Álcool

Foto de pttuii

Monta-me

As letras eram bem desenhadas. Perfeitas de mais.
Um preto afirmador parecia realçar cada curva.
Sete letras, e um tracinho pelo meio, escritos ao fundo de umas costas que brilhavam ao sol do meio da tarde.
Monta-me
Assim se lia semelhante palavra. Chegou à terra a dona da referida incrustação, na única carreira rodoviária de que o povo dispunha. Nada tinha de cavalo, embora uns traços de mula até que assentavam bem no todo que galgou os dois degraus da coxia da viatura.
Ventava um pouco, coisa que até veio por bem em dia de semelhante calma. E a mulher a mostrar o umbigo. Na praça central, junto ao coreto onde o autocarro normalmente pára, estava sentado o homem mais velho da povoação. E o
Monta-me......,
saltou logo à vista.
Pouco instruído, Ti Gama de sua graça dominava as letras o suficiente para perceber coisas pouco habituais. E se aquilo era pouco habitual. Saltava à vista um pedacinho de tecido curto, pouco abaixo do peito da fêmea. Quarenta graus, e dois bicos tesos como as tetas de uma vaca a pedir ordenha.Chegou armada com uma mochila dos estrangeiros. Aquelas coisas enormes, que quase só se vêem na televisão às costas do ‘cámonis’ de pêlo louro. A bagagem era maior que aquela meia leca. Ti Gama não conseguiu ver os olhos à pequena. Mas o sol.
O raio do reflexo que aquilo fazia no fundo das costas da moça.A bengala do velhote cravou-se na poeira do alcatrão, o homem levantou-se....e andou. As botas cardadas pesavam em dia de torreira, mas Ti Gama não descravava os olhos do preto daquela coisa. A jovem entrou na cabine da Rodoviária da terra. Pareceu ter ido comprar o bilhete de regresso.A cena, em poucos segundos, transferiu-se para um tascozito rafeiro. Coisa sem classe, mas que ia aguentando por ser o único na aldeia.
- Indicava-me o WC?
Voz maviosa tem a rapariga. Ti Gama estava hipnotizado. Sentou-se ao balcão e esperou. Tirou do bolso das cerolas um estojo dourado. Lá dentro meia onça de tabaco. Uns restozitos assentaram nos dedos do velhote, e foram cair em cima da mortalha. Enrolou o cigarrito, e antes de o acender já a jovem tinha voltado.
- Uma cerveja sem álcool, por favor.
O dono do tasco, cujo nome não vem ao caso, disse que não tinha. Só ‘mines’. A rapariga pediu uma cola. Ti Gama esperou que o gargalo se encostasse aos lábios da cliente, e disparou, ....sem pudores.
- A jovem desculpe, mas é alguma égua?
Resumindo uma longa história, em poucas palavras, quem sofreu foi a bochecha direita do idoso. A menina saiu à pressa, Ti Gama deixou cair o cigarrito, e o dono do tasco brindou-o com um:
- Você não tem mulher em casa?
Ti Gama nem respondeu. A bengala cravada no soalho, as botas cardadas a arrastar, e uma dúvida a assombrar-lhe a moleira debaixo da boina...Terá Deus criado mulheres cavalos?

Foto de Dirceu Marcelino

MIRAGEM DE AMOR I - Vídeo Poema com poesias de DIRCEU e LU LENA

MIRAGEM I

A festa acabou! O álcool não anuvia
Mais minha mente. E outra vez me embriago,
Não com bebidas, mas tão só a poesia
Embriaga-me. Enchendo o coração já vago,

Com um amor que sonho noite e dia,
Com a esperança que em meu peito trago
Penso abraçar-te mulher que extasia
Minh’alma! Para receber teu afago.

Ergo a taça prateada e mui brilhante,
Imagino-te esbelta e radiante.
Brindo!!! Vendo na copa tua imagem.

Vejo o ardor dos verdes cintilantes,
De seus olhos, magnetismo contagiante
E me ponho a chorar, pois é uma miragem.

(Dirceu Marcelino )

TOCA-ME

Com teu coração
em descompasso de
desejo no meu corpo
nú...

Desliza tuas mãos no
contorno de minhas
ancas que vibram
ao teu toque...

Demora-te em meus mamilos
túmidos e sugue-os
deliciosamente...

Acopla-me a ti
e deixamo-nos embalar
como as ondas mornas do mar
faça-me naufragar
e nessa umidade quente
de teu gozo

Toco as estrelas
e sinto que vou emergir
arrumas entre teus dedos
meu cabelo em desalinho
no teu peito me aninho
satisfeita e refeita
suspiro e adormeço
na plenitude do nosso
silêncio...

Atreves-te e me atiça

novamente com um beijo...

(LU LENA )

Foto de Vadevino

BEBUM

Abriu a latinha...
Num só gole bebeu!
O álcool subiu;
O juízo desceu!

Foto de Sirlei Passolongo

Teu vicio e religião

Sou a lágrima da tua saudade
A febre que jamais te abandona
E a de te consumir...

Sou o delírio da tua solidão
O álcool do teu elixir.

O fio que separa teu sonho doce
Da insana razão.
Sou teu vicio e religião.

(Sirlei L. Passolongo)

.

Foto de Dirceu Marcelino

MIRAGENS DE AMOR I e II

*
* M I R A G E M - I
* ( transcrição, de poesia escrita em 1975 )
*

A festa acabou! O álcool não anuvia
Mais minha mente. E outra vez me embriago,
Não com bebidas, mas tão só a poesia
Embriaga-me. Enchendo o coração já vago,

Com um amor que sonho noite e dia,
Com a esperança que em meu peito trago
Penso abraçar-te mulher que extasia
Minh’alma! Para receber teu afago.

Ergo a taça prateada e mui brilhante,
Imagino-te esbelta e radiante.
Brindo!!! Vendo na copa tua imagem.

Vejo o ardor dos verdes cintilantes,
De seus olhos, magnetismo contagiante
E me ponho a chorar, pois é uma miragem.
*****

MIRAGEM – II - ( nova )

Assim era que te imaginava. Confirmo...
Antes de ler essa bela e profunda poesia.
Sim, ao lê-la e após ver-te Mulher, reafirmo...
És a musa que há tanto me extasia.

Pois, em meus sonhos te vejo sempre no cimo,
Dos montes ou no vale onde tu nascias,
Como num fio d’água cristalina e me animo
A dizer: És soberana e com galhardia

Tens a vida da Mulher que superestimo
Eis que jovem, mui vivida, não deprecia,
Nem tuas amigas, ninguém, sequer o último

Dos teus fãs, e, ainda afaga-lhe com carícia
E permite que a veja e assim me reanimo,
Lhe agradeço, por ser seu amigo. Delícia...

Foto de Mentiroso Compulsivo

Aquele Encontro!

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Não foi fácil aquele nosso encontro.
Foram muitos os dias repletos de aflição.
E a longa espera que sufocou, pouco a pouco,
Fez a tua alma explodir a grande emoção.

Chegaste quieta, talvez envergonhada,
De ti, de mim, da nossa situação.
Fomos a um bar tentar encontrar a saída,
Para nos aliviar de toda aquela tensão.

Em instantes, a bebida gelada já descia no peito
Que ardia dentro de ti, em brasa, por um amor.
Ao teu sorriso emprestei-lhe um beijo,
Para acalmar o receio de teu temor.

Nos teus olhos eu encontrei um e outro,
Doce pedaço de um passado que ficou.
Lembranças de tempos felizes, agora oco,
Escritas com lápis, que uma borracha apagou.

Notei desfazer-se, tão facilmente, a tua imagem,
Da tua face de dor (a mais profunda desta vida).
Eu, com algum calor, quis transformar a paisagem,
Trocamos os copos da bebida servida.

Porque perdida naquele bar te vi cabisbaixo,
Para ti o elixir do álcool forte na poção gelada.
E para mim o licor que gotejava pela tua face abaixo,
Cocktail de uma e outra lágrima doce e salgada.

© Jorge Oliveira 7.MAR.08

Foto de Raiblue

Notas molhadas...

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Nos jardins suspensos
Das Babilônias
Do meu eu sedento
Deslizam serpentes

Desejo destilado
Álcool diário
Erógena zona
Mente em desvario

Nilo de segredos
Leitos de espumas
Sobre as dunas
Do meu Egito

Embalsamados
Os sentidos
Em sinfonias
De gemidos

Noturno de Chopin
Champagne banhando corpos
Em doses de êxtase
Orgasmos evocam!

E explodem estrelas
No ápice da orquestra
E os corpos ressoam
Notas molhadas de espasmos...

Convulsão de astros
Conjunção de corpos
Entre sonatas e sonetos
Se deitam, amantes eternos...

(Raiblue)

Foto de Mentiroso Compulsivo

O Actor

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Cansei-me.
Desliguei o leitor de CD’s, fechei o livro, e rodei do sofá para o chão. Cheguei à janela, afastei as cortinas. Chovia a “potes”.

Fui comer. Voltei à janela. Já não chovia. A noite estava escura, o ar, fresco da chuva, cheirava a terra molhada; a cidade lavada. Vesti a gabardine e saí.

Cá fora, a cidade viva acolheu-me. No meio dos seus ruídos habituais, nas luzes do passeio. Percorri algumas casas e vi um bar um pouco retirado. Era um destes bares que não dá “muitos nas vistas”, sossegado e ao mesmo tempo, barulhento.

Com alguns empurrões, consegui passar e chegar ao balcão. Pousei o cabo do guarda-chuva na borda do balcão e sentei-me. O bar estava quente e o fumo bailava no ar iluminado. Senti o cheiro a vinho, a álcool. Ouvi as gargalhadas impiedosas de duas mulheres e dois homens que se acompanhavam. Deviam ser novos e contavam anedotas. Eram pessoas vulgares que se costumam encontrar nas pastelarias da cidade, quando vão tomar a sua “bica” após o jantar. Estes foram os que mais me atraíram a atenção. Não, esperem... ali um sujeito ao fundo do balcão, a beber cerveja...
- Desculpe, que deseja? – perguntou-me o empregado.
- Ah! Sim... um “whisky velho”, por favor.
Trouxe-me um cálice, encheu-o até ao meio e foi-se embora.

Bebia-o lentamente. O tal sujeito, desagradável, de olhos extraordinariamente brilhantes, olhou para mim, primeiro indiferentemente, abriu a boca, entortou-a, teve um gesto arrogante e voltou o rosto.
Estava mal vestido, tinha um casaco forte, gasto e sapatos demasiado velhos para quem vivesse bem.
Olhou-me de novo. Agora com interesse. Desviei a cara, não me interessava a sua companhia. Ele rodou o banco, desceu lentamente, meteu uma das mãos nos bolsos e veio com “ares de grande senhor” para o pé do meu banco.
O empregado viu-o e disse-me:
- Não lhe ligue... é doido “varrido” e “chato”.
Não lhe respondi.
Entretanto, ele examinava-me por trás e fingi não perceber. Sentou-se ao meu lado.
- É novo aqui?!... – disse-me
Respondo com um aceno.
- Hum!...
- Porque veio? Gosta desta gente?...
- Não os conheço – cortei bruscamente.
Eu devia ter um ar extremamente antipático. Mas, ele não desistiu.
-Ouça, - disse-me em voz baixa, levantando-a logo a seguir – devia ter ficado lá donde saiu, isto aqui não vale nada. Vá-se por mim... Está a ver aqueles “parvos” ali ao canto? Todos reparam neles... levam o dia a contar anedotas que conhecem já de “cor e salteado”...Vá-se embora. Todos lhe devem querer dizer, também, que não “ligue”, que sou doido...

Tinha os olhos raiados de sangue. Devia estar bêbado. Havia qualquer coisa nos seus olhos que me fez pensar. Era um homem demasiado teatral, havia nos seus gestos e segurança premeditada, simplicidade sofisticada do actor. Cada palavra sua, cada gesto, eram representações. Aquele homem não devia falar, devia fazer discursos.
Estudando-me persistentemente, disse-me:
- Você faz lembrar-me de alguém que conheço há muito, mas não sei quem é... Devia ter estado com esse alguém, até talvez num dia como este em que a chuva caía de mansinho... mas, esse alguém decerto partiu... como todos... vão-se embora na noite escura, ao som da chuva... nem olham para ver como fico.
Encolheu miseravelmente os ombros, alargou demasiado os braços e calou-se.

Eram três da manhã. Tinha agarrado uma “piela” com o ilustre desconhecido. Tinha os olhos muito abertos, os cotovelos fincados na mesa da cozinha e as mãos fechadas a segurarem-me os queixos pendentes. Ele tinha um dedo no ar, o indicador, em frente ao meu nariz, abanava a cabeça e balançava o dedo perante os meus olhos. Ria às gargalhadas, deixava a cabeça cair-lhe e quis levantar-se. O banco arrastou-se por uns momentos e cai com um estrondo. Olhou para mim com um ar empobrecido, parou de rir e fez: redondo no chão. Tonto, apanhei-o e arrastei-o para a sala.

Deixei-o dormir ali mesmo. Cobri-o com uma manta, olhei-o por uns instantes e fui aos “ziguezagues” para o meu quarto.

No dia seguinte acordei com uma terrível dor de cabeça. Dirigi-me aos tropeções para a casa de banho. Vi escrito no espelho, a espuma de barba; “Desculpe-me, obrigado. Não condene a miséria!”

Comecei a encontrá-lo todos os dias à noite. Fazíamos digressões nocturnas, íamos ao teatro. Quando percorríamos os corredores dos bastidores, que ele tão bem conhecia, saltavam-nos ao caminho actores que nos cumprimentavam; punham-lhe a mão no ombro e quando ele se voltava, davam-lhe grandes abraços. Quase toda a gente o conhecia.

E via-lhe os olhos subitamente tristes, angustiados. Ele não se esforçava por esconder a tristeza: era uma tristeza teatral. De vez em quando, acenava a cabeça para alguns dos seus amigos e dizia:
- Não devia ter deixado...

Inesperadamente, saía porta fora, certamente a chorar, deixando-me só. Quando saía via-o pelo canto do olho encostado a uma parede mal iluminada, mão nos bolsos, pé alçado e encostado à parede, cenho franzido e lábios esticados. Nessas ocasiões estacava, por momentos, e resolvia deixa-lo só. Estugava o passo e não voltava a olhar para trás.

O seu humor era variável. Tanto estava obstinadamente calado e sério, como ria sem saber porquê.
De certa vez, passei dois dias sem o ver. Ao terceiro perguntei ao “barmen”:
- Sabe o que é feito do actor?... Não o tenho visto.
- Ainda não sabia que ele tinha morrido? Foi anteontem. A esta hora já deve estar enterrado...foi melhor para ele...
Nem o ouvia. As minhas mãos crisparam-se à roda do corpo, cerrei os dentes. Queria chorar e não conseguia. E parti a correr pelas ruas. Por fim, cansei-me. Continuei a andar na noite, pelas ruas iluminadas. E vi desfilar as imagens. Estava vazio e, no entanto, tantas recordações. Não sentia nada, e apenas via as ruas iluminadas, as montras, os jardins.
Acabei por me cansar, de madrugada tive um sonho esquecido.

Percorro as ruas à noite, os bares escondidos, à espera de encontrar um actor “louco e chato”. De saborear mentira inocente transformada em verdade ideal. E há anos que nada disso acontece. É verdade que há sujeitos ao fundo do balcão, mal vestidos, a beber cerveja... mas nenhum que venha e pergunte se sou novo aqui... As pessoas continuam a rir como dantes, todos os dias vejo as mesmas caras, e se me perguntarem se gosto desta gente digo-te que não as conheço ainda... e olho-os na esperança que venha algum deles e que lhe possa dizer, como a raposa de “ O principezinho”:
- Por favor cativa-me.

Acordei, tinha parado de chover, lá fora ouviam-se as gotas mais tímidas ainda a cair dos telhados, fazendo um tic-tac na soleira do chão, como quem diz o tempo da vida continua, por segundos parei o tempo e pensei, mais um dia irá começar e neste dia eu também irei pisar o palco, todos nós iremos ser actores, uns conscientes da sua representação, outros ainda sem saber bem qual seu papel, uns outros instintivamente representando sem saber que o fazem e outros ainda que perderam o seu guião....

Foto de Raiblue

De lírios e déjà vu ...

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Há uns resíduos
De noites rubras
Na memória da pele
Um gosto de pipoca
Um perfume...de lírios...
Vozes roucas
Janis conduzindo
Nosso destino
Num blues
Que grita
Dores e orgasmos
Doces e bárbaros
Momentos...
Corpos deslizando
No tapete azul da sala
Carne ao óleo...cítrica...
Um crime delicado
Sem castigo
Romance inacabado
Roteiro improvisado
À medida
Que o ato acontecia
Amor tecíamos
Nas veredas do tempo
Grandes sertões
Se dissolviam
Nas rosas
De Guimarães
Nos rios da pele
No riso do gozo
No álcool do meu corpo...

(Raiblue)

Foto de Raiblue

Oceânico templo!

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Sou do mar
Pertenço às profundezas
Das águas salgadas
Sou seu álcool e sua taça
Mergulhe em minha boca
Embriague-se,bebendo-me lentamente...

Em cada gole, há um segredo
Cheio de sabores, temperos
Deguste-me nessa fantasia
Néctar das Ninfas marinhas
Que lhe inundará de vontades
Seja escravo dos meus desejos...

E que, no movimento das línguas,
As ondas nos conduzam para longe
Além do horizonte, por trás das dunas
E nosso amor se derrame da mais densa nuvem
Explosão de orgasmos sobre esse oceano sagrado
Fazendo transbordar meu habitat...

Mar de hormônios, maresia do amor
Na superfície, borbulham nossos gemidos
No fundo, nosso grito mais libertino
Numa noite cheia de lume
Adormeça no meu oceânico templo
Nesse espaço de sussurros e ventos...

Sob o meu inebriante incenso, te guardarei
Nesse cheiro marítimo que trago comigo
Repleto de sais naturais do meu corpo, seu abrigo
Endomorfina necessária aos meus sonhos mais vivos!

(Raiblue)

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