Braços

Foto de Arnault L. D.

Castelo e flor

Na rua, uma sombra alta e triste
ergue-se dentre a névoa gélida;
noite suspensa de um passado.
Tal braço, retesado em riste
do afogando, mão a buscar vida
e um mistério no tempo guardado.

Alta torre faz relevo à vista,
contrasta ao azul, somando ao céu.
Nuvens bordam a moldura entorno;
acima, janela a lua avista
e a filtra em vitrais, a luz pincel...
Quadro vivo, tela o chão, adorno.

Vestígios da beleza em ruína,
restos de sonhos, solvem a volta,
dos risos, dos casos em segredo.
Degraus subindo o mármore a cima,
ligando ao nada a ilusão solta...
Velhos fantasmas a trazer medo.

Apenas restou o que se ergue,
pois, mais ninguém, mais nada lá ficou.
Junto a ultima gota que verteu,
taça de cristal, vinho, e sangue,
estilhaçada a vida se quebrou.
Por testemunha a noite, que esqueceu.

O solo pontilhado de luar,
vazando aos vidros coloridos;
cintilou em matizes de carmim,
que a aurora escureceu ao raiar.
Revelando os Reis adormecidos,
em uma noite, que não teve fim.

Mas, o Sol não trouxe a claridade
que rompesse a densa névoa escura,
que encerrou dentre a alvenaria,
atrás de portas, paredes, grade.
Causas, culpas da história, pura,
não se soube, o oculto não traia...

E veio o anoitecer novamente.
Trancou as portas, fechou as grades,
cerrando as cortinas e os portões...
Desbotando tons, e o inconsciente
se encarregou de criar verdades.
Por provas, fez de mitos as razões...

Recolhido entre as salas desertas,
os anos a somar o abandono
pilharam a beleza em pedaços.
Abrindo furos, rasgando frestas.
E o dormir deste eterno sono,
Morfeu colheu por entre seus braços.

Tudo agora é escombro somente;
cravado à cidade, triste confim
de velhos espectros e da sombra.
Partilhado ao mendigo, indigente,
covil de ratos, aranhas, capim,
que feri aos olhos frágeis que assombra.

Mas, longe da escuridão, um alguém
guardara a lembrança, a luz vencida.
Que afundou-se aos relógios se pôr.
Lembrando a quem, já a muito além...
por tantos anos, por toda vida.
Posto uma prova que houvera o amor.

Solitária rosa, deixava ali.
Em data exata, quando ao ano vem:
De aniversário um presente terno,
no envelhecer do castelo e a si...
Até que a noite deitou-se também,
a pele esfriando-lhe de inverno.

E a ruína, assim, ficou mais só
e a historia, tornou-se rumor.
O castelo apartou-se do mundo,
sequer memória, saudade, ou dó.
Como se sempre ele fora a dor;
tal de canto algum oriundo...

Quiçá, a torre, querendo altura,
qual mão, apenas anseie outra flor,
pelo céu procurando a encontrar...
E para não quebrar-se a jura,
fez das pedras, pétalas, por amor.
Fez-se o castelo uma rosa a murchar.

Foto de Alexandre Montalvan

Perdão

Eu me disfarço de pesadelos e pensamentos

Faço tudo pelo tempo como a noite ou o dia

Que talvez você diga em apenas um momento

Vira o mundo espanto chama ardente tormento

E me tolhe de repente desta aventura errante,

Tão distante palpitar

Sou feito sangue que jorra, feche o livro por ora

Abra os olhos antes que a fera que devora te olhe

Espere que eu parta, não tenho mais desejos

Você é a dor do mundo inteiro e queima

Como ondas de fogo que teima

Em me matar

Não fazes parte deste tempo, é o abrir de uma janela

E me ver no amanhã, como fosse um maldito retrato

Disforme inchado sem perna ou braços, sem boca

Gritando . . . perdão!

Alexandre

Foto de Ronita Rodrigues de Toledo

DELÍRIO

Num momento degradante,
Entre palavras tortuosas,
O expulsa impiedosa
E ele sai sem hesitar...

Ao abrir a sua porta,
O vento da noite fria
Invade a sala vazia
E faz tudo se calar...

Na vastidão da noite cinza,
Na janela o emoldura
E vê seu vulto a se perder...

Se tranca em seu quarto
Para fugir do desespero,
Lança a face ao travesseiro
Para as lágrimas conter...

Enquanto traga de um copo
Para o desejo embriagar,
Fantasmas sorrateiros,
Flutuando no cinzeiro
Seus lábios vão beijar...

Desejara nesse instante,
Fosse só por um momento
Te-lo em seus braços
Como o tem agora o vento

Na solidão do quarto frio,
Divagando em pensamentos,
Mergulhada em seu pranto
Ela vai adormecendo...

Em meio a desatinos,
Entre soluços e gemidos,
Ouve a voz de seu amado
A sussurrar em seus ouvidos...

E num delírio profundo
Sente o corpo flutuar...
No aconchego de seu mundo,
O amor se perde
Ao se encontrar...

Ronita Marinho
Registro BN

Foto de Ronita Rodrigues de Toledo

ABISMO

Vou andando por aí
meio afobada
a procura de mim...

Corro ruas,avenidas,
dobro esquinas,
vou de encontro
a contra mão.

Meu relógio parou,
é inverno
o sol se ofuscou...

Escrevo o passado a giz,
apago as tristezas
e arrisco dizer
que fui feliz...

E o vento da noite
vem me falar:

-A vida é mesmo assim!
Posso e falo por mim
que ontem bramia
com a tempestade no mar
e hoje sou briza solitária
na noite fria a sussurrar...

E... vou andando por aí
na companhia
do meu grito calado,
escalando o abismo
que há em mim...

Vou em busca de outros braços
para abraçar meu abraço
e eu possa, quem sabe um dia...
encontrar-me
em fim...
Ronita Marinho - BN

Foto de Joaninhavoa

Morfina

+++
++
+
«Snifou morfina, Morfeu
para seus braços abrir
e os fechar em abraços
que são de morrer a rir.

Seduziu matéria viva
romantizou a fantasia
Sonhou qu`m dia havia
d`criar veludo e sanguínia

Rodopiou escarabichou
catou e muito tateou
mas não experimentou

A droga do significado
do dormir bem, significante
só nos braços d`Morfeu.»

Joaninhavoa
(HelenaFarias)
2013/04/24

Foto de Xufia

A história de um menino especial

Olá. Eu sou um menino, tenho 5 anos. Como ainda não sei escrever, e só sei ler o meu nome, quem vai começar por contar a minha história vai ser a minha mãe, segundo o ponto de vista dela. Talvez daqui uns anos, seja eu a contar...

O meu menino nasceu há 5 anos atrás, com 3450kg, e 50cm. Ainda me lembro de tudo como se fosse hoje. As dores foram horriveis, mas apesar disso o momento mais especial, o momento pelo qual pensamos e sentimos que valeu apena todo o esforço foi quando o colocaram nos meus braços, encostado ao meu peito. É uma sensação única...

A gravidez do Daniel não foi planeada, eu tinha 21 e meu marido é dois anos mais velho. Casamos, e fomos viver com os meus sogros durante os primeiros dois anos de vida do Daniel. Para mim, foi uma das épocas mais dificeis da minha vida, mas não quero nem estou pronta para falar desse assunto, até porque esta história é do meu filho e não minha...

O primeiro sorriso, os primeiros dentes, os primeiros passos...ocorreram todos dentro do espaço de tempo esperado no desenvolvimento de uma criança. Era, e é, um miudo muito barulhento, mas na altura não falava, fazia apenas sons.

Os pediatras diziam que era uma atraso na fala, até tivemos uma médica que dizia que a culpa era nossa por não o estimularmos o suficiente. Chegou a ser operado aos ouvidos, com receio de algum problema auditivo mas nada.

Os avos maternos e paternos, sempre nos ajudaram quer a nivel financeiro quer a nivel de criar o Daniel. E começamos à procura.... uma altura também ela muito complicada, mas que fica para outro dia...

Xufia***

Foto de Carmen Lúcia

Perdida(mente)

Perdidamente, me pus em teu caminho.
Bebi tuas palavras, sorvi teus devaneios,
aspirei os teus suspiros, desvirtuei teu ninho,
sagrei os teus segredos, rompi teus entremeios.

Perdidamente, cruzei o teu destino,
lambi o teu suor, saboreei teu vinho,
desalinhei tua rota, arrombei tua porta,
mudei a tua sina... em direção a mim...

Perdidamente, joguei-me em teus braços,
forcei os teus abraços, me ofereci a ti,
forjei teus sentimentos, ceguei-me à realidade
e entre delírios loucos...aí que me perdi!

(Carmen Lúcia)

Foto de Maria silvania dos santos

Venha, quero sem limites te devorar

Venha, quero sem limites te devorar

_ Venha, envolva em meus braços, juntos sentirmos um só desejo, entre caricias e beijos, deixe o calor, o suor da minha pele banhar o teu corpo, nossos liquidos se misturar e se aconchegar em um só lugar...
_ Deixe que o desejo do meu corpo te deixe loco...
_ Deixe a essência do nosso amor transborda a qualquer lugar, vamos juntos delirarmos , libidos em juras de amor eternos...
Percebas-tu, que a sua essencia es contagiante e me deixa ofegante, venha delirar em meus braços fazermos trocas de amaços...
Durante a noite, sozinha, não posso suporta, nua , pronta a me entregar, quero dos meus desejos me liberta...
Venha, mergulhe nesta loucura de amor, é que meus desejos já transbordaram, minhas fantasias aumentaram...
Suga de mim este mar de desejo que me tira o sono, durante a madrugada, lembro de você e sinto um desejo que me consome, começo naturalmente a rebolar , imaginando em seus braços estar, quero mergulhar em teu corpo, sentir teu calor, é que já sinto o cheiro de amor que no meu corpo já exalou;..
Te imagino com seu membro já esposto, já na mira de penetrar, quero senti-lo, inteiramente e gulosamente minha entranhas a sugar, quero sentir seu liquido dentro de meu utero jorra, em seguida com minha lingua aspera com sede de sugar, aproveitar cada gota de esperga que escapar...
Venha, quero sem limites te devorar, suas fantasias a qual for realizar!...
Autora; Maria silvania dos santos

Foto de Asioleh

Sua Perda

Hoje acordei em prantos,
sonhei que te perdia,
que por outro alguém,
me deixaria...
Me deixaria aos prantos, ao lamento,
minha dor inesplicávelmente desesperadora,
sem vergonha, nem medo,
eu chorei, chorei a dor insuportável que senti
a dor de ter que te ver partir.
Partir nos braços de alguém,
partir para todo sempre,
ali eu era apenas um ser impotente,
que não podia gritar, te roubar,
apenas me conformar e chorar.
Chorar ao te ver no altar,
desmoronando o meu sonhar,
não tenho mais saída
pois não tivemos despedida,
você não me disse adeus,
e eu não te desejei sorte,
hoje quero apenas a morte.
A morte amiga que venha me buscar,
porque eu não quero mais chorar.
Minha alma já se perdeu, está escura como o breu.
Minha dor não tem mais cura, em mim existe apenas amargura,
esperando minha sepultura.

Foto de Alexandre Montalvan

Profecia

Enxague o sangue das tuas chagas
Sem forças se entregue à fantasia
Os braços abertos na pura ironia
Abraça o teu povo em tuas asas.

Teu peito transpassado pela lança
Lançada pela mão do destino
A esperança da vida é teu hino
Um desafio à morte, a desesperança.

É teu este imenso e diverso universo
Fonte da loucura e eterna melancolia
Espinhos de fogo encravados e imersos
Em tua coroa de rei, já tão sombria.

Afaste-se deste copo de cerveja
Também desta disforme fantasia
Recolha as moedas sobre a mesa
E passe para outro a profecia.

Alexandre Montalvan

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