Um poeta morreu de velhice
e foi para o céu apressado,
pois, achou que seria tolice
ver seu corpo sendo enterrado.
Deu adeus à terra densa,
despediu-se do cachorro
e foi atrás da recompensa,
voando por cima do morro.
Alegre como a criança
que deu seu primeiro passo,
voou rápido na esperança
de ver-se logo no espaço.
Passa pertinho da lua,
sua fonte de inspiração,
pára um pouco, flutua,
e fica prestando atenção.
Lá da terra, pensa ele,
a lua é muito mais bela;
ver um luar como aquele
e daqui, areia amarela?
Retoma seu vôo, frustrado,
mas continua a viagem
em busca do céu esperado
ou de uma bela paragem.
De repente leva um susto
e é quase atropelado,
um cometa passa justo
na frente do pobre coitado.
Lá de baixo, logo pensa,
isso é um estrela cadente
sua luz é mais intensa
e atende os desejos da gente.
Já com saudades da vida,
e muito desapontado,
de maneira decidida,
faz a volta apressado.
Mesmo morto, se consola,
e sem os desejos da carne,
posso ver jogo de bola
e curtir o meu desencarne.
Escrever poemas com rima
à sombra de um belo carvalho
e ficar olhando pra cima
sem ter que pensar em trabalho.
Ver de novo a lua nascendo,
curtindo, sentado no chão,
contando cometas descendo
até a próxima encarnação.