Brutalidade

Foto de Fredson Leite

Qual o preço do Amor?

Um menino, com voz tímida e os olhos cheios de admiração, pergunta ao pai, quando este retorna do trabalho:
- Pai, quanto o senhor ganha por hora?
O pai, num gesto severo, responde:
- Escuta aqui meu filho, isto nem a sua mãe sabe. Não amole, estou cansado!
Mas o filho insiste:
- Mas papai, por favor, diga, quanto o senhor ganha por hora?
A reação do pai foi menos severa e respondeu:
- Três reais por hora.
- Então, papai, o senhor poderia me emprestar um real?
O pai, cheio de ira e tratando o filho com brutalidade, respondeu:
- Então essa era a razão de querer saber quanto eu ganho? Vá dormir e não me amole mais!
Já era noite, quando o pai começou a pensar no que havia acontecido e sentiu-se culpado. Talvez, quem sabe, o filho precisasse comprar algo.
Querendo descarregar sua consciência doida, foi até o quarto do menino e, em voz baixa, perguntou:
- Filho, está dormindo?
- Não, papai! - o garoto respondeu sonolento e choroso.
- Olha, aqui está o dinheiro que me pediu: Um real.
- Muito obrigado, papai! - disse o filho, levantando-se e retirando mais dois reais de uma caixinha que estava sob a cama.
- Agora já completei papai! Tenho três reais. Poderia me vender uma hora de seu tempo?

Você conhece alguém assim? E você? Será que está ao menos dando a chance às pessoas que te amam de comprar um hora de seu precioso tempo?

Foto de Karine K.

Calada

Nesses dias minha alma vaga
marcada pela ausência de tuas mãos
teus olhos azuis mascarados
fogem para perto de um céu encantado

Ergo-me dessa cama negra
para insinuar meu corpo de fantasma
numa esquina de avenida qualquer
nessa cidade que urgi um mesquinho infinito acabado

Posso ver as vaidades demudando em faces vermelhas
à espera de serem apanhadas por garras afáveis
Oh, malditos são meus olhos reluzentes
que isenta toda essa brutalidade

Há sempre alguém que a mim se refira
como parte vil de toda essa escumalha
onde o infante ilusionista expõe com gracejo
as mundanas conquistas
numa vitrine cheia de carnes altercadas

Nesse coração vazio que um dia amanhecera
tocado por tuas quimeras vomitadas
esvaece sobre um ébrio sombrio
e segue moribundo dilacerando
a última gota de suor virginal

Não me culpes por beber o gozo do Diabo,
aquele que me afaga em noite estrelada
e acalma meu corpo inquieto
que corre sem parar
buscando o Éden das mil cores num nada.

Foto de Senhora Morrison

Liberta

Livra-me do seu sentimento de posse.
Amar, não sabe o que é.
Livra-me do seu moralismo vil.
Honra, nunca tivestes.

Ris da dor alheia
Mas não suporta a tua própria
Engenhava-me mais sofrimento
E tivestes minha devoção!

Chama-me verme
Julga-se forte, viril.
Mas faz-me seu escoro
Seu chão, para que pise, pise...

Só sabe ploriferar o medo
Ganhas-me no grito
Violenta minhas entranhas
Sempre que se sente só

Eu que parecia lhe dever
Nunca ousaria seus olhos
Dei-te a submissão
Fui-te um depósito de gozos, esporros...

Era só o que valia
Só o que me fazia valer
Diante de um semblante psicótico
Acompanhava-me da incapacidade

Almejar-se-ia seu reconhecimento
Se não lhe descobrisse agora
Tão fraco, tão fora.
De realidade que ainda desconheço

Tu foste meu primeiro, meu único.
E com mãos de ferro
Marcava-me com sua brutalidade
Com prazer em me sangrar

Jamais saberia ter força olhando estas marcas
Não poderia sequer tentar fugir
De sua presença negra e duras palavras
Mediante suas perspectivas

Nunca tiveste um horizonte
Não me mostraste as rosas do mundo
Deixara as pétalas a outras
E me enfeitava de caules e espinhos

Acostumaste-me a pouco amor
Mas minha alma já cumpriu sua sentença
Agora que com fôlego caminho para a luz
Sinto-te ainda mais agressivo

Nunca me ganhaste
Não me amedronte
Mesmo em flagelos irei recomeçar
Aqui ou em qualquer lugar

Vou curar minhas feridas
Com minha saliva
Tenho a mim
E isto me basta

A dor me abriu os olhos
Vejo-me tão capaz
Vejo que te suportei além
Sozinha será mais brando.

Suas ameaças já não me martirizam
Tão pouco o cumprimento
Nunca tive nada a perder
Não me destes nada

Vou antes de tudo acontecer
Antes que nada se faça
Ainda que respiro
Agora que me livro...

Então dormes homem
Que ontem foste digno do meu amor
Dormes que enquanto isso
Vou para onde não alcance seu cheiro

Que seja embalado em sonhos malditos
De murmuras e lamentos
E que quando desperte
Tenha uma vida em sofrimento

Aqui jaz tudo que fui pra ti
Neste ímpeto de coragem
Deixo-te, a querer que esqueça.
Que um dia existi...

Senhora Morrison
30/05/2006

Foto de RuFiAzInHa

][ Indeferença pelos sentimentos ][

Tive que me armar em estúpida
Fingir que nada via
Para conseguir ver-te partir...
Tive que me isolar de tudo
Tentei não lembrar-me de ti
Pois corria o risco de pensar em tudo
E todo o meu mundo se desmoronaria...
Tive que tratar as pessoas com brutalidade
Para que não me falassem mais de ti...
Tentei não te procurar...
E para tentar conseguir seguir
Para tentar dar mais um passinho para a frente
(Pois senti que precisava disso)
Fugi do meu mundo!
E aí...
Formei uma barreira circundante ao coração
Para não olhar para trás!
Agora pergunto-me se valeu de algo!?
Não sei...
A vontade de te procurar continua lá...
A saudade permanece lá...
O receio de que me falem de ti continua lá...
O medo de olhar para trás permanece lá...
Lá... quem me dera que tudo permanecesse lá,
Mas não... tudo permanece aqui...
No meu coração!
As lágrimas continuam a cair...
O desejo de te ter ao meu lado é cada vez maior...
As saudades de ti corrempem-me
Até ás minhas profundezas!

Estou prestes a fazer algo...
Seja o que for...
Tudo.. menos ficar aqui, assim!
E continuo a olhar em frente
Mesmo sem nada ver...

Foto de joão jacinto

O deus Homem

Dependemos da normalidade,
que nos criou.
Sentimos medo do tempo.
Intuímos a grandeza esmagadora,
da imprevisibilidade apocalíptica da natureza
e vivemos em culpa,
pelas exigências altruísticas ao próximo.
Amamos,
temendo a brutalidade do Deus,
criado à medida das necessidades
e dos vícios do Homem.

Foto de Marco Magalhães

Amor sem dor

Existe algo maior que o amor?
Algo tão grandioso sem essa dor?
Junto ao abismo tão intensamente,
Me perguntara idealisticamente.

Misericordiosissimamente,
O vento me sussurrava assim.
Maior que o amor contundente,
Só o amor sem grande frenesim.

Esse amor na complementaridade,
Com naturalidade por aí existe,
Graciosamente vence a brutalidade,
Muito raramente o deixará triste.

Olha, e descobrirás na amizade,
Esse 'amor', essa grande verdade.

Foto de TrabisDeMentia

De repente

Assim,
Não mais que "de repente"
Passaste por mim
Me atropelaste com tua sofreguidão
Me deixaste ali, desfalecida no chão
Lábios sangrando, no corpo as marcas das tuas mãos
Que mal eu te fiz?
Para largares em mim o cheiro do teu suor
E este sabor que não me larga a boca?
Passaste por mim com uma ansia louca
E com uma brutalidade sem fim me tomaste á força.
Pra quê? Pra me deixares sofrida?
Sai de vez minha vida.
Sai de cima de mim.

Foto de Senhora Morrison

Liberta...

Livra-me do seu sentimento de posse.
Amar, não sabe o que é.
Livra-me do seu moralismo vil.
Honra, nunca tivestes.

Ris da dor alheia
Mas não suporta a tua própria
Engenhava-me mais sofrimento
E tivestes minha devoção!

Chama-me verme
Julga-se forte, viril.
Mas faz-me seu escoro
Seu chão, para que pise, pise...

Só sabe ploriferar o medo
Ganhas-me no grito
Violenta minhas entranhas
Sempre que se sente só

Eu que parecia lhe dever
Nunca ousaria seus olhos
Dei-te a submissão
Fui-te um depósito de gozos, esporros...

Era só o que valia
Só o que me fazia valer
Diante de um semblante psicótico
Acompanhava-me da incapacidade

Almejar-se-ia seu reconhecimento
Se não lhe descobrisse agora
Tão fraco, tão fora.
De realidade que ainda desconheço

Tu foste meu primeiro, meu único.
E com mãos de ferro
Marcava-me com sua brutalidade
Com prazer em me sangrar

Jamais saberia ter força olhando estas marcas
Não poderia sequer tentar fugir
De sua presença negra e duras palavras
Mediante suas perspectivas

Nunca tiveste um horizonte
Não me mostraste as rosas do mundo
Deixara as pétalas a outras
E me enfeitava de caules e espinhos

Acostumaste-me a pouco amor
Mas minha alma já cumpriu sua sentença
Agora que com fôlego caminho para a luz
Sinto-te ainda mais agressivo

Nunca me ganhaste
Não me amedronte
Mesmo em flagelos irei recomeçar
Aqui ou em qualquer lugar

Vou curar minhas feridas
Com minha saliva
Tenho a mim
E isto me basta

A dor me abriu os olhos
Vejo-me tão capaz
Vejo que te suportei além
Sozinha será mais brando.

Suas ameaças já não me martirizam
Tão pouco o cumprimento
Nunca tive nada a perder
Não me destes nada

Vou antes de tudo acontecer
Antes que nada se faça
Ainda que respiro
Agora que me livro...

Então dormes homem
Que ontem foste digno do meu amor
Dormes que enquanto isso
Vou para onde não alcance seu cheiro

Que seja embalado em sonhos malditos
De murmuras e lamentos
E que quando desperte
Tenha uma vida em sofrimento

Aqui jaz tudo que fui pra ti
Neste ímpeto de coragem
Deixo-te, a querer que esqueça.
Que um dia existi...

Senhora Morrison
30/05/2006

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