuado vários metros. Diversas traineiras e canoas, de todos os tamanhos, ficaram tombadas no fundo de areia e lodo da praia, normalmente submerso, e que agora exibia uma insuspeita diversidade de coisas, umas naturais e outras bastante estranhas. Dentro de uma canoa enorme e antiga, das que eram talhadas de um único e imenso tronco de árvore, um grupo de mendigos, desinteressados do fundo do mar e dos latidos distantes e furiosos de um vira-latas, dormia profundamente, bem próximo da parede de pedras cimentadas que descia da calçada para a praia. Apesar da miséria, sentiam-se felizes e seguros, no lugar que escolheram para passar a noite, aproveitando a baixa-mar tão pronunciada. A canoa mais parecia um grande balaio-de-gatos, grandes e pequenos, sendo impossível saber-se onde começava e terminava a mesma pessoa. Salvo no caso dos casais que haviam feito sexo antes de dormir, porque estes ainda estavam cobertos pelos seus panos, que haviam usado como se isso diminuísse a intimidade generalizada.

Os seus sonhos nada rasos, entretanto, foram bruscamente interrompidos. Alguém viera correndo pela calçada, que ficava bem acima do nível da praia e, para escapar da perseguição do vira-latas zangado, bem perto dos seus calcanhares, havia saltado para a areia, sem ter tempo de medir onde cairia. Pois caiu estrondosamente, justo na proa da canoa onde estavam os mendigos. Com o susto, foi mendigo para todo lado. Uns ainda se lembraram de catar por instinto alguns pertences seus, enquanto outros, com dificuldade para suspender as próprias calças, não tiveram tempo nem mãos livres para isso. Algumas crianças de colo berravam, abandonadas que foram, mas ninguém ali sabia ainda o que estava acontecendo, tão pouco imaginava para onde estava indo.

Todo dolorido, o Filé se levantou para ver se o seu perseguidor também havia pulado da calçada para baixo, e viu que felizmente ficara no alto da parede. Dois dos mendigos se aproximaram dispostos a mostrar sua raiva, porém foram surpreendidos pela ira do intruso. Mas não contra eles. O Filé estava furioso porque só agora estava vendo que o tal cão, que ainda latia para ele do beiral da calçada, não era de meter medo nem a um gatinho faminto. Muito pequeno e magro, se não houvesse corrido poderia tê-lo pego pelo pescoço e arremessado longe. Em vez disso, quase quebrara o próprio pescoço, ou o de alguém inocente, naquela queda estúpida.

Compreendendo que não se tratava da polícia, nem de alguma das ameaças comuns à vida de rua, e vendo que o homem não conseguia se aprumar direito dentro da canoa, alguns mendigos mais piedosos foram lhe ajudar. Um deles, o mais velhinho, lhe ofereceu da sua própria cachaça, insistindo para que tomasse ao menos um gole, sob uma duvidosa alegação: É pra não inflamar. Constrangido pela boa fé do velhote, o Filé acabou tomando um gole. Depois outro e logo mais um. Acabaram achando que o intruso era apenas atabalhoado, ou azarado, mas que não era tão diferente assim, afinal, também gostava de cachaça. Tudo foi virando uma galhofada, na medida em que foram aparecendo outras garrafas.

O Filé acabou contando a sua estória, desde que saíra do escritório. Sobre a corrida e o salto desesperado, conseguiu uma gargalhada geral dos mendigos, contando que aquele vira-latas só podia ter pensado, que ele ia pegar o frango que estava num despacho na encruzilhada. Essas madames ficam trazendo comida pros cachorros de rua, o bicho, que não sabe o que é despacho, pensa que é santo e não quer dividir com ninguém... Tava só esperando a vela apagar... – Remendou o mais velho... Também, você nem pra pedir licença... – Outro fez graça... Eu? Que pedir licença? Eu só passei por perto porque me desequilibrei... Não chegava a ser uma estória surpreendente, cada um ali tinha a sua própria, no mais das vezes bem pior e mais prolongada. Ademais, se ele não tinha grana, de que poderia lhes servir? Era somente mais um e dos mais mentirosos. Onde já se viu, uma mendiga pagar a conta de alguém que sequer conhece? A cachaça acabou e os mendigos foram se acomodando novamente na canoa.

Já era madrugada quando o Filé resolveu retomar o seu caminho, por mais desafortunado que ele fosse. Uma idéia não lhe saía da cabeça, agora enfeitada por um galo doído: ainda faltava uma mulher. Estava decidido, era então uma questão de honra. Não voltaria para casa sem antes pegar uma mulher. Procurou em vão aquele maldito vira-latas, que já devia estar dormindo também, e com o caminho livre pôs-se novamente a andar a esmo. Em razão do esforço de continuar, suas escoriações incomodavam, a visão embaçava, transpirava por todos os poros e tinha a impressão de estar ficando febril. Mas pensou que só podia ser efeito de tanta cachaça.

Depois de algum tempo, tropeçando aqui e ali, vinha-lhe à mente o corpo pesadíssimo da sua mulher. Ele era esteticamente feio, mas estava lá à sua disposição, bastando entrar em uma condução e voltar para casa. Poderia então se esparramar sobre ele, servir-se do que quisesse e depois dormir ali mesmo, como se fosse um colchão macio. Ela não se importaria, nessas horas sempre fora muda e obediente. Alfredo sempre fora a sua única ambição de consumo. Agora ela não tinha mais nenhuma. Mas não... Não, não e não! O homem se aprumava e seguia adiante. Depois de passar por tantos sufocos, ter os seus documentos roubados junto com o dinheiro do mês... Escapar, por um segundo milagre na mesma noite, de apanhar e ser literalmente encurralado no mictório do bar. Por pouco não quebrou o pescoço e ainda foi acolhido, pelo grupo de miseráveis sobre cujos pescoços havia acabado de cair! Definitivamente, não. Ou encontrava uma mulher para se vingar do azar, ou não voltava para casa.

Mais à frente, o Filé estava atravessando um parque público, com grama e jardins, cujos postes de iluminação incandescente por entre arvoredos espalhavam sombras sobre os canteiros. Viu então adiante um vulto estranho, que fazia movimentos pequenos mas ritmados. Da distância em que estava e com os olhos embaçados não conseguia distinguir o que era. Mais próximo, achou que eram duas e não apenas uma pessoa. Tentando não fazer barulho chegou mais perto. Estava agora certo de que era um casal de namorados e quis ver o que estavam fazendo. Ora, o que um casal de namorados poderia estar fazendo, em uma posição incômoda, entre as sombras de um parque lá pelas tantas da madrugada? Devia ser bom de se fazer. Pelo menos, de se ver.

De modo a não ser percebido, deu a volta num dos canteiros para chegar em uma outra posição, de onde certamente poderia ser um expectador privilegiado. Porém, assim que chegou onde pretendia, ouviu latidos próximos. Caramba, uma mulher que late enquanto faz sexo! Isso era muito mais do que estava procurando. Mas por entre as plantas do canteiro, enfim conseguiu ver que se tratava apenas de mais um mendigo e, deitado ao seu lado, o seu cachorro de estimação. Não... Outro cachorro?... Com base em sua memória recente, estava em perigo. Droga, por que os cachorros gostam tanto de mendigos? Não tem nenhum despacho por perto e aquele cão está latindo pra mim... Filé não entendia mesmo nada de cachorros. Novamente ele correu e de novo foi perseguido. O animal só parou depois que ouviu o assobio do seu dono. E o Filé gastou em mais essa corrida as últimas energias de que dispunha.

CAPÍTULO V

Sentado em um banco de ripas de madeira, O Filé sentia-se esgotado, mas descansaria ali um pouco e depois prosseguiria. Quando as suas pálpebras começaram a pesar, para não adormecer ele respirou fundo e pôs-se a caminho de novo. Seguindo na sua obstinada peregrinação, ele encontrou o que fora, por pouco tempo, um outro despacho. Esse havia sido maior e mais variado, coisa de madame. Porém já não restava quase nada, aquele cão com certeza chegara antes. O Filé chegou perto para espiar. Por um instante achou que pudesse adivinhar o que o cão havia encontrado para o jantar. Não seria uma tarefa fácil, mas uma coisa era certa: ali havia uma galinha, pois haviam penas por todo lado. Uma coisa o intrigou. Por que motivo o cão havia deixado as vísceras onde devia estar a galinha inteira? Com certeza ele fizera um trato com o santo, do tipo “eu como só a galinha e deixo as tripas pro senhor”. Ora, será que ele achou que quando eu chegasse ia lamber o fundo do alguidar? – Perguntou a si mesmo. O homem se divertiu por algum tempo consigo próprio, mas logo o seu sarcasmo perdeu a graça e ele retomou os seus passos de filigranas, não estava mais interessado em despachos.

Ao passar pelo último canteiro do parque, Filé sentiu um aroma no ar que lhe despertou a fome. Lembrou-se então de que não havia comido quase nada, desde a hora do almoço. Então percebeu que do meio do canteiro subia uma fumaça tênue e ficou curioso por saber do que se tratava. Tendo ouvido que alguém se aproximava, de dentro do canteiro, que tinha forma circular, uma velha mendiga interrompeu os preparativos do seu jantar. Sentada na grama e protegida pela cerca-viva do canteiro, ela tinha entre as pernas quase todos os principais ingredientes para isso, retirados do despacho que haviam deixado no parque. Por entre os galhos, o Filé via apenas o seu vulto.

Desconfiada do intruso, que devia ser um mendigo covarde disposto a lhe tomar a refeição, ela pegou a galinha, virou de cabeça para baixo e, pelo buraco aberto por ela no ventre para retirar as vísceras que não comeria, ela foi despejando o que havia em volta. E assim foram para dentro o dendê, a farinha e a pimenta malagueta. Na pressa, ainda foram indevidamente para dentro do buraco alguns cigarros e muitos palitos de dente. Com mais pressa ainda retirou da sua sacola uma latinha de condimentos, ia destampá-la, mas achou que não haveria mais tempo. Pensou que, caso colocasse a galinha na água de cozimento, que já fervia, o pilantra logo a encontraria, então a negra empurrou a galinha para o lugar que lhe parecia mais seguro, onde ninguém nunca queria mexer: debaixo da saia, entre as suas pernas. Depois, imaginando que ainda não estivesse segura o bastante, por via das dúvidas, empurrou ainda mais para dentro das pernas, até senti-lo em segurança, junto da sua genitália.

Bem, não se tratava exatamente de um mendigo. Tão pouco o homem tinha a galinha por prioridade. Todavia, ela não o sabia. A mendiga não pode imaginar que ele tivesse uma única coisa em mente, que por isso ele seria capaz de qualquer coisa, e ainda que, vendo-o depois dele passar pelas plantas do canteiro, reconheceria nele o pobre coitado, cuja conta havia pago quando estavam no bar. Ué, você de novo?... – Ela logo perguntou com surpresa e simpatia. Achando que não havia motivo para toda aquela sua preocupação e que o perigo havia passado, ela começou a reclamar com ele, porque havia lhe dado um susto dos diabos, nem pudera temperar direito o seu jantar. Contudo o Filé, que não a reconhecia do bar, sequer a estava ouvindo.

Na verdade, ele estava diante de uma decisão muito difícil. Se perdesse aquela oportunidade, com certeza não encontraria outra mulher para saciar seu desejo imperativo. Aquela velha mendiga, esmulambada demais para ser despida, suja demais para ser pega e fedorenta demais para se chegar perto, era a sua única alternativa. Por uma mísera fração de segundo, ele julgou que os fartos depósitos de gordura da sua mulher eram preferíveis, porém todos os sofrimentos que juntos lotavam sua memória, faziam da velha magrela uma alternativa válida. Afinal, ela estava logo ali, tão disponível e com um inesquecível sorriso de três dentes na cara. Como ele se mantinha mudo, a mendiga já não sabia se a sua galinha estava de fato em segurança. E preferiu deixá-la onde estava, para não despertar atenção dele.

No que você tava remexendo quando eu cheguei? – Quis saber ele. Deduzindo pela pergunta que ele não sabia da sua galinha, ela arriscou uma mentira por garantia: O que? Eu? Ah... Era a minha coelhinha de estimação... O que o Filé pensava saber existir entre as pernas dela, não era o que ele chamaria de coelhinha de estimação, mas lhe pareceu que aquela expressão devia ser uma espécie de convite. Ou melhor, uma gentil concessão. Ora, naquelas alturas dos acontecimentos fosse uma coelhinha ou uma porquinha, que diferença poderia fazer o nome do bicho?

O homem tirou do bolso um pedaço de papel. Sem tirar os olhos dela, rasgou e enrolou fazendo dois tampões, que meteu nas narinas. Ah... – Ela arriscou de novo – To vendo que você também gosta de um pozinho, eu também, mas tem um tempão... Antes que a mulher pudesse terminar o que ia dizendo, o Filé atirou-se em cima dela como um doido. Com o impacto do corpo dele ela caiu para trás, e sentindo sua mão a lhe levantar os panos ela gritava: Não! Deixa a minha galinha aí!... Não! A minha galinha não!... Ela pensava que gritando alguém poderia vir lhe socorrer, contudo, nem o Filé e nem ninguém podia acreditar que existisse alguma galinha por ali. O homem ensandecido meteu uma perna sua entre as delas, depois a outra perna, abriu as coxas da velha e aplicou o seu golpe de misericórdia. Logo de início achou que era bem melhor do que pudera imaginar. Estava bom – pensava ele – doía um pouco e ardia muito, mas estava bom! Tanto que até se demorou. Já a velha não parecia estar gostando. Resmungava e fazia careta de nojo, dizia que parasse com aquela porcaria e prometia nunca mais pagar a sua conta no bar, com o dinheiro emprestado pelo santo.

Só então ele se deu à razão. A mendiga era a mesma do bar e, em vez de lhe ajudar, havia lhe repassado a sua dívida com o tal santo! O homem de um só pulo ficou de pé. Quer dizer que a senhora pagou a minha cota na despesa lá do bar, com o dinheiro que roubou da macumba?... Pera lá, mocinho. “Roubei” não, que isso é muito feio pra uma senhora da minha idade. Na verdade eu pedi emprestado... E agora eu é que devo ao santo?... Não senhor, não era santo não, agora você deve ao diabo, que era o dono do despacho... Eeeuuu?!... Você, sim. Quem mais poderia ser? Mas não se desespere, nem precisa pagar tudo de uma vez só não. Pague como eu pagaria, em suaves prestações. Ele não vai se importar. O que ele quer mesmo é a sua alma – disse ela com voz grossa, para aterrorizá-lo... E como eu faço pra pagar?... Quando você tiver a grana me procura, que eu te explico tudo bem direitinho...

O Filé refletiu por três segundos e depois protestou: Não senhora, você me enganou, mentiu pra mim... Eu não, mocinho. Fique sabendo que eu não sou mulher de mentiras. Você foi quem veio pulando em cima de mim como um cão esfomeado, e eu uma pobre e indefesa velhinha... Furioso, o Filé virou as costas para ir embora e a mendiga ficou reclamando com a galinha na mão, porque teria que lavá-la para refazer o tempero. Mas de repente ele se voltou e ela meteu de novo a galinha entre as pernas. Você mentiu pra mim sim, me disse que tinha uma coelhinha de estimação – ele se lembrou... Ah é, mas porque antes você também mentiu pra mim... Você ta louca. Eu? Quando?... Mentiu, quando me disse que nunca teve bicho de estimação... E é a verdade, nunca tive mesmo – o Filé reafirmou com convicção... Ah, não?... Não!... Então de quem é esse porco-espinho aí, todo colorido, saindo pela sua braguilha afora?

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