Cinco

Foto de Sonia Delsin

OS ESQUECIDOS

OS ESQUECIDOS

Li um livro que me fascinou há alguns meses.

"O Jardim dos Esquecidos".

Dramático, chocante, inesquecível.

O tema proposto "Em Cima do Telhado" me trouxe à memória imediatamente a estória fantástica dos quatro irmãos abandonados no sótão da mansão.

Os mais velhos, depois de explorar todo o sótão, descobriram que podiam deitar-se sobre o telhado para banhos de sol. Para isso precisavam arriscar as próprias vidas utilizando uma saída muito perigosa.

Devido a altura excessiva e os perigos os mais novos não tinham coragem de acompanhar os mais velhos.

Estes se fortaleciam com os raios de sol e o ar puro, já que a escassez de alimentos os enfraquecia terrivelmente.

O garoto de quinze anos e a irmã de quatorze foram verdadeiros pais para os gêmeos de cinco anos, e com muita criatividade fizeram com papéis, cartolinas e bugigangas encontradas nos velhos baús, um jardim dentro do sótão.

Para não enlouquecerem eles buscaram nas fantasias um refúgio e passaram por aventuras sequer imaginadas pelas pessoas.

É um livro muito forte e impressionante. Tem um segundo volume intitulado "Pétalas ao Vento" que conta as aventuras que eles passaram depois que conseguiram fugir da mansão. Então já eram três. Um dos gêmeos havia morrido.

E há também um terceiro volume com o título "Espinhos do Mal".

Só liguei os livros ao título proposto pelo fato dos irmãos terem arriscado suas vidas na busca da conservação da vida.

É tão só uma estória fictícia. Tão terrível que seria inconcebível ser real.

Desejei contá-la como poderia ter contado que sobre os telhados os gatos namoram ao luar.

Seria mais romântico talvez.

Mas vou deixar para contar algo mais romântico numa outra vez.

Foto de Daemon Moanir

A perfeiçao de ti

Pedi num desejo muito forte
Por abrigo, por carinho,
Por não querer mais estar sozinho,
Amor.

Escrevia na incerteza de nunca tal acontecer,
Escrevia a impossibilidade que tudo parecia ser,
Até...até aos cinco segundos depois de tua voz ouvir
Os cinco segundos em que fiquei parado para tua beleza sentir.

Penso agora muito em ti,
Mas não até me escapar o controle,
Não errarei contigo assim.

Devolveste-me de novo o brilho nos olhos
E a vontade, a pura e perfeita.
Em nada me posso temer, sou completo desta maneira.

Foto de Mentiroso Compulsivo

O TOURO

DECIDI PUBLICAR ESTA HISTÓRIA A PROPÓSITO
DE UMA POLÉMICA QUE EU PRÓPRIO LEVANTEI
(como todas as histórias, esta também tem uma moral)

Numa linda manhã primaveril em que os raios de sol brilhavam pelos verdejantes campos do Ribatejo, parecendo reflectir a essência da vida de um botão de flor que acabava por desabrochar, estava um menino de três anos a brincar com dois dos seus primos, uma vizinha e dois irmãos: uma irmã de nove e um irmão de cinco anos.

Naquele lugar, podíamos avistar ao longe o cinzento da serra a contrastar com o verde da planície e dos olivais.

Por entre as oliveiras e um ribeiro que passava por perto, as crianças corriam, pulavam e brincavam às escondidas, como se o mundo girasse à volta daquele instante.

O pai das três crianças, por trabalhar em turnos nocturnos, estava a dormir com a sua irmãzinha mais nova de um ano e meio, enquanto a sua mãe trabalhava, por aquela altura, no turno de dia.

Na euforia da brincadeira, ignoravam um perigo eminente que estava por perto, até que o seu irmão de cinco anos apercebeu-se da surpreendente e bizarra fatalidade que a qualquer altura poderia acabar em desgraça.

Apressando-se de imediato a avisar a irmã mais velha, que se certificou do touro selvagem que andava à solta por aquelas bandas. Ficando em completa histeria, começou aos gritos e apelou à fuga das restantes crianças que ali brincavam para se refugiarem em local seguro.

Pânico instaurou-se entre todos que intuitivamente começaram a correr em direcção à casa mais próxima, tentando evitar, a todo o custo, serem apanhadas por aquele touro.

O seu primeiro instinto foi o da sua própria protecção. Depois, já em local seguro, numa das casas das redondezas, a irmã lembrou-se do mais pequeno de três anos. Este talvez ficasse admirado com toda aquele reboliço e deveria ter pensado que aquilo era uma grande festa e brincadeira. Será fácil imaginar ver a sua cara feliz daquela enorme satisfação, para ele um touro era um simples animal, tal como uma vaca, um pouco estranha, por ser diferente, o que até lhe dava até um ar de mais engraçado. Habituado aos porcos, galinhas, vacas e ovelhas que os pais e os vizinhos criavam por ali, para ele aquela criatura não representavam qualquer ameaça.

O inevitável aconteceu, segundo o relato de algumas testemunhas que presenciaram à tragédia, ao terem acorrido ao local levados pelo alvoroço e o grito das crianças, o rapazito foi arrastado por três marradas do touro, sendo que uma o fez levantar para o ar a uns dois ou mais metros do chão e nas outras duas foi arremessado pelo campo vários metros para a frente.

Os habitantes locais depressa afugentaram o touro e socorreram a criança já toda molestada. Um vizinho pegou-a nos seus braços, cheia de sangue por todo o lado, nas roupas e na cara onde o verde dos seus olhos contrastava com sangrento vermelho que neles ficou. Rapidamente, levando a criança no colo, acorreu para a casa do seu pai para contar o sucedido e pedir auxílio médico. Bateu à porta, bateu e tornou a bater, mas ninguém apareceu para a abrir. Dizia-se por ali que deviria estar muito cansado e talvez com um copito a mais que teria bebido ao sair do trabalho, parece que já se tinha tornado num hábito.

Profundamente a dormir num sono descansado, pai e filha ali estavam, ela sã e salva, pois não estivera a brincar com os seus irmãos naquela hora e local, dado que era a mais pequenita, se lá estivesse, quem sabe não teria sido ela a vitima.

Foi então que um dos vizinhos decidiu pegar no seu carro e levar o miúdo para o Hospital da cidade mais próxima. Naquela altura os carros eram raros e na povoação só haviam duas famílias que possuíam carro.

Mais tarde, os seus pais, como é óbvio, depressa ficaram a saber do sucedido. Enquanto a criança lutava pela vida ligada a máquinas, ninguém tinha esperança. Esteve assim por três dias em coma e quando já as esperanças eram poucas a criança conseguiu vencer a vida.

Veio-se depois a saber que o touro teria fugido já ferido de um matador das redondezas.

Pensado que estava marcado o destino desse menino por aquela tragédia, vaie-se lá saber porquê, a sua mãe um dia saíra de casa para ir fazer alguns afazeres e deixara um candeeiro a petróleo aceso no quarto da irmãzinha, nessa altura não havia electricidade por aqueles lugares.

Ao contrário do dia da tragédia do touro, ela não conseguia adormecer, estava muito agitada e com curiosidade, própria daquela idade, mexia em tudo o que apanhava pela frente, até que conseguiu alcançar o napron onde estava o candeeiro, fazendo-o tombar para o chã. Depressa as chamas se espalharam, primeiro pelo quarto, depois por toda a casa. Por mero acaso ou destino, um soldado estava passando por perto, e ouvindo gritos vindo dentro da casa, não perdeu tempo, entrando por uma das janelas salvou primeiro o irmão, depois foi a vez dele e por último a irmã também foi retirada.

Saíram todos com vida e logo foram levados para o Hospital, o seu irmão não tinha sofrido nada, ele apenas teve algumas queimaduras que vieram a sarar, contudo, a sua irmã tinha sofrido graves queimaduras e acabara por sucumbir antes de chegar ao hospital.

Esta é uma história que nunca contei a ninguém, esta é uma história real. Quando a lembro, lembro-a em jeito de tourada e conto-a muito vagamente, apenas pequenos trechos, como o pequeno toureiro que enfrentou o touro pelos chifres, em jeito de brincadeira. Por coincidência ou não o meu signo é Touro.

Foi acaso, foi destino, não sei. Essa criança de três anos, é hoje um homem e pessoa. Essa criança cresceu normal, talvez só diferente na sensibilidade para a vida (será que afectou o cérebro?).
Esta história foi dedicada à minha irmãzinha, ANA MARIA, que nunca conseguiu viver a vida. Eu não dou mérito ao facto de ter sobrevivido, apenas à vida. É A VIDA QUE INTERESSA. Vale a pena pensar ou levar tão a sério aquilo que eu chamo de «mesquinhices» da vida? Fica para pensar.

Esta foi a primeira vez que tornei esta história pública, tentei um dia fazê-lo, mas por respeito a uma pessoa que esteve numa situação muito mais grave e delicada que a minha, retirei a publicação da história. Hoje essa pessoa, penso ter conseguido ultrapassar já os obstáculos mais difíceis. Eu teria mais dia, menos dia, que quebrar o gelo.

Foto de Martorano Bathke

Mulher

Mulher

Em matemática razão
E indefinida emoção,
De mim Deus te fez.
Antítese de formas
E Sentimentos.
Sinuoso seio
Bico que me beija,
Lânguido
Côncavo
Convexo.

Em cinco continentes,
Foi e és,
Surrada
Humilhada
Estuprada.
Mesmo assim
Sobram-te
Ternura e
Amor.
Meiga e eterna guerreira.

Paixão transformada
Em incoerente forma,
Na dor sentida
Pelo coração definida.
Roladas lagrimas
Em cônico ramalhete
Desabrocha.

De perfume único
Dilatam-me as narinas
Contrai minhas pupilas
Entorpece meu cérebro.
Em Quixandá
Se eu fosse
Amigo do rei
Serias minha concubina.
Como sou
Simples mortal
És meu amor.

Ronald Martorano Bathke

*Publicação permitida: desde que conste o nome e e-mail do autor.

Foto de Dirceu Marcelino

O MAR - Meu salvamento - DUETO - VANESSA BRANDÃO e DIRCEU

(Vanessa Brandão )
Em um lado deserto
Daquela linda praia.
Sentada na areia,
Admirando o mar,
Avistei alguém dentro dele.
Que tentava sair,
Mais não conseguia
O mar que antes estava com as ondas tênuas
De repente se tornou agressivo.

Ao olhar bem percebi que era um lindo homem
Tentei pedir ajuda
Mais não havia ninguém
Fiquei sem saber o que fazer
E mesmo que eu quisesse
Não poderia salvá-lo
Pois não sabia nadar.

Me vi enloquecida
Pois queria muito ajudar
E nesta hora lembrei
Que existia em mim
Uma força muito poderosa
A fé em Deus.

E foi nela que me apeguei
Para retirar o homem do mar
Aquele homem que estava desesperado
E que aos poucos perdia as suas forças.
Percebi que as correntes marinhas,
Formavam um círculo na baía,
E com os braços fui indicando
E ele foi nadando,
De acordo com aquela orientação.
Foi da praia se aproximando
Até que no local em que as ondas se quebram
Seu corpo já entregue foi levado
Por uma das grandes ondas

Que o jogou na areia

Justamente aonde eu me encontrava
Olhei pra baixo e lá estava ele
Aos meus pés desmaiado...
Mas vivo...

(DIRCEU)

Poderá parecer mentira,
Um sonho de pescador
Ou delírio de um caipira.

Mas, foi realidade
Eras ainda uma menina,
Mas alguém como tu
Vi sentada na areia da praia,
Observando o mar de longe.
Estendi a minha esteira
Na areia.

Queria chamar-lhe atenção:
Fiz algumas flexões,
Olhei-a mas ela não me via.
Não deu bola.

Adentrei na água,
Passei os arrebentos das ondas,
Mergulhei.

Virei-me ná água
Não sei mais se ela me via
E aos poucos fui adentrando
Mar adentro.
Sempre eu fazia isso
Ia até o farol.

Mil metros, para um jovem
Na época era pouco.
Mas naquele dia,
Não percebera por encanto
Que o mar estava tenebroso
E fui adentrando,
Adentrando...

De repente
Vi que tinha passado o farol,
Era hora de retornar,
Desvirei-me do nado de costas,
E dei algumas braçadas.

De três ou quatro,
Avançaria dois metros,
Mas naquele instante recuei um metro.
Mais quatro ou cinco braçadas,
Avancei meio metro.

Ah! Já fiquei desesperado.
Olhei ao ser erguido por uma onda
Para a praia e vi ao longe só aquela morena.

Não podia gritar,
Nem adiantaria
O marulho do mar era intenso
E então fiz alguns gestos,
No padrão do S.O.S.

Noutro levantar das ondas
Vi que ela desesperada
Levantou-se da areia
E virava a cabeça para todo lado,
Talvez, pedindo ajuda,
Foi quando percebi.

Ela me fazia sinais,
Com os braços,
Em círculos
E comecei
Então,
A obedecê-los,
Seguia a corrente d’águas,
Que eu não podia vê-las
Tantas eram as fortes ondas.

Mas, com certeza, ela as via de longe
E assim, confiei nela,
E atendendo suas indicações,
Comecei a avançar,
Dois metros,
Em forma de um semi-círculo,
Dez metros,
No sentido dos ponteiros do relógio,
Cinqúenta metros,
E via a medida que avançava
Em cada onda que me erguia,
Que ela me seguia,
Andando pela praia.

Passei o farol,
E sempre em círculo,
Seguindo suas indicações
Fui avançando,
Quinhentos metros
E, já podia ver
Que para trás o farol foi ficando
E fui avançando,
Novecentos metros,
Até quando
Sentia
As ondas me elevando,
E quando passavam
Meus pés ia roçando
A areia do fundo,
E não sei quantos metros
Faltavam.
Mas já era praia
E continuei,
Remando...
Não sei
E
Só acordei,
Recobrei os sentidos
Quando a minha frente vi duas pernas
D’uma linda morena e
Ela me olhava
Sorrindo.
Vivi.
E vi que ela caminhou vários quilometros
Pela areia da praia
E foi assim que me salvou.

Se não fosse ela,
Não estaria agora aqui poetando

Por isso te peço, continues,
A vida é assim...

Até hoje agradeço a Deus!

NB. Ontem indicastes o caminho,
Hoje poderei indicar o teu
E, aqui temos muitos amigos,
Vamos nos encontrar
Na Escolinha da Fernanda. Uai!

Foto de Dirceu Marcelino

O MISTÉRIO DA VIDA - I (nascimento de meu neto CAIO )

Os homens nascem como um livro aberto.
Como em uma página em branco.
Não são eles que descreverão nele o seu destino.
Por mais que tentem não se lembram.
Alguns se recordam das lembranças passadas,
Desde quatro, cinco, seis anos
E outros de nada se lembram.
Felizes os que têm capacidade de recordar.
Mas quando olham o passado
Percebem.
Não foram eles que escreveram os seus destinos.
Não são eles os escritores de suas vidas.
É um mistério.
Mistério divino.
Divino como o nascimento.
Como a vida que se inicia.
Por isso lhes dão
Hoje o nome de Caio.
Caio na vida.
Meu filho, meu neto
Mistério da vida.

Foto de Fernanda Queiroz

Fazendo Sonetos

I

Soneto sem nenhum enigma
Basta sabedoria e atenção
Despertando dentro do coração
Buscando tons e sons em rimas

Soltar livre imaginação
Em dois quartetos e dois tercetos
Dando clara segmentação
Que tem tudo para ser perfeito

Para dizer sobre meu coração
Onde habita também alegria
Integrado do mais puro amor

Falo de sonho e recordação
Ou da vida em meu dia a dia
Mesmo que seja um poço de dor.

II

Para fazer o encanto da gente
Posso rimar em tom diferente
Na primeira frase igualada
Com uma métrica bem adotada

Quem sabe ousar diversificar
Em outras palavras ir procurar
E nos cinco tópicos encaixar
Todos meus belos versos a criar

Fazer destas linhas programadas
Meu desaguar de pura emoção
Que transborda em meu coração

Vendo belas obras serem criadas
De todos os poetas sem extinção
Aqui deixo minha integração.

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados

Não concorrendo

Foto de Civana

Lembranças

Arrumando o baú encontrei um poema, foi o primeiro projeto de um livro criado na faculdade. No primeiro dia de aula a professora nos cumprimentou e disse que no final do período todos nós teríamos que entregar um livro. Nem preciso dizer o pânico geral que se instalou dentro da turma, mas, depois do susto, ela sorriu e disse que seria sob orientação dela. E assim foi, a cada aula ela nos guiava dizendo:

- hoje vocês vão criar o espaço onde vai ocorrer a história
- hoje vocês falarão do(s) personagem(ns) principal(ais)
- hoje aparecerá(ão) o(s) vilão(ões)
- hoje acontecerá o primeiro conflito
- etc...

Foi durante todo o período, e no final conseguimos gloriosos! Foram 25 (vinte e cinco) histórias completamente diferentes, criadas sob a mesma estrutura. Amo essa professora (Zanelli), muito me incentivou a continuar escrevendo, e principalmente dar continuidade, aumentando e criando mais capítulos à minha história. Mas está parada até hoje, embora muitas vezes tenha pensado em continuar.

Pode ser que nem seja tão admirável, nem ter tanto valor para os outros, mas o texto abaixo me traz lembranças maravilhosas:

* trecho de um capítulo da aula de português - Profª Zanelli/1981 - CUP (Centro Unificado Profissional), depois Faculdade da Cidade, e atualmente UniverCidade:

"...Lentamente abre seus olhos, suas mãos ainda estão com algumas pétalas de rosa que exalam um perfume delicioso por todo o quarto. Permanece deitada admirando o toque lindo que deu a sua cama aquelas pétalas caídas sobre o travesseiro e escorregando para o lençol com a brisa vinda da janela.

_Como a natureza é linda! Tudo fica maravilhoso com a presença dela. Até o meu quarto ficou lindo por causa de uma simples rosa. Não! Não é tão simples assim. Se fosse não transformaria o meu quarto. Ou então é, talvez até mesmo por ser tão simples que foi capaz de mudar algo. É incrível como tornamos tudo tão complicado e esquecemos que é justamente nas coisas mais simples que podemos encontrar algo tão lindo, tão puro, capaz até mesmo de dar sentido a uma vida.

Agora, seus olhos estão fixos no teto branco que começa a escurecer com o entardecer. Seus olhos estão tristes, perdidos no tempo.

_Um dia, eu também fui linda como você...agora estamos igualmente despetaladas, despedaçadas..."

(Civana)

Foto de Carmen Vervloet

Ano Novo Peregrino

Ano Novo Peregrino

Sinto-me eterno peregrino
Caminhando pelo tempo
Sou meu próprio destino
Vou e volto
Num estalo do pensamento...
Morro a cada
Trezentos e sessenta e cinco dias
E renasço entre sonhos e euforia...

Morro levando comigo
As tristezas, os desencantos...
As dores, os prantos...
Porque enquanto vivi
Muitas oportunidades, perdi...

O relógio bate doze vezes...
Anuncia à meia noite...
É hora do meu enterro.
Sepulto junto comigo...
Angústia e desespero...

Mas a minha sabedoria
Ditada pela minha idade
Sopra-me sempre a verdade...
Uma nova realidade...
E renasço para fazer acontecer
O que deixei de dizer
Ou quem sabe antever...

Renasço e volto em barca
De nuvens brancas...
Leves... Soltas...
Puras... Pleno de autoconfiança...
Trago a paz e a bonança...
Junto com a esperança...

Entrego um a um o meu presente...
Com o qual, cada qual,
Desenhará o seu futuro...
Optando entre ser infeliz ou feliz...
Entre a mágoa ou o perdão...
Entre estar sozinho ou dar a mão...
Entre o partilhar ou a ambição...
Escolhendo entre a rua escura
Ou o sol que se insinua...
Em raios de ternura...

E cada um seguirá o seu caminho...
Transformando-o em belo jardim...
Arrancando as pedras... Os espinhos...
Perseguindo seus sonhos... Assim!...
Enquanto a noite descansa
Nas franjas da lua
E aguarda o alvissareiro despertar
Do seu coração...
É dentro dele que cochila
A sua felicidade!...

Carmen Vervloet

Foto de Carmen Vervloet

Ano Novo Peregrino

Ano Novo Peregrino

Sinto-me eterno peregrino
Caminhando pelo tempo
Sou meu próprio destino
Vou e volto
Num estalo do pensamento...
Morro a cada
Trezentos e sessenta e cinco dias
E renasço entre sonhos e euforia...

Morro levando comigo
As tristezas, os desencantos...
As dores, os prantos...
Porque enquanto vivi
Muitas oportunidades, perdi...

O relógio bate doze vezes...
Anuncia à meia noite...
É hora do meu enterro.
Sepulto junto comigo...
Angústia e desespero...

Mas a minha sabedoria
Ditada pela minha idade
Sopra-me sempre a verdade...
Uma nova realidade...
E renasço para fazer acontecer
O que deixei de dizer
Ou quem sabe antever...

Renasço e volto em barca
De nuvens brancas...
Leves... Soltas...
Puras... Pleno de autoconfiança...
Trago a paz e a bonança...
Junto com a esperança...

Entrego um a um o meu presente...
Com o qual, cada qual,
Desenhará o seu futuro...
Optando entre ser infeliz ou feliz...
Entre a mágoa ou o perdão...
Entre estar sozinho ou dar a mão...
Entre o partilhar ou a ambição...
Escolhendo entre a rua escura
Ou o sol que se insinua...
Em raios de ternura...

E cada um seguirá o seu caminho...
Transformando-o em belo jardim...
Arrancando as pedras... Os espinhos...
Perseguindo seus sonhos... Assim!...
Enquanto a noite descansa
Nas franjas da lua
E aguarda o alvissareiro despertar
Do seu coração...
É dentro dele que cochila
A sua felicidade!...

Carmen Vervloet

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