Cabeça

Foto de Civana

Chegando aos "enta"... (Escrito em 7/09/2002)

Faltam nove dias pra passar dos "enta"... Como será isso? Olhando no espelho não ocorreram muitas diferenças, alguns pequenos traços de mágoas do tempo. A cabeça, embora lute incansavelmente com as deprês do dia a dia, está muito boa. Lembranças tristes insistem em marcar presença, mas as boas quando querem ser lembradas superam qualquer expectativa.

Vivi muito? Não sei, acho que não. Talvez metade do caminho, pois tenho muita sede de viver ainda! Posso até dizer que vivi muito, quando vejo mulheres na minha idade que não conheceram, nem experimentaram metade do que eu tive oportunidade. Vivi muito porque fui ao Rock In Rio I. Vivi mais ainda porque pude recepcionar todos os grandes cantores que fizeram parte daqueles dias mágicos! Na época trabalhava no Aeroporto Internacional do RJ.
Vivi a loucura da Madonna e o delírio dos Rolling Stones no Maracanã! E voltando pra muito, muuuuito tempo atrás mesmo, vivi no mesmo Maracanã o show escandalizante do Kizz! E muitos outros que não deixei de comparecer, como Aerosmith, Bon Jovi, Titãs...Sempre Titãs! Discoteca? Sim, freqüentei muito!!! Inclusive a que ficava no Pão de Açúcar, que vista!
Futebol? Não ligo, sou Fluminense e nem lembro. Mas época de Copa do Mundo enlouqueço, viro outra pessoa, brigo se ficarem na frente e discuto os passes com meus irmãos, rs. Que santo é esse que baixa, ainda não identifiquei.

Enfim sou um ET? Não, tenho 40 anos e amo música, dançar, caminhar, falar, rir... Nossa, esqueci como eu gostava de rir! Era chamada pelos colegas no trabalho como a felicidade em pessoa, contagiava todo mundo. Estranho, essa "eu" se perdeu no caminho. Ahhhhhh... Não podia esquecer disso, até uma música fizeram pra mim, foi o Ronaldo Monteiro, o mesmo que compôs "Madalena", cantada pelo Ivan Lins no Festival da Canção. Nossa, que festivais no Maracanãzinho! Não me esqueço jamais da voz do Oswaldo Montenegro ecoando por todos os lados com "Agonia"! E o "Planeta Água" de Guilherme Arantes? Ai Ai... Onde foram parar nossos festivais? Onde foi parar nossa música?

Ops, volta a fita muié. A tal música que falei do Ronaldo, foi porque num verão em Arraial do Cabo eu o conheci junto com um grupo de amigos, cheguei a namorar um dos amigos dele. E a tal música acho que foi uma brincadeira dele com a gente. Nem imagino o nome da música, uma vez me falaram que era "Vida de Marisco", mas não tenho certeza. Nem muito menos sei quem gravou, pois fiquei sabendo dela quando cruzei rapidamente com ele no Aeroporto, numa de suas viagens. Uma pena, queria ter escutado... Gente, parece hora da saudade, mas os verões em Arraial do Cabo eram maravilhosos! Ai bateu uma tristeza... Fui pegar o cd do Oswaldo Montenegro e estou ouvindo Bandolins.
Bom, amanheceu o dia e nem dormi. Bom dia dona Insônia e Beijos pra vocês!

(Civana)

Foto de Civana

Navegando no Sono

Como seria deitar a cabeça agora e dormir?
Sentir a suavidade do tecido,
A maciez do travesseiro,
A cabeça pousando lentamente,
E afundando como num filme em câmera lenta...
A brisa entraria pela janela,
O aroma das damas-da-noite no ar,
Somente o luar a iluminar.
Nesse momento respiraria bem fundo,
Ajeitaria a cabeça como se acariciasse o travesseiro,
Mantendo os olhos fechados,
E o coração aberto.
O corpo relaxado se harmonizaria com a cama,
Os pés brincando, alisariam o colchão,
E as mãos, em sintonia com a alma,
Repousariam a frente do corpo,
Como em sinal de oração,
Agradecendo por mais uma noite,
E por esse sono tão desejado...Bem Vindo!

(Civana)

Foto de Fernanda Queiroz

Lembrar, é poder viver de novo.

Lembranças que trás ainda mais recordação, deixando um soluço em nossos corações.
Lembranças de minhas chupetas, eram tantas, todas coloridas.
Não me bastava uma para sugar, sempre carregava mais duas, três, nas mãos, talvez para que elas não sentissem saudades de mim, ou eu em minha infinita insegurança já persistia que era chegado o momento delas partirem.
Meu pai me aconselhou a plantá-las junto aos pés de rosas no jardim, por onde nasceriam lindos pés de chupetas coloridas, que seria sempre ornamentação.
Mas, nem mesmo a visão de um lindo e colorido pé de chupetas, venceram a imposição de vê-las soterradas, coibidas da liberdade.
Pensei no lago, poderiam ser mais que ornamento, poderia servir aos peixinhos, nas cores em profusão, mesmo sem ser alimentação, prismaria pela diversão.
Já com cinco anos, em um domingo depois da missa, com a coração tão apertadas quanto, estava todas elas embrulhadas no meu pequenino lenço que revestia meus cabelos do sol forte do verão, sentamos no barco, papai e eu e fomos até o centro do lago, onde deveria se concentrar a maior parte da família aquática, que muitas vezes em tuas brincadeiras familiar, ultrapassavam a margem, como se este fosse exatamente o palco da festa.
Ainda posso sentir minhas mãos tateando a matéria plástica, companheira e amiga de todos os dias, que para provar que existia, deixaram minha fileira de dentinhos, arrebitadinhos.
Razão óbvia pela qual gominhas coloridas enfeitaram minha adolescência de uma forma muito diferente, onde fios de metal era a mordaça que impunha restrição e decorava o riso, como uma cerca eletrificada, sem a placa “Perigo”.
O sol forte impôs urgência, e por mais que eu pensasse que elas ficariam bem, não conseguia imaginar como eu ficaria sem elas.
A voz terna e suave de papai, que sempre me inspirava confiança e bondade, como um afago nas mãos, preencheu minha mente, onde a coragem habitou e minhas mãos pequeninas, tremulas, deixaram que elas escorregassem, a caminho de teu novo lar.
Eram tantas... de todas as cores, eu gostava de segura-las as mãos alem de poder sentir teu paladar, era como se sempre poderia ter mais e mais ás mãos, sem medos ou receios de um dia não encontrá-las.
Papai quieto assistia meu marasmo em depositá-las na água de cor amarelada pelas chuvas do verão.
Despejadas na saia rodada de meu vestido, elas pareciam quietas demais, como se estivessem imaginando qual seria a próxima e a próxima e a próxima, e eu indecisa tentava ser justa, depositando primeiro as mais gasta, que já havia passado mais tempo comigo, mesmo que isto não me trouxesse conforto algum, eram as minhas chupetas, minhas fiéis escuderias dos tantos momentos que partilhamos, das tantas noites de tempestade, onde o vento açoitava fortes as árvores, os trovões ecoavam ensurdecedores, quando a casa toda dormia, e eu as tinha como companhia.
Pude sentir papai colocar teu grande chapéu de couro sobre minha cabeça para me protegendo sol forte, ficava olhando o remo, como se cada detalhe fosse de suprema importância, mas nós dois sabíamos que ele esperava pacientemente que se cumprisse à decisão gigante, que tua Pekena, (como ele me chamava carinhosamente) e grande garota.
Mesmo que fosse difícil e demorado, ele sabia que eu cumpriria com minha palavra, em deixar definitivamente as chupetas que me acompanharam por cinco felizes anos.
Por onde eu as deixava elas continuavam flutuantes, na seqüência da trajetória leve do barco, se distanciavam um pouco, mas não o suficiente para eu perdê-las de vista.
Só me restava entre os dedinhos suados, a amarelinha de florzinha lilás, não era a mais recente, mas sem duvida alguma minha preferida, aquela que eu sempre achava primeiro quando todas outras pareciam estar brincando de pique - esconde.
Deixei que minha mão a acompanhasse, senti a água fresca e turva que em contraste ao sol forte parecia um bálsamo em repouso, senti que ela se desprendia de meus dedos e como as outras, ganhava dimensão no espaço que nos separava.
O remo acentuava a uniformes e fortes gestos de encontro às águas, e como pontinhos coloridos elas foram se perdendo na visão, sem que eu pudesse ter certeza que ela faria do fundo do lago, junto a milhões de peixinhos coloridos tua nova residência.
Sabia que papai me observava atentamente, casa gesto, cada movimento, eu não iria chorar, eu sempre queria ser forte como o papai, como aqueles braços que agora me levantava e depositava em teu colo, trazendo minhas mãozinhas para se juntar ás tuas em volta do remo, onde teu rosto bem barbeado e bonito acariciava meus cabelos que impregnados de gotículas de suor grudava na face, debaixo daquele chapéu enorme.
Foi assim que chegamos na trilha que nos daria acesso mais fácil para retornar para casa, sem ter que percorrer mais meio milha até o embarcadouro da fazenda.
Muito tempo se passou, eu voltei muitas e muitas vezes pela beira do rio, ou simplesmente me assustava e voltava completamente ao deparar com algo colorido boiando nas águas daquela nascente tão amada, por onde passei minha infância.
Nunca chorei, foi um momento de uma difícil decisão, e por mais que eu tentasse mudar, era o único caminho a seguir, aprendi isto com meu pai, metas identificadas, metas tomadas, mesmo que pudesse doer, sempre seria melhor ser coerente e persistente, adiar só nos levaria a prolongar decisões que poderia com o passar do tempo, nos machucar ainda mais.
Também nunca tocamos no assunto, daquela manhã de sol forte, onde a amizade e coragem prevaleceram, nasceu uma frase... uma frase que me acompanhou por toda minha adolescência, que era uma forma delicada de papai perguntar se eu estava triste, uma frase que mais forte que os trovões em noites de tempestade, desliza suava pelos meus ouvidos em um som forte de uma voz que carinhosamente dava conotação a uma indagação... sempre que eu chegava de cabeça baixa, sandálias pelas mãos e calça arregaçada á altura do joelho... Procurando pelas chupetas, Pekena?

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados

**Texto não concorrendo.**

Foto de Osmar Fernandes

É muito fácil ser bandido, difícil mesmo, é ser gente!

O planeta está repleto do que não presta.

Muito corpo sem cabeça virou lixo.

Afinal, o que nos resta?

Tornar-nos um ermitão?

Ficarmos à mercê do inimigo?

Ovacionarmos esse mundo de trevas?

Ou combatermos essa tribo do cão?

É muito fácil ser bandido,

Difícil mesmo, é ser gente!

Difícil, é ir e vir contente.

Fácil é tropeçar e cair no buraco

Negro do abismo maldito.

Onde achar a saída é esperança quase morta.

Onde esse destino é uma chave sem porta.

Eu não consigo entender o prazer bandido...

Onde matar ou morrer é apenas correr mais um risco.

Onde o sangue inocente não tem nenhum valor.

Não entendo esse mundo em vão!

Onde a falta de amor sufoca e sepulta um irmão.

Onde o homem torna-se um animal mesquinho.

Onde a falta de Igreja o transforma num deus de dor.

É sórdido não ter compromisso com a História.

Ficar esquecido numa cova como um cão sem dono.

Vegetar no mural do desengano.

Morrer sem deixar memória.

Anular sua alma e desistir de si mesmo.

Coisa de quem nunca teve carinho de berço...

É ter como selo na testa a digital da besta.

É fácil pôr a culpa dos seus fracassos em alguém.

Difícil é ter vergonha na cara e enfrentar o problema.

É muito fácil mergulhar na lama!

Difícil, é ter a vontade de livrar-se dessa sujeira.

De se libertar do inferno que é prisioneiro.

De impar a alma desse chiqueiro...

e acordar para sempre desse coma.

Foto de carlosmustang

PARANÓIC BLUES

Sistema de loucura
Laberinto dos deseperádos
Sem enxergar com os olhos abertos
Pensamento largado...

Sem deixar ouvir-se, dentro de um GRITO
Pulmões cheios de ar
Mas ansêia por mais ar...
Saúde perfeita
Mas, a "morte o espreita"!

Na beira do abísmo
Com os pés apoiados
No plano!
E engatinha-se...

A cabeça na tormenta...

TEC...TEC
Mais um cerébro se arrebenta!!!

Foto de PoderRosa

A liberdade de pensar

A angustia permanece enquanto a cabeça pensa
O coração dói enquanto o corpo avança
Passo a passo, pé ante pé
A vontade de chegar demora
O tempo não anda, parece parado
O pensamento voa longe
Vai até o fim do mundo
Viaja entre as estrelas e passeia pelos cometas
Viro poeta enquanto penso
Sinto o frescor do vento no rosto
E minha vida passa pelas lembranças
E percebo que não adianta
Só o tempo vai poder me dar a resposta
Minha vida, seria diferente se seguisse outro caminho?
Seria eu outra pessoa?
Conseguiria enfrentar tudo e todos?
O relógio continua num tic tac incessante
E nunca chega...demora muito
O aperto consegue chegar até na garganta
Os olhos se fecham por alguns segundos
Uma lágrima cai...mas o relógio continua no tic tac
E eu espero mais uma vez
Só pra ver se é hoje...
Percebo que ainda não é
Mas cuido do pensamento
Que ninguém consegue reprimir
Só meus pensamentos me pertencem
Este ninguém pode controlar
Sou eu, a dona dos meus pensamentos
Sou eu quem pode controlá-los
Somente eu...mais ninguém...
Pelo menos, isto ainda não tiraram de mim...
A LIBERDADE DE PENSAR...

Foto de Paulo Gondim

As Águas do Rio São Francisco no Sertão

As águas do Rio São Francisco no Sertão (Cordel)
Paulo Gondim
05/05/2005

Quando o assunto é Nordeste
É só discriminação
Muita gente torce a cara
Com medo da solução
Para o problema da seca
Querendo que prevaleça
Na mesma situação

É assim há muito tempo
Mas já foi bem diferente
O Nordeste já foi rico
Produzindo imensamente
Cana-de-açúcar, cacau
Ouro, prata e muito sal
Riquezas de nossa gente

Há gente que desconhece
A nossa história real
Despreza nossos costumes
E só sabe falar mal
Acho até que nunca ouviu
Que Salvador, do Brasil,
Foi a primeira Capital.
1

Houve até uma proposta
Pro Brasil ser dividido
Do Sul, com sua arrogância
“Feito menino enxerido”
Querendo toda riqueza
Sem se importar com a pobreza
Desse povo tão sofrido

É isso que envergonha
Ser chamado de indigente
Mas é preciso mudar
A cabeça dessa gente
Pois se há uma só terra
Pra que fazer tanta guerra
E querer ser diferente ?

Mas o sertanejo sonha
Com a vida diferente
Se houver água na terra
Nada há que não enfrente
Quer ver seu filho crescer
E poder permanecer
No meio de sua gente
2

Voltemos ao nosso tema
A velha seca de sempre
Um problema do Nordeste
O ganho de muita gente
Por isso que nunca muda
Nessa roleta absurda
Remando contra a corrente

Trazer água pro Nordeste
Sempre foi uma questão
De tão difícil deslinde
E de muita oposição
Se há água em tantos rios
Eis os grandes desafios
Pra irrigar o sertão

Já queria Dom João Sexto
Fazer a transposição
Das águas do São Francisco
Para irrigar o sertão
Mas falta boa vontade
Política de qualidade
Pra resolver a questão
3

Sempre há uma desculpa
Pra seca ser combatida
A vazão do São Francisco
Não pode ser transferida
Pois fere o meio ambiente
Mesmo que toda essa gente
Continue desassistida

É coisa de “ECO CHATO”
Que não sabe o que é sofrer
Pois tem comida na mesa
E água para beber
Sem saber de onde vem
Acha só que ele tem
O direito de viver

É só conversa fiada
De falso intelectual
Quero ver quem é que diz
Fale bem ou fale mal
Que água aqui no Sertão
Pra molhar nosso torrão
Causa impacto ambiental
4

O nosso problema é água
E o São Francisco tem
Qualquer coisa a gente busca
No Tocantins, mais além
Ou até no Araguaia
De onde quer que a água saia
É pra aqui que ela vem

Nossa questão é de clima
Da Bahia ao Ceará
Não é região de chuva
Nunca foi e nem será
Mas temos lençol freático
Um bom subsolo aquático
Mas é preciso cavar

Pra resolver o problema
Da seca no meu sertão
Qualquer esforço é pequeno
Mas falta disposição
De fazer poço ou açude
Até que a política mude
Pra prender tanto ladrão
5

Se na indústria da seca
Muita gente se dá bem
Por outro lado o caboclo
Não ganha e perde o que tem
Nossa política é corrupta
Nela vale a força bruta
Sem ter pena de ninguém

Os poderosos não querem
Com a seca exterminar
Para eles ela é boa
Para o pequeno explorar
A seca é um bom negócio
Pra quem só vive do ócio
Sem precisar trabalhar

A questão é bem mais séria
É de ordem social
Água aqui no meu Nordeste
É ponto fundamental
Pra combater a pobreza
Para aflorar a beleza
Dessa gente tão leal
6

A seca sempre foi um tema
Pra se ganhar eleição
É grande a compra de votos
Afora nesse sertão
E o coitado do caboclo
Por um dinheiro tão pouco
Vota a mando do patrão

E a desculpa continua
Pra água não vir pra cá
Um “ecologista” aqui
Outro “estudioso” lá
Sempre com um mau palpite
Pra que a gente acredite
Que jeito mesmo não há

Mas o jeito aqui é água
Seja do rio ou do mar
Já que com água da chuva
Nunca se pode contar
Se num ano a falta faz
Em outro ano é demais
O jeito mesmo é irrigar
7
Já passou pelo governo
Muito doutor presidente
Poliglota, professor
Se dizendo inteligente
Disse ter a solução
Pra combater o verão
Mas nada fez novamente

É assim há muitos anos
Só promessa, só engano
O rico fica mais rico
E o pobre no desengano
Com a indústria da seca
Onde há água, tem cerca
Onde tem cerca, tem dono

Foi preciso no governo
Um presidente “peão”
Nascido aqui no Nordeste
Que muito dormiu no chão
Mas com coragem e bravura
Sem temor e sem frescura
Retomou essa questão
8

Assunto tão delicado
Essa tal transposição
Das águas do Velho Chico
Aqui pro nosso sertão
Tem que ter coragem rara
Muita vergonha na cara
Pra tomar a decisão

Mas o Presidente disse:
-“Recurso não vai faltar
As águas do São Francisco
Vão o Nordeste irrigar
Eu assumo o compromisso
Nem que tenha para isso
Na cabeça carregar”

O projeto foi mostrado
Em toda televisão
Logo despertou a ira
De toda oposição
Que não quer a melhoria
“Esses tais da ecologia”
“Eco chatos” de plantão
9

Mas o caboclo responde:
-Tenha a santa paciência
Não me venha com a excrescência
Dessa “tal ecologia”
Aqui, nós queremos água
Pra lavar a nossa cara
Pra encher pote e bacia

Está certo o Presidente
E o caboclo também
Errados são esses chatos
Que nem sei de onde vêm
Com tal conversa fiada
Se a água for desviada
Não servirá a ninguém

Também acho que é preciso
Proteger o natural
Mas é muito ecologista
Morador da Capital
Dando palpite infeliz
Metendo em tudo o nariz
Em nome do ambiental
10

Tudo isso tá errado
Povo em primeiro lugar
Não é por causa de um sapo
Que a água não vai passar
Pra irrigar o sertão
Pra ter muita produção
Até pro sapo cantar

Por isso que esse projeto
Deve sair do papel
Bote força, Presidente
Nós cremos no seu plantel
Traga água pro Nordeste
Mostre que é “cabra da peste”
Pro senhor, “tiro o chapéu”

Pra tocar esse projeto
Vai ter muita resistência
Vai ter muito oportunista
Com muita experiência
Com a cara e a coragem
Vai querer levar vantagem
Pousando de inocência
11

Vai ter muita gritaria
De Minas a Sobradinho
De tudo que é “eco chato”
De tudo que é ribeirinho
Com a velha posição
Ser contra a transposição
Que já está a caminho

Já tem morador da roça
Onde a água vai passar
Que pergunta presunçoso
Quem vai me indenizar ?
Mas na sua ignorância
Já desperta a ganância
De algum dinheiro arrancar

Por isso que há tanto tempo
Isso foi adormecido
De propósito ou intenção
Pra não causar alarido
Pois se um quer, outro não quer
Ou por bem ou por má-fé
Melhor deixar esquecido
12
Mas não é assim que penso
Nem a gente do sertão
Eu quero é água na terra
Irrigando a plantação
Eu quero ver a fartura
Nascida da água pura
Que vem lá do Fransicão

Quero ver o bem-te-vi
E ouvir o galo cantar
Ver o roçado crescer
E ver o gado pastar
Sentir o verde da serra
Com água molhando a terra
Que nunca mais faltará

Não quero ver nas cidades
Gente morando em favelas
Crianças abandonadas
Casas sem porta e janelas
Não quero ver minha gente
Infeliz e descontente
Sofrendo dessas mazelas
13
Quero ver o sertanejo
Na sua terra morar
Do seu pedaço de chão
Nunca ter que se afastar
Sem precisar ir embora
Sem destino, mundo afora
Pra longe de seu lugar

Quero ver o meu sertão
Produzindo sem parar
Pra alimentar nosso povo
E o restante exportar
Com faz em Petrolina
Que tem uva da mais fina
Só porque tem água lá

Vamos mostrar que é possível
Transformar nosso sertão
Com água do São Francisco
Sem cometer erosão
Sem modificar seu curso
Sem perder qualquer recurso
Que vem de sua vazão
14

Para proteger o rio
É só fazer “piscinão”
Ao longo de suas margens
Lá pra dentro do sertão
Quando a chuva do Sudeste
Correr aqui pro Nordeste
Ai eles se encherão

Pra tudo se tem um jeito
Só pra morte é que não tem
Quando o povo quer fazer
Não pede nada a ninguém
Vai na raça, vai no grito
Por isso que acredito
Que essa água logo vem

Acredito no meu povo
Na sua força e ação
Nas águas do São Francisco
Pra fazer a irrigação
De tanta terra perdida
Tão seca e adormecida
Mas que dará produção
15

Por isso que quero ver
Essa tal transposição
Das águas do São Francisco
Tão logo pro meu sertão
Pra que o sertanejo ria
Sentindo a doce alegria
De ver a água no chão

Sei que a luta vai ser dura
E muito que esperar
Vai ter muita “cara feia”
Mas é preciso cobrar
Vai ter muita resistência
Ma a nossa paciência
Em breve triunfará

O que não pode é a gente
Olhar o tempo passar
Se conformar com a vida
Sem nada querer mudar
E o São Francisco correndo
Suas águas se perdendo
Quando despejam no mar
16

Foto de Osmar Fernandes

Histórias que o povo conta (atenção! - se tiver medo não leia)

História que o povo conta

Cafezinho das três no cemitério

Três horas da tarde, sol ardente. Hora sagrada do cafezinho dos quatro coveiros, que, sentados em um túmulo, contavam histórias de arrepiar.
De repente, o sol se põe. O tempo obscureceu. Começou a trovejar. O céu anunciou chuva, vento forte, temporal. Amedrontados, perceberam que isso só estava acontecendo dentro das limitações geográficas do cemitério. Foi coveiro correndo pra todo lado.
Nesse momento tremularam catacumbas, túmulos, covas abertas, etc. As folhas das árvores choveram sobre o cemitério. Ninguém enxergava mais nada.
Um dos coveiros, espantado, notou que o portão grande do cemitério ora abria, ora fechava, e batia uma parte na outra assustadoramente. Parecia o badalo do sino de Deus anunciando o fim do mundo. De súbito, observou uma silhueta vultosa, esbranquiçada, tentando se esconder da tempestade. Não compreendendo o mistério e tremendo de medo, de sua boca ecoou um grito pavoroso, dizendo: É alma penada! É bicho feio! Valha meu Deus!
Começara a rezar para São Miguel Arcanjo (A Oração contra as ciladas do demônio...).
Dos outros coveiros, viam-se apenas seus olhos esbugalhados fitando aquela figura estranha que parecia bicho de outro mundo.
Um dos coveiros, tenso, pasmo, seguiu com os olhos aquela “coisa”, que flutuava perdidamente, em ziguezague, em busca de abrigo.
Outro, apesar do momento esquisito e do ser fantasmagórico, só pensava nos túmulos que já tinham sido saqueados. Imaginava que se tratava de mais um vândalo ou de um ladrão, tentando assustá-los. (Poucos dias atrás tinha pegado um idiota defecando em cima de um túmulo. Ao flagrá-lo, lhe dera uns safanões, pontapés – este nunca mais se atreveu a importunar o sono sagrado dos mortos.)
Outro dia, dera falta das inscrições douradas, prateadas, de muitos jazigos. (Os parentes das vítimas exigiram das autoridades, justiça.)
O instante era de apreensão, medo, nervosismo. A ventania não parava. Aquela “coisa” esvoaçava como assombração peregrina... E de repente, sumira.
Um coveiro que não a perdera de vista foi ao seu encontro. Por sorte... se viu diante de um vulto mágico dentro duma cova, levitando. (Aquela cova aberta estava pronta para receber seu ilustre morador, que já estava a caminho.)
Assustado, o coveiro chamou um dos colegas, que ao se aproximar, deparou-se com aquela “coisa” dentro da cova. Foi tomado por uma síncope descomunal... Ao sentir-se vivo novamente, tratou de abandonar seu companheiro, seus pertences e deitou o cabelo...
Outro coveiro vendo aquela cena, aproximou-se, e ao ver aquilo, gritou: Sangue de Cristo tem poder! Isso é alma penada mesmo! Minha Nossa Senhora da Boa Morte! Saiu em disparada com as mãos à cabeça, tropeçando, caindo, se levantando, e aos berros dizia: Deus me livre! É o fim dos tempos! Socorro!
O coveiro, o corajoso, que olhava – a “coisa” resolveu lhe perguntar de supetão: - Que faz aí dentro dessa cova que não lhe pertence?!
E “a coisa” com uma voz trêmula do além, lhe respondeu sem pestanejar: - Vocês não me deixam em paz. Sentam em cima de mim contando histórias cabeludas, mentirosas; e ainda por cima, sujam meu túmulo com farelo de pão, de bolacha, café.
O coveiro, o corajoso, então lhe disse: - Vou chamar o padre para lhe dar a estrema-unção. Você não diz coisa com coisa. Ta louca! Ta na ânsia da morte.
E aquela “coisa” ali, como uma alma penada, engoliu a língua por uns segundos, e lhe respondeu: - Não precisa! Já to morto há muito tempo. Não ta me conhecendo? Sou o Luiz. Você que me sepultou. Não se Lembra de mim, Roberval?
O coveiro perturbado pensou: Santo Deus, isso não ta acontecendo comigo!... Vou buscar água benta e vou jogar em cima desta “coisa esquisita.”
A “Coisa” lhe respondeu aborrecida: - Você e os seus colegas estão usando meu túmulo como cozinha de cemitério. Não façam mais isso. Deixem-me descansar em paz. Quero ter o sono eterno que mereço.
E, falando isso, a alma penada elevou seu espírito até seu túmulo – que se abriu sozinho; ao adentrá-lo, pôde enfim dormir em paz para sempre. Ao repousar em sua última morada, fechou-se o túmulo, e misteriosamente, o temporal cessou.
Os coveiros do cemitério ficaram extáticos ao ver aquela alma se refugiar.
Prometeram que nunca mais usariam túmulos para tomar o costumeiro cafezinho das três.

Autor: Osmar Fernandes,

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"COMO ESQUECER VOCE"

COMO ESQUECER VOCE!!!

Como esquecer você, se seu cheiro esta em mim...
Como esquecer você, se seu gosto é o que eu gosto...
Como esquecer você, se tudo o que quero é você...
Como esquecer seus beijos, se minha boca espera por eles...
Como esquecer seu mel, se é ele que alimenta meus devaneios...
Como esquecer seu corpo, se o meu treme por ele...
Como esquecer seu prazer, se preciso dele para chegar ao meu...
Como viver sem você, se não sai da minha cabeça...
Acho que não sei como esquecer você!!!!

Foto de Mabel

É uma pena

É Uma Pena
Que pena que você fugiu de mim
Que pena que você não quis me conhecer
Que pena que você não deu esta chance para nós dois!!!

Merecíamos muito dividir a nossa dor
Quem sabe daí, não brotaria um novo amor
Não foi por desespero não foi por solidão
Eu realmente queria conhecer melhor o teu coração

Mas, mais uma vez a vida,
Me negou a oportunidade de ser feliz.
E então passo os meus dias com esse fardo pesado
E com essa pergunta sem resposta em meu coração
- Como seria se você estivesse aqui para me tirar da solidão?

Não sei porque, não sei pra que, mas como eu queria te conhecer.
Minha vida quer saber?
Vou tocando como Deus permite,
mas a interrogação fica em meu coração.
- Será que com ele eu estaria chorando assim?

Queria saber como se sentiu
Queria saber o que ficou em sua cabeça
O que passou em seu coração
Mas você se cala
E não me dá o mínimo de atenção...

É uma pena você ter fugido
É uma pena eu não ter te seguido
Pois saiba que se você tivesse aberto seus braços para mim...
Tenho certeza que era neles que eu hoje repousava e me acalentava.
Que saudades do que a gente não conseguiu viver...

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