Água

Foto de Joaninhavoa

Ah! Este Amor...

*
Ah! Este Amor...
*

"No amor não basta amar...
Há que dar, mostrando...
Há que ser transparente,
Como a água...
Como o cristal...
Como o vidro normal...
Ou com um simples beijo! Mesmo mortal
Se de vampiro for preciso! Pois seja
Tal é o meu amor! Fatal"

Joaninhavoa
(helenafarias)
13/07/2009

Foto de Joaninhavoa

BRANCA DE NADA.

*
BRANCA DE NADA.
*

Ah! Como eu quero recomeçar
como se não houvesse "antes"
E minh`alma fosse tábua rása
branca de nada.

É um desejo! Obra poética
Como um lírio quando passa
a cravo
E fica moreno.

Os caminhos barrentos d`terra
e álveos que percorro com água
bem lenta a meu lado

Judeia e Espanha
no Portugal onde estou
Olhai! Olhai por onde vou...

Joaninhavoa
(helenafarias)
12/07/2009

Publicado no Recanto das Letras em 12/07/2009
Código do texto: T1695497

Foto de priinc3ss cawiine

infancia...quero voltar a a ser criança:)

Os mOmentOs q' mais relembrO nãO sãO, qandO entrei para a primária, quando gritava a altos berros por a minha mãe me deixar lá, qandO tive a minha primeira paixOneta (pOis já nem m lembrO qnd fOi)ou ate mxm qandO fiz a minha primeira asneira mas siim d qand brincáva.mOs nO infantáriO as escOndidinhas ... qandO as educadOras diziam:
-MeninOs pOdem ir para O recreiO!!
e nOs saia.mOs tOdOs cOmO lOukOs a cOrrer para O escOrrega .. qnd andava.mOs á pOrrada pOr causa da nOssa vez de andar nO escorrega, ou por aquela boneca especial .. qnd desenháva.mOs uma cOisa q' pra nÓs era taum perfeita, taum unica, taum ... taum inOcente e nO fundO era nada mais nada menOs q' um amOntOadO de sarrabiscOs... quandO nOs escOndia.mOs , quando brincávamos na casa das bonecas ... qandO nOs punha.mOs a inventar histÓrias sem pés nem cabeça, tipO a de dizer.mOs q' nO cimO dO pinheirO q' havia nO infantáriO haviam bruxas malvadas q' nOs castigavam casO nOs pOrtásse.mOs mal [XD] ... qandO fugia.mOs da D.CIDÁLIA e a fazia.mOs andar atrás de nOs á vOlta dO infantáriO ... mas dO q' mais m recOrdO e dO q' mais tenhO saudades era das nOssas gargalhadas de crianças ... qandO nOs punha.mOs a engendrar planOs para fazer á D.são pk ela era ma não nos deixava ir a casa de banhu muitas vezes porque já sabia que íamos fazer asneiras ...ao beijos que nos dávamos a D.CRISTINA qandO sOrriamOs tOdOs aO mesmO tempO ... qandO nOs juntáva.mOs i sO fazia.mOs asneiras ... qandO em vÊz de pintar as fOlhas de papel da ceu nOrte, pintáva.mOs a cara ... as mãOs ... as paredes ... a bata ... ... qandO chOráva.mOs pk nãO qeria.mOs cOmer a sOpa ... quando fazia.mOs aqeles trabalhOs manuais tOdOs estupidOs mas admiradOs pOr tudO i tOdOs ... qandO fazia.mOs O desfil de carnaval pOr as ruas i as pessOas riam.se pOr ser.mOs super fOfinhOs enfim ... tudO cOisas de peqenas crianças sem nOçãO alguma dO q' era O mundO .. sem nOçãO alguma d'q O mundO girava ... O fOgO queimava .. a água mOlhava ... a faca cOrtava enfim
pra nós não existia o mundO i O q' mais impOrtava era COMER ... BRINCAR ... I DORMIR!!!

Foto de LuizFalcao

"Fica em Paz"

De Luiz Antônio de Lemos Falcão

Ao recolher-me, ainda forte o vazio,
Herança da ausência tua!...
Deitado, as memórias não me permitem um repouso.
E como dói essa presença que tais memórias me trazem!...Esse vazio tão cheio de saudades!...
E nos teus lugares preferidos, e em cada canto da casa, sinto-te ainda tão presente!...
Vejo passares de um cômodo ao outro nos teus afazeres diários e rotineiros,
E o cansaço que nos últimos dias, te afligia o corpo enfermo.
Vejo no rosto estampada a tua tristeza e no olhar as tuas alegrias que são os teus amores, os teus rebentos.
O Olhar teu, desvendando os segredos dos olhares nossos, decifrando-nos os sentimentos.
Das mãos tuas, o calor intenso do amor que nos aquece o coração.
Sobre as nossas cabeças, as mesmas mãos nos ungem de bênçãos,
E com orações protege-nos o teu amor, movendo o céu, o dedo de Deus ao nosso favor.
Longe, em nossa infância, vão buscar-te mais lembranças trazendo-te pelas mãos.
Novamente aos nossos ouvidos a doce voz do passado que embala o sono,
Ao mesmo tempo em que corrige os nossos erros com severas advertências.
Sinto no rosto, os peitos que naqueles dias mataram a minha fome,
Teu cheiro me faz descansar seguro.

Memórias!...
Levam-me de um lado para o outro e em segundos, tantas lembranças!
De tantos sorrisos, de muitas lágrimas, de esperanças e de força, muita força...
Quanta força em tão frágil ser!...Quanto ser em tão frágil corpo!...
O corpo... Cárcere, sofrido, doido!...Cansado de viver!...
Exausta, minha alma não descansa, e novamente vêem as lembranças.
Tão tristes... doídas...recentes! Novamente me põem diante da pedra fria.
Pedra... Aonde o teu cárcere envolto em mortalha, me fez chorar.
No desatar das amarras, descobria o corpo nú, ao qual novamente cobri com teus melhores vestidos.
Debrucei-me sobre o peito, ainda quente, do corpo pálido e inerte.
O coração em silêncio não fazia mais fluir em tuas veias a minha vida rubra.
Enquanto te olhavam os olhos meus, meu coração perguntava por ti:
Onde estavas minha vida? Para onde foras minha querida?
Onde estava o consolo de tua presença vívida?
Confuso, incrédulo da ausência tua, desesperava-me a saudade.
Saudade!... Salgada, molhada, brotada da lamina dos olhos, dói no peito, rasga a alma!
Quanta saudade se pode sentir, sem sufocar, sem morrer?
Quando enfim, com voz embargada e tremulante pronunciei a palavra adeus, ouvi em meu íntimo tua voz de criança dizendo-me:

“Não sofras...Fica feliz! Estou transpondo os portões da cidade dourada! Minha cidade amada...Meu lar! Vejo todos. Os que amo, me aguardam. Entre eles, o mais Amado! Nos braços Dele, do meu Senhor, de toda luta e dor, de toda lágrima, enfim... Descansar! Sei que sofres, pois também já senti essa dor, mas creia em mim...Tudo passa! O tempo é como a água que escorre entre os dedos e logo se vai. Há de chegar o dia em que estarás transpondo os mesmos portões e eu...Eu também estarei lá aguardando para te abraçar e tu estarás feliz assim como estou agora. Então, viva o tempo que tens da melhor maneira. Viva com intensidade cada segundo, cada momento até que chegue o nosso dia de estarmos juntos outra vez. Fica feliz! Fica em paz!”

E nesse consolo que não consola, novamente me vi chorando num misto de dor e de raiva...Tanta raiva!
E tanto amor! O amor que vinha do fundo das entranhas e que socava as vísceras até explodir na garganta um canto.
Melodias vibravam as cordas vocais e jorraram como um rio não represado, posto que os olhos secaram como a terra sem chuva.
Meu lamento era sonoro. E sonora foi toda aquela noite!
Enquanto outros velavam seus mortos, as notas sofridas fluíram alto... Muito alto na madrugada!
Meu corpo tremia levitando o meu lamento! Elevei as alturas minha dor em cânticos de amor e de saudades.
E nesse instante viajei pelo tempo. No passado distante e no recente.
E lembrei de tudo o que foi e não seria mais.
Pensei nos cantos vazios da casa. Nos olhares que estariam ausentes.
Nos sons dos sorrisos. Nas brincadeiras. Nos beijos molhados em minha face.
E na voz que sempre ouvia abençoar minhas partidas: “Deus te abençoe e te traga em paz”
Enquanto contemplava teu rosto em profundo sono, ouvi em meu espírito novamente ecoar as palavras:
“Fica em paz!”... “Fica em paz!” “Paz!...”

Estas últimas, porem marcantes lembranças, gostaria de esquecer e guardar apenas aquelas que sempre me farão sorrir, mais a vida não é toda feita de momentos felizes apenas, nem de presenças perpetuas, mais com certeza, alegres ou tristes, sempre presentes estarão as lembranças, e nelas mamãe querida, comigo sempre estarás, por onde quer que eu vá. “Te amo”

Em memória de minha mãe Maria de Lourdes Lemos Falcão.
De Luiz Antônio de Lemos Falcão. Rio 19/11/1998.

Foto de diogo_cross

3 segundos..

3 segundos....

3 segundos,o tempo que leva até a água aquecer quando sai do chuveiro, e é incrivel como as coisas ruins parecem demorar
uma eternidade,tecnicamente você nem ao menos sentiria alguma coisas nesses 3 segundos mas parece levar uma eternidade
até que a água quente me alcance.
Como na vez em que vi você partindo,não deve ter durado
mais tempo que isso,3 segundos...
mas me parece que o tempo sente algum prazer em parar
nessas horas,bem provavelmente deve ter sido meu cerebro que parou mas me pareceu uma eternidade,uma das piores coisas que um ser humano é capaz de sentir é ver a pessoa que amou partindo,
mas para quem não sabe eu fiz uma descoberta,
não leva mais que 3 segundos....
Mas nem tudo nesse tempo errante se resume ao sofrimento
3 segundos...
o tempo que levou quando simplesmente paramos
e esperamos,eu já sabia o que iria acontecer
mas me pareceu que o tempo sábiamente parou
para observar,aqueles 3 segundos....
o tempo que levamos até darmos o primeiro beijo...

ass:diogo_vinicius

Foto de O Fantasma das palavras

!!!Às Paginas de quem ama!!!

Quando se ama acredita -se na outra pessoa, mesmo que alguém possa meter em causa aquilo que “ela” diz.
Da-se sem pedir nada em troca, ama-se para se proteger, ama-se para se abraçar, para perdoar, ama-se pelo simples facto de se amar.
O amor vem das palavras que escolhemos para caracterizar a outra pessoa.
Aquela pessoa que nos leva aquilo mais percioso que temos para dar, o amor, que sao ondas a cobrir o oceano, escuro e assustador onde no fundo habitam varias especis de sentimentos, que lutam entre si numa batalha em que o vencedor terá o previlegio e á oportunidade de conquistar o outro coracçao.
Onde as pessoas choquam umas contra as outras porque foi assim que os sentimentos o fizeram.
A vontade de amar alguem é tao grande, que os pensamentos sao confundidos com imagens desfocadas e paisagens nunca eluminadas, por intrumenstos de afecto.
A pessoas que não amam para não se sentirem sefocadas num sofrimento de uma regeiçao.
Como o partir de um pedra que tava intaqueta no momento da execuçao.
O amor é um estrela que brilha más ninguém consegue ver que está a brilhar.
O amor danos conforto na alegria e na tristeza, amar danos vontade de viver.
Ser amado é a correcçao do erro de ser correspondido e não ser rejeitado. È a lembrança do primeiro olhar, da primeira pergunta que espera pela resposta da tua parte.
É um pedaço daquilo que tiras para dar.
É pedir desculpa a um sentimento que tem como objectivo permanecer dentro de ti.
É um juramento que faz com que te entreges de corpo e alma aquela pessoa.
É que deixes para traz o sentimento de desespero, que te fazia acordar, ao meio da noite para ires tomar um copo de água e respirares fundo.
E agora investimos naquela relacçao na nossa relacçao, é um investimento sem qualquer contrato disponivel, para favorecer ambás as partes.
Mas ao cair do ano o que era previsto acontecer, não acontece e a relacçao cai. Cai? Cai como uma pedra que fura á preciana do teu quarto e cai na tua cabeça quando estavas a dormir.
Tudo parcia lindo, não havia maneira de não dar certo, havia um olhar sincero e aberto, como um romançe a dois num deserto.
Mas foi por ai que tudo mudou, a perçao aumentou quando tava tudo tranquilo, mas a sombra que invade o coracçao, sem querer magoar, magoa por a recordaçaode um ultimo suspiro por amor, faz renascer a pessoa que eramos. E por uns instantes momentos, izulamo-nos da realidade e perdemo-nos na fantasia do passado, para tentarmos recoperar o mau momento que foi perdido no dia de ontem.
Mas quando acordamos para a realidade percebemos, que cada momento é vivido e recordado numa situaçao menos apelativa, para os acontecimentos não serem tao apropriados.
Num toque num gesto afectivo, percebemos que tamos a dar razao a nossa existencia, como seres humanos sensiveis num determinado momento.
Sermos nos proprios e não uma emitaçao daquilo que ás pessoas querem que nós sejamos.
Só podes viver uma vez, é a unica oportunidade que tens de ser tu proprio, más não es porque isso implica seres descriminado, de uma sociadade de pouca mentalidade.
Más seres tu proprio, faz de ti um humano não um fantoche, que se mexe consuante ás ordens.
Proprio, é liberdade na deciçao, na responsabilidade de uma pessoa que não quer só subir ao palco da vida, más sim fazer parte de uma noçao e de um humanidade em crescimento...

Foto de Kiss_Kiss

Estou com sede ....

Estou com sede
Não de água
Estou com sede um beijo seu

Estou com fome
Fome que só vai ser saciada
Em seus braços

Sentindo meu corpo se arrepiar
Estremecer com seu beijo
Seus desejos
Realizando sua fantasia

Ouvindo suas palavras
Cheia de malicia
Ouvindo sua respiração
A cada toque meu

Mil..Kiss_Kiss
cheio de amor e carinho
neste lindo e belo corção

Foto de Folhinha

Amo, todo o sentir...

Amor, todo o sentir

Todo o sentir que a boca não traduz
Mas que habita a alma incandescente
Qual treva na noite e no dia a luz
Amor é dor sublime que se sente

Por amor foi que um dia na cruz
Num gesto de humildade sem par
Em sofrimento pereceu Jesus
E pela morte vida veio dar

Vida e amor infindo sem fronteira
Também este que assim desta maneira
Me inflama o peito além do horizonte

Em tão vasta largueza, em tal lonjura
Que mais não sei que da afeição tão pura
Que em mim brota como a água da fonte

Nita Ferreira

Foto de Jessik Vlinder

Domingo à tarde

Ar puro... aqui respiro paz
O vento balançando meus cabelos
O sol dourando minha pele
A maresia eriçando meu pêlos
Aqui eu me perco no tempo
Não pela infinidade do horizonte
Me perco em meus pensamentos
Que me levam pra muito longe
A verdade me procura
Me encontra, me espanca, me guia
Faz-me tranformar meus sentidos
Em confissão, em poesia
Meu corpo é tomado pelas águas
Finto o pôr-do-sol com tristeza no olhar
Me sinto leve, eu e minhas mágoas
Minhas lágrimas se confundem com o mar
Te imagino ali, ao meu lado
Me vendo, ouvindo meus lamentos
Entendendo meu rosto molhado
Me salvando do desespero do tempo
Atento as minhas palavras
Aos meus pedidos de desculpas
À angústia que me corrói por dentro
Ao sofrimento do peso da culpa
Lendo através do meu silêncio
O que não consigo pronunciar
Percebendo a gravidade do incêndio
Que faz o meu coração queimar
Salvando-me, não da água
Não é ela que me faz afogar
Salvando-me do medo
Que insiste de mim te tomar
Livrando-me da amargura
De ver você se destanciar
De ter tua presença ausente
De contigo não poder mais sonhar
De perder toda inspiração
De não mais viver e sim vagar
De me entregar a qualquer canção
E enfim... esquecer de respirar...

Jéssica Gomes

Foto de cafezambeze

JOÃO PIRISCA E A BONECA LOIRA (POR GRAZIELA VIEIRA)

ESTE É UM CONTO DA MINHA DILETA AMIGA GRAZIELA VIEIRA, QUE RECEBI COM PEDIDO DE DIVULGAÇÃO. NÃO CONCORRE A NADA. MAS SE QUISEREM DAR UM VOTO NELA, ELA VAI FICAR MUITO CONTENTE.

JOÃO PIRISCA E A BONECA LOIRA

Numa pequena cidade nortenha, o João Pirisca contemplava embevecido uma montra profusamente iluminada, onde estavam expostos muitos dos presentes e brinquedos alusivos à quadra festiva que por todo o Portugal se vivia. Com as mãos enfiadas nos bolsos das calças gastas e rotas, parecia alheio ao frio cortante que se fazia sentir.
Os pequenos flocos de neve, quais borboletas brancas que se amontoavam nas ruas, iam engrossando o gigantesco manto branco que tudo cobria. De vez em quando, tirava rapidamente a mão arroxeada do bolso, sacudindo alguns flocos dos cabelos negros, e com a mesma rapidez, tornava a enfiar a mão no bolso, onde tinha uma pontas de cigarros embrulhadas num pedaço de jornal velho, que tinha apanhado no chão do café da esquina.
Os seus olhitos negros e brilhantes, contemplavam uma pequena boneca de cabelos loiros, olhos azuis e um lindo vestido de princesa. Era a coisa mais linda, que os seus dez anos tinham visto.
Do outro bolso, tirou pela milésima vez as parcas moedas que o Ti‑Xico lhe ia dando, de cada vez que ele o ajudava na distribuição dos jornais. Não precisou de o contar... Demais sabia ele que, ainda faltavam 250$00, para chegar ao preço da almejada boneca: ‑ Rai‑de‑Sorte, balbuciava; quase dois meses a calcorrear as ruas da cidade a distribuir jornais nos intervalos da 'scola, ajuntar todos os tostões, e não consegui dinheiro que chegue p'ra comprar aquela maravilha. Tamén, estes gajos dos brinquedos, julgam q'um home não tem mais que fazer ao dinheiro p'ra dar 750 paus por uma boneca que nem vale 300: Rais‑os‑parta. Aproveitam esta altura p'ra incher os bolsos. 'stá decidido; não compro e pronto.
Contudo não arredava pé, como se a boneca lhe implorasse para a tirar dali, pois que a sua linhagem aristocrática, não se sentia bem, no meio de ursos, lobos e cães de peluxe, bem como comboios, tambores, pistolas e tudo o mais que enchia aquela montra, qual paraíso de sonhos infantis.
Pareceu‑lhe que a boneca estava muito triste: Ao pensar nisso, o João fazia um enorme esforço para reter duas lágrimas que teimavam em desprender‑se dos seus olhitos meigos, para dar lugar a outras.
‑ C'um raio, (disse em voz alta), os homes num choram; quero lá saber da tristeza da boneca. Num assomo de coragem, voltou costas à montra com tal rapidez, que esbarrou num senhor já de idade, que sem ele dar por isso, o observava há algum tempo, indo estatelar‑se no chão. Com a mesma rapidez, levantou‑se e desfazendo‑se em desculpas, ia sacudindo a neve que se introduzia nos buracos da camisola velha, enregelando‑lhe mais ainda o magro corpito.
‑ Olha lá ó miúdo, como te chamas?
‑ João Pirisca, senhor André, porquê?
‑ João Pirisca?... Que nome tão esquisito, mas não interessa, chega‑te aqui para debaixo do meu guarda‑chuva, senão molhas ainda mais a camisola.
‑ Não faz mal senhor André, ela já está habituada ao tempo.
‑ Diz‑me cá: o que é que fazias há tanto tempo parado em frente da montra, querias assaltá‑la?
‑ Eu? Cruzes credo senhor André, se a minha mãe soubesse que uma coisa dessas me passava pela cabeça sequer, punha‑me três dias a pão e água, embora em minha casa, pouco mais haja para comer.
‑ Então!, gostavas de ter algum daqueles brinquedos, é isso?
‑ Bem... lá isso era, mas ainda faltam 250$00 p'ra comprar.
‑ Bom, bom; estás com sorte, tenho aqui uns trocos, que devem chegar para o que queres. E deu‑lhe uma nota novinha de 500$00.
‑ 0 João arregalou muito os olhos agora brilhantes de alegria, e fazendo uma vénia de agradecimento, entrou a correr na loja dos brinquedos. Chegou junto do balcão, pôs‑se em bicos de pés para parecer mais alto, e gritou: ‑ quero aquela boneca que está na montra, e faça um bonito embrulho com um laço cor‑de‑rosa.
‑ ó rapaz!, tanto faz ser dessa cor como de outra qualquer, disse o empregado que o atendia.
‑ ómessa, diz o João indignado; um home paga, é p'ra ser bem atendido.
‑ Não querem lá ve ro fedelho, resmungava o empregado, enquanto procurava a fita da cor exigida.
0 senhor André que espiava de longe ficou bastante admirado com a escolha do João, mas não disse nada.
Depois de pagara boneca, meteu‑a debaixo da camisola de encontro ao peito, que arfava de alegria. Depois, encaminhou‑se para o café.
‑ Quero um maço de cigarros daqueles ali. No fim de ele sair, o dono do café disse entre‑dentes: ‑ Estes miúdos d'agora; no meu tempo não era assim. Este, quase não tem que vestir nem que comer, mas ao apanhar dinheiro, veio logo comprar cigarros. Um freguês replicou:
‑ Também no meu tempo, não se vendiam cigarros a crianças, e você vendeu-lhos sem querer saber de onde vinha o dinheiro.
Indiferente ao diálogo que se travava nas suas costas, o João ia a meter os cigarros no bolso, quando notou o pacote das piriscas que lá tinha posto. Hesitou um pouco, abriu o pedaço do jornal velho, e uma a uma, foi deitando as pontas no caixote do lixo. Quando se voltou, deu novamente de caras com o senhor André que lhe perguntou.
‑ Onde moras João?
‑ Eu moro perto da sua casa senhor. A minha, é uma casa muito pequenina, com duas janelas sem vidros que fica ao fundo da rua.
‑ Então é por isso que sabes o meu nome, já que somos vizinhos, vamos andando que se está a fazer noite.
‑ É verdade senhor e a minha mãe ralha‑me se não chego a horas de rezar o Terço.
Enquanto caminhavam juntos, o senhor André perguntou:
- ó João, satisfazes‑me uma curiosidade?
- Tudo o que quiser senhor.
- Porque te chamas João Pirisca?
- Ah... Isso foi alcunha que os miúdos me puseram, por causa de eu andar sempre a apanhar pontas de cigarros.
‑ A tua mãe sabe que tu fumas?
‑ Mas .... mas .... balbuciava o João corando até a raiz dos cabelos; Os cigarros são para o meu avôzinho que não pode trabalhar e vive com a gente, e como o dinheiro é pouco...
‑ Então quer dizer que a boneca!...
‑ É para a minha irmã que tem cinco anos e nunca teve nenhuma. Aqui há tempos a Ritinha, aquela menina que mora na casa grande perto da sua, que tem muitas luzes e parece um palácio com aquelas 'státuas no jardim grande q'até parece gente a sério, q'eu até tinha medo de me perder lá dentro, sabe?
‑ Mas conta lá João, o que é que se passou com a Ritinha?
‑ Ah, pois; ela andava a passear com a criada elevava uma boneca muito linda ao colo; a minha irmã, pediu‑lhe que a deixasse pegar na boneca só um bocadinho, e quando a Ritinha lha estava a passar p'ras mãos, a criada empurrou a minha irmãzinha na pressa de a afastar, como se ela tivesse peste. Eu fiquei com tanta pena dela, que jurei comprar‑lhe uma igual logo que tivesse dinheiro, nem que andasse dois anos a juntá‑lo, mas graças à sua ajuda, ainda lha dou no Natal.
‑ Mas ó João, o Natal já passou. Estamos em véspera de Ano Novo.
‑ Eu sei; mas o Natal em minha casa, festeja‑se no Ano Novo, porque dia de Natal, a minha mãe e o meu avô paterno, fartam‑se de chorar.
‑ Mas porquê?
‑ Porque foi precisamente nesse dia, há quatro anos, que o meu pai nos abandonou fugindo com outra mulher e a minha pobre mãe, farta‑se de trabalhar a dias, para que possamos ter que comer.
Despedíram‑se, pois estavam perto das respectivas moradas.
Depois de agradecer mais uma vez ao seu novo amigo, o João entrou em casa como um furacão chamando alto pela mãe, a fim de lhe contar a boa nova. Esta, levou um dedo aos lábios como que a pedir silêncio. Era a hora de rezar o Terço antes da parca refeição. Naquele humilde lar, rezava‑se agradecendo a Deus a saúde, os poucos alimentos, e rogava‑se pelos doentes e por todos os que não tinham pão nem um tecto para se abrigar., sem esquecer de pedir a paz para todo o mundo.
Parecia ao João, que as orações eram mais demoradas que o costume, tal era a pressa de contar as novidades alegres que trazia, e enquanto o avô se deleitava com um cigarro inteirinho e a irmã embalava nos seus bracitos roliços a sua primeira boneca, de pronto trocada pelo carolo de milho que fazia as mesmas vezes, ouviram‑se duas pancadas na porta. A mãe foi abrir, e dos seus olhos cansados, rolaram duas grossas e escaldantes lágrimas de alegria, ao deparar com um grande cesto cheinho de coisas boas, incluindo uma camisola novinha para o João.
Não foi preciso muito para adivinhar quem era esse estranho Pai Natal que se afastava a passos largos, esquivando‑se a agradecimentos.
A partir daí, acrescentou‑se ao número das orações em família, mais uma pelo senhor André.
GRAZIELA VIEIRA
JUNHO 1995

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