Cheiro

Foto de carlosmustang

FONDUESES

Foi olhar nos teus olhos
Que a felicidade havia de encantar
E tudo valeu a pena, vivência a espalhar

Contentamento ao extremo, com seu cheiro!
Então sonhei, realizei, como bobo viajei:

E tudo valeu a pena! Esse encantamento, valeu
Cada julgo que eu tinha era especial
Afinal toda a sociedade não importaria

Tanto carinho a mim, eu não mereceria
De tão pujante só à mim, seria desperdício
Só que eu, interpreto de vida, recolhendo-me
Esse merecer supremo, olhou por mim!

Sou lixo ou dejecto
Viciado em seu amor, olha pra mim, ti amo
És bela, poderosa, tens que quer
Este vive e morre, por ti mulher!

Não seria mais fácil dizer que sou perdedor
Por ser tolo em dor?
Sou objecto, dejecto, sou grato por amor.

Foto de Rosamares da Maia

CRÔNICAS DA SAUDADE - O Cantar do Galo

CRÔNICAS DA SAUDADE – O cantar do Galo.
De repente ouço um cantar de galo ao longe e o inusitado no mundo urbano abre uma porta para uma enorme nostalgia. Instalada no meu peito sem pedir licença, ela dói de forma aguda. Fecho os olhos, encho o peito de ar num suspiro profundo e como num filme, vejo caminhos de terra batida, dourados pelo sol em claridade tão intensa e morna que quase consigo materializar o momento. Vejo laranjeiras, goiabeiras, sinto o cheiro do mato orvalhado pelo sereno das madrugadas e flores e folhas se embebedando. O galinho que canta ao longe de forma repetida, insistente faz meu peito se abrir sem quer, ardendo de uma saudade com gosto de infância, de avó lavando roupa na tina de madeira do fundo da casa.
Tina de madeira para lavar roupas. - Alguém mais já viu isto? Eu lembro nitidamente, tinha um pedaço de madeira com costelinhas que se enfiava dentro da tina para o esfregaço. Vejo a enorme pedra arredondada bem no meio do terreiro desafiando o tempo. A pedra instalara-se ali, como prova material de que algum dia tudo naquele espaço fora um oceano.
Todos nós crianças e netos ou não, adorávamos brincar naquela pedra, e certamente ela, testemunhou muitas outras infâncias. Subíamos, pulávamos e caiamos. Meu irmão que sempre quis ser super-herói improvisava uma capa nas toalhas de banho ou algum outro pedaço de pano que estivesse para lavar e voava da pedra com sua espada de cabo de vassoura para salvar o Mundo.
A cantoria do galinho indigente que agora escuto, somente no sentido de remexer as entranhas da saudade, trouxe-me neste exato momento o cheiro da madeira queimando no fogão de lenha e do feijão, cozendo na panela de ferro, feijão que meu irmão um dia mexeu com um pedaço de pau em brasa, lenha do fogão. Minha mãe quis pegá-lo de tapas, mas minha avó, somente riu com as bochechas avermelhadas e mandou que ele fugisse para não apanhar dizendo: “Ora deixa o menino, isto é coisa de criança”. Ela protegia todos os netos, perto dela ninguém levava tapas palmadas, surra então, nem pensar.
Tenho saudade do meu irmão que hoje sequer fala comigo, mesmo estando ao alcance do meu abraço, pois ambos esquecemos como se abrem os braços e se abraçam fraternamente os irmãos. Do menino franzino que não conseguiu salvar o Mundo, nem mesmo o nosso pequeno mundinho. Estou com saudades da minha avó conciliadora, que jamais deixaria isto acontecer, mas ela, não está mais aqui e tudo mudou. Tem uma eternidade que não vou ao terreiro dos fundos da casa de minha avó, nem sei se aquela pedra existe mais. - Será que virou concreto? Sei que há muito deixou de existir a cozinha feita de “barro a sopapo”, com o fogão de lenha e as panelas de ferro em cima, cozendo com amor para a família.
O sol nasce a cada dia e continua banhando os caminhos. São ruas asfaltadas, cimento e concreto e ele, queima de forma impiedosa e dolorida a minha pele, não me faz carícias como no tempo de criança. De repente o cantar insistente do galinho me desperta do mundo para o qual me levou, lembrando abruptamente, num suto, de que eu também deixei de ser criança.
Rosamares da Maia

Foto de raziasantos

Saudade do Meus Tempo de Menina!

Saudade do meu tempo de menina.
Onde eu corria entre as montanhas...
Subia no alto da colina para enterrar meus segredos, colecionava sonhos na certeza que todos iriam se realizar.
Saudade do meu tempo de menina onde jogava amarelinha
Caminhava sozinha sem medo de o lobo mau me pegar...
Corria entre os cafezais, nadava nua no rio, ouvia os cânticos dos pássaros, sempre a festejar!
Quando o sol ia se pondo ao longe ouvia o berrante tocar.
Anunciando que a noite seria de cantoria e modinha pra dançar.
Saudade da menina, de pés descalço dançando no brilho do luar.
Entre o verde colorido bailava inocente sem medo de a noite chegar.
Ao cheiro do agreste a terra molhada pelo orvalho de mais uma noite de luar.
As estrelas sorridentes aplaudem a menina pequenina que sorrir sem parar.
Dança inocente menina...
Ouça o canto da sábia, corram entre aos campos verdes coloridos!
“Amanhã você vai crescer e tudo ficará para trás”...
Saudade do meu tempo de menina onde os sonhos eu podia embalar.
E a noite não me trazia medo, pois sabia que ao amanhecerem os pássaros iriam me acordar.
E ao cheiro da terra molhada, o vento como caricia espalharia o perfume das flores no ar.
E um novo dia iria recomeçaria sem medo dos vilões que viriam para meu mundo verde destruírem...
Saudade do meu tempo de menina de ouvir novamente o canto da sábia!

Foto de Carmen Lúcia

Ah, o amor!

Esse meu coração apertado
dentro de minh’alma vazia
procura por um afago
qualquer sentimento vadio
uma breve carícia
mesmo que fictícia
algo que me faça sorrir
que faça a alma lembrar
amor...

Que viver tem valido a pena
ainda que só por uns instantes
pois a dor nunca é amena
é da vida parte integrante.
Transforma-se em dilema
passagem difícil e penosa
e a esperança ilusória
vem num barco de quimeras
tem cheiro de flor
invade, persuade
e se revela
amor...

Quero poder acreditar
num trem que traga emoção
preencha meu coração
restaure-o para amar.
Mas a cada estação
sinto-me desabar...
Creio que o brilho dos trilhos
ofusca qualquer sentimento
deixa em cada vagão
a escuridão do lamento,
o fantasma da solidão.

Do desejo, o ensejo.
Do amor, a dor.

_Carmen Lúcia_

Foto de carlosmustang

PODER

Um beijo pela manhã, Um beijo
E a vida boa começa assim
Nunca vai acabar o amor de viver
Viagem eterna em existir

E o progresso segue, mas nada de evoluir
A vida é boa pra quem sabe viver
Cheiro de ignorantes mortos me da nauseas
A vida poderia ser mais breve

Moscas vivem pouco e não tiram sangue
Bichos esforçam mais e não se matam
Se amam mais em condições estremas

Ser feliz e se pegar sorriso alheio
É ser amado sem poder e dinheiro
Bondade amor Verdadeiro!

Foto de Emerson PS

Calculo do Amor

Quanto você acha que vale um grande amor?
Ou melhor... Como você calcula o amor por alguém?
Alguns diriam que sabem o quanto amam outra pessoa pelo tempo que se pensa uma na outra, que vai da hora em que se acorda à hora de dormir, e ainda durante os sonhos.
Outras diriam que pelo tempo que passam juntos, que é variado conforme a situação do casal. As vezes apenas às noites, as vezes apenas aos finais de semana... Mas para eles o que prova o quanto se amam é a qualidade desse tempo juntos, que soa diversificados em olhares apaixonantes, carinho, afago, conversas significativas que começam com um: como foi seu dia?, as vezes tratar alguma indiferença, o que torna o amor mais sólido, pois é prazeroso quando são resolvidas as diferenças e isso fortalece a união, e também por que é gostoso fazer as pazes.
Acredito que todas as formas de amar estão corretas...
é gostoso pensar o dia todo em quem você que sempre ao seu lado;
rir sozinho quando se lembra de momentos bons;
quando antes de dormir você faz questão de desejar uma ótima noite para esta pessoa que sabe que a voz dela ficará em sua mente e, ter um soninho gostoso e sonhar com ela é inevitável e alegra o coração;
é bom acordar lembrando do sonho e sorrir por que você ama,
e um bom dia faz todo o resto dele ser único...;
é bom estar juntos, sentir o cheiro, o cafuné, o abraço, o beijo...
mas o que torna o calculo do amor perfeitamente único é este...:
Pensamentos 24hs por dia x Dias que se vêm na semana x meses que vão passar juntos agora divide o resultado por ele mesmo.
Encontrou a resposta?
Está naquele segundo, quando os olhos se fixam uns nos outros , a Mao gela, o coração acelera e o mundo para... em câmera lenta você diz...: EU TE AMO!
Neste momento as variáveis são irrelevantes, e o Máximo denominador comum é aquela pessoa.
Basta agora somar ao resultado a o infinito, para que a eternidade seja o meio da historia desse grande amor.

Foto de Carmen Vervloet

Nosso Lar

A nossa casa, o nosso ninho,
nosso aconchegante cantinho...
Na jardineira flores sem espinhos,
gerânios e o canto dos passarinhos!

Nosso neto correndo por todo espaço
entre porcelanas, flores e cristais...
Nós dois a espera do seu terno abraço
enquanto, da janela, admiramos o cais.

Da cozinha vem um cheiro de comida
impregnando todo o ambiente,
despertando aquela fome escondida.

Depois, meu amor encantando ao piano,
arrebatando o coração e a mente,
apagando qualquer dor ou desengano!

Foto de P.H.Rodrigues

Diretor do Tinteiro

Quero uma página em branco.
E um tinteiro cheio.
Uma música relaxante.
E da varanda sentir o cheiro

Do café que é passado na cozinha.
Morder os lábios e escrever a primeira linha.
Na empolgação não perceber.
A noite que devorou o clarão do dia.

Quero brincar com o lápis nos dedos.
Enquanto sorrio para o horizonte.
Saboreando o desenrolar do enredo.

E assim escrever sem medo das palavras.
E como diretor, observar e coordenar.
Vivendo cada virgula da tinta que marcou o papel.

Foto de Rosamares da Maia

ORAÇÃO DA MANHÃ

Oração da Manhã

Senhor,
Obrigado por meus olhos descortinando o horizonte,
Enxergando belezas que nem todos conseguem perceber.
Obrigado pelas janelas que permitem a claridade do sol,
E o azul deste céu, que tinta alguma imitará.
Obrigado Senhor pela chuva, por estender as mãos,
E com ela lavar o rosto, somente para brincar.
Obrigado senhor pela alegria inexplicável das crianças,
Que perseguem uma simples folha arrancada pelo vento.
E porque ela, ainda me habita o peito adulto, pacificamente.
Obrigado Senhor,
Pelos meus ouvidos, que ouvem a música dos Homens,
Como uma manifestação da Divindade na Terra,
Por fechar os meus olhos e ouvir a melodia dos anjos.
Obrigado pelo olfato, que capta o cheiro das manhãs,
E pelo paladar Senhor, obrigado.
E o gosto das nuvens, como montanhas doces e belas.
E pela mão que faz o café, de sabor inigualável.
Pelo sentido do tato, que recebe o afago e aquece a alma,
Que repele as asperezas da vida, como primeira defesa.
Obrigado Senhor,
Pelo sentido da vida, que encontro em uma manhã clara,
Pois percebo os Vossos olhos bondosos sobre nós.

Rosamares da Maia

08/06/2010.

Foto de Mitchell Pinheiro

SAUDADE INFINDÁVEL

Se um sopro repentino arrepiar-lhe a nuca não ti assustas, apenas encomendei ao vento um pouco do seu cheiro

Se um frio inesperado acometer-lhe o corpo não ti preocupas, apenas encomendei ao tempo um pouco do seu calor

Se um pássaro curioso fitar-te incansavelmente não estranhas, apenas encomendei a natureza um pouco da tua imagem

Se ti flagrares subitamente devaneando em nossas lembranças não ti condenas, é apenas minha saudade voltando no tempo pra reviver os melhores dias do meu passado.

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