Blog de Paulo Gondim

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Mutismo

Mutismo
Paulo Gondim
01/03/2011

Você alimentou meus sonhos
E um a um foi realizando
Reformou meus conceitos
Dissipou preconceitos
Remexeu meus desejos
Descobriu meus segredos
Deixou-me a alma nua

E simples presa tua
Devorou-me por inteiro
Víscera por víscera
Fez de mim sua vítima
Oferenda em sacrifício
De seu deus pagão
Esgotou minha mente
Tomou-me o coração

E no jazigo de sua indiferença
Fui lançado, ali deixado
Esquecido e sepultado
Até mumificar-se
Pelo desprezo imposto
No silêncio de sua voz

Nem mais uma palavra
Mutismo total
Morreu a poesia
Perdeu-se o sorriso
Perdeu-se o encanto
Dessa fantasia

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Augusto dos Anjos

AUGUSTO DOS ANJOS
Paulo Gondim
17/02/2011

Da Paraíba ao Rio de janeiro
Um poeta único, por inteiro
Vida curta, porém intensa
Um único amor que se fez dor
Que de mais rico era o que tinha
Por preconceito da mãe
Viu-o morrer de uma surra
Sua amada “Francisquinha”

A quem amaria mais?
Impossível, só à poesia
Que o fez com maestria
Além de seu tempo
Ninguém o compreendia
Em 1900, já falava de ecologia

Fez versos de seu próprio íntimo
Cantou miseráveis quimeras
Morreu moço, foi sua sina
Repousa em terra abençoada
De Minas a mais ensolarada
A querida e bela Leopoldina

Em toda vida de poeta, único Livro
“EU e outras poesias"
Para muitos, um bruxo, o mais lido
Esquisito, soturno no dia a dia
Perplexo diante dele e da palavra fria
Como discípulo, assino minha ficha
E entro de vez em sua confraria

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Tu, por intiera

TU, POR INTEIRA
Paulo Gondim
12/02/2011

Ah, se eu pudesse pegar tuas mãos
Afagar teu rosto, sentir teu coração
Te olhar de perto, sentir teu cheiro
Inebriar-me com teu perfume
Depois morrer de ciúme
Chorar de queixume
Ter-te o tempo inteiro

Mas teus olhos azuis me perseguem
Sem antes não me torturarem
Vejo nas nuvens que mudam de forma
Tuas lindas formas, a me buscarem

Ah, se eu pudesse te amar agora
Sem se importar com o mundo lá fora
Ora, o mundo... deixemos o mundo
Contigo, não há mundo, nem tempo nem hora

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Reação

REAÇÃO
Paulo Gondim
09/02/2011

Já sinto certa resistência da vida
Meus passos já não têm a mesma largura
Ando menos e a visão já se encurta
O peso dos anos não admite mais loucura

Mesmo assim, a mente ainda me alerta
Ainda há muito para construir
Mesmo que o corpo peça limite
Viver é preciso, é preciso reagir

E arranco forças do fundo das entranhas
Busco-me novamente, face a face me encaro
Tiro do meu eu as formas mais estranhas
E corro pra vida como cão que segue seu faro.

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Descobertas

DESCOBERTAS
Paulo Gondim
05/02/2011

Acostumei-me desde cedo com pouco
Tudo isso no meio de muita opulência
Mesas fartas, vestes suntuosas
Brinquedos caros, muito luxo, pouco proveito
Só um detalhe: isso não me pertencia

Aprendi a contornar dificuldades, viver simples
Perdas sempre fizeram parte de mim
Nem por isso fui menos feliz
Apenas adaptei-me ao meio. Sobrevivi!

As paixões se resumiram em alguns soluços
Diante da precariedade da existência
Não podia mesmo alimentá-las... Melhor assim
Sofri pouco, já que o instinto de vida era maior

Apesar dos desacertos da vida, ainda sorriu
Acabei conquistando até muito para “meu tamanho”
E na hora do ajuste de contas, me pergunto:
De que vale tudo isso?... Só pelo prazer de conquistar?

E entre estudos, descobertas e filosofias
Entendi tudo não passar de fantasias
Tudo se resume em mistério, mera sorte
Tudo termina num cemitério
No convite final que nos faz a morte

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O melhor de nós

O melhor de nós
Paulo Gondim
03/02/2011

O melhor de ti eu tive
E mantenho guardado só para mim
Tenho todos os teus segredos
Tuas esperanças, tuas dúvidas
O enxugar de tuas lágrimas
A paciência de te ouvir

O melhor de ti anda comigo
Como companhia eterna
Segura, confortável

O melhor de nós dois permanece
Como sentinela na lembrança
Como luz que guia o navegante
Nas noites escuras de ventania
O melhor de nós agora é fantasia
Aflora na noite e dorme com o dia

O melhor de ti, agora, é ausência
O tempo, aos poucos, nos afasta
Mas a lembrança insiste em ser presente
Cada gesto teu que carrego comigo
Ainda me faz crer no sonho
E mesmo que me ignores
Ainda guardo o melhor de ti

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Além-mar

ALÉM-MAR
Paulo Gondim
14/12/2010

Quem dera , Ah, quem dera...
Pudesse vencer o mar
Navegar, romper as ondas
Enfrentar procelas
Aportar em outras terras
Enfim, sonhar

Minh’alma se espanta nesse pensamento
As ondas ao vento, num mar a vagar
Num contentamento, num doce momento
E o sonho ali perto, já pode sonhar

Ah, se eu pudesse, se o sonho fizesse
O mar me acolher
E nele pudesse, em nados de braços
Sem ter embaraços no cais poder ver
O seu rosto lindo, de braços abertos
A me receber

E este oceano, tão bravo e tão belo
Não seja motivo pra não velejar
Não me tolha o sonho, o sonho que quero
Um dia sentir, um dia viver, ali onde estar
Em terras além, além desse mar

Ah, quem me dera meu sonho buscar
Partindo daqui e nesse lugar
Viver a magia, sentir nostalgia
De ver a minh’alma banhar-se além-mar

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Sonhos no mar

SONHOS NO MAR
Paulo Gondim
13/112/2010

Num barco de papel, eu lancei minh’alma
Como velejante por terras de além-mar
Ao som dum fado numa guitarra
Que de longe vem. Sonhar, simples sonhar...

E quando a onda do mar se faz errante
Voam meus sonhos que não vou sonhar
E esse fado me traz a cada instante
A lembrança de meu amor a cantar

No seu cantar dolente e terno
Nas notas doces desse fado triste
Na solidão de noites d’inverno
Aflora-me o amor que ainda existe

E nesse andar de tão longas milhas
O mar revolto não conhece trégua
E me põe em desvios de outras trilhas
Cansado de caminhar tirana légua

E o som da guitarra ao longe se desfaz
Aumentando ainda mais a solidão
O mar em ondas agora beija o cais
E vejo fugir o sonho em cada mão

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Fado do cais

FADO DO CAIS
Paulo Gondim
12/12/2010

Por onde andarás, vida minha
Mar além, noite adentro
Em meio às ondas, sozinha
Parte de mim, que se foi ao vento

E cá, como figura morta, no cais
Ouço ao o longe o som da guitarra
Em cada nota, um pouco de meus ais
Na solidão do canto da cigarra

Em cada onda que se faz espuma
No beijo d’areia em branca praia
Olho o fim do dia em rala bruma
No olhar distante até que a noite caia

E o fado, em suave lamento,
Enche a noite, cobre o mar
Todo fado é puro sentimento
Mais se sente numa guitarra a tocar

Ah, vida minha... Por quem vais
A perder-se em mundo tão distante?
Por que não volves teu olhar ao cais
E vê-me cá, num esperar constante?

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Minha e tua

Minha e tua
Paulo Gondim
09/12/2010

Sabe aquela rua escura
Que ninguém passava
Desolada de tanta solidão?
Por ela, somente eu ainda ando
Trilhando rastros escondidos
Que a saudade não apagou

Aquela rua já foi alegre
E suas calçadas coloridas
Nelas apareciam flores
Quando meu amor passava

Por um certo tempo, só os rastros
Na escuridão das noites sem lua
Nas calçadas sem flores
No silêncio que tomou conta da rua

Quantas noites fiquei a olhar da janela
A tristeza das pedras daquela rua
Horas a fio, num pensamento só
Aquela rua já foi minha e tua

Mas um raio de luz brilhou suave
Tímido, por entre frestas da janela
Era teu sorriso em forma de aquarela,
Colorindo o sol e as flores das calçadas
E as pedras escuras se fizeram iluminadas

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