Cerveja

Foto de AjAraujo poeta humanista

As estações

V er soltas folhas a brincar
na canção da brisa no outono

V E rás livres pássaros, a migrar
no rumo das correntes no inverno

Ve R te a alegria no coração
na florida estação

Ver D e explode em cores e flores a primavera
no celeste céu da vida

Verd A de no perfume que encanta
a mãe-terra

Vere D a o astro-rei aproxima-se do planeta
em calor, praia e fantasia

Vertig E m com tanta luz, é chegado o verão
suor, cerveja, samba marcam a estação

AjAraújo, o poeta humanista.

Foto de Kira

MUDANÇAS

MUDANÇAS...
Kira, Penha Gonçales

Tudo muda.
Cresci ouvindo isto...
- “Não se preocupe, menina, tudo muda!”
Quando eu estava triste com alguma situação, sabia que ia mudar.
Mas... as mudanças hoje estão muito radicais...
Imagine só, perguntei à minha sobrinha se ela estava namorando e ela respondeu:
-“Tia eu não estou namorando, mas tenho um “namorante”...
Bom, para quem não sabe, “namorante” é uma mistura de namorado com “ficante”. Você pode namorar, sem ter o compromisso do namoro, e ficar com quem mais você desejar... que beleza, não é mesmo?!
Tudo muda!
Quando eu tinha a idade dela, o meu atual marido teve que pedir permissão ao meu pai para namorarmos... (que mico!).
E pasmem! Eu tinha que namorar com meu irmãozinho de “vela”...
Interessante é que provavelmente eu já esteja numa idade “jurássica”, porque quando minha filha começou a namorar há quase dois anos, ela estava “ficando” com o atual namorado. Num belo dia eu cheguei para eles e disse:
- Que legal os relacionamentos hoje em dia! Quem me derá fosse assim antes...
Então o namorado de minha filha disse:
- Por quê?
Então comecei um discurso de mãe...
Bom... vocês estão “ficando” e cada um pode sair com quem bem entender!
Você pode “pegar” outra menina e a minha filha pode “pegar” outro menino...(para quem não sabe, “pegar” é abraçar, beijar, etc.). Assim ninguém tem o direito de falar nada e cada um faz o que quer...
Meu querido “genro” ficou pensativo e disse:
- é mesmo, mas eu não quero que a minha namorada pegue outro “cara”.
Eu é claro, como uma boa sogra, arrematei:
- mas você pode ficar com outra “mina”, não é? Ele olhou, pensou... depois ficou sério.
Na semana seguinte, eles sairam para ir ao Shopping passear e quando retornaram, chamaram-nos (eu e o pai), para pedir permissão para o namoro e exibiram uma linda alicança de prata com seus nomes e datas gravados... rsrsrsrsrs!
O que não faz a Psicologia...
Tudo muda mesmo...
Até os Príncipios... quando não são firmes como rocha.
Precisamos ter cuidado com certas mudanças.
Não estou afirmando que se não fizer tudo “certinho” vai-se para o inferno... nem precisa de ir para lugar nenhum, pois “inferno” está se tornando nosso mundo de hoje, com tantas mudanças...
São relacionamentos sem comprometimentos, produções independentes... casamentos terminam por coisas corriqueiras que poderiam ser contornadas.
Namoros, em que os parceiros nunca se tocaram... apenas virtualmente! Sexo feito olhando numa tela fria, sem o calor do abraço, sem o olhar no olhar, sem o gosto do beijo.
Sexo teclado e visual... apenas.
Eu ainda prefiro o sexo à moda antiga, (já estou com o prazo de validade passada, deve ser isto...) quero o toque dos lábios, o passeio de mãos, o sentir bater o coração do outro, a troca de fluídos...
É que “tudo muda”!
Devemos ter cautela, para não nos tornarmos frios... sem tempo para um bate papo debaixo da luz do luar, sem “o jogar conversa fora” na mesa de um bar tomando uma cerveja ou mesmo uma coca-cola na calçada, rindo de tudo...
Pois, como a mudança é rápida, não temos tempo para sermos solidários e ouvirmos alguém desabafar algo ou contar com alegria um fato ocorrido... Não temos tempo mais para isto. Muitos preferem ficar em frente ao computador e “teclar”...
Não estou dizendo com isto que o mundo virtual seja ruim, não é! Tenho muitos amigos virtuais e amigos com quem converso virtualmente, devido a distância, o tempo... mas não deixo de encontrá-los para um abraço; pois muitas vezes precisamos do abraço, do calor e aconchego do encaixe de um outro corpo...
Pois é, tudo muda!
Mas a necessidade de carinho nunca mudará!

Foto de nuno alexandre mestre bernardo

a mesa

á volta da mesa estão as cadeiras
na mesa estão as cartas de jogar
á volta da mesa dizem-se asneiras
contam-se anedotas até fartar

pela noite dentro a mesa fica cheia
as conversas ficam mais animadas
contam-se histórias passadas
comemos camarões,bebemos cerveja
entre cartas consecutivamente jogadas

Foto de Icaro Maceio

Qual o Sentido da vida?

Qual o sentido da vida?
Essa pergunta fica na minha cabeça todos os dias.
Saber porque nascemos, porque sofremos, porque isso ou aquilo...Acredito que todos nós vivemos essas questões, como se a resposta delas mudasse quem somos.
Tenho um ritual de todo dia, ao acordar eu olho para dentro de mim, e faço não uma consulta das coisas que tenho que fazer ao longo do dia, mas sim se estou feliz fazendo minha rotina.
Mas qual o sentido da vida?Qual o sentido de acordar de manhã.
Com certeza o amor!
O amor a ler poemas, a conversar com amigos em uma noite agradável acompanhado de uma cerveja gelada, de fazer juras de amor ao pé do ouvido a uma outra pessoa numa noite de luar, de ri de si mesmo, de se emocionar com uma leitura comovente, de sentir o vento, de sentir-se vivo.
O que me faz feliz é o amor, desde a infância a gente tem uma certa ligação muito complexa entre o amor e o mundo.
Na minha infância entre 6 a 8 anos sempre gostei de desenhar e até tinha algum talento pra isso, as pessoas quando me olhavam desenhando me diziam:
"- Nossa você desenha bem, quando você crescer porque, não faz desenho mecânico?”
Nem mesmo sabia o que era isso, desenhava bichos, paisagens guerreiros, nunca imaginava o que seria isso.
Refiro-me a essa passagem, porque reparei o quanto o amor, o sonho e a liberdade estão ligados e como isso esta distante da realidade que moldam pra gente. Se você sonha com algo normalmente as pessoas querem que este sonho tenha alguma estabilidade financeira, e se caso não tenha então te obrigam a alocar seu sonho ao mercado de trabalho, e não o contrário. Tenho amigos que trago desde a infância e apenas poucos seguem o que sonham, Alguns se tornaram algo parecido com o que queriam ser desde pequeno, outros são algo que nem pensaram e muitos nem chegaram a idade de realizar algo...
Moro até hoje em um lugar de classe baixa, e vejo essa “classe” ser sempre a desculpa para as pessoas jogarem seus sonhos fora, e alegam não ter condição, não ter oportunidades, alegam que tem q sustentar a sobre vida ao invés de viver. Mas o que vejo mesmo são apenas desculpas para desviar o foco de si, como se elas fossem vitimas e de fato são, mas não do “sistema” com elas defendem, mas vitimas de serem de uma geração sem sonho e sem fé em si mesma, que são as únicas ferramentas validas para se alcançar o desejo do coração.
O amor à vida e a perseguição do sonho estão intimamente ligados, um ao outro, pois se você ama alguém você quer estar do lado dessa pessoa todos os momentos da sua vida, pra dividir até a menor das coisas, assim também é o sonho se você ama o que sonha dividirá com ele todos os momentos e por mais difícil seja o que você passe, você sempre vai sobreviver pelo fato de ter algo que você vai alcançar e não vai se render até conseguir realizá-lo.
É por isso que o amor é o sentido da vida, pois só o amor gera o sonho, e só o sonho pode ser o norte da vida de um homem, pois somos a imagem e semelhança de Deus, e frutos de um sonho Dele. Deus é amor então somo em essência amor, e conseqüentemente nossos caminhos serão a realização de sonhos, basta somente estar pronto pra isso, para os milagres do dia a dia, que podem normalmente passam despercebidos pelas pessoas que não sabem admirar a beleza de uma flor, o vento passeando sobre nosso rosto, ou o frio úmido de uma brisa leve, ou o voar dos pássaros, ou sabor de uma fruta...
Deus nos enche de milagres e espera que nós, também façamos alguns milagres: com elogios, mostrando a outros a importância dele estar ali, de se ensinar o amor e de ser amado.
É no amor que Deus se mostra aos homens e nos homens, foi por amor que Jesus se sacrificou e por amor ele ressuscitou...
Sejamos então avatares desse presente que não se diminui quando entregamos a alguém, mas pelo contrario aumenta e alcança a outros.
O sentido da vida esta em amar: transmitir e viver intimamente ligado nesse a tudo em nossa vida com este amor.

Foto de Cabral Compositor

Parabens

Vem lá de não sei onde
Dos braços da mãe , do peito farto de leite
Vem lá do Pai, das partes que lhe cabe
Vem o rebento ,e as lágrimas, os sorrisos e os abraços
Ai nasce o dia, esse dia que comemoramos todos os anos
Nesse mesmo dia
E ai reúnem as pessoas
Permanecendo esse feito anterior, até a nossa morte
Parabéns pra você que inventou isso
Parabéns aos nossos sentidos, que declaram sentimentos
Vem o bolo, o açúcar, o colesterol naquelas coberturas
Vem a cerveja, o aperto de mãos e o tapinha nas costas
Seria bom, se todos nos fizéssemos aniversário no mesmo dia
Tudo ia ser uma tremenda harmonia
Uma alegria só, uma onda boa, de boas gargalhadas
Mas não é assim
No dia seguinte volta tudo ao normal
Segue minhas duvidas, minhas idéias em fervura
Vamos aí, esperar mais trezentos dias e comemorar
Parabéns ao parabéns, parabéns aos meus, e a todos os bens

Foto de J.

é foda...

É foda...
Porque tento fazer as coisas acontecerem e sempre tem uma pedra no meio do caminho;
Porque preciso viajar e são Pedro está stressado;
Porque estou com fome mas aquela mosca do restaurante tirou meu apetite;
Porque quero vestir exatamente a roupa que está na lavanderia;
Porque tenho que ligar pro fdp do meu chefe e o telefone não funciona;
Porque saio para trabalhar atrasadíssimo e piso no coco que o cachorro do vizinho fez na minha calçada;
Porque a internet esta caindo o tempo todo;
Porque esqueci o aniversário da minha namorada;
Porque ela agora, por este motivo, faz greve de sexo;
Porque estou louco pela menina da internet;
Porque minha mãe pensa que ainda tenho 8 anos de idade;
Porque meu pai pensa que eu tenho 80...
Porque meu carro está com a documentação irregular;
Porque o cheque pré caiu antes da data... tô fu......;
Porque a televisão só mostra notícias sensacionalistas;
Porque a politicagem desse país ainda vai nos levar à falência;
Porque eu tentei ir pros Estates e não aprovaram meu visto;
Porque não consigo terminar a faculdade por falta de grana;
Porque o inverno está chegando e preciso comprar agasalho;
Porque pedi uma cerveja no boteco e ela estava quente;
Porque eu tive que tomar essa cerveja, afinal já havia pago por ela e o garçon era mal encarado;
Porque to atrasado...
Porque o meu cd preferido está riscado;
Porque o vizinho ao lado só ouve pagode e no último volume: sai da minha aba...
Porque meu celular tem vontade própria;
Porque levei o bolo do meu melhor amigo;
Porque não tenho certeza se Deus existe mesmo;
Porque só vou à igreja para assistir casamentos;
Porque sempre reclamo da festa;
Porque estou ficando resfriado de novo;
Porque meu salário atrasou;
Porque preciso falar com a tele-atendente gerúndio: - o Sr pode estar aguardando, enquanto eu vou estar verificando...
Porque fui multado por excesso de velocidade mais uma vez;
Porque o último amendoim do pacote é sempre amargo e a última bolacha a mais gostosa;
Porque invariavelmente escolho a fila que mais lenta;
Porque a garotada anda me chamando de “tio” (será que to ficando velho???);
Porque estudei tanto e agora ando me perguntando: - pra que tudo isso afinal, já que tudo vira b...;
Porque, porque, porque...
Porque amo, sofro, odeio, grito, choro, falo, acalmo, sinto, esperneio, corro, cheiro, bato, apanho, trabalho, vagabundeio, atraso, adianto, falo, calo, ouço, pego, largo, devolvo, como, vomito, apalpo, beijo, transo, gozo, faço, desfaço, arrumo, estrago, abraço, estapeio, estudo, leio, cabulo, fico, vou, volto, ando, paro, penso, aconteço, reclamo, elogio, sonho , escrevo, rabisco, apago, canto, danço, toco, desafino, vendo, compro, pechincho, respeito, insulto, ignoro, idealizo, digito, materializo, reprovo, aprovo, vivo, vivo, vivo...
Porque vivo tão somente...
E, cá pra nós, apesar de todas as dificuldades e obstáculos que colocamos em nosso caminho, viver é a maior e melhor coisa a se fazer...
mas é foda!!!

J.

Foto de pttuii

Monta-me

As letras eram bem desenhadas. Perfeitas de mais.
Um preto afirmador parecia realçar cada curva.
Sete letras, e um tracinho pelo meio, escritos ao fundo de umas costas que brilhavam ao sol do meio da tarde.
Monta-me
Assim se lia semelhante palavra. Chegou à terra a dona da referida incrustação, na única carreira rodoviária de que o povo dispunha. Nada tinha de cavalo, embora uns traços de mula até que assentavam bem no todo que galgou os dois degraus da coxia da viatura.
Ventava um pouco, coisa que até veio por bem em dia de semelhante calma. E a mulher a mostrar o umbigo. Na praça central, junto ao coreto onde o autocarro normalmente pára, estava sentado o homem mais velho da povoação. E o
Monta-me......,
saltou logo à vista.
Pouco instruído, Ti Gama de sua graça dominava as letras o suficiente para perceber coisas pouco habituais. E se aquilo era pouco habitual. Saltava à vista um pedacinho de tecido curto, pouco abaixo do peito da fêmea. Quarenta graus, e dois bicos tesos como as tetas de uma vaca a pedir ordenha.Chegou armada com uma mochila dos estrangeiros. Aquelas coisas enormes, que quase só se vêem na televisão às costas do ‘cámonis’ de pêlo louro. A bagagem era maior que aquela meia leca. Ti Gama não conseguiu ver os olhos à pequena. Mas o sol.
O raio do reflexo que aquilo fazia no fundo das costas da moça.A bengala do velhote cravou-se na poeira do alcatrão, o homem levantou-se....e andou. As botas cardadas pesavam em dia de torreira, mas Ti Gama não descravava os olhos do preto daquela coisa. A jovem entrou na cabine da Rodoviária da terra. Pareceu ter ido comprar o bilhete de regresso.A cena, em poucos segundos, transferiu-se para um tascozito rafeiro. Coisa sem classe, mas que ia aguentando por ser o único na aldeia.
- Indicava-me o WC?
Voz maviosa tem a rapariga. Ti Gama estava hipnotizado. Sentou-se ao balcão e esperou. Tirou do bolso das cerolas um estojo dourado. Lá dentro meia onça de tabaco. Uns restozitos assentaram nos dedos do velhote, e foram cair em cima da mortalha. Enrolou o cigarrito, e antes de o acender já a jovem tinha voltado.
- Uma cerveja sem álcool, por favor.
O dono do tasco, cujo nome não vem ao caso, disse que não tinha. Só ‘mines’. A rapariga pediu uma cola. Ti Gama esperou que o gargalo se encostasse aos lábios da cliente, e disparou, ....sem pudores.
- A jovem desculpe, mas é alguma égua?
Resumindo uma longa história, em poucas palavras, quem sofreu foi a bochecha direita do idoso. A menina saiu à pressa, Ti Gama deixou cair o cigarrito, e o dono do tasco brindou-o com um:
- Você não tem mulher em casa?
Ti Gama nem respondeu. A bengala cravada no soalho, as botas cardadas a arrastar, e uma dúvida a assombrar-lhe a moleira debaixo da boina...Terá Deus criado mulheres cavalos?

Foto de Darsham

A vida do Pesadelo

De quando em vez, em momentos inesperados, carregados de significados surgem no meu pensamento pequenos pedaços da vida, vistos de diferentes vertentes e ocasiões, que me fazem pensar…
Pensar, analisar, questionar o nosso papel como seres humanos, individual e colectivamente neste mundo que nos foi dado, e que posteriormente e numa constante e frenética actividade se modifica ao nosso bel-prazer e à existência das nossas pseudo necessidades.
É-se mil pessoas numa só e ao mesmo tempo não se é ninguém.
Somos os catalisadores das nossas destruições…somos fúteis, e buscamos o prazer momentâneo sem nos preocuparmos com as futuras consequências, que se traduzem na devastação completa de tudo o que temos desde que nos entendemos por gente.
Foi-nos dada a possibilidade de podermos ter o direito de escolher, de ter sempre dois caminhos por onde seguir, sem nada ser imposto nem obrigado, mas com a consciência advertida de que existe um mau e um bom caminho, e que nos cabe a nós construir a nossa consciência, estruturando-a de acordo com a capacidade de distinguir o certo do errado. Esta capacidade traduz-se pelos valores, os nossos valores e que nos comprometemos a viver de acordo com eles, por serem comuns a todos e para que seja possível uma existência pacífica e um usufruto repartido, consciente e justo sobre tudo o que nos é dado sem ser pedido nada em troca: os nossos bens mais preciosos e que são determinantes para a continuidade da nossa existência, os nossos pontos de orientação que nos permitem perceber que a nossa liberdade acaba quando começa a do próximo.
Afirmo com toda a intensidade, que somos abençoados com pequenos privilégios que se estendem pelos nossos 5 sentidos e nos deixam extasiados…sensações únicas, momentos inigualáveis, visões que mais parecem alucinações, ilusões, sons que nos penetram a alma, deixando marcas em nós e ainda a capacidade de podermos esboçar um sorriso de felicidade quando, sem sequer precisar de olhar, sentimos que alguém querido veio até nós (eu sorrio só de pensar).
Somos seres dotados de extrema sensibilidade e inteligência e temos uma exclusividade que nos torna diferente de qualquer ser vivo que exista no mundo…podemos sentir o amor, sentimento tão sublime, que ninguém, em parte alguma o consegue descrever com precisão e exactidão. Sublinho, somos abençoados, 1, 2, 3 vezes, mil vezes por acordarmos para um novo amanhecer, em que abrimos a janela e nos deixamos lavar pela vida …
Verdade, somos acima de tudo ridículos por ter tudo e passarmos a vida acreditar e a lamuriar que nada se tem, destruindo assim, gradualmente o que na nossa cegueira de querer sempre mais, não vemos, ou vemos e ignoramos, já que é essa a nossa natureza, desvalorizar coisas importantes…
Por vezes temos rasgos de sanidade e prometemo-nos a nós próprios que vamos modificar a nossa atitude perante a vida e os outros, mas depressa nos esquecemos, e promessas são levadas pelo vento…
Vivemos numa guerra constante, connosco e com os demais, pelas mais diversas razões, de uma forma continuada e impensada, porque agimos através de ímpetos, que não procuramos controlar, de impulsos que se assemelham aos dos animais, como se todo o mundo fosse uma selva.
Construímos muros em cima de histórias, colocamos pedras sobre o ar que respiramos, valorizamos o mau em detrimento do bom, por o vivificarmos e vivenciarmos constantemente sem dar espaço para a alegria entrar…nós sufocamos a alegria e o bom senso…
Representamos na maior longa-metragem alguma vez feita, numa constante troca de papéis, e nunca acabamos por perceber qual é realmente o nosso. Em vez de nos regermos pelos nossos supostos valores, estamos mais preocupados em agradar este ou aquele, pensando o que poderemos obter dali. Vivemos na era da hipocrisia. Estamos sempre prontos a apontar o dedo, a julgar, como se nós próprios fossemos o modelo inquestionável de perfeição. Representamos o chefe sisudo, de mal com a vida, porque já não ganha tanto como ganhava com o negócio; a colaboradora, que desconhece o simples significado de sorrir, e mostra claramente que está ali a fazer um frete; o médico que nos passa a receita sem sequer olhar para nós; a senhora reformada que passa as tardes no café, falando da vida de toda a gente, criticando e apontando o dedo; a proprietária do pronto-a-vestir, que nos diz que a roupa nos assenta como uma luva, quando nos vemos ao espelho e nos assemelhamos a algo parecido com um ET; o senhor que vende peixe no mercado, e que afirma estar fresquinho, quando o peixe já está completamente vermelho de tanto gelo que levou em cima para parecer “fresquinho”; o político que faz promessas que nunca se virão a cumprir; a professora que está mais preocupada em que os alunos façam tudo certinho e em silêncio, do que propriamente em ensinar, orientar e formar futuros cidadãos; o polícia que está mais preocupado em caçar multas do que velar pela segurança da comunidade; a eterna mãe preocupada e sofredora, que vive num constante receio no que diz respeito ao caminho que os seus filhos irão seguir e que faz disso uma obsessão; o pai que sai do trabalho, cansado e que em vez de ir para casa, segue para o café, onde bebe cerveja atrás de cerveja, até que lhe vão buscar ou até ao fecho do café e que quando vai para casa culpa a mulher por todos os seus infortúnios; o (a) filho (a) certinho (a) que segue à risca tudo o que lhe é incutido no seu seio familiar e que não constitui problemas em contraste com o (a) filho(a) despreocupado(a), que quer curtir e vida, sem perder tempo com coisas que não interessam, procurando sensações cada vez mais arrebatadoras, fortes e loucas, porque é nelas que conseguem agarrar, ainda que efemeramente estados de completa euforia que acreditam conter o segredo milagroso para uma vida plena, e principalmente sem tristeza; a menina gordinha, que na escola é ignorada e gozada pelos seus colegas, em contraste com a menina popular, com quem todos querem brincar; a eterna sonhadora que acredita que a vida é um sonho construído em cima de um castelo de areia; o casal, que cheio de dívidas mal consegue dormir e discute a toda a hora questionando-se sobre como a vida de ambos teve aquele rumo…
Os ricos…os pobres… os arrogantes…os educados…os maus…os bons…os egoístas…os altruístas…os sensíveis…os insensíveis…eu…tu…os outros…nós…
Somos uma mescla de matéria mexida e remexida, produto de nós mesmos e dos nossos ardis, onde a genuinidade se extinguiu…
Vivemos assentes numa liberdade ilusória, mascarada…vivemos mais presos que um detido por homicídio. Nós construímos as nossas próprias barras de ferro, fechamo-nos dentro de algemas e jogamos a chave fora.
E a simplicidade? E a alegria de estar vivo e sorrir sem ser preciso ter um motivo? E a partilha? E a vida, só por ser vida e vivida?
Só existe esta e enquanto não tivermos a plena consciência desse facto e que também passa muito depressa vamos cavando lentamente a nossa própria sepultura e acabamos por ser autores, em parte da nossa passagem para outro mundo que não este.
Sonho e anseio por um dia em que todos nós vamos acordar e perceber que não somos personagens de um pesadelo constante e irreversível, mas sim de uma vida que teimamos transformar nesse pesadelo que já pensamos viver…
Vamos então todos juntos acordar num grito de esperança??? Um dia…um dia, quem sabe…

Foto de Manu Hawk

Noite Quente de Verão (Conto)

"Noite Quente de Verão"

Sexta-feira, mais uma, como muitas outras! Correria, trabalho, trânsito, mas no final do dia a certeza de poder me divertir muito com os amigos. Nessa em especial, melhor ainda, pois conseguimos marcar um encontro onde todos do setor poderiam estar presentes. Colocaríamos o papo em dia, beberíamos, flertaríamos, e dançaríamos muito!!!

Cheguei atrasada, e nem pude confirmar se estava de pé o encontro. Eram poucas pessoas no setor, mas “ele” em especial, era o que mais importava, o que queria confirmar era se “ele” iria realmente. Enfim, chegamos ao fim do dia, e para minha decepção, mais uma vez, “ele” foi o primeiro a dizer que não poderia ir. E logo em seguida, quase todos disseram o mesmo. Desânimo total. Só eu e mais um amigo poderíamos ir. Nos olhamos, rimos da situação e resolvemos ir assim mesmo. Estava bem desanimada, mas logo que chegamos, meu amigo pediu duas cervejas, coisa que não devo beber de forma alguma, rs. E não paramos aí, desce mais duas. Papo vai, fofoca vem, e mais duas. Ele afasta, carinhosamente, o cabelo que caiu no meu rosto. Estava uma noite linda, e quente de verão, quente em todos os sentidos, e merecia mais duas. Brincava com minhas mãos enquanto falava. Nunca havia conversado tanto com “L”, era um cara bem divertido, inteligente, super atraente. Engraçado, não havia reparado nisso antes. Resolvemos dançar.

A partir desse momento tudo mudou, não sei se foi efeito da cerveja, da música alta, ou sei lá do que mais, mas já estava olhando-o de forma diferente. No exato momento em que fomos dançar, mudaram pra pagode, parei e disse que não sabia dançar aquilo. Não tenho nada contra, mas não era o meu forte. “L” riu e disse que não precisava saber nada, era só se soltar e dançar, ele levava. Levou bem, bem demais! Senti aquelas mãos firmes me pegarem, aquele corpo colar no meu, e me levar. Parecia que deslizava, nunca imaginei que dançaria assim, tão solta e tão junto daquele homem. Que cheiro gostoso...

Em alguns momentos sentia as pernas roçarem nas minhas, no ritmo da música, como se entrasse pelas minhas, e depois afastava, rodava e voltava colando novamente, sem vontade de desgrudar mais. Ria muito, nunca dancei tanto, até que nossos olhos se encontraram, estranho, o ritmo mudou, ficamos lentos, algo dentro de mim acelerou, nos beijamos. Um beijo louco, cheio de tesão, começando pela língua de leve na boca, a música alta, e nós ali, no meio da pista, quase que sugando um ao outro. Recomeçamos novamente, agora abraçados, levados pelo novo ritmo que se tornava cúmplice do roçar de corpos. Corpos quentes, gritando de tanto tesão, onde podíamos sentir exatamente o que cada um implorava. Paramos, os olhos diziam tudo, recuar seria impossível, não foi preciso falar mais nada, um minuto e saímos dali. “L” estava no Rio de Janeiro há algum tempo e fomos para seu apart, não acreditávamos no que estava acontecendo, mas também nem queríamos encontrar explicação, apenas seguir nossos desejos. E foi assim o resto da noite, durante a madrugada, vendo o dia amanhecer, e por todo o fim de semana, apenas atendendo aos comandos dos nossos desejos, dos nossos corpos, de uma magia que não podia ser quebrada. Mãos ardentes, roupas no chão, bocas carinhosas, línguas exploradoras, encaixe perfeito, movimentos deliciosamente alternados, doces, furiosos...deleite!

Segunda-feira, mais uma, mas essa como nenhuma outra! Correria, trabalho, trânsito, mas no final do dia a certeza de podermos ficar juntos. E foi assim por todo o mês, até "L" voltar para sua cidade. Mas voltou outras vezes, muitas e muitas vezes, e sempre acontecia igual nos encontros, mas diferente em nossas loucuras, em nossos desejos. Era estranho, poderia passar meses, e quando nos encontrávamos o tesão era o mesmo, parávamos tudo para dar vazão a nossa fúria, roçar nossas bocas e coxas, arrepiar nossas almas e preencher nossos vazios!

O “ele” do setor? Nem lembro mais, e graças à decepção, conheci alguém especial como “L”.

(por Manu Hawk - 21/05/2004)

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Respeitem os Direitos Autorais. Incentivemos a divulgação com autoria. É um direito do criador que se dedicou a compor, e um dever do leitor que apreciou a obra. [MH]
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Foto de CarmenCecilia

BRASLEIRO 2 E BRASILEIRO VÍDEO POEMAS

POESIA: CARMEN VERVLOET
EDIÇÃO: CARMEN CECILIA
MÚSICA: AQUARELA BRASILEIRA E BRASILEIRINHO

APRESENTAÇÃO EM VIDEO POEMA E PHOTOSHOP DE TODOS OS ESTADOS BRASILEIROS E SUAS CARACTERÍSTICAS

RONDONIA,ACRE, AMAPÁ, RORAIMA, TOCANTINS, PARAIBA, ALAGOAS, PIAUÍ,RIO GRANDE DO NORTE,MARANHÃO

BRASILEIRO 2:

AMAZONAS, PARÁ, CEARÁ, PERNAMBUCO, BAHIA, SERGIPE, MINAS GERAIS, ESPÍRITO SANTO, RIO DE JANEIRO, SÃO PAULO, PARANÁ, SANTA CATARINA, RIO GRANDE DO SUL,GOIAS, MATO GROSSO DO SUL, MATO GROSSO, DISTRITO FEDERAL

BRASILEIRO:

BRASILEIRO

Tem o gene da cultura plural,
Razão da sua criatividade genial!
Seu sangue, mistura de tantas raças,
Dá-lhe aptidões e graça!
Na pele diferentes cores...
Branca, negra, parda, amarela,
Que lhe dá a tez,
Numa peculiar aquarela,
Tintas por escolhas misturadas,
Neste País por belezas emoldurado!
Cafuzo, mameluco, mulato,
Junção de etnias, vínculo, contato!
Nos olhos o lume voltado ao futuro,
Que clareia a esperança no obscuro!
Povo corajoso, arrojado, inteligente,
Sagaz, intrépido, valente!
Povo arguto, sobrevivente...
Germina sua semente
Em qualquer chão...
Faz dele seu torrão!
Planta suas raízes!
Samba no pé, carnaval e café!
Cerveja e cachaça,
Fermento na massa,
Vinho na taça!
O quadril da mulata,
Um monumento incomparável da raça!
O brasileiro
Distingue-se em qualquer país!
Mostra sua mais forte origem no nariz!
Sua ascendência, sua raiz!
Nos lábios um sorriso feliz,
A alma, sua matriz,
Opção de religião,
Dentre tantas, nesta confederação!

O brasileiro carrega no coração
O mapa da sua Nação
Desenhado em amor e devoção!

Carmen Vervloet

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