Chão

Foto de Marilene Anacleto

Uma Fogueira. Um Amor.

Uma fogueira,
Uma árvore,
Chão de areia fina
Céu azul de estrelas
Pensares desvairados.

Mãos que aconchegam
Unem-se à natureza
Mãos que excitam
Nuanças da beleza

Derrete o coração, o céu
Dança as emoções, o vento
Titubeia na areia fina, o corpo
Nem para pensar, há tempo.

Céu como testemunha
Fogo em labaredas
Sapos e grilos
Árvores e corujas,
Corpos unidos.

Foto de Rute Mesquita

Meu doce amargo


Meu doce amargo,
Os meus olhos despes
ao não te ver neste largo
onde à muito me deste
um anel de noivado.

Lembro-me,
como eras doce,
como me veneravas.
Como lá pelas doze
aqui comigo te encontravas.

Recordo-me,
do teu olhar cintilante,
onde me via reflectida.
Do teu espírito jovem e inquietante,
que me deixava sem saída.
Daqueles teus afagos,
logo pela manhã.
Daqueles doces e amargos,
que fizeram de mim, tua romã.

Sentada,
aguardando-te neste largo,
onde boas lembranças já não habitam…
Acabada,
num calor pardo,
as tristezas me ressuscitam.

Como és amargo,
em ir sem nada me dizer…
deixando-me a meu próprio cargo,
depois de ao céu me teres feito erguer.

Como és cruel,
em te demolires a meu peito…
Vou tirar este anel,
não mereces o meu respeito.

A correr e a chorar lá vai aquele rosto
de menina…
Entre o morrer
ou um bom aconchegar,
está a minha pequenina.
(disse o seu pai vendo o repetido episódio e lamentando)

Acabou assim a primavera,
de enlaces.
O inverno apresava uma nova era
sem esperar que para ele te preparasses.

Passaram-se meses, anos…
E como as suas lembranças
naquela casa ainda eram tão assistas.
Ainda habito nas esperanças,
daqueles imensos planos,
aos quais deste as tuas desistas.

O livro de receitas,
aparecia sempre que cozinhava.
Para evitar os meus enganos,
naquelas feitas
como meu homem sempre me lembrava.
Aquele meu pente,
que nunca o deixava no lugar,
tinha agora um ar reluzente,
quando nos meus cabelos o fazia tocar.

...Como se tu fosses ele.
Adoravas os meus cabelos…

E assim comecei a acreditar,
que com fé talvez ele se revele,
e voltemos aos tempos belos,
da primavera a espreitar.

Numa noite,
na qual as trovoadas rompiam os céus.
Sai de casa sem desajeite,
fui para aquele largo proteger os meus,
antes que aquele tempo os desrespeite.

Pesada, daquela chuva,
por entre tremeliques de frio.
Senti tocar-me uma luva
e o iluminar do meu fio
onde tinha a aliança.

Conforto-me e aqueço-me,
naquela esperança,
incandescente.
Quando sou atingida por um raio…
Fico inconsciente...
e ergo-me.

Afasto-me do meu corpo,
vejo-o irreconhecível no chão…
Quando ia para soltar um grito louco,
sinto um aperto de mão.

Era ele, a minha doce amargura.
Sorriu e disse-me: ‘tontinha, achas mesmo que
te ia deixar?’
E uma tamanha injustiça me perfura,
como pude eu me conformar?

Como se ele lê-se os meus pensamentos,
disse: ‘Minha princesa,
peço que me perdoes por ter ido sem avisar
mas, quero
que saibas que estive em todos os momentos,
só esperava que nisso acreditasses,
para te poder vir buscar,
à muito que te espero.’

As palavras afagavam-se
no iluminar daquelas almas que falavam por si.
Os seus medos ausentaram-se,
mas, esta história não acaba aqui.

Foto de Carmen Lúcia

Chuvas e lágrimas

É noite... chuvas caem molhando o chão...
Lágrimas rolam inundando meu corpo nu...
Ambas limpando o lixo da desilusão,
da falsidade,da decepção,o que restou do dia...

Chuvas apagam pegadas imundas da hipocrisia,
lágrimas lavam minh'alma do odor fétido da mentira.
Bálsamos para a dor...chuvas e lágrimas...
Que se misturam e levam todo o mal.

Fico leve...volto a crer...amanhece o dia...
As últimas gotas se evaporam com o sol.
Meus olhos secam,nuvens negras se vão...
Nada de lágrimas...e de chuvas...
Só previsão.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Vervloet

Canto de Despedida

Chora o canarinho no jardim,
sozinho, sobre a gaiola, debruçado,
triste com a devastação sem fim,
o ar impuro, o verde tão maculado.

No seu canto a vida que se finda...
A dor estendida em vasto deserto,
acordes de uma paisagem linda,
lembranças... dum chão por vida encoberto.

Tanto é o lamento, o sofrimento,
que o canto dói no coração...
Desfeitos os votos de casamento
entre a vida da natureza e este torrão.

Foto de iago fernando de oliveira

Varinha de Condão

Pode-se até implorar,
Perco-me em uma ilusão,
De sonhos lúdicos em um clarão.
E lá e que eu gosto de estar.
Vivo uma vida de mentiras,
E nela acredito como um cego cão.
Me engano e caio em meio ao vão,
E mesmo sabendo que é ilusão.
Me iludo com você, para tu poder me amar
E assim levo a minha vida sem a retirar.
E mesmo que tudo se quebre,
Sigo em frente com calma.
Imaginando que minha varinha de condão
Vai tudo arrumar.
Mas toda aquela bagunça fica no chão,
Sem ninguém para a catar.

Foto de Rute Mesquita

Nos balancés do equilíbrio

Baloiço suavemente…
sinto-me a pairar.
Acordo de repente,
e questiono este lugar.
Nuvens? E mais quatro balancés,
dois em cada lado.
Sinto-me sem pés…
Provo, o meu medo mais flamejado.
Eles bailam,
ao suar uma melodia assustadora.
Temo que eles caiam,
pois ira sentir-me comprometedora.

Sinto uma grande pressão,
em saber o que faço ali,
será uma ostentação?
De algo que escrevi ou li?
E se eu me acalmar
e tentar perceber o que me diz esta imagem?
Talvez, o clarear,
não seja apenas uma miragem.
Quatro bailados,
divididos por igual,
contudo, desequilibrados,
num bailar desigual.
Eu encontro-me precisamente no meio,
como se eu fosse a palavra ‘equilíbrio’.
Quando esta palavra nomeio,
os bailados entram em declínio.
Os meus pés perfuram aquele manto de algodão,
e o ar fica menos denso.
Serei eu a desejar o chão?
Ou será meu imagino?
Penso…
Vou nomear outra e outra vez,
aquela palavra,
agora é a minha vez,
de a fazer minha escrava.

Equilíbrio,
diz-nos estabilidade,
diz-nos moderação.
É tão grande este meu fascínio,
que desta irrealidade,
faço uma canção.
Grito ‘Harmonia!’
e inclino-me para a direita,
tentando equilibrar.
‘Nostalgia’,
leio numa vistosa colheita,
que parece me chamar.

Ficou tudo escuro,
passou uma ventosa.
Será que ainda aqui perduro,
ou estarei venenosa?
Abro os olhos,
e encontro-me num jardim,
baloiçando…
E sorri,
por ter afastado os medonhos,
racionando.

Se terei medo de bailar novamente?
Se serei perseguida por este pesadelo?
Apressasse e responde a minha mente:
‘Numa próxima será belo’.

Foto de Carmen Vervloet

Poesia no Canto, um Encanto!

Bordo meus versos
no aconchego do meu canto.
Que encanto!
Desenho, com palavras, coloridas telas...
Encho balões com meus sonhos
e os solto no iluminado espaço
no exato momento
em que passa uma corrente de vento.
Sobem aos céus, lá… bem junto às estrelas
e são abençoados por Deus!…
Depois retornam num rabo de cometa
pousando aqui e acolá…
Deixando um pouco de mim em cada lugar...
Lá... onde os silêncios rugem
em meio às dores que surgem.
Onde o tempo é quando… a dor passar!
E o amanhã é quando… a ferida secar!
Preciso plantar meus versos de amor e ternura,
fazer o reverso do sofrimento,
levar um pouco de loucura,
fazer voar, sem sair do chão,
por um ponto final no tormento,
alimentar… distribuir o pão…
Oferecer as mãos em conchas de amor…
Abraçar, com a esperança,
de que a dor suavizou,
a treva se acendeu em luz,
e a poesia trouxe a paz de Jesus!

Foto de Rute Mesquita

O quarto interdito

O silêncio profundo,
de um quarto sombrio,
que muito deixa a desejar,
atrai-me por sentir que é interdito.

O meu Mundo,
agora pulsa como o correr de um rio,
soluça ao respirar,
e é este o seu repito.

Aproximo-me daquela ombreira,
os meus passos fazem o chão gritar,
sinto-me transpirar,
como se estivesse ao abrigar de uma lareira.

O mistério mantém-se,
o meu trémulo aumenta,
O meu medo contem-se,
mas, a minha alma o alimenta.

O nervosismo censura,
aquela escuridão está prestes a domar-me,
e eu só peço que atrás daquela porta exista uma ferradura,
que se perdida, irá proclamar-me.
Um pedaço daquele chão que ruge,
caiu mesmo debaixo dos meus pés,
estive à beira do abismo,
ao olhar a palavra ‘puxe’
e ao hesitar a sílaba ‘Rés’.

Tenho uma mão transpirada sobre a maçaneta,
e na outra, o coração
imagino qual será a minha vinheta,
nesta minha aterrorizarão.

Entrei de pé direito
e sinto um vazio enorme…
o meu coração agora chora encostado a meu peito,
pedindo que não me conforme.

Este era o quarto da minha outra parte…
ele não está… nem mesmo a sua sombra…
Aqui caio moribunda nesta arte,
o único apoio que me sobra…

O que mais preciso dizer?
Lágrimas inundarão este quarto,
já nada tenho a perder…
daqui já não parto.

Foto de kaoliveira

Uma mulher com coração de menina

Imaginastes que uma mulher com o coração de menina sentirias algo assim que domina o ser, a alma e quem sabe a existência. Uma canção que escutas comovem a alma e brotam dos olhos lagrimas que caem ao chão, mas que logo vais secar e sumir com o ar, mas porque este sentimento que aperta o coração não vai juntamente com estas lagrimas?
A distância pode ser ruim será que esqueceras está dor? Não sei, mas se partires uma parte dela irá contigo, não terá mais graça o que tinha antes, pois o sorriso, o olhar profundo era o que fazia sorrir uma mulher com um coração de menina. Esta menina que morre dentro do peito a cada dia que passa sentiu falta de um sorriso e de um olhar que tenta esconder mais não conseguiu. A mesma se pergunta por que deixou chegar ao ponto que chegou, mas este sentimento quando brota não tem como controlar, simplesmente sentir como se o mundo fosse acabar em cada momento vivido com seu amado, mas depois desses momentos vêem a tristeza que insisti em atormentar seu coração com dúvidas e questionamento. Mas o amor é assim, quando se ama não dá para explicar a única coisa é viver este amor em quanto ele dure, mas está menina perde o seu amor e o senti distante dela e sofre com isso, espera uma noticia vê-lo passar, sentir o cheiro que se espalha no ar, este cheiro é o do grande amor da vida dela. A música continua a fluir em seus ouvidos e as lagrimas brotam cada vez mais, junto com as lagrimas brotam as lembranças lindas de momentos em que o mundo parou ao redor do amor que os dois viveram juntos como explicar sentir o mundo parar com o toque, com um beijo, com o entrelaçar dos corpos apaixonados. O toque do piano a cada pauta domina o seu coração que o amolece e com um toque desmancharia este coração. A esta menina, continua a se perguntar por que amares alguém a quem não conhece e quem nunca imaginou conhecer, ela mesma.
Escrito por:
Karen Oliveira.

Foto de Carmen Lúcia

Etéreo

Dança...
Faz de tua arte simbologia do amor,
Toca o chão, o ar , a emoção... acaricia a dor,
Tange o invisível, o inaudível, o irreprimível,
Languidamente , candidamente, sensivelmente,
Derrama no palco da ilusão a tua fantasia
Que de tão real se transforme em verbo,
E em forma corpórea, materialize-se,
Realizando sonhos, antes mera utopia.

Dança...
Trepida corações impacientes
Esvoaça por entre corpos irreverentes
Suaviza com doçura os momentos...
Torna-os perenes, registra-os na alma
De quem permite por eles se enlevar
E com eles também dançar, flutuar, sonhar...

Dança...
Recria gestos com toda maestria,
Desbrava o mundo a que já pertencia...
Sacode-o, encara-o, envolve-o de tua magia,
Levita, transcende, ascende, rodopia,
Relata tua vida ao som de melodia,
Performances que geras, bailando poesias,
Desenhando versos, arabesques e rimas,
Nos passos compassados da tênue bailarina.

_Carmen Lúcia_

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