Absurdo

Foto de Sonia Delsin

O CÉU PAROU PARA ESCUTAR

O CÉU PAROU PARA ESCUTAR

O grito percorreu todas as estradas.
Todas as quebradas.
Florestas queimadas.
O céu parou para escutar.
O sol, de brilhar no horizonte, parecia que jamais ia deixar.
Era o poente mais absurdo.
E mudo.
O grito foi silenciando, silenciando.
Tudo foi se modificando.
E a noite aterradora chegou.
Ela, voz já não tinha.
Baixinho, chorou.

Foto de ANACAROLINALOIRAMAR

O Amor Me Segou....Não Me Reconheço.

Me olho no espelho, não me reconheço.
Não vejo meu semblante como antes.
Um rosto sem alegria, falta harmonia.
Uma alma não encantada, não achada.

Um núcleo vago, um rosto estranho.
Meu Deus!!! o que forás de mim?!
Porque não me reconheço?
Este foi o preço, do meu apreço
Por amar alguém que não mereço.

Pago o preço!?
Esse amor que causou dor, reconheço!
Mas meu rosto se mantém sem núcleo,
Um vazio...um escuro,
Que absurdo!...como pude permitir...?

Agora de mim quero fugir,
Para me denegrir, do que fiz,
De amar quem nunca me quiz,
Hoje me transformo nun ser infeliz.

Não me reconheço, mas não esqueço.
Que para amar ha sempre um novo endereço.
Um novo caminho,que pretendo percorrer.
Mas será melhor,bem longe de você.

Para olhar-me no espelho, e minha aurea
voltar aparecer....meu semblante resplandecer.
E recuperar aquela ,que um dia você se pôs ,
A esquecer, e por você parei de aparecer.

No meu espelho,que antes eu me via,
Hoje apenas uma fantasia.
De ter um alguém assim como você, um dia.
Que deixou minha vida vazia,
Um espelho sem brilho sem a luz do dia......
O seu amor me segou....hoje, não me reconheço.....

Anna *-*
Flor-de-Lins.

*Manter a autoria do poema.

Foto de ANACAROLINALOIRAMAR

A PRISÃO DO NOSSO SER!

*
*
*
Prisão...
É quando deixamos; nossos desejos e vontades.
Encarcerados, dentro de nós mesmos.
É quando deixamos de viver nosso momento.
Ocupar nosso espaço,seguir nossos passos.

Prisão...
É quando deixamos de viver nosso próprio eu.
É quando nos interditamos, para sentir,
Para amar , para gozar a vida,mesmo sofrida.
É se fazer ausênte, do ser que somos!!!

Prisão...
São os caminhos que ,não quisemos percorrer....
São as oportunidades perdidas...
Salvo ,que alguém as tenha aproveitado,
Em nosso lugar, por inconsequência nossa.

Prisão...
São as feridas mal curadas, flechas não lançadas.
Amores mal resovidos,desfecho de uma história,
inacabada.
Alma trancada, encarcerada por um masoquismo
sem lógica.

Prisão...
É quando nós mesmos, criamos os muros,...absurdo!
É a morte aos poucos do ser vivo,que não pensa,
que se prende em suas razões.
Achando que pode achar soluções.

Prisão...
É não voar...,não caminhar....não ir e voltar...
não sonhar...,não permitir...não ousar....
Não ver a luz do sol, das estrelas.
Não ver a lua dos amantes.Não opinar
Não insistir...não ter perseverança.
Não ter alma de criança.

Liberte-se do fantásma da Prisão
Prisão é manter-se com vendas nos olhos.
*Viva a liberdade,e ouse com vontade*
Apresionando todo o tunel escuro que cerca,
o nosso ser...Nos impedindo de viver....

Anna Flor-de-Lis *-*

Foto de Graciele Gessner

Não Vou Desistir! (Graciele_Gessner)

Foi difícil chegar aqui.
Ontem me senti “pequena”.
Senti que perdi o controle da situação,
Talvez venha a ser frustrada.

Foi difícil chegar aqui.
Não vou desistir tão facilmente.
Deixei muitos “fatores” para trás,
Agora não permitirei que aconteça tal absurdo.

Ouçam invejosos!
Eu sou lutadora dos meus sonhos,
E se um dia desistir de meu ideais,
É porque simplesmente morri.

Ontem me senti “pequena”,
Uma tristeza profunda se instalou.
Tentei disfarçar, mas foi visível.
Lágrimas caíram, mas me mantive firme.

Meu objetivo é nunca desistir!
Sonhei, planejei e adquiri.
Agora vou até o fim.
Não vou desistir! Jamais!

26.04.2006

Escrito por Graciele Gessner.

* Se copiar, favor divular a autoria. Obrigada!

Foto de Sonia Delsin

TODOS TEUS SONHOS...

TODOS TEUS SONHOS...

Viraram nada todos teus sonhos?
Viraram um absurdo nada?
Ou outros sonhos vieram substituir os antigos?
O que é de ti no teu silêncio?
O que é de ti?
Fico a olhar daqui.
A mesma estrela que olhavas.
Que céu é o teu?
De tanta coisa esqueceu...

Foto de ANACAROLINALOIRAMAR

AMOR X INDIFERENÇA

****
***
**
*
O pior não é a falta de amor e sim a indiferença.
A falta de amor é coberta por outro amor,
A indiferença fere mata corrói.
Como entender, conhecer viver com alguém a longa estrada,
Da vida , estar sempre juntos, na alegria e na doença,
E de uma hora para outra somos tratados com indiferença.
O amor nós conquistamos, nós o encontramos novamente.
Mas o que nos deixa doente, é indiferença que tratam
A gente, de uma mentalidade inconseqüente de mudanças repentinas.
É de um total absurdo o tratamento indiferente,sem
Motivos aparentes para tal mudança brusca.
O amor acabou ?..Tudo bem outros virão para
Dar harmonia a nosso coração.
Mas a indiferença repentina e o desprezo
Como se nós, não tivemos nunca feito
Parte de uma história.
Ainda que se tenha falta de amor,
O pior é carregar no peito,
A indiferença

Anna. 02/05/08 (A FLOR DE LIS)

Foto de Lou Poulit

CANTOS RECENTES DO POETA PASSARINHO (PROSA E VERSO)

BLASFÊMIA

Porque eu não quis o fardo de perdê-la, com cada dardo de luz a sua estrela moça me apunhala; mas o tempo entre nós, de dedo em riste, fez-me triste pela sua intangível plenitude. Em quietude, reflito. E me lembro da sua pele tesa, ansiosa sobre trêmulas fibras, me comendo como a uma jovem presa predada às sombras frescas do dia (hoje dessa minha tristeza). Como esquecer suas tramas ingênuas, de uma mulherice de reações rosadas vestida de saltos e brilhos para a noite? Como resgatar tão tênues limites tangidos pelo olhar, quando dissimulando bramidos e silêncios de um improvável e profundo mar fazíamos concessões fugazes, como espumas na areia?

Porque como um bardo adolescente eu quis detê-la, e ao seu instinto inevitável na ponta dos pés, a sua estrela ferida por outro vagueia ao rés dos meus exílios e possui os brancos fartos dos meus pelos, sem pressa, até dos meus cílios, ferrenhas grades dos porões dessa minha lágrima tardia e inconfessa. Reflito. À beira de penhascos resvalo, e reflito. Sob o trepidar dos cascos da memória me ralo, mas ainda reflito. Mesmo ao engasgo com que rasgo os vazios subterrâneos da minha decrépita esperança, desesperadamente reflito!... Até que refletir seja apenas um estratagema, ignóbil, imperdoável e ironicamente necessário, que à transitoriedade de tudo blasfema: o amor não tem idade!

Mas é tarde. Porque entre a reflexão e a lágrima já não há vago, é tarde. Porque a certeza que trago caminha de bengala, porque não se cala mas já não trama, é tarde. Porque o fim de quem ama não está no decurso do tempo nem no percurso da distância, mas na vagância de não amar; nem na demência da moral nem na presença de juízo, mas na ausência de saudade; o fim de quem ama está em não se exercer o tempo. A melhor de todas as minhas descobertas fora encontrar, nas flores abertas, o divino de cada mulher, em que devia crer como menino; mas a pior de todas as minhas íntimas blasfêmias, foi não me prostrar ao que sempre houvera crido nas fêmeas.

(Itaipú, mar/2008)

AMANTE EU ME QUIS

Amante eu me quis
E ela quis-se prenda
Cio e cena, senda
De uma bela atriz;

Jugo e julgamento
Paguei preço justo
Mas depois, que susto...
Mesmo hoje inda tento

Inda quero e busco
Tombo ávido e brusco
Nos dorsos da vida:

Quem sabe, com sorte
Morro inda de morte
Do amor comovida.

(Itaipú, mar/2008)

ERGUE-SE A VIDA

De sob o tempo indolente de um caminho íngreme e da sua penitência, de descer sem resvalar para saber como voltar, de não ter a quem contar como devesse ser julgada, e saber que a solidão voluntária mais que um direito é uma dádiva, ergue-se ávida a vida.

De sob julgamentos ilegítimos, os ritmos do destino crido, o protagonista interino, ferido pelo próprio veredicto, o bailarino das sombras, refém das próprias luzes, exilado no silêncio e na castidade, banido remido da cidade profana, nele ergue-se a vida, soberana.

Porque o amor não é óbvio como a nudez que se revela, porque se a procela íntima jura e insulta, a paixão mesmo impura indulta a florada dos espinhos... O amor não tem caminhos e caminha mesmo longe dos aplausos, como um monge velado por sua estrela, selado por seu arcano... Meu amor é pela vida um amor humano.

(Itaipú, mar/2008)

ANTES

Antes que me profane esse céu que eu mesmo criei por querê-la, tanto, de minha alma tardia como seu leito tardio... Antes que me sacuda um aplauso de mim mesmo arredio, e a chama expire e repouse sobre a cinza o pavio e soluce a sombra do que antes fomos... Antes que a paixão, descida dos seus tronos, renuncie à nossa milenar cumplicidade... Antes que essa saudade me deserde dos seus hormônios, pelos meus poros, posseiros das minhas estrelas, juízes dos meus himeneus... Mas antes!... Antes que meus rasgos desalinhados sejam remendados por impura compostura e se recomponha o herdeiro das idéias, dos golfos nas traquéias por impostura, a criatura completa perdida da sua costela, incontinente em sua cela: solidão... Oh, antes que uma vergonha aflita me possua e a desdita lembrança dela, inconha e nua, toque fundo no berço o sonho que já não sonha... Poesia!... Oh, minha poesia, arrebata-me das palmas desse papel frio e sedento! E colha-me em teu colo colossal... E recolha meu corpo estilhaçado, poro a poro, esse impagável fardo em que ainda agora eu ardo e evaporo, incomodado, sobre uma chama abissal.

(Carioca, mar/2008)

POR QUE SE ME DESTE?

Porque se me deste manhã, quando já não havia um luar que me oferecesse a sua esmola, implora esse meu amor agnóstico por um crepúsculo de relâmpagos e lama, arrastando-se o leito cósmico, em que se alargue bem, e aos poucos, com roucos protestos, o inventário dos meus futuros restos, aos punhados, desapunhalados dos tremores que acarinham o gozo que me assola... Eis, enfim, a mais desejada esmola!... Ah, por amor mais se amarga a ausência do que se alarga o silêncio na distância, e mais se erguem vãs defesas do que se embarga a manhã de ilesas estrelas... Pois o amor não tem sentido em si mesmo, porque dar-se exige quem o receba, ao alcance do tato! E porque o fato... É que não suporto mais essa espera! Apenas um momento quisera. Depois quis o tempo de espera. Mas o amor exagera e agora só quer tudo, o tempo todo. Não transige, não mente e mais se sente nada, tanto, tanto... Oh, por que tanto assim se me deste, Manhã?

(Carioca, mar/2008)

ESPANTALHO

Amo... Eu amo essa mulher. E se tanto eu não a amasse hoje que ruge e fulge no poço o anjo quando ela se debruça sobre o céu grisalho, eu seria tão injusto quanto um fútil amante, plantando em meu peito um inútil espantalho. Pois que se deite comigo à nossa colheita e abarrote as suas entranhas de sementes e acolha esse rio meu de estrelas cadentes (e o seu silêncio morno) à espreita
dos nossos futuros percalços, inseguranças, intrigas, ciúmes, brigas e tudo que desune. Protegido, esse nosso amor permaneça imune e ao mais profundo arrebatamento desça.

Amo... Eu amo essa mulher. E se tanto eu não a amasse em lucidez, nem fosse a sua tez a aurora dos meus escuros (toda vez que o amor se mete em apuros), o espantalho, refém do próprio espanto, em vez de um encanto seria um anjo degredado. Pois que venha o amor à mesa, e a sua chama acesa ao fio dos olhares, sobre a comovente juventude dela e a minha paixão, essa cadela indecente... Pois que se mantenha o indignado julgamento alheio longe do dorso amado, sem nenhum arreio, veio profundo dessa droga genérica, minha liberdade homérica e indigente.

Ah, como eu amo essa mulher, tanto... Com o vigor de cada fio branco, quitado com a minha velha juventude inquieta, que me arde o peito franco de poeta enquanto guarde o quanto exerça o espantalho, emancipada do talho, a emoção da minha amada.

(Itaipú, mar/2008)

CALÇADAS DESSA NOSSA VIDA URBANA

Calçadas dessa nossa vida urbana... A insana crença de ser e estar sempre dando uma chance ao destino, ser solto no mundo e, ao mesmo tempo, estar como na sala, receber e ser também recebido e, em compartilhada privacidade, desarmar o proibido. Sobretudo a nossa libido, assenhorada, indultados de habitá-la.

Alçadas pela divina verve humana (que assim profana que se preserve) ao dossel da densa solidão da urbe, por mais que lhe conturbem as dívidas das tão vívidas ilusões tão frágeis, ah, as nossas calçadas intermináveis são retos labirintos de preces devotadas, de penitências e caçadas. Nenhum decreto, nenhuma vela acesa... Qualquer promessa liberta a alma, ilesa de ser no fundo só e íntima do exíguo (ínfima queixa que nem vale à pena); à lua plena, quem precisa de liminares em lugares onde os olhares, como floradas, defloram a jurisprudência do desejo?

Pois na minha calçada predileta, hei de plantar ainda uma placa. Mas uma placa de poeta, como convite póstumo a Baudelaire e Pessôa, onde escreverei: "VOILÁ LA VOLUPTÉ". Por que não? As paixões são também portuguesas, como as volupitosas pedrinhas de Copacabana! E em baixo: "MOI ET TOI". Onde habitamos e somos habitados...Oh, as calçadas dessa nossa vida urbana.

(Itaipú, mar/2008)

ME ABDUZA

De manhã, a manchete de hoje era um salto de espinha abaixo, sem truques nem cambalachos, sem volta, sem escolta... Implume, à beira do ninho. Imberbe ao fim do caminho.

Mesmo sem ter a quem pedir ajuda ou conforto, nem morto, meu coração, eu te renego. Não te nego o direito (nem ao torto) agora que enfim tuas dívidas cairão do prego, que virá ela pousar plena ao meu tão sonhado alcance... Não caia o poleiro, o verso não canse. Porque voa essa pássara no rumo em que lhe aguarda o amor e a poesia... Pois, que à revelia ela arda! Pois que a valia de arder é ter amado.

Mas não espero ser meramente amado pelo seu amor medido em eras de anos-luz. Nem apenas seduzido. Quero ser em verdade abduzido! Varrido e vasculhado, desidratado pela cauda de um cometa, que me reduza à uma lágrima de mulher... Ah, Pássara, me abduza.

(Itaipú, março/2008)

SE FOSSE TANTO O AMOR CRUEL

Tomou-me, ufano e covarde à faina da velha bateia, à tarde, de ser notado por tardios, preciosos olhares, roubados ao céu e ao mel mas curvados ao seu e ao meu: um desertado amor magoado.

Era tanta, tanta a sua mágoa, a dessedentar-se no meu espanto, que pensei: se fosse tanto o amor cruel não cantaria seu canto a cotovia, não haveria o sonho de amar, nem (que falhassem) tantos venenos, e nossos enganos seriam pequenos.

Devolveu-me esse amor (que ainda arde) a mim mesmo, depois e a esmo, numa calçada sem esquinas: se fosse tanto o amor cruel as minhas amadas seriam todas bailarinas e aos seus palcos (tão mais ardidos) talvez me faltassem proteínas.

(Carioca, março/2008)

PINTURA FRUGAL

Súbito, nas palmas da lua o tema...
Plena e deserta a tela implora a cena
Como um teorema a ser consumado.
Ávida e nua, dádiva a ser consumida.

O amor usa de sofismas só seus
Para nos converter em cismas suas.
É demônio e é santo. Até deus!
Doando luares como hóstias cruas.

Traços, aguadas, promessas, primícias
Devassas servidas, doces sevícias...
A arte é um coito que nunca termina.
Pierrô afoito. Oh, afoita colombina!

No epicentro de um pouco épico tombo
E no assombro de um gozo nem tão estético
Em que a febre viceja (e a alma a deseja)
O artista verseja, quase profético:

Pintura frugal, a dar-se a mim estreito
Hás, limiar, de dar-se além do leito.

(Carioca, março/2008)

CANTOS GAIOS

Eis a vida, aos pés da sorte.
Um sonho galgo, galgando gratas misérias
Sem temer tombos e trombos que suporte
Nos largos ombros do anjo que lhe vier.

Donde vejo essa, na estratosfera
Perdoaria Dalila e acudiria Prometeu
Porque a eternidade é uma quimera
Para um amor tão generoso como o meu.

Do que entre fatias fugazes de amenidades apenas
Fazendo mágicas tenazes (nem tão amenas)
Seria eu eterno e inteiro entre seus dedos
Mais à vontade do que no caderno do jornaleiro.

Ah, eu pagaria com juros as minhas juras
Doando-me a ler todo dia o jornal de ontem
Só para recair de todas as minhas curas!
E loucamente amar de novo... Oh, cantem

Ao precipício entre os olhares e aos seus soslaios
Meus pássaros, os meus cantos gaios, cantem.

(Carioca, fevereiro/2008)

ESGUICHO

Um esguicho aspergindo agonia tingiu o nicho escuro da minha auto-estima, com tons claros de uma líquida e morna alforria. Eu corria tanto. Corria e corria... Como um bicho sem paz eu zanzava, sem sair jamais do lugar em que estava; preso no visgo, vesgo de amor eu não via meus escombros na poça (a que fiz jus!), do corte certeiro de um raio de luz.

Dissimulada, a estrela que fez isso (do instinto intangível, íngreme e insubmisso o poeta dócil, submerso no esgarço do velame e acoleirado pelo verso ao firmamento) quer apenas que eu ame. Ame e ame... E escame o brilho d’alma ao vento. Mas o amor teme a própria catarse e por uma múltipla entorse (do salto para dentro) exila-se num centro em que tudo se lhe roce.

Ah, o amor que desnuda e desarma... O penitente que em sua Compostela espera ungir-se com os estilhaços da janela, no entanto preserva os cordeiros do vitral; até que converta-se a noite atéia em dia, e a alcatéia em coral e a teia casta da anorexia em um esguicho lustral.

(Carioca, fevereiro/2008)

UM RAIO INSUSPEITO E ARREBATADOR

Um raio insuspeito e arrebatador entre opostos exílios, antes tramados por escolhas colhidas à razões tolhidas, nos fez amantes desertados.

Quando nada os detém, olhares detonam uma reação em cadeia servida à ceia de um desejo vasto, em que sós nossas testemunhas somos, ideais sem pejo de aias e mordomos, comensais intrépidos em tépidos covis...

Oh, tépidos covis da madura idade!
Oh, ledos covis sem cocho ou grade!

Um olhar insuspeito e arrebatador do exílio colheu-me e comeu-me à flor da minha abissal leviandade; a lágrima fringiu-se e evaporou-se, cingiu-se de cinzas o peito que a trouxe, decerto, meus covis hoje correm a céu aberto.

(Engenho Novo, fevereiro/2008)

JARDIM DO ABISMO

Nem eu me lembrei do tempo nem ele se apercebeu da minha ausência, mas se agrisalharam os meus pelos... Nem eu quis vertê-los nem capturei os seus buquês, mas os momentos voaram do cálice... Seixos que um dia, talvez, encaixem-se, a memória amontoa, assim à toa, cobertos de pó nos recônditos do absurdo... Em cada beijo um estalo, eco surdo de lirismo, que roga um resvalo à nudez das paredes. Ah, os dias sem amar... Ajardinam o fundo do abismo.

(Largo da Carioca, fevereiro/2008)

TEZ SEM EXTREMOS

Ah, porque ela não tem na tez extremos
(Salvo os olhos, que também são morenos)
Pouso a alma e vejo o meu próprio reflexo
Porque o sexo, estância além do mundo

Rio profundo, caminho estelar
Grafara n’alma, ao silêncio das curvas
Feitas sem o zelo de me tomar
Dos limites: A morte não me quis.

Restou, feliz, este amor são e salvo
Alvo das suas perguntas tolinhas
Rangendo as janelas donde as rolinhas
Nos espiavam, pelas persianas;

Em preces profanas, tão doidivanas
Sim, eu amei... E como nunca soubera;
Porque não era o fim a antiga era
Porque eu não estava ainda preparado.

Pouso alado (ao lado a tez sem extremos)
No ermo lúcido do amor em que cremos.

(Carioca, fevereiro/2008)

VENHA

Venha, porque eu tenho
Bem mais do que fui
E donde hoje eu venho
A dor não possui;

Venha, porque trago
Bem mais do que cabe
Neste meu vago
Que ninguém mais sabe;

O meu sonho é um salmo
Na tez d’alma escrito
Com letras de um palmo
E ainda a ser dito:

Se o afago perpassa
A tona do lago
E é luz o seu cio...
É o amor que trago

Guardado e tardio...
Divina devassa.

(Carioca, fevereiro/2008)

QUISERA O AMOR QUE EU AMASSE

Quisera o amor que eu amasse
Tanto, tanto ele quisera
Que ao desarmar-se o amor que era
Ele antes me devassasse.

Quis o amor assim tocar-me
Tanto, tanto, o sol ao lis
Que o céu que de mim eu fiz
Devassou a minha carne!

Será sempre o amor assim.
E eu serei sempre o que sou
Sem saber mais que soubera.

A me armar, como arlequim
O amor vem (quem nunca amou?)
Deserdar-me do amor que era.

(Carioca, fevereiro/2008)

ME SABER ME BASTA

Eu dissimulava por onde fosse. Cantava o tempo todo. Sussurrava, depois quase gritava. Ah, eu cantava, cantava, cantava... A música era a da amada, sua preferida. Eu a tomava emprestada. Se pudesse, seria capaz de roubá-la! Eu dissimulava perdidamente. Colhia todos os olhares do caminho mas só ficava mesmo com os dela... E com a carne úmida dos sorrisos e o risinho tímido dos mamilos e o andar, que mal tocava os pisos, e os glúteos. Glúteos? Oh, comprimi-los...

Eu dissimulava enquanto ria de mim mesmo. Não por auto-piedade ou desestima. Eu dissimulava piamente! Ela era um templo, uma porta entreaberta. No nicho, uma absolvição além da palma, roçando a alma como açoite de dia, de tarde e de noite, vazando entre os dedos da mão tenaz. Sonhada... Uma graça fugaz sob a coberta de credos e dogmas deserta. Generosamente incontinente. Mas até seu resíduo era emprestado, como tudo o que era dela crido. Até que da vidraça fez-se o alarido de miríades de estrelas, janela afora vazada.

Mas não doeu nada, não doeu nada... Eu mesmo fiz isso. Avidamente eu mesmo fiz isso... Não há mais no que crer. Me saber me basta.

(Itaipú, fevereiro/2008)

O ESPELHO E A BAILARINA

Esse amor meu de poeta...

Cuja paz decreta e se professa ungida
Que, impune, confessa ser a própria sobrevida
Do réu imune, ao rés de mais uma vez tocá-la
Com um arrepio de sopro, pele tão desejada...

É uma montanha que jamais se cala!
Mas resvala e em profundo silêncio se esbate
No magma de um improvável vate.

Dentro dela habita uma estrela antiga
Que sussurra uma cantiga e nina a emoção
De ser a mansão e a monção da bailarina
De infladas cortinas e peito pronto a se fender...

Oh poesia das entranhas do ensandecido
Sou eu que fendo! Sou eu que fendo! Eu, a montanha...
Ao gume úmido, entre arabesques colhido...

Na poça, em que de versos me embriago seu
Tombam a lua e o gozo com que pago eu
As minhas brancas súplicas no breu da fonte...
Então... É a poça que seduz o lago?...
Ou a dor de amar? Que a ninguém se conte...

Esse amor meu de homem...

Cujos olhos comem a carne emancipada
E que verte o sonho e o seu torpe inchaço
No levitado abraço do amor da amada
Não aconselha jamais o que se cobre...

Mas esse nobre amor meu sempre a espelha
Concede a verdade e a fantasia e as espalha
Aos dentes da noite e aos palcos do dia...

Que dentro do espelho havia nela um abismo
Por cujas paredes o seu sismo, que a desvalia
Refém das suas areias e dos meus espumados dedos
Escorregava e em mim cravava velhos medos.

Oh céus dos meus sentidos
Eu fui o mar! Eu fui o mar! E o espelho-mar...
Mas sou agora os rochedos... No olhar, bramidos...

A moça, estrela cujo sonho na poça repousa
A senhora da lousa, de sapatilhas desatadas
Confia como as fadas no amor frugal, mas ferina
Despetala o seu amor de bailarina, cada centelha à mó
Do aço nu... Do espelho amado que a espelha só.

(Itaipú, Fevereiro/2008)

HOJE A CELEBRO, TÃO GUARDADA

Não era minha, nem tua
A mão que encrespava o mar
Pastoreava o vento
E escavava os grãos de areia...

Nem na vinha, nem na lua
Nem ao amor restava amar
Tão doce, o resto lento
Mais que o sonho pastoreia...

Era d’alma dos amantes
Que, indelével, o tempo habita
Montando em pelo a delícia
De sermos assim da vida

Ermos d’estrelas distantes...
A lembrança mais bonita
(a mais eterna primícia)
a emoção na voz contida

Celebrada, tão guardada:
Como, Sempre, és tão amada...

(Itaipu, mai/2007)

PREDESTINAÇÃO
(Poema Tríptico)

Manhã I

Há dias, Mulher, em que dias hibernam
Como cios em que se deveria amar.
E dias que tardios anunciam:
O amor vem... E nada o poderá evitar!

Como ígneos folguedos cósmicos
Astros saltam reluzindo, acima do mar
Das profundezas do desejo vindos.
E na areia a luz de um gozo rendado
Extrema unção de um amor guardado
Prenda-fruto do silêncio e da madrugada...

Ambas fugidias...
Nossa alma vagueia
Como fossem dois dias.

Tarde II

No entorno do sol se ergue uma ciranda
De palmas morenas escritas por Deus...
Os sonhos meus andam apenas
Centúrias pequenas, que eu mesmo cri.

No entorno da rua em que habitam passos meus
Não quis Deus nenhum cão nos portões
Mas vagalhões vieram de longe
Ilhar de olhares vários meus olhos perdulários
E varrer do poente os meus azimutes de monge...
O rastro não mente, eu mesmo o escrevi.

Areia antiga...
Que amor te trouxe, Branca, a perdê-los
Os brancos fios dos meus cabelos?

Noite III

No fundo do covil, ao rés do céu,
Prostrou-se (quem viu?) o cajado como um manto.
Nenhum fogo apagado aquece tanto...
Só a morte em que não se morra, só a borra de aço-mel.

Ah, Tristezas, que me fizeram dulcíssimo mecenas
Palmas morenas (em que eu não previ proezas)
Te aguardam, madalenas,
Porque uma só Madalena haverei de tocar, tanto...
Mesmo antes de chegar, sanha e pranto
Essa vaga já me alarga, com o tanto que é feliz.

Desencanto: Dalva-Lis...
De lãs que não vesti mas, por um triz, já me afaga.
Há manhãs, Mulher, que jamais teriam paga.

(Itaipú, 30/ago/2007)

ANIVERSÁRIO DA MIXINHA

Hoje celebro uma estrela, extrema estrela velada pelos véus de antigas eras, de fogaréus, de esperas, quimeras, deveras dada; que em silêncio crepita n’ara desdita que lhe valha a dor do peito. Acalenta. E por direito se apascenta dos lapsos de um anjo canalha...

Hoje celebro uma fêmea, efêmera crença minha, roubada a um conto de fadas por arcanos, comezinha; e por anos de vigília, ppr um gozo que eviscere a plenitude, em que se esmere a rapsódia do claustro. Fausto íntimo, fausta chama, que só não cala a quem não ama.

Hoje celebro uma luz que só nus temos por nossa; querer bem a um anjo alado, de um querer que não se apossa, é um amor iluminado, que não se pode tocar sem que se toque a si mesmo, por inteiro. É o amor mais verdadeiro... Inconho amor, já por si mesmo tão naturalmente celebrado.

(Itaipú, maio/2007)

Foto de Alves Barrota

Bucólica

Domingos era pastor,
tratava dos seus rebanhos,
com Deolinda casado.
Acordar madrugador,
que por cuidados tamanhos
pouco dormia, o coitado.

Deolinda, tão sózinha,
em devaneios de amores,
que são coisa apetecida,
vive na sua casinha
suspirando dos ardores
que rompem em sua vida.

Um dia, chegou à aldeia
um padre novo. Mocetão
forte, latinidade obscura,
que logo teve uma ideia:
por meio da confissão
ver do rebanho a natura.

Absolvendo pecados,
ligeiro na penitência,
acurando sempre a todos
como um pastor em cuidados,
foi com tal inteligência
cativando destes modos.

Deolinda, pecadora,
temente de Deus, pudera,
no confessionário, em surdina,
contou do jeito que chora...
Como sonha...Quanto espera...
Ao homem sobrou batina.

Desse momento em diante
dispensou-lhe a confissão,
deixou de ouvir seus segredos.
Juntava-se, a todo o instante,
para lhe dar sua benção
na casinha. Que aconchegos...

O povo já murmurava
sem recato, boca fora,
que com Domingos na serra,
enquanto o gado pastava,
o padre e a pecadora
santificavam-se em terra.

Assustou-se Deolinda.
E chorando tristes ais
p'ra não ser excomungada
deu a coisa como finda.
O padre nunca viu mais...
Recatos de gente casada.

Domingos não era surdo
se bem que parvo parecia
pelo tamanho da orelha.
Porém, achou absurdo
ouvir falar na homilia
num tal Domingos ovelha!

Foi p'ra casa taciturno,
a repensar o assunto.
E com um uso agressivo,
num talho de voz soturno,
olhou Deolinda, bestunto,
e perguntou-lhe o motivo.

Credo! Cruzes! Esbraceja...
A mulher nada sabia
do que o padre inventou.
Abalaram para a igreja,
entraram na sacristia
e nestes termos falou:

"Ó senhor abade, abadinho!
Ó senhor abade, abadão!
Chamou a meu homem, Domingos, ovelha?
O senhor que bebeu meu vinho,
o senhor que comeu meu pão
e rompeu meus lençóis de linho?
Antes lhe chamara corno, cornelha!
Que os tem retorcidos para trás da orelha!"

"Já chega, mulher, já chega",
grita Domingos, aflito
vendo Deolinda em brasa.
"Acaba com isso! Sossega!
Tudo não passou dum dito."
E regressaram a casa...

Foto de Mentiroso Compulsivo

AUSÊNCIA

AUSÊNCIA

Agora que deste lugar parti
Como dói a ausência do nada
Como é triste sentir-me assim
Neste silêncio oco e desumano!

Trago comigo apenas a lembrança
Do enlaçar das mãos dos momentos passados
Nas teclas pousadas no meu teclado
Dos meus dedos, na noite tardia, cansados
Soltando palavras ao vento por entre o lamento
Dos amigos que aqui criei e deixei
Como quem acaricia duas pétalas de rosa
Manchadas de rubra cor, na manhã silenciosa.

Ah…! Como a noite pesa e não passa,
Como dói o imenso vácuo dos sentidos
Que aos olhos cansa e aos ouvidos ensurdece,
Que estraçalha os nervos rendidos
E dá vida e voz ao irreal que permanece…!

Se soubesses voz daí…
Se pudesses sentir a marcha cansada
Do silêncio escorregando nos degraus da escada!
Se pudesse ouvir o diálogo absurdo entre mim e ele
Ele, ele silêncio doloroso e lento
Que vem abraçar agora o canto a onde me sento
E povoa de rumores trágicos e cores de verde fel
As sombras mortas-vivas talhadas sem cinzel!

Das paredes húmidas escorrem pesadelos
Flutuam mistérios em cada canto,
Espíritos tristonhos vagueiam errantes
Voláteis, etéreos, sinistros, ululantes
Em risadas escarninhas de timbres funéreos.

Lá longe, na praia
O som cavo da onda desmedida
Emudece o grito metálico da ave ferida
E o uivar dos cães nesta noite fria

Já não sei
Já não consigo diferenciar o real da Ilusão:
- Egoísta, reparto comigo o caos
Buscando refugio onde não existem laços
Numa voz gelada, oca e vazia

Áh… ! Como queria sentir de novo
O calor das palavras que me faltam agora
Mesmo quando ninguém está aqui comigo!

As horas vão passando, amargas,
Marcadas pelo tic-tac do relógio
E lá fora
Embalado pelas copas das amendoeiras
O nevoeiro agita-se
E descobre o desenho informe
Numa nuvem perdida na maré doirada
- Eu te saúdo nuvem alada, mensageira
Que anuncias risonha a chegada
Duma nova e sempre querida madrugada.

Jorge Oliveira

Foto de carlosmustang

ALÉM DA DANÇA...

Mais um passo e já era
Estava tão alto que não sobriveria ao impácto!!!
Mesmo remoendo como um carneirinho
E olhando através do mar...

Eu entreguei todo meu peso ao amor
Complicado e absurdo como sempre!
E nem pensei,nas instintas razões.
E não adiantava apenas, à desconjurar!

Mesmo que o maior show, fosse te la em meus braços,
Toda livre...
Para só, meu coração.

Puxa, teria você aos meu pés?
Como enlouqueceu...
Acredita no amor!

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